ABCD.EFGHIJKLMNOPQRSTUVXYZ:

-al2/2

Catálogo de afixos

 


0.         Sinopse

Este sufixo associa-se a radicais nominais (cf. propriedades de selecção) e forma radicais nominais locativos de quantidade de tema Æ, género masculino e variáveis em número (cf. propriedades morfo-sintácticas e propriedades morfo-semânticas):

(1)           [[[[RN] [al]]RN [-fem] Æ] TN [±plu]]N[-fem, [±plu]]

[RN al]N = ‘lugar onde se encontram muitos RN’

exemplo: bananal, bananais

A ortografia do sufixo mostra uma alternância entre a forma <al> e a forma <ai>, que é reflexo da alternância fonológica que, no Português, afecta muitas das palavras terminadas em [l].

A realização fonética dos nomes derivados por intermédio do sufixo al2/2  é ainda condicionada por um fenómeno de alomorfia:

(2)           [al] ~[zal]

exemplo: abacaxizal

Quanto à sua etimologia, este sufixo tem origem no sufixo latino de adjectivalização denominal alis, por conversão (cf. al1/2).

O sufixo al2/2 tem diversos sufixos concorrentes:

(3)           -aria       vacaria

-eira       garrafeira

-edo        arvoredo

Em Castelhano há um sufixo cognato (eg. patatal) (cf. análise contrastiva).

 


1.         Propriedades de selecção

Os radicais nominais que ocorrem como base podem ser do género feminino ou masculino e pertencem, tipicamente, às classes temáticas de tema em a, feminina e de tema em –o, masculina. Há, no entanto, alguns exemplos de radicais nominais derivantes pertencentes a outras classes temáticas:

(1)

amendo [+fem]

(a)

al

 

choup[-fem]

(o)

al

 

 

 

 

 

tomat[-fem]

(e)

al

 

 

 

 

 

arroz[-fem]

Ø

al

 

 

 

 

 

babaçu[-fem]

 

al

 

 

2.         Propriedades morfo-sintácticas

Os nomes derivados em al2/2 têm género masculino e são variáveis em número:

(1)           um choupal [-fem,-plu]

                dois choupais [-fem, +plu]

 

 

3.         Propriedades morfo-semânticas

Os nomes derivados em al2/2 inscrevem-se na categoria dos nomes locativos de quantidade. Existem interpretações particulares que permitem identificar subclasses, como a que identifica o local de cultura de uma dada espécie vegetal, o local de congregação de uma espécie animal, ou um local onde predomina uma dada substância. Essa variação é correlativa da interpretação semântica da base: todos os radicais nominais derivantes são contáveis, podendo referir, como é mais frequente, uma espécie vegetal, mas também uma espécie animal ou uma substância

 (1)          abóbor(a)             aboboral

alcachofr(a)          alcachofral

alcaparr(a)            alcaparral

ameix(a)                ameixal

amend(a)              amendoal

batat(a)                  batatal

beterrab(a)           beterrabal

caniç(o)                 caniçal

cerej(a)                  cerejal

ervilh(a)                 ervilhal

fai(a)                       faial

funch(o)                 funchal

goiab(a)                goiabal

morang(o)             morangal

pepin(o)                 pepinal

trig(o)                     trigal

(2)           colme(ia)               colmeal

minhoc(a)             minhocal

pomb(o)                pombal

sap(o)                    sapal

 

(3)           aguaç(a)                aguaçal

are(ia)                    areal

pantan(o)              pantanal

piçarr(a)                 piçarral

Note-se que quando a forma de base designa uma espécie vegetal, pode tratar-se quer do fruto, quer da espécie que o produz, sendo que, em alguns casos, ambos geram derivados em al2/2:

(4)           a.             laranj(a)                 laranjal

b.             figueir(a)                figueiral

c.             mang(a)                mangal

mangueir(a)         mangueiral

oliv(a)                     olival

oliveir(a)                oliveiral

pinh(a)                   pinhal

pinheir(o)              pinheiral

ros(a)                     rosal

roseir(a)                 roseiral

 

 

4.         Realização fonética e ortografia

No singular, o sufixo al2/2é foneticamente realizado como [%al] e ortografado <al>. No plural, o sufixo al2/2é foneticamente realizado como [%aj] e ortografado <ai>.

Existem diversas realizações alomórficas para este sufixo:

 

4.1.      [al] ~ [zal]

O sufixo [al] é realizado como [zal] quando a forma derivante é uma radical nominal atemático:

(1)        abacaxi                 abacaxizal

açaí                        açaizal

guaraná                 guaranazal

javali                      javalizal

uauaçu                  uauaçuzal

Em alguns casos, formas em al2/2 coexistem com formas em –zal:

(2)        bambu                  bambual           bambuzal

cacau               cacaual             cacauzal

café                        cafeal                     cafezal

Marginalmente, registam-se quer derivados de radicais atemáticos seleccionados pelo alomorfe [al], como cajaual, quer radicais pertencentes a outras classes temáticas que seleccionam [zal], como, por exemplo, manguezal.

 

4.2.      [al] ~ [jal]

A ocorrência  de formas como ameixoal e ameixial, a alternância é motivada por alternâncias na forma da base, dado haver indícios da existência das formas ameixoa e ameixia.

Freixal vs freixial freixiense

Vimial vimeiro vimieiro

Melancial, samambaial

 

 

4.2.            [al] ~ [asal]

lam (a)                   lamaçal

lod(o)                     lodaçal

 

4.3.            [al] ~ [ar]

avelã      avelal     avelar                     avelanal

palha      palhal     palhar

 

4.4.      Alomorfia da forma de base

Quando o radical nominal derivante termina no ditongo [ej], a semivogal final é suprimida no derivado em [al]:

(2)           areia                       areal

baleia                    baleal

colmeia                 colmeal

teia                         tear

Quando o radical nominal derivante termina no ditongo [Ã], o ditongo é desnasalizado e monotongado em [u], no derivado em [al], bem como noutros derivados:

 (3)          açafrão                  açafroal                                 cf. açafroeiro

algodão                 algodoal                                cf. algodoeiro

feijão                      feijoal                                     cf. feijoeiro

limão                      limoal                                     cf. limoeiro

mamão                  mamoal                                 cf. mamoeiro

 

 

5.         Processos concorrentes

Há diversos sufixos de adjectivalização denominal que formam adjectivos de relação. Todos esses sufixos são concorrentes de al2/2:

(1)           -aria                   -il                 -eira                   -eiro                   -edo                -iça                 -ário

                enfermaria        canil           pedreira             braseiro             arvoredo        vacariça         minhocário

                vacaria               gatil            garrafeira          galinheiro          vinhedo                                 reptilário

 

 

6.         Etimologia

Provavelmente, o sufixo de nominalização al2/2 tem origem no sufixo latino alis, obtido por conversão de adjectivos em alis.

 

 

7.         Potenciação

Os nomes em al2/2 não potenciam qualquer processo derivacional de formação de palavras.

 

 

8.         Análise contrastiva

 

8.1.            Castelhano

Os dados do Castelhano aqui apresentados provêm de Lang (1990).

Segundo este autor, al2/2 é um sufixo de nominalização denominal, muito produtivo na sua categoria. Forma nomes locativos que identificam um lugar de cultivo de uma planta, ou um lugar onde se encontra um conjunto dessas plantas. A forma de base identifica árvores, plantas ou outras espécies agrícolas:

(1)           roble                      robledal

patata                     patatal

 

Está atestada alomorfia com [ar], quer em distribuição exclusiva, quer em variação livre:

(2)           palma                    palmar

manzana              manzanal             manzanar