CBV01
INF1 Trabalhei nos outros trabalhos aí (...) do campo, (...) no Verão, numa máquina de debulha, não era - que era uma máquina de debulha - aí nessas eiras. INQ1 Sim, sim. Rhum-rhum. INF1 E lidava-se com fardos , só com palha. Na altura do Verão era só aquele serviço. Pois era. INQ1 Rhum-rhum. Olhe, e aqui como é que se costumava separar uma propriedade da outra? Como é que se... Como é que se sabia que aquela parte pertencia a um... INF1 Era uma linda. Punham umas lindas e uns marcos. INQ1 A linda era o quê? Era... INF1 (...) Uma linda era (...) ... Punham aqueles marcos (...) . Depois com as lavouras, aquilo ainda começava a criar um coiso, (...) assim um lombo, INF2 Um lombozinho. INF1 diferente da outra terra que é que se andava a cultivar. INQ1 Sim, sim. INF1 E aquela linda ia (...) por aí fora. (...) E punham um marco aqui e outro lá onde lhe parecia. Ia até àqueles marcos para mor de indicar as lindas das herdades. INQ1 Sim senhor. INF1 Pois era. INQ1 E as lindas, os marcos costumavam ter umas pedrinhas por baixo? INF1 Os marcos eram metidos na terra. Uma pedra assim comprida, aí (...) suponhamos ao coiso desta bengala. INF2 Então é de pedra desta. Ele há aí pedra... Há aí pedra (.../ADJ) . INF1 (...) Era pois destas pedras assim bravas. E então eram uns marcos (...) . INF2 É pedra daquela. É pedra daquela que está ali na... INQ2 Sim. INF1 E era assim: suponhamos era desta largura. E a altura era mais ou menos desta bengala. (...) Aqueles marcos metidos no chão (...) até ficarem um palmo ou dois. INF2 Então é olhar para além . INF1 Depois punham-lhe uns números nos marcos que os donos - havia até um rol (...) com os donos ... (...) É um marco da herdade. INQ1 Sim, senhor. Pois. Portanto, e aqui nunca se... Nunca era hábito pôr junto lá, no fundo, junto ao marco, duas pedrinhas, uma de cada lado? INF1 (...) Para os firmarem é melhor. INQ1 Não. Portanto, não havia nada que se chamasse aqui os testemunhos ou as testemunhas? INF1 Isso não. INQ1 Não?
CBV02
INF Enregar a terra: qualquer bocado de terra que se lavrasse, INQ1 Boa tarde. INQ2 Boa tarde. INF que estivesse já 'asserviçada' . E depois ia (...) aquele arado a abrir a terra, (...) se a queria semear assim à mão depois (...) - aqueles regos. INQ1 Rhum-rhum. INF1 Pois era. INQ1 Mas se fosse com o charrueco já dizia que estava a lavrar? Não era? INF Já estava 'asserviçada'. Aquele arado não servia senão para abrir as terras. INQ1 Sim, senhor. INF Que aquilo (...) não cortava a terra boa. Não, não. (...) INQ1 Pois, não ia tão fundo, não é? INF Justamente. E cortava a terra. E os outros tinham ... O charrueco ia rompendo logo a terra.
CBV03
INF Agora (...) nesta época não se usa a enxertia. Mas está ali aquela árvore que está enxertada, não vê? INQ Ah! Estou, estou. Sim senhor. INF Aquela árvore, aquilo é uma (...) maceira-reineta. Em baixo era pereira - mas não se disse além - e eu enxertei aquilo (...) em maçã-reineta. Ela cresceu muito e formou, e tal, mas a maçã-reineta aqui não se dá. E a fruta que dá é bichosa. E então, como é bichosa e pouca, eu modifiquei-a. Além tem garfos de pera-rocha. Os garfos que estão além é pera-rocha. Os golpes (...) que se fazem em qualquer árvore, há pessoas que deixam ficar dois dedos, ou uma coisa assim, o golpe mais alto. Minha Não senhora, o golpe deve-se a fazer sempre assente dentro duma norma (...) para não ficar nem alto demais, nem baixo demais. Porque se for de baixo demais também (...) não dá o resultado. Aqui está um bacelo bem pequenino. Ali. INQ Rhum-rhum. Estou a ver. INF Aquilo foi tirado as medidas (...) com um compasso natural. Meti um garfo (...) de uva-dona-maria num bacelo que ali pus, bravo - não se disse aí? - que é (...) para tirar esta parreira daqui, quando aquela começar a dar uvas. INQ Sim senhor. INF É preciso a gente... INQ Pensar. INF (...) Na limpeza das oliveiras... A gente pode chegar ali mais abaixo, que é para lhe eu mostrar o coiso.
CBV04
INF Olhe, ali (...) do Senhor Andrémon, fui para lá tinha dezanove anos. Depois, abalei daqui, estive quinze anos sem aqui estar. Mas quando voltei para cá, voltei para casa dele outra vez. INQ E nesses quinze anos onde é que esteve? INF Esses quinze anos estive em coisa, (...) em Alhandra. Trabalhei na agrícola lá (...) em Alhandra e depois o patrão, um dia, diz-me assim para mim: "Isto está a chover, (...) nem é para quem o ganha, nem é para quem o dá a ganhar". E eu pensei assim, digo: "Bem, eu vou para a Câmara. Lá ganho mais dinheiro e, no fim, ainda este ainda me vai dar dinheiro a mim". E então, foi assim que eu fiz. Abalei e depois quando tinha folgas lá ia trabalhar para ele.
CBV05
INF E eles fizeram a escola ali dentro de uma tapada, que era particular, que (...) não pertencia ao Rossio, e depois deram esta terra toda ao homem, de troca (...) pela terra, a que a escola está a ocupar. E então o homem depois o que é que ele havia de pensar. Isto aqui era pedreiras, o diabo a sete, tudo para aqui (...) mal ajeitado e, é claro, e estava a tapada além daquele lado. E então o homem pensou em vender aqui estes bocados de terra conforme era a largura dos lotes. É claro. Todos compraram; eu comprei. Mas ainda aí nenhum se atreveu a fazer uma vala além - porque há aqui uma passagem de água que vem lá de fora. Vem lá de cima até. Há aí uma passagem de água, mas ainda nenhum se atreveu a fazer aquilo em alvenaria senão eu. INQ Está feito em... que é para correr bem. INF Está feito em alvenaria, mas feito por mim.
CBV06
INF Quer dizer, eu é que plantei estas oliveiras que estão aqui. Vê o efeito que lhe eu estava a dizer há bocadinho? Vê além que cortei lá uma pernada? Vê que está já a ficar funda, daí a nada está tapada? INQ Pois já está quase, está. INF E se o golpe for um bocadinho alto, seca e nunca chega a tapar aquilo. E é uma parte que fica a deteriorar a árvore. Mas há tanta gente a fazer essas coisas e não são capaz de tirar a experiência disso? Eu tenho exemplos na minha vida de coisas dessas... Ninguém faz uma ideia! Eu quando vim para cá (...) , que vim aqui para o lar, o senhor Aristócrates, que é (...) o presidente daquilo, diz-me assim: "Ó senhor André - André -, você havia de manusear lá aquilo, orientar lá o quintal". Ele tem lá uma data de laranjeiras e as laranjeiras estavam com as pontas assentes no chão. Eu digo assim: "Ó senhor Aristócrates, então vomecê diz que vai mandar uma máquina a lavrar aquilo?! A máquina deixa metade da terra (...) porque (...) não pode passar debaixo das árvores! Aquilo as árvores, já que mais não fosse, haviam de ser levantadas". "Ó senhor André, mas a gente não tem quem as levante. Agora assim de repente"! E eu encostado a duas canadianas, ouviu? INQ Pois. INF Fiz a operação a esta perna; andava encostado a duas canadianas. Hoje já vou andando, (...) com a bengala. E digo-lhe assim para ele: "Bem, levantar as árvores ainda eu posso levantar, porque não é ir lá para cima. Lá para cima não posso ir". INQ Pois.
CBV07
INF Eu quando estava a fazer assim: "Anda a roçar mato". "Vá, vais além roçar mato (...) ". Ou: "Vais além roçar (...) as silvas". É caso... A coisa é assim. Para se explicar (...) na limpeza à terra do alqueive é, por exemplos: se os sargaços são pequenos, a lavoura volta-os e eles fazem até estrume. Mas se eles são grandes, não. Porque, às vezes, há obra assim desta altura. E então, o arado vai para lá, nem que seja um tractor, não é capaz de... Enche e depois começa a andar a arrojo. INQ Pois. INF É como aquelas máquinas que há com uma frese de fabricar a terra. Se a terra estiver muito suja, aquilo chega a pontos parece um cilindro. Enche e não faz nada. Anda a passar por cima da terra. Olhe, nessas coisas eu trabalhei com elas todas. INQ Pois. Olhe e como é que se diz dum terreno ou duma herdade que estivesse muito tempo abandonada, sem estar trabalhada? Que até tinham crescido lá árvores e tudo... Diziam: "Olha aquilo esteve"... Quê? "Esteve"...? INF Isso torna-se uma mata. Torna-se uma mata porque é uma coisa sem dono. (...) É o hábito da fala. É. É: "Não tem dono, olha. (...) Isto não tem dono. Não vês como está? (...) Está aqui formado uma mata". INQ E depois se a gente quisesse pôr aquilo outra vez bom para cultivar, para semear trigo, aquele trabalho que era arrancar as cepas das árvores, e isso, como é que se chamava? Que até se ia com umas charruas muito grandes... INF Bem, isso dantes chamava-se uma arroteia. INQ Diga? Uma... INF Uma arroteia. Arrotear. Era arrotear aquilo. INQ Sim, sim. INF Mas hoje... INQ Não. Eu digo pelo antigo. Arrotear. INF Pelo antigo era arrotear. INQ Sim senhor. INF Fiz também isso muita vez. Mas muita vez.
CBV08
INF Bem, (...) (...) duas maneiras. Há terreno que, por exemplos, que as pessoas morrem (...) e os herdeiros (...) não se interessam por aquelas coisas e aquilo é um terreno abandonado. Mas lá está sempre a escrita feita (...) no nome daquela família - INQ Sim senhor. INF dos que já morreram! Porque hoje aparece tanta problema desses, de coisas 'antiguíssimas' que passou deste para aquele, daquele para o outro, do outro para o outro, mas o nome ainda é de um, às vezes, que quem sabe já quando foi que ele que morreu. Hoje já não vai sendo tanto isso porque eles vão apertando isso e é bem feito.
CBV09
INF (...) Quando (...) faz o alqueive... Quer dizer, aí é conforme a abundância que a pessoa tem de pessoal. Isso infelizmente está muito mau. Se havia abundância de pessoal, aqui (...) a terra em que havia de ser alqueivada era limpa. Era (...) o tal mato que os arados não voltavam. E para passarem por lá, mal. Aquilo era coisa... Pedras juntas. Tantas que eu juntei! E mandei juntar! Tantas que eu juntei! E que eu mandei juntar! Olhe, mandei juntar mais que o que eu juntei. Mas (...) a minha orientação é que é que é que... INQ Sim senhor. INF É que é que... INQ Portanto, o alqueive era p-, era o primeiro que se fazia? INF É. A primeira lavoura que leva a terra é o alqueive. E depois é o atalho. INQ Sim senhor. INF E depois é a sementeira.
CBV10
INF Isto são três ancinhos: cada um para sua especialidade. INQ Então diga-me o primeiro que é o cento... Setecentos e dez. INF Este (...) é o ancinho que pode servir para ajuntar até um bocadinho de mato. Há um mato qualquer; para andar a pessoa lá com as mãos à coisa, vai com este ancinho (...) e ajunta aquilo muito mais rápido e com menos custo. INQ E era dentes de madeira esse? INF Este, este é já (...) para uma sementeira, para uma coisa qualquer, para trás e para diante, (...) para tapar, para enterrar a semente. INQ Tinha dentes de ferro esse? INF É. É de ferro. Isto (...) é em ferro. INQ Sim senhor. INF Este, isto tem muita serventia. Porque há uma estrumeira (...) para mexer ou uma coisa qualquer assim, a pessoa vai com uma coisa destas, é como é que é uma enxada que anda a cavar. Mas isto espeta no esterco e devolve aquilo muito mais rápido (...) do que sendo outra coisa qualquer. INQ Sim senhor. INF É isto Isto . Eu, (...) por acaso, cá na minha casa, há isto tudo.
CBV11
INF Aqui (...) no meu sítio, isso era tudo embelgado assim (...) com uma besta, ou com uma parelha, ou com uma coisa qualquer, assim a fazer o risco. Não era lá a fazer um rego fundo, mas era uma coisa que a gente percebia bem aonde ia. E além era com as canas. Eu quando vi aquilo das canas, digo assim: "Eh, pá! Isto há-de ser custoso"! Mas não. Fiz. Mas (...) aqui na herdade do Almeijão, fui para lá semear e, quando lá cheguei, havia lá um semeador. Eu digo digo-lhe assim para o homem: "Ouça lá, então mas o patrão aqui quer assim o trigo assim tão ralo"? "Ah, eles querem o trigo ralo porque o trigo assim ralo vai 'afilhar' e dá mais funda". E eu faço assim: "Eh pá! Acho esquisito - agora nesta altura todos querem o trigo basto por causa da erva - ser assim". "Não, mas eles querem assim". "Pronto! Eles querem assim, é assim que se faz". Eu fui lá começar ao meio-dia. Eu estava aqui na herdade que o outro tinha arrendado também, e depois mandaram-me ali buscar para ir para lá semear. Quando foi à noite, que cheguei ao monte, e vem o outro muito admirado ao pé de mim, e diz-me assim para mim: "Então, não sabe"?! "Não. Então você ainda não disse"! "O Anfícrates" - o Anfícrates era um irmão do patrão, que era o guarda - "esteve-me a dizer para deitar mais um baguinho de trigo no chão". Digo: "Ora, bem me queria a mim parecer que o trigo que era ralo"! Era trigo 'amaroado'. Sabe o que é 'amaroado'? INQ Não. INF É passado por uma máquina. Dá assim à coisa e, quer dizer, aquela máquina vai aproveitar o trigo grado e o partido vai à parte. Aquela máquina (...) INQ Separa? INF separa o coiso. INQ Tinha algum nome essa máquina? INF 'Maró'. INQ 'Maró'. INF E então diz que não havia gente para dar ao 'maró', para 'amaroar' o trigo e passou a ser a coisa. "Ah, vocês deitam trigo?! Não tenham medo porque o trigo, há muito trigo partido". Eu comecei a deitar e o outro começou a deitar. Mas eu achava aquilo demasiado! Quando faltavam dois dias para acabar a folha e o guarda - que era o irmão do patrão - chega assim perto de mim, encostou-se assim ao pau e diz assim: "Ó senhor André, arrime-lhe aí obra para o chão". E eu pus o sementeiro no chão e faço aqui assim: "Ó senhor Anfícrates, fazia favor vinha aqui ao pé de mim". O homem foi. E indiquei aqui assim : "Senhor Anfícrates, faça favor ponha lá assim um dedo no chão, mas não seja em cima de um bago de trigo. Ponha lá assim um dedo aí no chão mas que não leve nenhum bago de trigo adiante". O homem começa a olhar para o chão e diz assim: "Eh pá, efectivamente. Olhe, deixe ir isto assim conforme vai". Digo assim: "Então eu já estou a achar demais! Você ainda me vinha dizer para arrimar mais"?! Bem, esse dia à noite pensaram mudar de herdade, ir a sementeira para outra herdade e (...) ficaram dois dias de sementeira no coiso. Foram fazer as contas: naquela folha havia quatro moios de trigo a mais. Veja você: quatro moios de trigo!
CBV12
INF Eu depois abalei de lá e fui para a Câmara. Dessa vez que eu fiz essa mudança, fui para a Câmara. Mas passava lá à porta. Um dia entra entro lá dentro (...) do pátio e digo assim: "Senhor Anfidemos, venho-lhe aqui fazer uma procura". No fim duns dias já depois de aquilo estar tudo nascido. "Que tal está a sementeira do Almo"? - Que era essa herdadola -. "Que tal está a sementeira do Almo? Que tal está lá o trigo"? E diz ele assim: "Está bom, ó tio André". "Mas ouça lá: está bom para me fazer jeito ou está mesmo de verdade bom"? "Não. Está mesmo de verdade. Está bom". "Então e diga-me uma coisa: e então a alpista no Terracha"? - Era outro sítio -. "A alpista no Terracha, que tal está a alpista"? "Está boa". "Mas está boa para me fazer jeito ou está de verdade mesmo boa"? "Está mesmo de verdade. Está boa". E eu volto-me para ele e digo-lhe aqui digo eu aqui assim: "Ouça lá, senhor Anfidemos, você lembra-se daquilo que lhe eu disse ali? Que os patrões dão cabo da sementeira e depois os trabalhadores é que ficam com a carga? Se eu fizesse como você queria... Se ela está boa, então não ficava boa de certeza"! Porque o caso é este: ora, eu via muito bem o que ia fazer. Mas quando o vento me dava de costas, eu fazia assim e abria a semente à minha vontade. Mas quando o vento me dava de caras - aquilo era uma semente leve -, não podia ser eu levar elevar essa largura, porque (...) a semente não alcançava a largura (...) que eu queria. E então levava a largura que eu via que podia alcançar - por causa do vento. De maneiras que o homem (...) ... Ah, e quando eu acabei de dizer aquilo, ele diz assim: "Ó tio André! Essa não vem embalde. O que você está a dizer eu já estava à espera que você dissesse isso". "Ai sim? Então se você estava à espera era porque você via que efectivamente que era verdade o que lhe eu tinha dito".
CBV13
INF Que o trigo...? INQ Afilava. INF (...) Afilhava. Afilhava. Afilhava. Olhe, isso é ali como aquelas favas que eu tenho ali semeadas. Você vai ali a ver, é raro ver ali (...) duas faveiras nascidas no mesmo sítio. É uma fava só. Mas quando for lá para diante, você vem vai ver. Aquilo são sete e oito faveiras que está aí, só uma fava! Porque afilha, deita arrebentos, (...) tem largura, não está apertada. Deita arrebentos. E se deitar muita, está apertada, INQ Já percebi. INF não afilha tanto. INQ Sim senhor. INF E então sempre dá mais resultado assim. O que se deve semear é fava boa. Não é semear qualquer sucata. Não acham? Não sei... Mas desde que seja fava boa... O ano passado, ali, quando eu colhi as favas que estavam secas, havia arrebentos com flor!
CBV14
INF Digo eu assim: "Vá, vomecê não tem que fazer, pegue aí numas canas e vá espetando aí umas canas que é para me eu regular". Ele assim no lar andava assim baixo. Abaixava-me. Então ele depois que não queria que eu me empinasse para semear a terra. (...) Jesus! "Eh pá, tu assim não. Que então assim depois dás-me cabo da sementeira". "Pronto, mas eu abaixo-me". Eu abaixava-me e ele abalava, coiso, e eu endireitava-me. "Bem, já vens outra vez de pé"?! Digo assim: "E é se quer , que eu de pé vou melhor". Bem, o resultado daquilo: aquilo nasceu ali em menos de nada. Ah! Ele depois diz-me assim para mim: "Eu estou para ver outra coisa. Então e como é que tu regas... Como é que se isto rega"? "Mas o senhor está a fazer conta de vir regar isto"? "Não. (...) Quem a rega és tu". "Então, se sou eu, eu que estou a fazer assim lá sei como é que a hei-de regar. Não esteja a pensar que eu que estou a semeá-la assim e que não sei como a hei-de regar. Sei"!
CBV15
INF Mas quer dizer, isto parece mal eu dizer mas, às vezes, há coisas que é o dote que nasce com as pessoas. INQ Pois. INF Que, às vezes, não é aquilo que as pessoas... Quer dizer, aprendem a trabalhar e do trabalho é que tiram a experiência. INQ Sim senhor. INF Eu, assim é que me tem acontecido. O meu pai que Deus tenha era um bom trabalhador e era um bom hortelão. Mas eu não sei. Eu hoje aí numa horta não faço nada já (...) como se fazia nesse tempo. E este, já lá foi o hortelão quatro ou cinco vezes. Em bem me não agradando a fatia, venho-me embora. Mas como também depois não encontro outra coisa melhor, volto lá. E ele então recebe-me sempre. Recebe-me sempre. E vão para lá outros hortelões. Mas eu quando lá chego tenho que emendar sempre (...) o que eles não foram capazes de fazer. E hortelões de grande fama, de grande nome, de grande coisa!
CBV16
INF Ah! INQ Como é que se fazia? INF Aquilo tinha uma presa no ribeiro ao cimo da horta. E então a água juntava ali e largava-se a água a correr ali pela regadeira abaixo. E pronto! INQ Portanto, a regadeira era aquela principal? INF O rego. É. Aqui a gente chama-lhe uma regadeira e além (...) no coiso é uma regueira. INQ E, e aqueles que saíam para os lados? Que era para... INF Quer dizer, aquilo a gente encaminhava aquilo (...) à maneira como queria. Aquilo encaminhava-se... Eu tenho coisas na minha vida levadas da breca! Bem, aquilo quando fizeram aquela presa, o que lá puseram de buraco para a água sair foi o troço duma azinheira. Mas aquilo ou já estaria podre ou apodreceria depois de lá estar; aquilo não vedava. E a presa todos os anos enchia de terra porque a água enchia e saltava por cima da parede. E eu disse: "Isto assim é um trabalhão bruto! Todos os anos a mandar tirar esta terra"... Porque aquilo enchia de terra, mesmo tudo até (...) à altura da parede. "E então isto abre-se mas é aqui um portado e põe-se aqui uma bucha nova". Foi aquele homem - um pedreiro -, foi aquele homem cinco vezes ao pé de mim à horta chamar-me para eu lhe ir lá marcar a altura do coiso. Digo : "Ó homem, então não tem está lá a altura? Então você não sabe tirar o nível (...) da entrada da horta (...) para pôr aquilo"? "Ah, senhor André mas eu não estou habituado a isto. E eu não estou habituado. E eu não estou habituado. E eu não estou habituado". E tive que ir lá marcar aquilo. Mandei fazer a um carpinteiro que havia lá na casa um pau assim enfunilado, mais estreito por um lado, que era para quando apertasse. Conforme se batia, apertava. O homem começa, põe o pau, e começa a pôr aquilo tudo cheio (...) de casquelhos em cima do pau. Digo assim: "Ó mestre! Então você sem ver você não vê ... Havia de pôr massa primeiro em cima do pau, está a pôr os casquelhos!? A massa depois põe-se aqui em cima e vai para baixo". "Isso (...) fica sempre a vazar". "Não fica, não senhora". "Fica, sim senhora". Quando lhe eu disse, o senhor saiu. (...) . Mais tarde, fui eu aqui a um ferro-velho que há aqui na terra. Levei de lá um bocado de tubo de ferro, mas assim valente. Arrebentei com aquilo que lá estava e 'puse-o' lá que (...) é o que lá está hoje. Mas quando fecha, fecha. Fecha mesmo. (...) Não tem problema. Mas lá está o portado para se abrir e fechar. INQ Que é para sair a água.
CBV17
INF Essa água (...) era do rio. Mas havia açudes, que lhe chamam, que era (...) o comando que mandava a água para as azenhas e desses açudes é que é que vinha a água. Há uma vala que vai apanhando uma distância grande de terreno e esses que ficavam com o terreno à parte de baixo da vala é que a hortavam. Mas isso (...) hoje não. Hoje já se não horta. INQ Pois. Mas que outras maneiras havia de se guardar a água no terreno? Portanto, já me falou na presa, não foi? INF Pois. INQ E havia uns que era, que se faziam em cimento, assim uns quadrados... INF Olhe, ali nesta herdade ao fundo da horta, havia lá um sítio que todo o Verão tinha água no cimo da terra. E eu digo assim para o patrão: "Porque é que você não manda ali abrir uma vala além para o ribeiro? Há aí tanta pedra. (...) Faz-se ali um cano em pedra seca". "Começa tu com ideias"! "Então, vomecê com o pessoal que aí traz, há uma certa altura que avaga certos serviços, e então, nessa altura, vomecê pode mandar para lá o pessoal e faz-se a vala. Manda para além as parelhas acartar pedra. (...) Eu faço o tubo". "Está bem". Fez-se. (...) Aquilo por cima era barro preto. Mas no fundo (...) , aquela fundura era areão, cascalho, terra lavada - e a água a aparecer de todos os lados! Bem, digo-lhe eu assim para ele: "Ouça lá, então se você me deixasse fazer além uma presa, além, que eu punha a água a correr aqui a esta altura (...) , aqui ao nível da terra"? - diante dum que lá estava que era o guarda. E diz ele assim: "Tu estás maluco, pá! Então tu não vês que aqui (...) que é um terreno muito mais alto do que é além, onde tu estás a dizer que vai dar água para aqui"?! "Não é isso que lhe eu estou a dizer, homem"! "Então o que é que tu estás a dizer"? "Se vomecê autoriza eu fazer além uma represa, que eu ponho a água a correr do fundo do ribeiro aqui ao nível da terra. Mas de além aqui tem que fazer uma vala. Mas aqui há-de correr aqui ao nível da terra". "É o que eu digo: tu estás maluco"! E eu faço assim para ele: "Ouça lá, e se isto aparecer feito como eu estou a dizer, o qual é que é o maluco"? "Era eu. Mas não sou, porque (...) isso nunca pode ser. Isso nunca pode ser". "Está bem"! Ele abala para Lisboa e deu as ordens ao guarda. O guarda no outro dia de manhã: "Uns vão para aqui", "outros vão para além", "outros vão para outro lado". E eu faço assim para o guarda: "Ouça lá, agora (...) era uma altura boa para se fazer além a presa". "Então ele já deu ordem"? "Já"! "Então, olhe, leve os que quiser e vá para lá". "Não. Não é preciso levar muitos. Comigo, três. Vão mais dois aí desses. A gente vamos lá fazer aquilo". Cheguei lá, dei a vala de empreitada aos outros dois e eu fui fazer a presa. No fim, faço assim para os outros: "Eh pá! Eu enganei-me"! Porque estava a ver aquilo que os outros viam mas não viam. "Eu enganei-me"! "Então"? "Então?! Então, esta empreitada minha é maior ca a que à sua de vocês. Então vocês depois não me vêm ajudar"? "Não. Então cada um acaba a empreitada que apanhou". "Bem, já sei que (...) fiquei à rasca eu"! Eu a pensar cá para os meus botões: "Mal vocês sabem que eu que acabo a empreitada (...) e fico eu a olhar para vocês". Eu acabei a empreitada, pus uma pedra em cima (...) do coiso, mas logo lá no fundo ficou (...) um tubo. A água estava a sair para o ribeiro à mesma. E digo eu assim: "Bem, vocês disseram (...) que cada um acabava a sua empreitada. Vá lá ver quando é que acabam a sua. Eu agora pus a rolha ali no coiso. (...) Eu não quero encher isto de água ainda agora. Isto há-de ser cheio de água mas não é agora. Tem que passar aqui uns dias para assentar a terra, e estas pedras, esta coisa que eu aqui pus, mas vocês têm que acabar de abrir isso". "Pode largar a água que a água não vem cá, homem"! Toda a gente dizia que a água que não ia lá! Não era só o patrão: era o guarda, era os carreiros, era... Toda a gente que andava lá. Aqueles dois que andavam lá comigo também diziam que a água que não corria. Eles diziam que a água que não corria. Digo eu assim: "Bem, eu vou largar a água, mas eu não quero lama dentro do ribeiro". Porque a água quando chegava aquele sítio voltava para o ribeiro. "Eu não quero lama dentro do ribeiro. Se lá cair a lama para dentro do ribeiro, vocês depois têm que a ir tirar". "Pode largar a água à vontade". Eu tiro a rolha, a água vai. E começam eles assim: "Eh! Eh pá, olha lá a já lá a água que vem"! Bem, a terra, uma foi para o ribeiro, outra foi para fora. É claro. Aquilo era uma base de conversa . "Eh pá! Essa é boa! Então a nossa terra daqui parece muito mais alto! Essa é boa! Então, hem? Então não viam vocês"?! Bem, quando foi à noite, chegou o patrão. Foi logo a ver do Ângelo que era (...) o guarda. "Então, Ângelo, então (...) o que é que andou o pessoal a fazer"? "Uns foram para aqui, outros foram para além, outros foram para outro lado, e tal. O André foi fazer a presa". "A presa"? "Pois, ele como vomecê diz que já tinha dado a ordem". "Onde é que ele está"? "Está lá na casa lá em baixo". "Vai lá chamá-lo". Eu em vez de ir lá para o lado donde ele me chamou, não. Fui assim: à roda havia ali uma capoeira, fui à roda da capoeira. Quando cheguei lá ao fundo da capoeira, chegou ele, estava eu do outro lado. Digo assim: "Então, o que é que vomecê quer"? "Quero ver o que é que tu andaste andas para aqui a fazer". "Ah, está bem"! (...) Sabia até de modo o que é que ele queria. Quando o outro me disse, eu cá (...) sabia já aquilo tudo de cor e salteado. Bem, marchámos, chegámos lá, o homem lá viu a água a correr. "Sim senhor. Está certo"! Marchou. Digo eu assim: "Ouça lá"! "Então o que é"? "Eh pá, eu ainda não estou despachado". "Então"? "Eu agora quero saber qual é que é o maluco". "Ah, então nesse caso sou eu"!
CBV18
INF Ah, uma nora. Uma nora! Ali também há. Também há, mas já há muitos anos que não trabalha. Eu tive lá épocas de ser lá o hortelão; e tinha três bestas para tirar água. Ia uma até ao almoço. Ao almoço aquela ia para a quadra e vinha outra até ao meio-dia. E depois (...) aquela ia para a quadra e vinha a outra (...) até à merenda. E depois, ia aquela para a quadra, a que andou lá até ao almoço ia , andava lá até à noite. Havia uma que ia duas vezes. INQ Pois.
CBV19
INF Até, nesse tempo, havia pessoas... Olhe, o mestre Aníbal, nos princípios dele, em pedreiro... Mas havia falta de trabalho, chegou a andar à monda, aquele homem. Chegou a andar à monda! No meio das mulheres. (...) As mulheres a explicar-lhe as quais era as ervas que ele havia de arrancar. Está a perceber? Isto já ouvi eu (...) ele a falar com uma lá (...) na loja, e ela a dizer: "Ah, mestre Aníbal! No tempo que tu me procuravas: que erva é esta"? Bem, isto tem-se passado de tudo. INQ Pois.
CBV20
INF O centeio ou o trigo, os processos de serem semeados é a mesma coisa. O que é o centeio parece que... Nunca dei (...) por haver pessoal (...) a mondar centeio. O centeio é de tal ordem que o gajo cresce mais alto do que eu. Cresce muito. E não sei porquê, se é pela sombra que ele faz, se quê, (...) a erva com ele não se dá assim muito bem. E com o trigo dá. Já, já dá. É por essa razão que dentro desta época, eles usam já a semear mais basto. É já com aquela intenção da erva. Que é para o trigo nascer e abafar a terra. (...) Não afilha. Foi o que eu disse ainda agora. INQ Sim senhor. Mas há uma que se semeia que é para o gado comer? Ou que os, os machos comiam... Até se punham dentro de uns cestos para eles comerem... INF Isso que se semeava, assim, de propósito, (...) chamavam-lhe alcaceire, era cevada ou aveia. Cevada ou aveia. Era o alcaceire para dar ao gado. Isso, é claro... Eu também cheguei a mondar cevada. Haver sítios aonde havia aquele cizirão, que é uma erva que cresce muito e trepa (...) e faz um enleio. Faz um enleio que aquilo é um caso muito sério. A gente pega aqui assim (...) numa mão-cheia (...) , faz assim: abana-a aí até uma distância de cinco metros. INQ Tem muito enleio.
CBV21
INF (...) Isso, quer dizer, era ceifado com uma fouce. Não era com uma fouce, era com fouces. E depois era atado. E depois era feito aos moitões, era um relheiro. Chamavam-lhe eles um relheiro. E depois iam... (...) Os carros carregavam aquilo para cima do coiso e depois iam fazer um relheiro grande aonde faziam a eira. É claro, isso, hoje, (...) é uma diferença de trabalho... Uma diferença tão grande, que eu sei lá o quê! INQ Pois. Já não tem comparação. INF Isso tem lá uma diferença de... Ai Jesus! Então, eles agora põem aí uma gadanheira (...) a gadanhar o feno... Aquilo é taca-taca-taca-taca-taca-taca-taca-taca! O feno vai ficando ali assim ao coiso. O feno secou lá, vai a uma prensa, uma coisa, enrolando o feno, e vai emprensando o feno e vai atando o feno. Não é preciso ninguém lá estar a atilhar o arame. Só uma pessoa faz (...) o trabalho de oito. INQ Mas eu queria então era que me explicasse do, do, do, do trigo, do centeio, esse trabalho que se fazia. Portanto, trazi-... Do trigo, todo o trabalho que se fazia com o trigo. Portanto, já, já me falou que se ceifava, não é? INF Pois. INQ Pois. INF (...) Então, mas (...) o trigo, era ceifado, (...) era pessoas a ceifar, outras a atar molhos, outras a enrelheirar, a fazer assim que era para os carros depois irem direitos àqueles relheiros e carregarem. (...) E era levar para a eira e fazer um relheiro grande. Ali, às vezes, era para ali sei lá o quê. Até levava pilheiras e a gente começava dizendo uns aos outros (...) para fazer um relheiro alto, para fazer (...) uma coisa grande (...) para as mudanças da máquina. A máquina era posta ali e ali debulhava aquilo tudo. INQ E antes da máquina, ainda se lembra o que havia? INF Não. INQ Não havia os animais que se... E havia uns... INF Ah! Pois é! Coisas que eu fiz!
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INF O calcadouro é um bocado de chão bem arranjado, feito de propósito, bem arranjado, que é (...) para não fazer terra, que é para a terra estar firme. Aquilo é... Até se chega a... Para fazer uma coisa dessas: aquilo é molhado e metem lá um rebanho de gado a andar de um lado para o outro, que é para (...) ... Os animais com as patinhas vão amassando a terra e a terra vai ficando (...) seca. Vai secando,vai secando, vai secando, vai secando, vai secando que aquilo fica direitinho. E depois nesse sítio, então até , é que é que se faz então o calcadouro. INQ Que é... É aquela quantidade... INF Aquela quantidade, quer dizer... INQ Que se põe um... INF É (...) uma quantidade assim desta altura. INQ É a quantidade de grão que se vai pondo... de pão que se vai pondo para dentro da, da eira, não é? INF Pois. Que é (...) para andar (...) o trilho à volta, (...) e até se faz os 'possíveles' para o trilho não ir ao chão. Porque o trilho com aquelas lâminas morde no chão.
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INF (...) E se for de favas já são de vinte. INQ Tudo aqui? Aqui? INF Pois. INQ Portanto, diz-se um alqueire de favas, um alqueire de azeite, um alqueire... INF Pois. Pois. (...) Isso hoje, (...) os alqueires acabaram. É a peso. INQ Pois. INF Isso também você sabe que isso que é assim. INQ Sim, sim, sim. Mas não havia assim outras medidas antigas, portanto, que fosse metade do alqueire, depois ainda metade de metade do alqueire... INF Oh! Isso havia medidas antes ! Havia para aí mais de quantas! Havia umas pequenininhas... Eu sei lá, medidas que havia para isso! Mas eu (...) não cheguei a apanhar bem, bem, bem. INQ Já não apanhou? INF Eu, esses coisos, essas medidas pequeninas, não é que eu não as visse, que eu vi-as, mas, quer dizer, nunca fui homem que tivesse assim prática de andar a mexer nessas medidas. INQ Não. Foi só para perguntar e se sabia. Olhe...
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INF Ouça lá! INQ1 Diga. INF Segure lá isto aqui assim que eu vou ali buscar uma coisa a ver se vomecê me sabe dizer o que aquilo é. INQ1 Sim senhor. INF Ora vamos lá ver se vomecê me sabe dizer o que é isto. INQ1 Eu já vi isso. Eles chamavam castanha de qualquer coisa. INQ2 Castanha de maranhão, não é? Não é esse nome que lhe deram? Ou de caju. Se calhar é castanha de caju? É? INQ1 Não sei. INQ2 Mas isso é daqui da terra, não? INF Isso era bom. INQ1 Não sei. Como é que o senhor chama? INF Eu chamo-lhe aquilo que me disseram que era. E se ela se partir é exactamente. É exactamente, depois de estar partida. Mas agora ninguém diz que é isso. Só depois de se saber. Isso é uma noz. INQ2 Ai, isto é uma noz? INQ1 Mas é outro tipo de noz, então, não é? INF Esta veio lá do coiso, veio lá (...) donde está o meu sobrinho. INQ2 Ah! É lá do Canadá. INQ1 E eles lá, e eles lá também comem, é? Dessas? INF Comem. Isso come-se. INQ2 Ah, que engraçado! INF Comem. E se se partir, é exactamente, lá dentro, é exactamente as outras nozes, nossas. É exactamente a mesma coisa. (...) A casca é que não é. INQ2 A casca é que não é. INQ1 A casca é que não é, não. Deve ser lá do clima, e isso, que deve ter dado essa... INF Semeei uma ali num coiso, mas isto devia ter apodrecido que ela (...) não apareceu. INQ2 Não? INF Mas a gente a pôr-se assim a tomar a nota, aqui no bico é que é que se nota assim uma diferençazinha qualquer, assim quase a arremedar as de cá. Assim no bico. Mas é preciso ver assim ao sol. INQ1 Pois. Engraçado! Olhe... INF Tenho tido ali esta de estimação. INQ2 Pois. INF Que ela, a mulher (...) do meu afilhado e sobrinho, é que me trouxe sete. "Que é isto, tio"? "Eh, rapariga, sei lá o que é isto"! Diz-me ela: "Isto é uma noz". E depois foi, partiu uma... INQ2 E viu. INF Exactamente. Exactamente, exactamente. Exactamente às nozes de cá. A parte lá de dentro é exactamente. As pernas e tudo, era tudo igual.
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INF Nos sítios onde há (...) muito castanheiro... INQ1 Diga ali. "Olhe, ali está o quê? "Está um"...? INF Chamam-lhe assim um nome qualquer. Chamam. Eu (...) tive uma cunhada que casou com um homem que era da Ribeira de Nisa. (...) E assim lá coiso, nas áreas da Ribeira de Nisa, já há muita trapalhada dessa. INQ2 Mas isso aqui não há. Aqui se calhar não há. INF Aqui? Não, não. INQ2 Não há terreno nenhum com muitos castanheiros? INF Não, não, não, não. Não dá. INQ2 Pronto! INF Aqui os castanheiros aqui não se dão. INQ2 Pronto!
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INF Sim, com certeza. Se a apanhar em verde, acontece acontece-lhe como acontece aqui em Cabeço de Vide: quando as laranjas estão aí em meia criação, andam a colher delas e a jogar à bola aí com elas no meio da rua. INQ1 Mas portanto, a fruta tem que se deixar quê? INF Ah, pois tem. INQ1 Tem que se deixar...? INF (...) A fruta (...) é uma coisa que faz falta e só quem dá a estimação (...) à fruta é aquelas pessoas que não a têm. Porque aquelas pessoas que vivem abastecidas (...) da fruta não lhe dão validade. INQ2 Pois. INQ1 Pois. INF Eu não vou buscar os outros. Estou eu aqui. Porque já se tem passado alturas de eu estar em sítios aonde haver abastecimento (...) de coisas que eu gosto tanto e nem olho para elas. Parece que só de estar a vê-las que fico bem. Uma ocasião ali naquela horta da de Mateus, veio para lá um homem mais velho de do que eu para meu ajudante. O homem coitado nunca tinha estado assim numa coisa daquelas. Há uma altura qualquer vai-se colher abrunhos... Mas era no tempo que havia abrunhos; agora não há. Eh amigo! Uns além assim rosados, outros até assim quando estavam maduros assim até além... E até enjoavam! Além amarelos, além coiso! O homem (...) a colher os abrunhos, diz ele: "Eh pá"! E eu olhava assim para ele, dizia assim: "Eh pá! Esse é mal-empregado ir para a cesta"! (...) Mas eu mesmo com aquela ideia de ele odiá-los. "Coma esse, homem! Esse é mal-empregado ir para a cesta"! Eu, às vezes, apanhava um: "Eh! (...) Este é mal-empregado. Tome lá este"! O homem apanhou um fartão de abrunhos! Que eu, às vezes, dizia-lhe assim: "Camarada, então não come nem um nenhum abrunho"? "Vai-te amolar mais os abrunhos, homem"!
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INF Não vê? O limoeiro já não tem tantas tantos espeques. Mas mesmo assim... (...) E mesmo assim, (...) está a baixar. Ele (...) tem além tanto limão! (...) Assim, assim a olhar por fora, parece que não tem. (...) INQ Não. Mas tem bastante. INF (...) Mas a gente (...) a arrumar além ao pé, assim por dentro, aquilo (...) são arrumados quase uns aos outros. INQ Sim senhor. INF Eu, agora um dia destes, até dei além (...) àquela vizinha além da frente - tem uma bolaria... Chamei-a aqui e tinha aqui cinco colhidos: "Olha, vai ali acima daquele banco e apanha lá o que está alá". Ela abalou logo toda contente e diz assim: "Calha-me bem, porque eu não tenho lá nenhuns nem uns em casa".
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INF Estive quinze anos casado sem ter filhos, sem a mulher ter filhos. Ouviu? E depois morreu-me uma cunhada minha e a mulher foi ao funeral. Eu, nessa altura, era o hortelão lá na tal horta lá, da de Mateus. A mulher foi ao funeral da irmã. (...) Foi na Ribeira de Nisa. A irmã morreu, deixou (...) um rapazinho e (...) uma menina. Ela trouxe a menina - era a mais velhinha -, trouxe a menina. "Olha, homem, eu trouxe (...) a garota". "'Fizestes' bem. 'Fizestes' bem". Tive a garota cá três anos cá em casa. A garota era esperta, era violenta era.... E eu começo a pensar assim: "Esta garota agora anda aqui assim neste feitio e amanhã ou no outro dia começa a ter qualquer préstimo,o pai abala com ela. Eu vou dar aqui uma liberdade à garota, a ver se o pai quer". Ele veio cá e digo-lhe assim para ele: "Olha lá, queres dar uma liberdade à tua filha"? "Então, mas que liberdade é"? "É... Tu és o pai dela. Mas um dia se a quiseres levar, ela só vai se quiser. Se ela quiser ir para a tua casa; vai para a tua casa, e se quiser estar na minha, está na minha. Uma liberdade a ela"! Hem? "Eh, mas eu não tenho coragem de dar um filho, eu não tenho coragem de dar um filho"! "Mas eu não te estou a dizer para tu a dares, pá! Ela é tua filha sempre. É só dar uma liberdade a ela. Ela está aonde quiser. Se quiser estar na minha casa, está na minha casa; e se não quiser estar na minha casa, quer ir para a tua, vai para a tua". Mas eu sempre lembrando-me que ela que nunca queria ir para casa do pai, porque, é claro, era um homem sozinho. Bem, ele não tinha coragem, não tinha coragem, não tinha coragem, não tinha coragem, e aquilo ficou assim. Às tantas, ele vem e abala com a gaiata. E começo eu assim a dizer para a mulher: "Tu já 'vistes' isto? Anda uma pessoa a criar os filhos dos outros! Depois de ter-lhe (...) uma certa simpatia, uma certa 'moridade' por eles, vem assim... " (...) Vamos mandar vir um já agora depois de velho"! Mas... INQ Apareceu. INF (...) Eu comecei logo a... Apareceu. Depois quando ela apareceu, eu era criado lá do tal Andrémon. Diz-me ele assim para mim: "Eh pá! Vê lá o que é que tu arranjas! Olha que o Dom Aniceto" - é o dono da Quinta do Leão -, "olha que o Dom Aniceto tinha um grande desgosto da mulher não ter filhos, em três vezes tem lá seis filhos. Vê lá o que é que tu arranjas"! Digo: "Ai! Isto há-de ser o que Deus quiser só "! "Eh, pá! Mas tu já 'vistes' na tua idade", e coisa e tal... Mas, olha, ela já tem quarenta e um ano, ou uma coisa qualquer assim, e ainda cá estamos. INQ Pois.
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INF Porque eu sou natural de Cabeço de Vide mas o meu pai era natural de Pedroso e a minha mãe era natural da Beira. Está a perceber? E então, quer dizer, isto é tudo enxertias. INQ1 É tudo enxertias. INF E então, quer dizer, tenho lidado com várias pessoas: umas duma maneira, outras doutra; umas com um pensar, outras com outro pensar... Eu sou um (...) ... E eu gosto de conversar e de me entender com toda a gente porque não há nada mais bonito que é a boa união. INQ1 Exactamente. INF Não há nada que chegue a isso. Nada! A boa união faz tanta falta como a saúde. INQ2 É, é mesmo. INF A saúde é a parte principal que faz falta, porque, se a pessoa não tiver saúde, não tem alegria, não tem nada. Tudo se estraga . E o fulano também se estiver (...) 'inimigado' com esta pessoa, com aquela, com a outra, com a outra, às duas por três, passa por uma data de gente, isso já é tudo inimigos (...) . Ninguém quer falar. E então, não há nada mais prático que é a boa união. Eu, uma ocasião, enganaram-me. Fui daqui a Portalegre, procurando por um especialista de ossos. E a informadora - era uma pessoa que estava a passar bilhetes (...) para ir a este médico, ou para ir àquele - e diz-me assim: " (...) Só indo aqui (...) ao Doutor Balcão". "Então mas como é que se ele chama? É Doutor Balcão"? "É Doutor Balcão. O senhor tem de trazer uma credencial". Eu vim cá, pedi uma credencial ao doutor, cá - que é essa estátua a que está ali no largo. E diz-me ele assim para mim: "Ó rapaz! Eu já há muito tempo que não caminho lá para o lado de Portalegre, mas parece-me que tu que estás enganado. Não conheço lá nenhum Doutor Balcão". Mas eu tinha confirmado que ela que me tinha falado em Doutor Balcão. Eu digo: "Ó Senhor Doutor, eu... Falaram-me em Doutor Balcão". "Está bem. A gente passa a credencial". Cheguei lá apresentei a credencial à pessoa. A pessoa esteve a ler aquilo e diz-me assim para mim: "Então donde é que você é"? "Sou de Cabeço de Vide". "Os de Cabeço de Vide estão para lá a dormir"? E digo eu assim para ela: "Então porquê"? "Então, vem aqui Doutor Balcão. Então há aqui algum Doutor Balcão"? E eu faço aqui assim: "Então, donde é que a senhora é"? "Eu sou de Portalegre". "Então, olhe, eu não sei os quais é que estão a dormir, se são os de Portalegre, se são os de Cabeço de Vide. Até me parece que é os de Portalegre. Tal dia assim assim, estive eu aqui e foi você que me informou para o Doutor Balcão". Mas eu fiquei 'esmarafado' , ia-me embora. Vai uma senhora qualquer, agarra-me aqui assim por um braço: "Onde é que você vai"? "Vou-me já embora". "Não, não vai-se embora. Você peça lá à bilheteira e ela tem que lhe arranjar a consulta. Ela é que lhe deu cabo da consulta a você e ela é que tem que lha fazer". Eu digo: "Então, está bem"! Volto para lá. (...) Aquilo era bichas! (...) Quando cheguei lá outra vez e diz ela: "Então o que é que você quer"? "Quero que você me arranje a consulta. Você é que ma estragou". "Espere um bocadinho". O número três. INQ2 Ora vê. INF Mas se não é a outra mulher, eu vinha-me embora. Estava lá um homenzinho, que era aqui de Santo Amaro, o homem deu por aquilo tudo. Mas a consulta só era às três horas. Venho cá para baixo, assento-me ali num banco. Estava o homenzinho, estava assentado além num banco, e eu fui, passei pela banda , fui-me assentar lá noutro banco, lá mais abaixo. Depois de estar assentado, o homem levanta-se lá 'daonde' estava e foi-se sentar lá ao pé de mim. E diz-me assim para mim: "Ouça lá, então o senhor já se desentalou"? Eu parece que nunca tinha-o visto mais gordo, digo assim: "Então já me desentalei de quê? Diga lá". "Então não era você que estava à rasca ali, que não tinha consulta"? "Ai, (...) mas eu já arranjei consulta". Disse eu para o homem: "Eu já arranjei consulta". E o homem faz-me assim para mim: "Você já se arranjou. Só eu é que me calha tão mal e não sou capaz de me arranjar". Digo eu assim: "Então, mas o que é que você queria? O que é que você vinha à procura"? "Ora, o que eu vinha à procura era tirar um dente mas cheguei ali já passaram as senhas todas. Venho de Santo Amaro para aqui, estou lá num monte, custaram caro a arranjar outra pessoa para ficar lá no meu lugar, agora chego aqui... Paguei o transporte para cá, vou pagar o transporte para lá (...) e não tiro o dente. E ando à rasca com o dente, (...) com dores de dente". Digo assim: "Então você estava disposto (...) a pagar a tiragem dum dente"? "Eu estava, sim senhor. Assim arranjasse uma pessoa"... Digo eu assim: "Venha comigo num instante". Eu olhei para o relógio, vi que aquilo ... "Já está mesmo, com certeza, na hora de ele fechar a porta. Marche"! Chego ao fundo da escada, bati, chega uma senhora lá ao cimo da escada e diz aqui assim: "Já parou a consulta". E eu faço a queixa: "Ó minha senhora, eu não venho para ser consultado. Eu venho para pagar uma dívida ao Senhor Doutor". INQ2 Ha, ha, ha! INF Não, mas é que era de verdade que eu devia. INQ2 Ah! INF Devia o arranjo de (...) uma placa. "Então suba". Mas eu pus assim as mãos detrás das costas e fiz assim ao outro. INQ2 Para ir atrás de si. INF E o outro subiu escada acima coiso. Que eu tinha confiança com o médico! INQ2 Pois claro. INF Entrei para dentro e digo: "Ó Senhor Doutor, desculpe de eu não ter pago há mais tempo, mas eu vim aqui em tal tempo assim assim e o senhor não estava cá. Entrei além em casa do seu vizinho e ele procurou-me se eu sabia quanto é que era a conta que eu devia, que podia deixar lá o dinheiro, (...) que era entregue o dinheiro. Mas o Senhor Doutor não me disse quanto é que era que eu tinha a pagar. E então, olhe, eu não deixei o dinheiro porque eu não sabia quanto é que tinha a pagar. Agora venho procurar ao Senhor Doutor quanto é que eu tenho a pagar". (...) E o homem faz-me assim para mim: "Olhe, só pela sua prontidão, não é nada". "Ó Senhor Doutor, veja lá se fica mal". "Não, não fico mal". "Ó Senhor Doutor, mas eu queria-o incomodar noutra coisa". "Diga lá o que é". "Está aqui uma pessoa assim assim, que foi lá ao coiso (...) e já gastaram as senhas todas. O homem está à rasca com uma dor de dentes. O Senhor Doutor não fazia o favor, mesmo pagando - que o homem pagava -, tirava-lhe o dente"? "Diga lá ao homem que eu tiro". Oh! O homem estava aí atrás de mim, digo eu assim: "Vá, entre". O homem entrou, tirou-lhe o dente. "Então, quanto é"? "Não é nada". INQ2 Esse ganhou o dia. INF Depois eu marchei pela Rua do Comércio abaixo e o homem atrás de mim a falar sozinho. O homem a dizer assim: "Mas então, eu não conheço o homem de lado nenhum e agora o homem faz-me um trabalho destes?! Mas então o que seria isto? Isto seria algum milagre de Deus"? O homem a falar sozinho! Chega cá em baixo, cá de perto da árvore e diz-me ele assim: "Vamos ali beber um copo". Digo: "Olhe, eu acabei de beber agora. Vá lá vomecê beber o copo. Ouça lá, você está contente ou não está contente"? "Estou, sim senhora". "Eu também estou contente à mesma. Pronto"!
CBV30
INF Vomecê não faz uma ideia... O ano passado e este ano, esse traste dessa parreira que você vê aí, as uvas eram tantas que eu via-me negro para ser capaz de colher aquilo sem esfarrapar aquela trapalhada! INQ Tinha muita. INF Quer provar uvas? INQ Logo. INF Veja lá se quer provar uvas, eu ainda sou capaz de ir buscá-las. INQ Não, não vale a pena.
CBV31
INF Ah! Fazer É fazer o rabisco. INQ1 E aqui... Aqui fazia-se rabisco para quê? Também se fazia na azeitona e noutras coisas, ou era só na, na, na vinha? Ou nas cepas? INF Agora, infelizmente, a azeitona... Ficam até, às vezes, carregadas de azeitona, aí para trás, que ninguém as apanha. (...) Dantes é que é que havia rabisco. Rabiscava-se tudo e mais alguma coisa (...) e nada chegava. E agora... Mas eu espero por uma fome grande sobre esta coisa que se está a passar. Espero, porque estragar e não aumentar nalguma coisa há-de dar. E então, espera-se por isso. E aquela pessoa que é conchegada e que gosta de conchegar as coisas é murmurada pelos outros. Porque os outros são mais do que aqueles que são amigos de conchegar. Ouviu? INQ1 Hum-hum. INF Eu não sei (...) com quem eu estou a conversar. Mas o senhor também não sabe (...) com quem está a falar. INQ1 O senhor já sabe mais do que eu porque já viveu... INF Não, não sei não. Não. Não, não. Posso saber mais (...) do que a do ca si nalgumas coisas, mas há outras em que o senhor sabe mais do que eu. INQ1 Não, mas há certas verdades que o senhor está a dizer... Olhe e depois as uvas apanhavam-se para dentro de uns cestos, não é, e levavam-se para cima, para dentro de uma coisa que estava em cima dos carros? INQ2 Na vindima. INQ1 Na vindima. INF Era para a tina. INQ1 E depois, ela dentro dessas tinas para onde é que se levava? INF Bem, bom, mesmo em cima de um carro. INQ1 Para onde? INF (...) Para o coiso, para o lagar (...) . E depois lá no lagar... Mas aquele patrão que eu tive - que eu falo nisto -, esse gajo era tão artista para aquilo... (...) Quando eu lá estava, sabe o que é que o gajo mandou fazer? Uma quantidade de cestos, uns maiores, outros mais pequenos, em folha. Mesmo que esmagassem as uvas lá dentro do coiso, aquilo (...) ia tudo ter lá ao lagar. Ui Jesus! INQ1 Pois. Por aqui nunca houve lagares para fazer vinho, pois não? INF Não. Não. Para aqui só houve ali uma vinhazita ali, assim coisa. E pronto! E havia outra também ali num monte, aí mais abaixo. De resto, (...) não dei notícia aqui (...) de vinhas. INQ1 Mas o... O senhor sabe como é que se fazia o vinho? INF Eu (...) aprendi qualquer coisa lá. (...) Passei lá noites a pisar essa trapalhada (...) e a fazer mudanças e essa coisa assim. INQ1 E dava algum nome àquele vinho que ainda era doce, quando ainda nem... Nos primeiros dias? INF (...) O palheto ou água-pé, (...) ou qualquer coisa assim. Ele havia tantos nomes assim nesse feitio. INQ1 Não havia nada que chamasse o mosto? INF Ah! O mosto, (...) isso era o bagaço, a parte do bagaço. Quando era (...) aqueles restos do bagaço - sim, aquilo tem mesmo o nome de bagaço - é que é que chamavam-lhe o mosto.
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INF É dentro de tonéis. E o Ansur, para acabar com os tonéis - que o gajo tinha lá tonéis pequeninos que eu cabia lá de pé dentro deles -, mandou fazer mas foi casas. Tonéis em cimento. Eh pá! Eu não sabendo, mas daqueles novos! E um dia avanço lá pelo meio da adega - eu vinha duma hortazita que eles tinham lá ao fundo da vinha e passei assim por dentro da adega -, pó-pó-pó-pó-pó-pó-pó! "Ai, deve estar para aqui, alguma coisa a ferver"! Subo escada acima, chego lá, estava assim uma coisa assim deste tamanho. Tudo em cimento! Era um funil, hem! Cabia um homem, dali , a entrar lá para dentro! Era aquilo que estava cheio (...) de vinho e (...) estava a ferver. Bonito, sim senhora! Mas eu (...) não tinha o treino daquelas coisas. Fui lá acima; ninguém me viu lá ir mas eu também não disse a ninguém, nem fiz admiração, que era para os outros não dizer dizerem assim: "O parvo, o filho da puta nem sabia o que era isto"! INQ E o... O tonel costumava ter uma coisa à frente, que a gente abria ou fechava para poder, para poder sair o vinho. INF Isso é (...) a torneira das provas. INQ E sabe o nome que se dava nesses tonéis de madeira a cada uma daquelas tábuas, que formavam depois todas o tonel? INF Eu soube isso, mas agora não me recorda.
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INF Como é que se apanhava? Havia várias maneiras: ripava-se. Há quem ripe. Há tantos processos de apanhar a azeitona! INQ Diga. INF (...) A pessoa, às vezes, quer apanhar uma mão-cheia de azeitona, abre um guarda-chuva, pendura e arriba para dentro do guarda-chuva. INQ Isso é uma maneira. E as outras? INF As outras maneiras é : estende uns panos no chão, se os tem, e ripa, ou vareja, para cima dos panos. Mas se vareja, há muita que vai lá para longe. Essa desaparece. Se não tem panos, bate para o chão e depois apanha. INQ E varejava com quê? INF Com uma vara. Ou que fosse de oliveira (...) ou que fosse com um varejão - com um varejão! -, porque isso era então uma vara grande (...) de castanho. Mas isso já se não vê. Agora o que se vê por aí é canas-da-Índia.
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INF Bem, isso... Quer dizer, aquele que mandava moer (...) a azeitona, levava-a para o lagar. E aquele (...) que a vendia, ia levá-la à comissão. INQ E, quando a levava para o lagar, aquele sítio onde a azeitona ficava lá guardada? INF (...) É uma tulha (...) . INQ E depois... INF Ou, se não havia tulhas, ficaria lá ensacada em qualquer sítio. INQ Sim senhor. Depois da tulha, para onde é que ela ia? INF Ah! (...) Da tulha seguia lá (...) para o moinho, para moer. Ia às pedras. As pedras moíam e depois iam ao aperto. INQ E como é que se chamava aquilo que se tirava depois de ser moído pela, pela pedra? INF Bagaço. INQ Era o bagaço? INF Bagaço, pois. INQ E que se punha dentro de quê? INF O bagaço? O bagaço era metido dentro das seiras que era para ser espremido para vergar o azeite. INQ Portanto, as seiras aqui tinham um buraco, não era, que se enchia? Não é isso? INF Sim. INQ E não havia uns que eram só direitos, que era só para separar? INF Não. INQ Não? INF Não. Quer dizer, eram... Direitos são todos. Mas têm um buraco dum lado assim. Isto. Assim, (...) neste aspecto. E aquilo era metido ali naquele coiso e as seiras depois eram atiradas para aquele lugar em que ficava com um coiso assim. E depois quando estava lá uma certa conta, vinha o aperto - vinha de cima - a apertar aquilo. Aquilo era água ruça para um lado e o azeite para o outro. E depois é que ia separando. INQ Pois.
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INF Não. Quer dizer... Havia... Há um lagar ali em baixo. Aquilo é tão velho! Mas é novo. É o lagar novo. Tem esse nome. E se o senhor passar lá pela estrada (...) para Fronteira, olhe lá, porque tem lá o letreiro. Diz: Lagar novo. (...) INQ Mas já não trabalha? INF (...) Já não. Aos anos que aquilo está parado, que aquilo não trabalha. Mas quando eu era gaiato, ainda lá fui algumas vezes e vi lá os homens a trabalhar com aquilo. E então aquilo era (...) com umas palancas, metia-se metia assim um num buraco e andavam assim à roda e (...) com aquele peso para espremerem espremer (...) as seiras. E assim é que é (...) o trabalho feito naquele tempo. Agora? Ai, valha-me Deus!
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INF Era uma azenha. INQ E o homem que trabalhava na azenha como é que se chamava? INF O moleiro. INQ Os daqui foram sempre assim? Foram d-, dessa maneira? Portanto, havia só duas ou três aqui, não havia mais nenhuma, ao longo da ribeira... INF Quer ver? Há uma lá em cima... Ah! Ah! Há duas lá em cima que eu nunca as vi trabalhar. INQ Hum-hum. INF Ali da estação para cima. Aqui ao pé das termas há uma outra - que essa ainda a eu vi trabalhar, ainda comi lá a farinha que foi lá fabricada. Três. Aqui em cima (...) nesta direcção há outra que essa ainda eu comi de lá farinha depois de casado. Quatro. Depois havia outra lá em baixo. Cinco. Só aqui nesta ribeira havia cinco. Cinco moinhos desses. Agora está outra ribeira além daquele lado - passam duas ribeiras aqui em que dantes tinha muitíssima água. E hortas, isso era sempre aí hortas aí por todos os cantos. A outra lá daquele lado tinha uma que eu nunca a vi trabalhar mas estão lá os arcabouços , ali quando se vai por a estrada nova, que se passa ali à casa de cantoneiros... Antes de se chegar à casa de cantoneiros, há ali umas paredes velhas, ali assim, está ali um açude, aí havia uma azenha. Mas (...) essa quando eu conheci aquilo (...) já mal era uns casarões, já não tinha telhado, já não tinha nada. O meu sogro morava noutra. Essa, ainda eu vi trabalhar. Logo mais abaixo havia outra... Essa, também nunca a vi trabalhar. Essa, também nunca a vi trabalhar. INQ Então ainda havia umas quantas, aqui. INF E (...) dali, haveria noutros tempos mas isso já eu não alcancei, (...) nem pouco nem muito. Mas ainda era fácil haver porque estava lá o sítio por onde passava a levada que levava a água para as azenhas. INQ Portanto, se eu bem percebo, havia o açude que era onde juntava a água, não era? INF Pois. INQ E depois havia... INF Aquela levada que tinha um aqueduto por quando onde havia cheias grandes, para não ir água demasiada para dentro da vala. Caía ao açude para baixo.
CBV37
INF Punha uma certa porção de sal. (...) Punha o fermento, que era fermento que se guardava em casa, um bocadinho de massa, para fazer o fermento. Aquilo era desfeito dentro da água e depois aquilo ficava metido na massa. Mas era desfeito... Por exemplos, era posto numa tigela de molho, hoje, já para se amassar amanhã de manhã. Ficava toda a noite e depois no outro dia desfazia aquilo conforme o fermento estava. Às vezes podia estar já enresinado alguns bocadinhos e não dar para desfazer. Mas desde que estivesse assim dentro de uma certa ordem, aquilo, com a mão, desfazia, e depois era deitado para dentro (...) da coisa. Mas se havia alguns caroçozinhos daqueles, eram tirados para fora. Eram passados por um pano para dentro da massa. Aquilo não era (...) assim deitado à massa; era passado ou por um passador ou por um pano ralo (...) para ser amassado.
CBV38
INF E outras vezes, quando às vezes vinha assim, partia-se assim um pão e deitava-se-lhe um pouco de azeite (...) para cima. E comia-se aquilo. Chamavam-lhe eles uma tiborna. INQ1 Que se fazia... INQ2 Aqui também nesta... Aqui em... Chamavam esse nome aqui em, em Cabeço de Vide? INF Chamavam, sim senhora. INQ1 Portanto, não era só quando se estava no lagar, também se fazia em casa, essas tibornas? INF Não, não era só no lagar. Quer dizer, em casa (...) quem queria fazer quando tinha assim o pão mole... Era com pão mole é que é que se fazia aquilo. Naturalmente, se fizesse com pão duro, era capaz de ele não (...) ... Era capaz (...) de não saber tão bem. (...) Quer dizer, aquilo ainda não era lá bem pelo paladar que tivesse especial. (...) Era um estilo, era uma moda.
CBV39
INF No tabuleiro. Estão me chamandem. Está um tabuleiro aí em cima daquele sobrado, que eu fiz... Porque o meu genro tem a tentativa de padeiro e está lá (...) um coiso... Digo eu assim: "Em o querendem levar, podem-no levar". INQ E depois ia do tabuleiro e então havia um, um sítio que, aonde se punha depois os... INF Havia um sítio aonde se pendurava o tabuleiro. INQ E depois de estar no tabuleiro para onde é que ele ia? INF (...) A gente, (...) nas nossas casas, tínhamos um sítio qualquer aonde se pendurava uns arames e depois punha-se uns paus e punha-se o tabuleiro lá. A gente passava por baixo do tabuleiro. Quando era preciso tirar o pão, INQ Tirava. INF levantava a mão e tirava o pão. INQ Sim senhor. INF Mas aquilo era já preparado para a pessoa passar. Só chegava lá se levantar assim as mãos para cima. INQ Portanto... E quando se... Aquilo onde se punha lenha para aquecer, para depois se pôr o pão lá dentro para... INF Forno. O forno. INQ E o forno era dentro de casa ou estava no, no sítio ao lado, da casa? INF O forno, cá (...) na vila, era dentro de casa. INQ E nas herdades? INF Mas eu também tive... Morei em montes que o forno era particular. (...) Era uma coisa feita (...) à parte (...) das paredes do monte. Fazia-se o forno e cozia-se lá. (...) INQ Portanto, e como é que se chamava àquele sítio onde o forno está? INF (...) Tinha um alpendrezinho com um peal de cada lado... Punha-se ali assim e o pessoal estava a trabalhar a meter o pão no forno. (...) Ou a pôr ou a tirar. INQ E... Mas ali chamava-se quê? O forno ou a casa do forno? INF Casa do forno. INQ Então, depois, punha o pão em cima duma coisa para... INF A pá. INQ Para quê? INF Era a pá. Punha... Conforme era o tamanho que tinha a pá e conforme era a prática que a pessoa tinha, punha um, dois, ou três pães em cima da pá e zás!
CBV40
INF Então, o linho era semeado e depois - aquilo, é claro, era semeado basto; e era uma coisa basta -, e depois era colhido. Quando era que estava feito, que deitava a semente - tinha a semente, deitava a flor na ponta -, deitava a semente e depois aquilo era colhido e era posto assim às mancheias. Não era a fazer molhos grandes. Era assim às mancheias. Aquilo depois ia... Aquilo ia secando. Secando, e depois de estar seco é que havia alguém que gramasse aquela coisa. Porque eu, por acaso, gramei dois anos isso, o linho.
CBV41
INF Eu gramei o linho dois anos com um homenzito que era aí da Beira. Havia aqui um tipo qualquer que corria aqui o Alto Alentejo todo a fazer cordas de linho, de cabelo, de junça, de várias coisas. E então havia ali a quinta do Peão . O homem semeava muito coiso, porque tinha uma lavradoria muito grande. E então houve um ano que o homem veio para ali com a gramadeira à frente (...) dos que viu que faziam as cordas. Porque era para quando (...) os que faziam as cordas chegarem, já estava... Porque aquilo só o que fica é a pele do linho. O que faz as cordas é (...) a pele (...) da planta. INQ Dava algum nome a essa pele? INF Linho. Cordas de linho. (...) Era só o nome que tinha era cordas de linho. E então, quer dizer, a passagem (...) do coiso ia moendo (...) o pauzinho que tinha o linho dentro. Ia moendo e ia caindo para baixo. Ia caindo. Só o que andava por cima (...) era o que fazia a corda; era a pele. E então, ali andávamos coiso. (...) E aquela gente era um bocadinho judeus uns para os outros. Eu já tinha visto fazer aquilo; (...) e era (...) um grado e era um pequenino. (...) E o grado, de cada vez em quando, estava a rodar assim para além, voltava de repente e pregava com a maniota - com a outra maniota - no coiso. Porque (...) para onde roda uma, roda a outra. E eu, no fim, quando foi aos dois anos, eu digo assim para o rapaz que estava a gramar o linho - que era o que ia por conta do tal mestre Antoliano -, eu digo assim: "Ó Antolino, eu gostava que tu me fizesses a mim - estândomos a gente a falar - o que vocês costumam a fazer aos gaiatos, bater-lhe com as maniotas na mão". "É já". O gajo para mim: "É já". Digo assim: "Pronto! Em tu querendos"! E diz-me ele assim para mim: "Mas você não me segure a maniota". "Não seguro; eu deixo-a andar à vontade". Porque, é claro: buuum-buuum! Buuum-buuum! INQ Então, mas quando estava a fazer isso era sempre duas pessoas? Cada um estava numa maniota... INF Pois. Cada um tocava em sua maniota. O gajo quando parou estava estafado! E faz assim para mim: "Ó alma dum raio, que não sou capaz de lhe tirar a maniota da mão"!
CBV42
INF Bem, aqui há uma coisa que a gente... Eu até não sei explicar INQ1 Deixe estar, deixe estar. INF isso que vocemecê está a dizer. Tenho ouvido falar mas não sei explicar. INQ1 Sim, mas não. Eu estou a falar de coisas, aquilo que houvesse cá. INF (...) Mas aqui há e cá na minha casa há rocas para colher fruta. INQ2 Para? INQ1 Colher fruta. INQ1 Ah! Colher fruta. INF Para colher fruta. INQ1 Que é um... INQ2 Que é o quê? INQ1 Explique o que é uma roca de colher fruta. INF É feita duma cana. INQ1 Hum-hum. E depois tem alguma coisa na ponta, ou não? INF (...) Ali em baixo, tenho eu ali naquele casão , tenho ali. INQ1 A gente depois logo ou amanhã... INF Tenho ali três ou quatro. INQ1 E tinha alguma coisa assim na ponta, espécie dum cestinho, era? Para apanhar a fruta? Como é que era essa? INF Olhe, eu nunca vi ninguém colher laranjas com rocas. Porque a roca a colher a laranja... Porque a colher qualquer fruta, a gente mete a fruta dentro e torce. Mas a laranja não pode ser. INQ1 Tem que se puxar, não é? INF Não, não. Assim esgarra. Então, isso era o que usavam ali no lar. Era uma coisa com um gancho. (...) E agora ali, quando foram os primeiros anos, não faltou eu tirar-lhe os ramalhos secos, esgarrados assim dessas condições. A roca colhe muito bem a fruta mas há-de-se pôr a gente a direito, o mais direito que possa, com o ramo de aonde está a fruta e a empurrar para lá. Nem Não é a puxar para cá. Quem puxar para cá, ela fica lá. É a empurrar assim a direito com o ramo.
CBV43
INF Isso dão-lhe um nome, mas, olhe, eu não sou capaz... Não sou capaz agora de dizer... INQ Não chamavam o rabisco ou... INF Pois. Era o rabisco da cortiça. Mas parece que isso tinha assim um outro nome qualquer. Tinha outro nome . INQ Depois... INF (...) Mas, quer dizer, isso de se dizer o de rabisco, costuma a haver aqui esta coisa: (...) havia uma tirada de cortiça, no tempo da fome - agora, por enquanto, estamos ainda no tempo da fartura -, havia quem pedisse: "Ó, o senhor, deixava-me ir lá rabiscar"? E outros não pediam. Isto era (...) o fim da árvore, (...) o princípio, e parava aqui assim a coisa. E iam com uma ferramenta, tiravam aqueles bocados de cortiça cá em baixo e levavam-na. Mas, isso era proibido. Isso era proibido. Mas havia muita gente que ia ao rabisco da cortiça e fazia isso. INQ Pois.
CBV44
INF Aqui já há muitos anos, aqui, estas áreas aqui, era aqui combatida dos lobos. E os lavradores queixavam-se que, de vez em quando, ovelhas, cabras, coisas dessas assim, os lobos perseguiam isso aí. E depois, a serra de São Mamede é que era que pagava, que era o quartel (...) dos lobos. E então os lavradores fizeram uma reclamação ao Estado (...) e fizeram uma batida (...) na serra de São Mamede, aos lobos. Apanharam tantos como é que se lá não fossem. Eu fui lá. A gente fomos começar aí para o lado de Alegrete - é que a gente começou na serra - direito mesmo à serra de São Mamede. Oh pá, então eu, eu passei a sítios tinha que fazer assim aos pinheiros para ser capaz de passar! Porque era pinheiros que davam para vergar. Mas no sítio onde eu passei, dali para baixo, havia ali um coiso qualquer (...) de corrente de água, e lá em baixo havia um rochedo, e ao fundo do rochedo fazia um grande pego de água. E lá donde estava pus-me a contar o pessoal que estava lá. (...) Ao pé desse pego contei lá trinta pessoas! Estou convencido que (...) de mim até lá aonde estavam esses, (...) , não passou lá ninguém. Os lobos tinham lá muito campo para lá ficarem. Não passou lá ninguém porque o caso era este: é que o mato, juntamente (...) aos pinheiros, era muito. E então a carumba ia caindo em cima daquele mato, ia acamando o mato. Mas acamava até um certo ponto. Havia vezes que eu levava assim um pau e punha o pau assim e sumia-se-me o pau todo para chegar ao chão. E outras vezes eu não punha o pau, eu punha lá os pés, ia logo para baixo, até chegar ao chão. Era a carumba que estava no coiso. Parecia que era o chão mas não era o chão. Era o mato que estava debaixo da carumba.
CBV45
INF Bem, abria conforme a qualidade. INQ Hum-hum. INF É que havia obra dessa que era com cunhas e era a poder de marretar muita vez. Que isso (...) há árvores que têm as linhas torcidas de tal ordem que aquilo não abre. E se as linhas foram forem a direito, qualquer coisa abre aquilo (...) duma ponta à outra. INQ Hum-hum. Mas depois trazia essas... Agora foi-se-me o nome. INF Cavacos. INQ Essas cavacas para casa, não é? Mas não as punha inteiras ao lume, pois não? INF Não. Está a ver , pô-las todas ao lume!... Punha as que fazia falta! INQ Mas não... Quando queria fazer mais pequeninas, não, não... Olhe, com que é que punha uma, uma árvore abaixo? INF Era com a picota. INQ E como é que era a picota? INF Quer que eu vá buscar? INQ Não, depois... Explique-me, depois a gente vê. Diga lá. INF A picota é feita duma picareta. INQ Hum-hum. INF A parte da pá (...) da picareta, essa serve para cavar. E a parte do bico, faz-se-lhe um corte que é para cortar. Vai ao ferreiro, faz-se o corte; já nem é bico; é já um corte. (...) INQ Mas não... INF (...) Isso só serve, por exemplos, para bater assim para rachar. (...) Não sei se reparou além aquela coisa de tábuas que está além tudo rachado? INQ Hum-hum. INF (...) É com a picota é que eu (...) estou a fazer aquele trabalho. INQ Com a picota? Mas não havia um, um pouco maior do que a machada, que também era para rachar lenha? INF Maior que a picareta? Não. INQ Do que a machada, do que a machada. INF Ah! (...) Isso havia dantes. O meu pai - que Deus tenha -, conheci-lhe uma coisa dessas. Era uma maneira dum enxadão e tinha (...) uma peta para cortar. Na parte (...) onde havia de ser o olho, tinha uma peta com um corte que era para cortar. INQ Hum-hum. INF Dum lado cavava e do outro lado cortava. Mas nada como a picota! INQ Pois.
CBV46
INF Aquilo quando é (...) que se começava a fazer um forno desses - que era o que se chamava também era um forno -, punha-se uns paus assim no chão. Um aqui, o outro além. E aqueles madeirões - às vezes, troços de árvores, inteirinhas e direitas - punha-se atravessado em cima daqueles paus, que era para não ficarem assentes no chão. Que era para quando o lume lá chegava, eles estavam no ar, e o lume apanhava-os bem. E se estivessem (...) assentes no chão, o lume não os apanhava. Porque a parte que estava assente no chão ficava sempre crua. Não ficava cozida; não ficava a fazer carvão. E então aquilo era posto assim e depois dali era ir encostando madeira, madeira, madeira. Quer dizer, ficavam uns deitados, assim a fazer um certo vulto, e depois era postos assim de pé. Encostados; todos encostados; todos encostados. Mas, quer dizer, a deixar buracos pequenos; porque, é claro, a madeira encostada uma à outra fica sempre buracos (...) . E se ficasse buracos grandes, aquilo avagava muito e podia abrir uma aberta na terra; e desde essa aberta, começava a sair o lume por lá, começava a fazer cinza em vez de fazer carvão. INQ Então, quando estava a pôr a madeira toda, o que é que dizia que estava a fazer? INF Estava a enfornar. INQ Depois deixava-se uns buraquinhos por cima do... INF Isso era depois de a terra estar lá posta é que ficava uns buracos assim perto do chão. (...) . E depois assim ao meio (...) da altura (...) do coiso ficava também outros buracos na terra para coiso. E ficava um no cimo. E quando o lume perseguia um sítio daqueles buracos, via-se logo. Por o fumo, via-se logo que o lume que estava a trabalhar forte naquele sítio. Punha-se-lhe um terrão em cima e se se visse que aquilo que estava a demasiar um bocadinho, punha-se-lhe terra para cima que era para tapar a respiração, que era para o lume não ir lá. Porque se o lume (...) continuasse lá a fazer, fazia era cinza; não fazia carvão.
CBV47
INF Havia quem fizesse isso. (...) Curtiam eles mesmo as peles e faziam casacos. Mas havia pouco quem fizesse isso. INQ Hum-hum. INF Porque era ruim. Era bom por um sentido, mas era ruim por outro. (...) Se a lã ficava para fora, mal qualquer coisinha de água, aquilo encharcava logo. Se a lã ficava para dentro, ficava o casco para fora, começasse a apanhar água, apodrecia depressa.
CBV48
INF Podia ser (...) o cacheiro ou o pau. Ou podia ser o gravato. INQ1 O cacheiro como é que era? A forma dele? INF (...) É um pau qualquer. INQ1 E que tinha uma dobra na ponta? INF Não. INQ1 Não? INF É um pau direito. INQ1 Um pau. Um pau direito. E o... Então e o... INF (...) Está um além (...) encostado além ao canto da porta, do que vai para a rua. Está além um pau. INQ1 Mas aquele... Aquele tem uma coisinha assim... INF Tem. INQ1 E esse é que se chamava o gravato? INQ2 Não. Cacheiro. INF Não, não, não, não. INQ1 Cacheiro. INF (...) Esse que tinha a coisinha assim é que era o gravato mas não é aquele. Aquele (...) tem lá um gancho lá em cima, mas é para eu colher as laranjas. INQ1 Ah! INQ2 Ah! INQ1 Portanto, o gravato tinha assim uma coisa como esta, como esta bengala que o senhor tem aqui... INF O gravato tem uma coisa assim: (...) faz uma bolinha aqui na ponta, assim redonda. E depois aqui assim - vem quase a unir... INQ1 Dobra, não é? INF Aqui assim... (...) Aqui assim. Por exemplos, bate aqui. Aqui assim aperta mais um bocadinho e aqui assim é um bocadinho mais largo. Fica a ponta assim mais aberta que é para quando deitar deita o coiso, entrar a perna do animal ali. Em a perna entrando ali, pronto, já dali não abala. INQ E o... INF (...) Só fazendo-lhe ele assim INQ É que... ele sai... INF (...) para sair. INQ Para sair.
CBV49
INF Aquele patrão ali onde eu estive, quando eu comecei a conhecer aquilo, ele tinha ali um pastor muito antigo. O homem ganhava sessenta ovelhas. O homem tinha de polvilhal sessenta ovelhas. E de comer! Ia buscar o comer ao monte. (...) Aquele homem foi dos homens que eu conheci aí mais 'exemplário' nessas coisas foi aquele homem. O pastor começou a envelhecer e tinha lá um filho - foi toda a vida a ajuda do pai -, esse é que ficou a ser o pastor. O pai mandou-o para casa, mas o filho todos os meses lhe ia levar o dinheiro; e levava-lhe um tanto de farinha para eles amassarem para terem pão. Faz de conta, quer dizer , se lhe havia de dar o pão, dava-lhe a farinha; porque dar-lhe o pão, tinha que todas as semanas ir lá levar o pão, não era? Assim, levava-lhe a farinha, eles amassavam. Esta semana amassavam uns tantos quilos; e para a semana amassavam outros tantos quilos; e assim é que é (...) que a pessoa se... (...) Muito antes destas coisas serem conforme são, hoje!
CBV50
INF O pastor, às vezes, queria ir para aqui ou para além, pois, tinha um carneiro - até, às vezes, capado -, com um chocalho. Esse carneiro estava ensinado e ele (...) prendia (...) o carneiro com um cordel e abalava com o carneiro. INQ Ah! Andava com o carneiro à frente, não é? INF Vai com o carneiro à frente e as ovelhas iam todas atrás daquilo. INQ Portanto, não... Não havia nada que se dissesse que era... Ele estava a tocar o gado? INF Não, não... O gado estando habituado àquilo, conforme ouviam o toque do chocalho, do coiso, (...) ia tudo atrás. INQ Sim senhor. INF A passarem passar aí uma ribeira, aonde havia dificuldade, que o gado não queria passar - por exemplos, que levava muita água, ou qualquer coisa assim -, ele pegava no carneiro e passava por cima das passadeiras, ou por aqui ou por ali, lá como era que ele podia. Em o carneiro passando, as ovelhas passavam também INQ Passavam todas.
CBV51
INF A luzerna. INQ Havia a luzerna e havia outra, que também falou... INF (...) Há uma outra erva: o trevo. INQ Havia o trevo. INF (...) O trevo. Há uma outra erva que eles além para aquele lado... Aqui têm medo dela e para além semeiam-na - que é (...) o cizirão. INQ Hum-hum. INF Foi a admiração, lá da tal quinta onde eu estive, foi o homem que me diz assim para mim: "Ó senhor André, vomecê é capaz de debulhar o cizirão"? Eu tinha por jeito dizer assim sempre: "Ah! Dá-se-lhe um jeito"! E eu fui para lá com o tal mangual, debulhei aquilo, (...) limpei-o, ensaquei-o, eu depois digo-lhe para ele, digo: "Olhe, já pode mandar buscar o cizirão; já está coiso". Mas eu a debulhar o cizirão e a pensar assim: ora lá na minha terra toda a gente tem zanga a isto porque isto, onde quer que é que aparece, começa a crescer e a agarrar-se a isto, àquilo... E aquilo cresce sei lá o quê! E aqui (...) semeiam isto.
CBV52
INF (...) E depois há uma coisa que eu ainda ontem falei isso aí. Havia ali um lavrador que tinha uma manada de éguas e (...) quando a égua não pegava, pregava com ela no trabalho. E não era para aí assim muito bem tratada; (...) era a trabalhar. E depois quando era (...) que ela se saía, era dito e feito. INQ Mas dá algum nome àquele, ao gado até que de... Normalmente quando há nos rebanhos, costuma-se pôr o gado que não ficou, que não tem crias num ano, fica separado do outro que tem crias... INF Bem, há uma altura qualquer, quem tem muito, faz uma separação dos animais. Agora quem tem pouco, é tudo junto, sempre a andar. (...) Não faz distinção nisso. Agora quem tem muito, é claro!... Como aquele! Aquele fazia um bocadinho de distinção nisso. E até que ele até, tudo misturado, trazia gado registado na coudelaria - estavam lá registadas - e quando havia uma morte num animal desses, ele tinha que lá ir dar baixa daquilo. INQ Pois, pois. INF Tinha que ir lá dar baixa daquilo, porque se não fosse dar baixa, era multado. INQ Rhum-rhum. E o que era... INF (...) Esses animais, quando tinham uma cria, quando a cria tinha um ano, ia à remonta. Ia à remonta, é claro, depois ou ficava aprovada ou não ficava aprovada. Se ficava aprovada, ficava registada; mas se não ficava aprovada, não ficava registada. INQ Portanto, ir à remonta ia-se mos-, ia mostrar como é que, INF Pois. INQ que ela, se era, se tinha raça para, para... INF (...) Se tinha boas condições. Aquilo vai uma gente, umas pessoas 'qualqueres', talvez com aparelhos - que eu nunca assisti a isso - inspeccionar o animal. E se por acaso (...) não der lá ao coiso que é o coiso , eles não registam aquilo.
CBV53
INF Beberem. Bem, no sítio onde eu estive não bebiam água lá dentro. Eles só lá iam dormir de noite. E depois havia um poço ali que tinha um chafariz, a gente tirava água ao poço, enchia o chafariz, e eles bebiam água lá no coiso. Quando era de Inverno, que chovia - que havia Invernos... -, qualquer regato estava a correr água, eles bebiam água em qualquer lado. INQ Mas não havia nada que, em que se pusesse assim água para eles beberem? Portanto se... Ou feito de madeira, ou... Aqui não havia? INF Não. Quer dizer, o que lá havia naquele sítio... Isso é quando não há, é que fazem um gamelão de madeira e os animais vão beber água a esse gamelão. Mas, praticamente, quem é que tem, faz uma coisa daquelas, serve para de Verão, e serve para de Inverno, e serve para sempre! INQ Serve para sempre.
CBV54
INF (...) O rescaldo - vá lá assim - o rescaldo que escorre do leite ou dos queijos, fazem atabefe. Fazem requeijões. INQ1 O atabefe é aquilo que escorre do leite, não é? Do queijo? INF Não, não. INQ1 Não? INF (...) O que escorre é... INQ1 O almece? INF Não. É uma espécie assim (...) de almece, pois. Quer dizer, é uma parte mais frouxa. Mas isso depois é posto ao lume e é mexido. E (...) faz o tal rescaldo (...) que é o atabefe. E desse atabefe fazem requeijões. INQ2 Pois. INQ1 E quando se faz-... INF Há gente que dá grande valor a isso. Eu dantes gostava muito disso, mas uma ocasião comi e fez-me mal... Olhe, nunca mais comi! INQ E... INF Mas dantes havia muito isso e agora não há.
CBV55
INF O cardo. INQ1 Rhum-rhum. INF Era o cardo. Punham Põem o cardo. Há (...) umas alcachofras (...) dumas cardeiras que deita uma flor e essa flor é aproveitada que é (...) para fazer o queijo. Mas hoje já fazem queijos sem levar isso. INQ1 Sem levar o cardo. INF Sem levar o cardo. Mas, quer dizer, o cardo põe (...) um certo paladar. INQ1 E então, quando o cardo trabalhava o leite, ou ficava assim duro, como é que chamava àquilo? INF Quando o cardo ficava... INQ1 Não. Quando o cardo se punha no leite, o leite INF Sim. INQ1 ficava mais durinho. Ficava mais... Não ficava assim tão líquido. INF O cardo não é posto no leite. INQ1 Então como é que é? INF O cardo é posto de molho. Está um certo tempo de molho e depois é que é posto no leite. Porque isso, se o cardo fosse posto no leite, depois aparecia (...) nos queijos. INQ1 Pois. Portanto, é de molho e depois quando se punha esse molho para dentro... INF A água INQ1 Essa água. O que é que acontece ao leite? INF é que se punha no (...) ... Punha-se no leite. INQ1 E depois o que é que acontecia ao leite? Não ficava assim tão líquido, pois não? Ficava mais... INF Ele não ficava tão líquido mas, quer dizer, tudo isso era aquela parte que saía do queijo. Quando os queijos estavam (...) a coiso, aquilo ia escorrendo. INQ1 Chamava-se... INF (...) A pessoa que estava a tirar a coalhada - vá lá este nome que ainda não tinha saído! -, quando tirava a coalhada dalém, é claro, (...) depois no fundo, aonde era que tinha a coalhada, ficava também líquido. INQ1 Rhum-rhum. INF Porque, é claro, o líquido eles não o punham a fazer... Não faziam queijo do líquido. INQ2 Pois. INF Quer dizer, o escorrimento (...) do coiso é que era a parte que vinha escorrendo (...) pela barreleira abaixo. INQ1 Sim senhor. INF (...) E caía ali para dentro duma coisa qualquer que eles tinham a aparar.
CBV56
INF É Era o almece. INQ2 Mas o almece era a mesma coisa que o atabefe? INQ1 Não. INF Não. Era do almece é que saía o atabefe. INQ1 Exactamente. INQ2 Que se fazia requeijão. INF Porque (...) o atabefe era feito dos sobejos de gordura (...) que calhavam a ir no almece. INQ1 Pois. INF É que era que coalhava. É que é que (...) fazia aqueles tremoços, aqueles caroçozinhos (...) de coalhada. Porque o que era simples, não coalhava nunca. INQ2 Não coalhava. Portanto, o almece era o... INF (...) Isso servia era para dar aos porcos.
CBV57
INF Era o chambaril. INQ1 Que prendia aonde? Num...? INF (...) Prendia (...) num lado qualquer, (...) onde ele pudesse com o peso do porco. INQ1 Mas o chambaril a meio tinha o quê? INF O chambaril, é claro, (...) é um pau, assim neste feitio. Assim. INQ1 Sim senhor. E depois a meio do chambaril não havia uma coisa em ferro, assim? INF Não. INQ1 Não? INF Não. O chambaril é uma corda posta aqui por baixo, atada e pronto. INQ1 Sim senhor. INF Porque (...) a queda, para um lado e para o outro, é grande. O porco é: uma das patas de trás metidas (...) nas pontas do chambaril e, tanto pesa para aqui como pesa para ali, (...) não tomba. INQ1 Rhum-rhum. E depois pendurava-se assim? INF Pois. INQ1 Portanto ficava... INF Pendurava. INQ1 Ficava de cabeça para baixo? INF Quer dizer, até o chambaril estava lá posto, e agarravam eles o porco e depois enfiavam aquilo; porque, (...) aqueles nervos além nos corvilhões já iam preparados; é só chegá-lo a sus . INQ1 Sim senhora. INF Aquilo tem umas mossazinhas; entrando àquelas mossas para dentro, já não saem. INQ1 Depois então quando ele estava pendurado que é que se tinha que fazer? INF Era abrir que era para lhe tirar... Bem, tirar as tripas, é hábito tirar as tripas antes de o pendurar. INQ1 Ai isso era antes que se tirava? INF É. É porque evita também estar a levantar tanto peso. INQ1 Rhum-rhum. INQ2 Pois. INF Porque as tripas ainda é um pedaço de peso. INQ2 Pois. INQ1 Sim senhor. INF Tirar a buchada - é aquelas tripas todas -, aquilo ainda é um bocado de peso. E então, o porco está em cima duma banca, tiram-lhe o coiso. Mas também há quem tire as tripas assim pendurado. INQ1 Rhum-rhum. INF Isso é conforme (...) o jeito (...) que melhor dá na altura aonde é que isso é feito. INQ1 E ele ficava pendurado dum dia para o outro, aqui? INF Fica. Muitas vezes fica. Mas outras vezes não fica. Mas, parte das vezes fica. INQ1 E então como é que se dizia àquele trabalho que era depois de cortar o porco todo para tirar... INF (...) É desmanchar o porco. INQ1 E havia da, nas tripas havia umas que eram mais... INF Largas e outras mais estreitas. INQ1 Rhum-rhum. INF Umas eram cheias duma qualidade de carne e as outras eram cheias doutra.
CBV58
INF Chamasse?... INQ Os bofes? INF Bofes. Então, pois era, então. Era os bofes do porco. INQ Que também se fazi-... Também se punha juntamente na cacholeira? INF Pois, também, também, também. Também era metido juntamente como a outra carne. Porque aquilo, às vezes, sim, há uma carne que vai sempre apartada para aquela intenção. Mas, muitas vezes, carne mesmo que costuma ir noutras coisas, metem-nas e depois o tempero é que faz aquilo. Porque os chouriços têm um tempero; as cacholeiras têm outro tempero; os mouros têm outro tempero. Têm um tempero assim diferente; mas, mais ou menos, quase imitante . Porque a gente depois vai comer e não dizemos que tem tudo o mesmo gosto. Não. Cada uma coisa tem o seu gosto. Mas eu, era uma das carnes que eu... Eu gostava da carne toda. Do porco, gostava. Era da carne que eu mais gostava que é a que eu não posso comer agora. Mas (...) não se pode dizer (...) que havia carne de porco que era ruim. Eu achava-a toda boa mas a que eu gostava mais era das cacholeiras.
CBV59
INF Eu, uma vez, discuti com um... Discuti não. Só eu é que é que disse coisas (...) a um veterinário. Que eu estava a tratar de uma data de bezerros - que tínhamos comprado bezerros leiteiros - e um adoeceu. E eu fui a correr chamar o veterinário. Fui a Alter. Cheguei cá a Cabeço de Vide, encontrei aqui um homem. Eu digo assim: "Então onde é que você vai"? "Vou a Alter". Digo eu assim: "Eh pá! Eu fui lá a Alter e disse à irmã (...) do veterinário: "Veja lá se vê lá o veterinário e diga-lhe lá a ele que sem falta que vá ao monte da de Mateus, que está lá um bezerro doente". O homem foi lá. O homem foi lá e disse-lhe. Ninguém coiso . No outro dia tornei lá a ir. Também lá não estava. Tornei a recomendar. Bem, aquilo demorou quatro dias. No fim de quatro dias, o bezerro morreu. Você sabe que eu que chorei? INQ1 Rhum-rhum! Foi? INQ2 Rhum-rhum! INF Eu estava no monte, estava sozinho. Ia assim com a colher cheia de sopas para meter para a boca, o bezerro berrou. Eu pus a colher dentro da coisa (...) e corri lá. Foi quando morreu. INQ2 Hum... É, os animais criam amizade, também... INQ1 Pois. E a gente tem amizade a eles. INF Depois... Isto foi num sábado à noite. Eu estava sozinho lá no monte. No outro dia de manhã, montei-me na mota, eu marchei caminho de Vaiamonte e fui chamar os homens - porque no domingo não iam trabalhar - para irem lá para desfolarem o bezerro e abrirem a cova para se enterrar. Os homens foram logo lá. Chegaram lá, desfolaram o bezerro, abriram-no: "Então onde é que quer que"... "Abram aqui, aqui arrumado ao ribeiro. Isto aqui tem muito chão, fazem aqui uma cova depressa (...) para enterrar aqui o bicho". Acaba-se de enterrar o bicho, os homens foram-se embora INQ1 Aparece o... INF e vejo vir um gajo direito lá à arribana, aonde estavam (...) os vitelos. Mas eu não conhecia bem o gajo. Digo: "Eh pá! É capaz de ser o veterinário". Quando o gajo ia chegando lá perto da porta e eu faço aqui assim: "Ó amigo, o que é que você vai para aí fazer"? Mas eu estava a falar já assim já que estava desconfiado que era ele. INQ1 Pois. INF E diz ele aqui assim - ele matou-se mesmo pelas mãos dele -, e ele diz-me assim para mim: "Ó homem, tanto recado por causa de vir cá, por causa de ver o bezerro! Venho ver o bezerro". "Então, você é que é o veterinário"? Foi assim mesmo que eu tratei o homem. "Sou eu o veterinário, sou". "Então, (...) você fazia muito empenho em ver o bezerro"? "Pois então tanto recado"! "Mas mesmo assim, muitos, não lhe chegaram. Tantos que eu para lá mandei e nesse caso você recebeu os recados todos. Mas mesmo assim não chegaram. Agora se você faz muito empenho em ver o bezerro, eu vou a Vaiamonte chamar os homens para abrirem-lhe o bezerro, que é para você o ver, que está além enterrado, além ao pé do ribeiro. O bezerro morreu por sua falta"! INQ2 Rhum-rhum. INF "Então você sabe o que tinha o bezerro"? "Pois sei. O que eu não o sabia era tratar. O bezerro morreu com uma pneumonia". INQ1 Ah! INF O animal gemia como a uma pessoa. INQ2 Pois. INQ1 Pois. Coitadinho. INQ2 Devia querer respirar e não, não podia. INF Olhe, eu piquei aquela trapalhada tanto , o homem nunca mais lá arrumou . INQ1 Pois. INF Foi outro veterinário para lá, mas ele... INQ2 Ele não. INF E se ele devia favores ao patrão!
CBV60
INF Mas o que é mais valente para se espojar é os burros. Mas a égua, o cavalo (...) , também se espojam. Não é tanto como o burro. O burro é mais. INQ O burro é mais. E aquilo que, com que se prendia as duas mãos do cavalo que era para ele não andar tanto? INF Para não andar tanto? Era as peias. INQ Que era de mão a mão? Ou era de mão a pé, a p-, a pé? INF Pois. Não. Era de mão a mão. INQ E quando era de... INF (...) Então se era da mão (...) à pata, isso não era peado, era travado. INQ Rhum-rhum. Mas era a mesma coisa que se punha? Era a mesma, o mesmo tipo de coisa ou... INF (...) Há um outro processo (...) que eu vi. Um homem que tinha duas vacas (...) e a pastagem que tinha (...) para trazer as vacas, (...) estava lá oliveiras. As oliveiras eram baixas. Ora, as vacas, em dias que elas para lá fossem, andavam sempre a puxar pelas oliveiras. E então o homem prendia uma corda aos cornos da vaca e à mão. E a vaca quando levantava a cabeça para cima, tinha que levantar a mão. Vi eu a vaca levantar a mão, de propósito para chegar (...) mais alto às oliveiras. INQ E dava algum nome a essa maneira de... INF Então, era uma maneira (...) de travadeira. Era uma coisa para travar. Porque (...) ela fazia assim mas se não levantasse a mão, ela não chegava lá às oliveiras. E então, levantando a mão, chegava às oliveiras. (...) Era gaiato quando eu vi isto. Eu ia a passar pela estrada e vi (...) a vaca levantar a mão (...) para ser capaz de chegar aos ramos das oliveiras.
CBV61
INF As galinhas parece que dantes que não era assim. Mas agora, já tenho ouvido queixar muitas pessoas; as galinhas habituaram-se a comer os ovos. Elas mesmo. E lá naquele monte aonde eu estive havia muita galinha. Mas havia uma cerca em rede que elas estavam lá. INQ Estou a ver... INF Então eu o que é que havia de fazer? Elas comiam os ovos e quando uma punha um ovo lá no meio (...) da rede, ali (...) no campo, aquilo era uma festa. Era todo o bichinho é que lá corria a picar no ovo. Digo: "Essa é boa! Tenho que arranjar uma ideia para elas deixarem de comer os ovos". E digo assim (...) para um filho do patrão, digo: "Tenho que arranjar uma ideia (...) para as galinhas deixarem de comer os ovos". "Ai, Senhor André, isso, esqueça-se disso! Elas estão habituadas, elas comem". "Não comem. Eu arranjo-lhe um ninho que elas não 'há-dem' comer os ovos". "Está bem. Essas que puserem ali no meio"... "Mas eu arranjo-lhe um ninho que elas (...) não 'há-dem' comer os ovos". Que elas, mesmo os ovos que iam lá pôr ao coiso, comiam-nos logo lá. O que é que eu faço? Arranjo dois paus compridos, que apanhava a casa (...) donde elas dormiam de um lado ao outro. Pus-lhe uns pés; arranjei uns travessões assim (...) de pau a pau; e pus-lhe umas sacas. Dumas sacas que dantes traziam cem quilos - fortes! -, pus-lhe umas sacas daquelas assim no coiso. Abria-lhe um buraco e fazia-lhe um tecido com um cordel, à roda do buraco. Tudo aquilo fazia uma barreira, assim em palha, por baixo. E na frente, tapei aquilo com um pano. Claro que elas voavam para cima daquilo; punham lá os ovos. Os ovos, conforme elas se mexiam, o ovo furava pelo buraco e INQ Caía. INF ia lá logo para a palha. Eu ia, levantava o pano cá na frente (...) e tirava os ovos. Bem, eles quando viram aquilo: "Eh homem dum filha da puta! Então não arranjou mesmo uma ideia (...) para as galinhas não comerem os ovos"! Você sabe quando foi no fim para aí duns três meses, as galinhas o que não foram capaz foi desfazer o cordel, mas à roda do cordel, picadela agora, picadela logo, picadela e picadela, picadela, até que o cordel saiu todo de lá. E as galinhas passaram a ir pôr lá debaixo do pano. Mas como aquilo estava tapado, elas não viam, punham os ovos e não os comiam. Mas, com a continuação, começaram a comê-los, lá mesmo debaixo. "Eh, rapaz! Espera, vou fazer isto doutra maneira". Arranjei daquelas sacas (...) que vinham (...) com o adubo - que era aquele plástico grosso -, tirei as outras sacas que lá estavam e pus aquelas. Pois elas com muito tempo também alargaram os buracos!
CBV62
INF (...) O fraco... É o bicho mais terrível que há para brigar é o fraco. INQ1 Mas tem um bico como o de uma galinha, quase, não é? INF É, pois. É mais ou menos. Mas o gajo é que tem uma rijeza para picar que eu sei lá o quê! INQ2 É parecido com a galinha? INF (...) É parecido. Quer dizer, são assim uma maneira de pedreses. A cor das penas, (...) mostra sempre a mesma cor, mas o que é certo é que tem umas listras mais claras. INQ1 Mas é maior do que a perdiz. Tem mais carne, não é, esses fracos? INF Se ele tem mais carne ca uma galinha, não sei, vá, coiso. Aqui quem tinha isso era ali a minha irmã é que... INQ1 Mas os... Os fracos também se caçavam, ou não? Também não havia para aí à solta para se caçarem? INF Não. Os fracos eram caseiros.
CBV63
INF É um enxame. INQ E, aquilo onde elas fazem o mel, põem o mel? INF (...) Onde elas põem o mel é nos favos. INQ E também chamam favos a estes que as avespas fazem? INF Pois. INQ Portanto, não chamam o vespereiro a essa coisa das abe-, das vespas? INF Eu... Elas penduram (...) ; fazem um pezinho; depois alargam aquilo. E então essas (...) que fazem um buraco no chão é que fazem (...) o 'abespereiro' debaixo do chão. Essas é aquelas que têm picos. INQ Mas são as mesmas que vêm fazer, aqui nos tijolos, era? INF É a mesma coisa. INQ É a mesma coisa? INF É a mesma coisa. Onde quer que elas apanhem uma entrada, é aí que elas se aquartelam.
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INF (...) Os nomes daquelas árvores? Aquilo chamam-lhe pinheiros. INQ A todos aqueles? INF Todos aqueles. INQ Mas eles não dão, não dão pinhas... Eles têm umas coisas, uns, umas baguinhas pequeninas... INF (...) Aquilo são uns pinheiros. Chamam-lhe pinheiros àquilo. Aquilo, dantes, onde punham aquilo era ao pé dos cemitérios. Até dizem que aquilo que aonde há uma madre (...) numa casa que seja daquela madeira que as pessoas que morrem. Eh! Um ditado como os outros. INQ Pois.
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INF Mas se prenderem um boi (...) ou uma besta a uma carroça, não tem encosto. INQ1 Ai, sozinho, não é? INF Sozinho, eh amigo, ele é que tem que levar a carroça! INQ1 Portanto é o que puxa a carroça? INF (...) Não tem encosto para puxar a carroça. E se for duas, já uma se pode encostar para a outra e a outra é que tem que fazer o trabalho todo. INQ2 Pois. INQ1 Ah, pois é! INF Bem, uma besta só não tem encosto. Isto foi um hábito que eu apanhei desde os meus princípios, quando comecei (...) a mandar pessoal, porque, não sei porquê - parece que isto que é talvez o dote com que nasce as pessoas e (...) que persegue a pessoa e a pessoa tem que seguir aquele caminho -, não sei porquê, mas parece que aonde quer que chegava: "Toma lá conta; manda lá; faz lá". É claro, e depois, dentro disso, encontra-se muita gente que não quer... O que quer é levar o dinheirinho, mas não querem trabalhar. INQ1 Fazer enc-... Querem-se encostar. INF (...) É encosto! INQ1 Querem-se encostar. INF E então, eu pensei assim, digo: "Isto preso a um carroça não tem encosto nenhum". INQ Não. INF "Porque se a besta não puxar, a carroça não anda". INQ2 Pois. INQ1 Ah, pois, não anda. INF Digo: "O que tu precisavas" - quando era assim -, "tu precisavas eras de ser engatado a uma carroça"! Quem diz uma carroça, diz um carro de mão que já vai uma pessoa a guiar. (...) Se a pessoa não empurra o carro de mão ou não o puxar, ele não vai.
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INF Isso são papoilas. 'Pimplegos'. INQ1 Diga? INF 'Pimplegos'. INQ1 'Pimplegos'? Também se dava nome... INF (...) São 'pimplegos'. Isto são as papoilas dos 'pimplegos'. INQ1 O 'pimplego' então é o quê? É a... É a planta? INF Não. INQ1 Não? INF Nasce aí na terra, em qualquer parte. INQ1 Rhum-rhum. INF Nasce. Isso aonde há muita praga dessas, isso deita uma cabacinha e cada uma cabacinha daquelas tem para ali milhares de sementes. E aonde quer que há essa trapalhada e que se seca, isso quando vem a Primavera, floriu. Depois (...) ficou o terreno todo florido com isso. INQ1 Eu não percebi o que é que então chamava o 'pimplego'. Isso é que eu não percebi. INF Chamam-lhe 'pimplego' (...) porque aquilo é uma erva que deita leite. (...) A gente parte uma coisa INQ1 E sai um... INF e sai aquele coiso branco. INQ1 Rhum-rhum. INQ2 Rhum-rhum. INF E então é o 'pimplego'. (...) Isso também é uma praga levada da breca. Nos favais, aonde é que isso carrega, isso dá cabo até dum faval.
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INF Ó homem! Sou eu que me custa INQ Mas é normal... INF lembrar-me do nome das coisas. Não é porque eu não as conheça; não é porque eu não saiba o nome delas; mas (...) não me lembra, pronto. INQ Pois. INF Então (...) no outro naquele dia estávamos aí... Às vezes, quero ir buscar (...) alguma coisa. "Vou além buscar aquela bengala". Chego além: "Mas o que é que eu vinha aqui fazer"?
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INF Olhe, eu, (...) essa, (...) não tenho assim conhecimento disso. INQ1 Pois. Nunca ouviu falar na alfavaca? INF Tenho ouvido falar na alfavaca. INQ2 Nesta? INQ1 E conhece? INF Então, (...) a alfavaca até ali naquela parede há muita. Aqui, chamam-lhe alfavaca-da-cobra. INQ1 É. Depois então eu hei-de apanhar um bocadinho... Tem aqui mesmo na parede, é? Aqui nesta parede? INF Tenho. INQ1 Depois hei-de tirar para levar... INQ2 Ah! Mas é trepadeira? INF Hã? INQ2 Essa alfavaca que o senhor está a falar é trepadeira? INF Quer dizer, se ela apanhar aonde se amparar, ela cresce muito. INQ2 Ai é? INF Agora se não apanhar (...) aonde se amparar, (...) se estiver no chão, cresce assim... Mas isso onde aparece mais é nas paredes. INQ2 Sim. INQ1 Pois. E então, e essa não, não embebedava o gado? Não se lembra, não é? Não... INF (...) Isso é que é que serve para chá. INQ1 Também serve? INF Para a barriga, (...) para várias coisas, serve. INQ1 Sim senhor. INF E há outra (...) que também é coisa; eu estava a ver se me lembrava o nome dela... Eu não me lembra o nome da erva. E eu já me tenho servido dela para mim também. Mas essa deita assim umas guias compridas e deita as folhas, assim um bocadinho mais compridas do (...) que redondas. Mas são... (...) A folha ali perto do pé é assim larga. E depois quando começa a ir para o lado (...) da ponta é que começa, mais ou menos, (...) a estreitar e a fazer bico. Mas eu aqui não tenho. Mas dessa, ali ao pé donde está (...) o senhor António, há para lá obra! Da ribeira para lá, há para lá obra que sei lá! INQ1 Mas a gente depois há-de ver... INF Mas também não é em terra cultivada. INQ1 Pois. E havia uma que chamava aqui a borragem? INF Borragem? Essa INQ1 Veja se se parece com esta que está aqui. INF (...) apanha... Eu sei o que é. Essa recordou-me logo o que era. A borragem, já tem havido pés aí (...) no coiso... E eu já tenho tido aí pés e (...) não os querer colher, porque a flor daquilo diz que é muito bom para fazer chá. INQ1 Pois. E, e tem uma coisinha que pica também, não é, essa borragem? Ou não, não pica? INF Quer dizer tem uns pelozinhos assim que... Bem, mas... INQ1 Pois, não é... Não é... INF Quem tenha as mãos finas (...) é capaz de picar; agora quem tenha as mãos calejadas não. INQ1 E a, e a f-... Pois. E a florzinha é assim parecida com esta? Assim roxa? INQ2 Azulada. INF (...) A flor não é bem... Quer dizer, no feitio (...) é isto; mas não na cor. INQ1 Às vezes, as cores também das fotografias não são... A cor é mais, é mais viva, não é? INF Pois. INQ1 Portanto, é como esta que está aqui, talvez, em pequenino, mas aqui não se vê bem... INF Não. (...) É para mais encarnado.
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INF Ali no coiso há isto; mas eu agora também não sou capaz de dizer o nome. Não me recorda. INQ A manjerona nunca houve por aqui? INF Hã? INQ Manjerona. INF A quê? INQ Manjerona. INF Manjerona. Não. Mas isto não é a manjerona. Não é. Mas também sei o que é a manjerona. INQ Mas usa-se para alguma coisa? Ou cresce assim só... INF Parece que ele que aquilo, também põem aquilo lá em certos temperos. Também parece que também temperam com aquela coisa; também parece que também temperam. Eu lá na horta onde estava tinha lá (...) um pé grande disso. INQ Rhum-rhum. INF Aquilo (...) era raro a senhora (...) pensar (...) de colher uma coisa daquelas. INQ Rhum-rhum. INF Mas, às vezes, dizia-me assim: "Ah! Traga-me lá (...) um raminho de manjerona (...) ". Ela ia à horta, dizia assim: "Ai! Olha, vou levar aqui um bocadinho de manjerona. Se me fizer falta, já lá tenho em casa". INQ Sim senhor. INF Era assim. INQ E aquela que o, que o senhor tem aqui um pé, mesmo arrancado, quando a gente desce aqui para baixo, está ali um pé arrancado no chão, é o quê? O senhor di- já, já falou nele outro dia. Eu estou é só a perguntar só agora que é para ficar aqui tudo de seguida. Que havi-... O que é que o senhor tinha ali contra a parede? INF Bem, eu agora não me lembra. Até que não me lembra o nome duma que eu até passo lá à roda e deixo-a ficar aí (...) . INQ Pois, mas o senhor lembra-se dos... INF Está ali a coisa também, a malva. INQ Há a malva. INF Pois.
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INF Eu tive aí uma roseira dessas. Tive-a aí muito tempo e depois havia umas outras rosas que eu gostava de ver. E fui, enxertei uma pernada da roseira. E então tinha rosas assim aos cachos e tinha das outras. Depois aquilo, com tempo, fui e cortei a que dava as rosas aos cachos. Tive-a além três anos. Dava umas rosas lindas, mesmo lindas. Não sei se foi alguma curiosidade que tiveram, que lhe deitaram alguma coisa, se ela secou por ter de secar. Porque isso, eu tinha isso além à roda da parede, além na tapada. E depois fiz aquilo em alvenaria. Mas fui-me a um tubo de plástico, abri o tubo e meti o troço da roseira dentro daquilo. Mas, quer dizer, o troço da roseira ficava largo dentro daquilo. E pus lá um taipal (...) e barreei aquilo (...) com cimento e cascalho. Aquilo durou alá alguns três ou quatro anos, assim naquelas condições. Ora, por baixo estava acimentado, mas o que estava em cima das raízes, algumas, era o cascalho. E depois punha um areão por cima e depois punha o cimento. Ora, aquilo durou além uns poucos de anos. No fim, aquilo seca-se-me de repente. Isto como há tanta má intenção, INQ1 Nunca se sabe, não é? INF não digo nada. E mesmo do outro lado, que não deitassem assim (...) pelo pé abaixo, aquilo enfiava dentro do tubo, e a roseira secou-se. INQ1 Pois. INQ2 Pois. INF Mas tenho aí dessas. Tenho. Aí há mais.
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INF Isso é uma... Chamam-lhe aqui assim a abelha do gado. Isso, o gado, em bem... Essa mosca persegue muito os animais é, mais ou menos, dentro de Abril e Maio - é que é (...) o pior mês para isso. Isso quando dá nos animais, não há diabos que segurem o animal. Ele o animal o que quer é fugir. INQ Rhum-rhum. Mas essa que pica assim, portanto, o animal é pequenina, não é? INF Não é muito pequenina; é assim de meia média. É assim de meia média: nem é pequenina, nem é grande. É assim (...) coiso . Mas não sei que raio de ferrão tem o bicho que em bem elas aparecendem, os animais, aquilo é o cabo dos trabalhos.
CBV72
INF Ah! Isso é as bichas. INQ Rhum-rhum. E a, e a sambixuga era parecida com essa bicha ou era diferente? INF É. É parecida. Só a diferença que tem é que a bicha tem uma listra encarnada de cada lado e a sambixuga é toda da mesma cor. INQ Mas usavam-se as duas para isso ou era só as bichas é que chupavam? INF Não. As bichas é que é que usavam para isso. INQ Olhe e estas assim, que deixam, que são muito, que deixam um... INF Isso é uma lesma. INQ E este? INF Caracol. INQ E o caracol tem aqui por cima o quê? Um... INF O caracol traz a casa atrás. INQ Olhe, aqui... Aqui estão três quê? Estão três... INF E (...) em bem lhe partindem a casa, eles morrem. Porque ele os gajos são criados dentro da casa. Em lhe faltando a casa, morrem.
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INF E esta era a tal que eu falei. O rabo dá aspecto de ser uma rapa; agora a cabeça, eu parece que acho a cabeça assim um bocadinho grande. INQ1 Eles nuns sítios chamam bicha-cadela, gata, gata-bichaneira... Mas pode ser a rapa... INQ2 Bicha-tesoura. INQ1 Bicha-tesoura. INF (...) INQ1 Mas aqui conhece pela... INF Pode ser (...) outra qualidade de bicho que eu não estou visto nele. E como não estou visto nele... Eu tenho sido sempre um observador de quando vejo um bicho, inspeccioná-lo... Eu com os lagartos pegava até muito com eles. E ele o lagarto, em bem se vendo apertado, volta-se contra a gente. INQ2 Rhã-rhã. INF O lagarto fazia assim com a cabeça e eu fazia assim com o dedo. Tanta vez fiz assim, até que (...) eu fiz para lá, ele fez para cá, pilha-me aqui assim no coiso. INQ2 Ai sim? INF O gajo apanha-me aqui assim; quer dizer, aqui do lado da pele esfarrapou, e aqui do lado da unha arranhou. INQ2 Sim. INF Mas eu sacudi-o assim: "Eh pá"! Esmaguei-o todo ali debaixo duma pedra. Mas depois de ter esmagado - isto era gaiato -, depois de ter esmagado (...) o bicho, digo eu aqui assim: "Grande avaria eu fiz! Então eu estive a pegar bulhar com o animal, então o animal ia a fugir de mim, eu corri atrás dele"! O animal via que não era capaz de me dar saída, voltou-se contra mim.
CBV74
INF Porta. INQ1 E ali ao lado, para a rua que é que dá? É uma...? INF É uma janela. INQ1 Se a porta estivesse para aqui, eu para entrar tinha que a...? INF (...) Tinha que a puxar (...) para dentro (...) . INQ1 Mas se ela... INF E assim a empurrar (...) para fechar, é empurrar para fora. INQ1 Pronto, para fechar. INQ2 A gen-... A gente mete a chave na porta para quê? Para...? INF Para abrir. INQ1 Portanto, fechar já está... INF Ou para abrir ou para fechar.. INQ2 Pois.