GIA01
INF O linho, quando era, quando depois ia... Até antes. Sim, e eu também agora estava a dizer que o linho foi fiar, mas antes ele ainda tinha muito trabalho. Antes de ser fiado tinha muito trabalho. E eu não me lembrava! Porque antes de vir, depois, antes de ser nada disso assedado (...) nem coisa nenhuma, (...) tinha de ser cozido. Fazia-se umas barrelas nuns cortiços com cinza e fazia-se ali assim. Punha-se ali (...) aquilo a cozer e depois iam corar. Mas iam numas canas. Depois chamava-se os burros, que era pôr (...) isso, que era um pau de cada lado, mas era: tinha pernas – o nosso tinha pernas, umas pernas e um pau, assim coisa –, (...) e a gente depois (...) tinha de pôr ali (...) o linho numas canas, muito estendidinho todo, todo, muito estendidinho, todo, todo, (...) para ir corar. Ia corar assim naquelas canas. (...) Quando já estava assim meio dobado ou não sei, ia naquelas canas corar, para o coradoiro, não é? E à noite apanhava-se e ia para os burros. INQ Para secar? INF A gente chamava-lhe (...) travesso . INQ Para secar? INF (...) Para ir ao outro dia, para ficar direitinhas. INQ Ah! INF Apanhavam-se aquelas canas assim direitinhas e (...) ficava assim aquelas meadas todas, assim (...) comprido assim. E depois também era cozido no forno. Eu já não me recordo se ele era cozido... (...) Mas ele ia cozer em meadas já. Era depois de fiado, era, era! Depois de fiado (...) é que se fazia as meadas. INQ Aonde é que se faziam as meadas? INF As meadas era num sarilho, me parece. INQ Pronto, era isso que eu estava a perguntar há bocadito. INF Era o sarilho, era o sarilho, era. Nós ainda temos para aí um sarilho, lá para cima.
GIA02
INQ A vagem é, é verde? INF É verde. INQ Quando amadurece, o que é que tem lá dentro? INF Tem o feijão. Feijão. INQ E quando vai aproveitar o feijão, o que é que deita fora? A parte de fora, como é que lhe chama? INF (...) As cascas do feijão. INQ Não se aproveitam as cascas de feijão para nada? INF Não. Cascas de feijão, para nada. INQ Não? INF Só para os bichos. Deitamos aos coelhos. Aquilo não serve para nada. Ou que seja verde, ou que seja seca... Que às vezes é mais aquela vagem ainda que tem o feijão mas é verde, INQ Sim. INF mas mesmo assim, a gente não aproveita a vagem. Aproveita só o feijão verde, que está dentro, e a vagem deita fora.
GIA03
INF1 Não temos lagar. INQ Não têm? Fazem ali na dorna? INF1 Nós fazemos assim, não temos lagar, porque não é grande porção e sempre fizemos em dornas aqui em casa. INQ Sim. Hum... INF1 Umas grandes, outras pequenas... INQ Então e como é que se faz? INF1 (...) INQ Depois de estarem, portanto, depois de as uvas já lá estarem dentro, como é que se faz o vinho? INF1 Sim. Ele é esmagado – para ir para lá tem de ser esmagado. INQ Com o quê? INF2 Com o motor. INF1 (...) Nós esmagamos com uma (...) ... Chama-se o esmagador do vinho. O esmagador. Agora temos motor mas... Senão era à mão, não é? Esmagava-se. INQ Mas antigamente era à mão? INF1 Era à mão. INQ Mas cá em casa, porque a vinha era pouca. INF1 Cá em casa. INQ Mas... INF1 Tínhamos à mão também. (...) Esmagávamos à mão no esmagador. INQ Como nos Açores. INF1 O esmagador! Era assim um... Andava com a roda em volta. INQ Já não tem? INF1 Hã? Temos na mesma, mas agora tem motor. INQ Ah! INF1 É. INQ Mas depois havia de ver também, que eu nunca vi. INF1 Tem motor, o esmagador. INQ Então e, e nessas... INF1 E depois de estar esmagado, fica ali na dorna e a gente mexe-o, tem uns paus grandes de o mexer (...) , e ele vai fervendo e a gente vai mexendo. INF2 De os mexer. INF1 Vai-se-lhe mexendo. INQ E depois? INF1 Depois quando está parado, aquilo que a gente vê que já não ferve mais, está a parar, tira-se da dorna para a pipa. Vinhinho limpo.
GIA04
INQ Que espécies de farinha é que há? INF Para broa (...) é a farinha-milha, com um bocadinho de centeio. Há quem lhe deite também um bocadinho de trigo, quem quer já mais... Senão, a broa do lavrador era: era farinha-milha com centeio. INQ E como é que se chamava essa farinha? Tinha algum nome ou não? INF (...) Não. Farinha-milha. (...) É o nome. É. Compra-se farinha-milha e compra-se farinha de centeio. E (...) desfaz-se com água, a farinha-milha, com água a ferver. (...) E o centeio depois é só posto assim por cima. Polvilha-se depois, senão fica mole, a massa fica mole. Pronto. Amassa-se depois. Mas é preciso fermento. Antes tem de levar fermento. Ora agora usa-se o fermento de padeiro, que é o que nós usamos sempre, não é? Compra-se o fermento. Mas dantes, o (...) fermento era feito... Não havia fermento de padeiro. (...) Fazia-se um à noite, com um bocadinho (...) – sim –, um bocadinho de farinha-milha (...) com água, não é? Ficava ali o fermento feito, que era para de manhã ele já estar levedado para poder levedar a outra massa. Agora utiliza-se assim... É já utilizado o fermento de padeiro. INQ Portanto, não era costume deixar fermento duma cozedura para a outra? INF Deixava-se. (...) . Deixava-se sempre um bocadinho: um bocadinho de fermento sempre, uma bolinha, a gente fazia uma bolinha, botava numa tigelinha com sal, para não se estragar ficava assim. Quase sempre a gente cozia aos oito dias, não é? INQ E quantas broas se fazia de cada vez? INF Ai, conforme. Era conforme. Ora cozia-se muitas vezes uma rasa, ora dava muitas broas – a gente aqui (...) , o nosso forno é muito grande – umas cinco, seis, ou umas sete, pronto.
GIA05
INF Mas as papas, (...) nessa altura... Se fosse agora nesta altura, a gente às vezes fazia com nabiças também. Deitava uma nabicinha ou deitava uns grelos, miudinhos, ficava muito bom! INQ1 Rhum-rhum. INF E senão fazia-se assim: papas só com... (...) Como tínhamos (...) muitos criados, – não é? –, e era aquelas tigelas de barro grandes, a gente deitava às vezes um bocadinho de arroz – um bocadinho de arroz a cozer, antes. Depois deitava-lhe a farinha com a gordura. INQ2 E que gordura era? De porco? Ou de?... INF Era de porco. (...) Neste tempo era de porco. Era sempre o unto... INQ2 A, o unto? INF Ou o pingue que a gente chamava, o pingue. INQ2 Pingue. INF Era. A gente fazia também. Matávamos e púnhamos sempre em boiões assim. INQ1 Rhum-rhum. INF Fazia-se sempre. INQ2 Olhe... INQ1 Mas essas papas, desculpe, era com farinha de milho? INF Farinha de milho só. Farinha de milho. Às vezes juntava-se... INQ2 O trigo não se juntava? INF Não. Para as papas não ficava bem. INQ2 Não. Mas o trigo não se usava para nada? INF Não. Usava, usava. Usávamos que nós cozíamos muitas vezes. INQ2 Também trigo? INF Meio mistura e sem mistura. Deitávamos trigo e um bocadinho de milho. Quando queríamos fazer assim uma mistura já ali bem... Zumbido de abelha Olha, não tenho abelhas e elas andam sempre a consumir-me. INQ2 Em que sítio é que se amassava o milho? INF Nós aqui (...) era a masseira – a masseira do pão. Tínhamos uma masseira de madeira – não é? –, uma masseirinha de madeira e era assim. Era a masseira do pão (...) ... INQ2 Portanto, quando já esta-... E quando, quando se punha, amassava-se, não é? INF Isso amassava-se e depois punha-se a levedar. A gente dava ali (...) três voltas; amassava-se aquilo muito bem amassadinho, virava-se para acolá, depois outra amassadela, virava-se para aqui, e depois ficava a descansar ali até... Fazia-se tudo muito alisadinho por cima, muito alisadinho, muito alisadinho, assim com a mão, aquilo ficava como esta toalha; fazia-se ali uma cruz, que ele era o costume... INQ2 E o que é que se dizia? INF Hã? INQ2 Quando se fazia a cruz? INF Era: (...) "São João te faça pão"... "São Vicente te acrescente, São João te faça pão"!
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INQ Para fazer os pães, para eles irem ao forno, as broas, como é que se fazia? INF Depois de estar aqui o pão bem levedadinho – não é?; que ele depois principia a abrir; quando está levedado, assim, principiava a abrir, assim a fazer aquelas aberturinhas assim –, a gente ia tirando conforme as broas que queria fazer. Às vezes queríamos fazer umas broinhas pequeninas, outras vezes queríamos maiores, mas mais ou menos a gente já sabia. Tirava-se assim e depois a gente pegava num prato de esmalte, que havia muitos era assim, e com uma ferreta – chama-se a ferreta, a ferreta – do pão, que é aquilo... INQ Aquela coisa para raspar, não é? INF Sim, que é de raspar. A ferreta. É aquilo que nós usamos agora até (...) para queimar o creme . E a gente, com isso, enchia, deitava para uma gamela de madeira. Tínhamos a gamela do pão. Depois batia-se ali assim; dava-se aquelas voltinhas até... Deitava-se farinha, depois dava-se... Fazia-se assim e dava-se umas voltas, umas voltas, umas voltas. Até antigamente elas punham assim uma cinta – muita gente punha sim (...) – e faziam assim e ela depois a broinha ficava assim. Ficava ali (...) tudo muito redondinho e pronto virava-se na pá. INQ E quando estava a bater e a dar essas voltas, dizia que estava a fazer o quê, ao pão? INF Não. Não se dizia nada, não é? INQ Não? INF Nada. (...) INQ Não se costuma dizer que estava a tender o pão? INF Não. Não se dizia. Não diziam nada. INQ Era bater o pão? INF Era bater bem. "Olha, é preciso levar o pão para o forno"! Pronto. Então, depois lá ia para a pá, metido ao forno, pronto. INQ Olhe e como é que se diz... E antes de se meter o pão ao forno, o que é que se diz? Ou, ou quando se mete o pão no forno, e se, se tapa, ou se põe a porta? INF Eu acho que... INQ Não se diz nada? INF Não, era isso também que elas diziam sempre. INQ Era o "te acrescente"... "São Vicente te acrescente, São João"... INF Pois, era isso. Era isso. Sim. "São João (...) te faça pão"! Pronto. Elas lá benziam (...) com a pá, pronto, e tapavam. INQ E havia... Não se fazia assim umas broinhas mais pequeninas para, para as crianças? INF Havia. (...) Fazíamos muitas vezes. A gente às vezes pedia até às criadas: "Ó fulana, faz uma broinha para mim"! Pronto. E um bolinho. Um bolinho, que a gente antes fazia o bolo. INQ Como era o bolo? INF A gente chamava o bolo de entre a lenha . (...) Depois de o forno estar varrido – não era? –, a gente fazia com aquela massa. Estendia na pá, do tamanho da pá ou como nós queríamos. Mas às vezes éramos uns poucos e pedíamos sempre: "Ó Dagmar" – que era uma meio velhota – "faz-nos um bolinho para nós"! E ela – ela cozia de madrugada sempre –, e ela lá fazia. Ora fazia para os mais pequenos, era mais pequenino, para os maiores, maiorzinho. Fazia aqueles bolinhos e nós ficávamos todos contentes quando vínhamos da cama termos o bolinho feito. Depois punha-lhe assim uns dedinhos, umas coisas, (...) fazia assim com os dedos, fazia uns buraquinhos e a gente já ficava toda contente. Mas, era o bolo era assim chapadinho. Chapado, assim. INQ Pois. INF Chapadinho. Depois é que ia ao forno e cozia antes de ir as broas.
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INQ Então e o que é o pão propriamente? INF Era esse. INQ A que é que chamam o pão? INF Era esse. Era o pão, era a broa. Pão. INQ Mas nunca falam, diziam, por exemplo: "Olha, hoje fiz dois pães"? Nunca se usa essa expressão? INF Não. INQ Dois pães, ou três pães, ou assim? Não? INF Não. Ele agora já a gente (...) diz porque nós agora já fazemos. INQ Não, mas esse... Sim. INF Agora fazemos muitas vezes pães. INQ De trigo? INF Sim. INQ O pão é de trigo? INF O pão, pois é só de trigo. Muitas vezes a gente coze-o em casa. Até dantes cozia muito. Agora somos poucochinhos. Mas cozíamos muitas vezes no fogão até. Sim. Os pãezinhos. Cozíamos os pães. INQ Sim, sim. INF Mas senão é sempre só isso. E era o bolo. Era a broa e o bolo. INQ E o bolo. INF O bolo era a mistura (...) que levava, que depois ficavam aqueles bolos grandes, como a broa, mas aqueles bolos assim, que se compram agora nas padarias, não é? Aquele pão, agora, não sei como é que se chama esse pão até nas padarias. INQ Rhum-rhum. Mas o bolo o que é que levava mais, além da farinha? INF (...) Era só o trigo e o milho. Mas pouquinho milho para muito trigo.
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INQ1 Também no linho para, já agora para acabar uma coisa que não ficou perguntada, com as sementes do linho, até se fazia antigamente umas papas... INF Quando se estava (...) com os brônquios (...) atacados, nós levámos muitas vezes disso. INQ1 Como é que se chamava? Papas?... INF É papas de linhaça. E eu há bocado não me lembrava: a semente chamava-se a linhaça. INQ1 Pois. INF Mas eu, por isso, eu, INQ1 Por isso não ficou... INF a senhora dona Custódia não estava, e eu estava, digo eu assim: "Ai, meu Deus! Eu tenho tantas dificuldades"... INQ1 E não havia nada que se chamasse bagarela? INF Não. INQ1 Ou baganha? INF Baganha só do milho, (...) o do vinho! A baganha (...) das uvas. INQ1 Ah! Está bem. INF Aquela baganha que a gente depois punha às vezes a secar, INQ1 Olhe... Ah! INF (...) fica no fundo das pipas, (...) das dornas, INQ1 Ah! INF e a gente tira-a daquilo e depois até dava às galinhas e assim. E dantes até se mandava moer cá em casa. Mandava-se moer para barrar (...) as coisas dos porcos, (...) as peças. Que a gente matava os porcos e depois quando se tirava, pois barrar aquilo (...) com aquela coisa do vinho (...) ... Mandava-se moer (...) aquela baganha. INQ1 Ah! INF E ficava aquela... Ficava farinha assim forte, não é? (...) E a gente punha sempre num bocadinho de vinho, e (...) fazia aquelas papas com um bocadinho de pimenta, e untava (...) as peças da carne todas que era para depois ir para o fumo. INQ2 Ah! Olha que engraçado! INF Aqui até não se punha muito ao fumo. Punha-se aqui pendurada – a cozinha era grande – e a gente pendurava em cima (...) numa trave, INQ1 Ao ar. INF (...) engalhadas (...) num coiso de arame, e estavam ali penduradas. E usava-se (...) isso: (...) essa farinha, essa baganha. A baganha era para isso. Punha-se a secar e no fim ia para o moinho.
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INF Era: punha-se essas papinhas (...) INQ Da linhaça. INF da linhaça era num almofariz. A gente pisava aquilo – que nós tínhamos aí –, e fazia aquela papinha, e depois deitava-se... Comprava-se na farmácia (...) a mostarda, picante, e era uma farinha, parecia assim era... E deitava-se em cima daquilo e chapava-se onde a gente tinha: ou nas costas, ou no peito. Às vezes, a gente era criancita e bem chorava lá com aquilo, quente, custava! Oi! INQ Era, era. Custava tanto! Olhe, e havia no, no vinho, no, no linho também, não havia nada que se chamasse a estriga? A estriga do linho? INF A estriga do linho. Há. INQ Era o quê? INF Ah, (...) é feita quando ela está já prontinha... Eu tenho aí me parece. Fazia-se assim: entrançava-se, era uma estriga de milho. Que é o que se deita agora nas pipas e assim – que se compra aquelas estrigas –, que se compra para se deitar nas torneiras, INQ Sim. INF para quando se mete a torneira para ela não deitar e assim. INQ Claro.
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INQ Aqui não havia fornos de carvão, aqui? INF Havia muitos. INQ Havia? INF Havia muitos, muitos. Muitos! Faziam muito aqui! INQ Ai era? INF Em todas as bouças havia fornos de carvão. INQ A senhora não sabe como é que se faziam? INF Hã? INQ A senhora nunca viu fazer? INF Já vi. Eu via eles fazerem. Então eles encastelavam assim – como fizeram nas nossas bouças, muitas vezes... Que a gente vendia a lenha e eles depois de trazer aqueles troncos que iam para a serração, (...) aqueles homenzinhos vinham, compravam aquela lenha miúda, não é? Depois faziam. E principiavam a pôr a lenhinha toda encasteladinha, toda, toda, toda. No fim ficava bonito! Mas depois aquela bola toda, toda, toda – conforme a largura dos fornos que eles quisessem – iam encastelando, encastelando até ter aquela largura (...) até cima. E depois (...) punham chamavam-lhe (...) as leivas. Que era: tiravam dos valos (...) das bouças, dos valos, que são todos feitos em (...) ... Não é? Não têm pedra. (...) Geralmente as bouças são todas com aqueles valos de... Ele são em terra, não é? Aqueles valos, a gente chama os valos porque são em terra. E eles depois (...) tiravam aquelas cepas. Iam aos valos, (...) ao fundo assim das bouças, tiravam aquelas latas grandes assim (...) com terra e tudo, (...) cavavam, e iam colando ali sempre, sempre, cercavam o forno em toda a volta, depois deixavam lá um lugarzinho qualquer para acender. Não sei como é que eles depois acendem . Tinha uma coisinha qualquer como os fornos que cozem assim. Pronto, acendiam aquilo e ele estava ali. Como estava todo coberto, forrado (...) com aquelas leivas, como eles chamavam, as leivas, que era os pedaços (...) da terra (...) que ficavam aquela coisa dura, e eles iam e acendiam ali e queimavam ali nas bouças. (...) INQ Pronto. INF É. Depois quando estava queimado, quando tinha aqueles dias, eles já sabiam, depois é que tiravam, a gente depois ensacava o carvão. Lá ia.
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INQ1 Um, um boi quando ele acaba de nascer? INF Touro. Tourinho. INQ1 Tourinho? INF Tourinho. INQ1 Então e quando é que muda de nome? Em que épo-...? Há uma altura em que já não é tourinho, passa a ser?... INF Não. Depois (...) já é touro, já. Ele quando deixa de mamar ou de tomar o leite, porque eles agora até nem... Dantes eles nasciam e ficavam com as mães até apartar, (...) até a gente ver que (...) estava em modo de não tomar o leite. Pronto. Agora nascem e são logo apartados, logo. Mal nascem, são logo, logo, logo tirados da mãe. Logo (...) no mesmo instante. INQ1 Coitadinhos! INF São logo. INQ1 Para aproveitar o leite da mãe? INF Para aproveitar o leite e diz que é melhor para os touros. Dizem que é melhor, não sei. Depois eles dão-lhe leite: ou dão-lhe da própria mãe, INQ1 Sim. INF (...) ou dão-lhe leite em pó. Mas aqui ficavam sempre... Eles ficavam aqui (...) naquele tempo... No meu tempo, que a gente tinha gado, (...) os tourinhos nasciam e ficavam com as mães. INQ1 Pois. Como era natural. INF Ficavam com as mães. Quando a gente queria tirar algum leite, (...) que eles já estavam grandinhos, a gente apartava-os para uma eirinha e só os deixava ir àquela hora, INQ2 Pois. INF ir mamar.
GIA12
INQ1 Aqui em casa faziam manteiga? INF Fazíamos. INQ1 Como é que se fazia? INF Fazíamos e fazemos às vezes ainda. INQ1 Ai ainda fazem? INF Fazemos, mas nós fazemos com as natas do leite. E há muita gente que fazia a manteiga já com o próprio leite. (...) Isso nós nunca fizemos. INQ1 Não? INF Batiam, batiam, batiam dentro (...) duma lata, que (...) eu ainda cheguei a ver... Não sei quem é que (...) fazia isso, fazia a manteiga assim. Que eu vi ainda fazer isso dentro dumas latas grandes. Elas batiam. Mas eu isso não me recordo. Nós fazemos manteiga mas fazemos com a própria nata, não é? O leite ferve e aquela nata, nós... INQ1 Sim. INF E eu agora gasto do leite do lavrador. Porque agora não tenho vacas, não é? (...) E o leite é muito bom, mas eu só compro leite para mim, porque a Custódia toma leite magro. INQ1 Rhum-rhum. INF Por isso, aqui esse leite... Quer-se dizer: ele vendem o leite à noite. Vem dois litros de leite. E eu muitas vezes já tomo à noite, porque (...) já durante o dia não tomo. (...) Já fica aquele leite, ferve, fica assim direitinho até de manhã, ganha uma nata mais grossa; senão ganha uma natinha mais fina, é certo. Mas chega de manhã, a gente deixa ficar (...) na vasilha (...) que o ferve, tira aquela nata antes de o aquecer. Tiramos a nata direitinha, mete-se numa caixinha, vai para o frigorífico num tupperware e fica ali até a gente ter (...) mais um bocado que possa fazer. Ou faço manteiga ou faço biscoitos. INQ1 Ah! INF Pronto. Por isso faço a manteiga. Mas a manteiga depois é batida. Agora a gente bate com a varinha, não é? INQ1 Sim. INF Mas dantes batia-se à mão. Muitas vezes, era à mão. INQ1 E era nalguma vasilha especial, ou não? INF Não, não. Uma tigela qualquer de barro, ou (...) coisinho de louça. INQ2 E não se chamava nada a essa tigela? INF Nada. Não se chamava nada. A gente batia ali a manteiga e fazia a manteiga. INQ1 Pois. INF Com uma colher de pau. INQ1 Pois.
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INQ1 Depois de ele ser morto... INF Ele estavam ali à mão a aparar o sangue... É, ele estava ali uma criada (...) , quase sempre era uma mulher. INQ2 E dantes era uma mulher a aparar o sangue? INF Era, era. Porque depois a gente queria o sangue (...) para cozer e queria o sangue para as chouriças. O sangue das chouriças tinha de levar vinho (...) , já na vasilha, vinho com alhos, e uma caninha, que era para (...) ... Aparava aquele bocadinho que era para coiso, para estar sempre a bater para ele não filhar. INQ2 Para ele não ta-... Para ele não? INF Para ele não filhar, o sangue. Para ele ficar em líquido. Líquido. E o outro não. A gente, depois o outro deixava correr e ele ficava logo preso, não é? INQ1 Rhum-rhum. INF Porque depois era para cozer, esse sangue era para cozer, para se fazer a (...) comida – ou o verde, como a gente lhe chamava. Nós chamávamos o verde. Agora é que faz-se o sangue, sangue, não é? Mas a gente chamava-lhe o verde do porco. INQ2 Ai! INF Verde, era o verde! "Faz-se o verde". INQ2 E que era como esse verde? INF Era depois cozido. A gente depois entalia-o (...) numa panela grande ou num tacho grande. Fervia ali todo partido aos bocados. Ele depois partia-se assim aos quadrados e punha-se na panela. (...) E depois havia o hábito... Isso era já (...) nos primitivos, que eu era pequena, mais nova, isso é que a gente achava graça! Agora ultimamente a gente já não fazia isso, porque era uma crendice. (...) Punham na panela e começavam: "Vem cá, vem cá, vem cá, vem cá, vem cá, vem cá, vem cá, vem cá, vem cá"! Que era como se chamava aos porcos. Sim, os porcos, para chamar por eles, a gente dizia: "Vem cá, vem cá, vem cá, vem cá"! Era isto (...) o chamamento dos porcos. E depois elas diziam que se se chamasse por eles (...) o sangue ficava mais abertinho. INQ2 Engraçado! INQ1 Na panela. INF Na panela. (...) O sangue depois de estar assim cozido, tirava-se (...) para uma vasilha qualquer, deitava-se muitos loureiros, INQ1 Rhum-rhum. INF loureiros, ramas de loureiro. E ele ficava ali assim a escorrer muito escorridinho, depois guardava-se. INQ1 Pois. INF E dali fazia-se. Fazia-se papas. Depois deitava-se-lhe aquele sangue, que a gente chamava o verde, e fazia-se também como se faz agora: só mesmo o sangue assim de porco com um estrugido e a gente tem aquele sarrabulho, não é? INQ1 Ah, pois, pois, pois. INF A gente ainda agora gosta-se muito de fazer isso assim. De fazer, até só assim para acompanhar, aquele coisinho assim estrugido, aquele verdezinho. A gente chamava-lhe o verde, agora chama-se sangue, porque é o sangue de porco. INQ1 Rhum-rhum. INF E era assim que se fazia.
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INQ1 Como é que conservavam depois a carne para todo o ano? INF Conservávamos era... Como digo, era (...) então nessa altura, era depois de estar as peças já preparadas, limpas, (...) a gente tirava-lhe o que queria: queria deixar mais alto, deixava; queria deixar mais baixinho, deixava. E depois essas peças eram colocadas aqui (...) para o sal. Púnhamos (...) umas coisas feitas (...) em cimento, (...) umas coisinhas fundas – não é? –, feitas em cimento, e elas... Púnhamos ali camada de coisa, vinha uma camada muito grande de sal, e isso e tal, ficavam ali bem calcadas, bem calcadas, ficavam ali um mês. Ao fim dum mês é que se levantava essa carne e ficava (...) ... E deitava-se então a tal farinha, a tal farinha que eu falei há bocado. INQ1 Sim, sim. INF (...) Bem untadinhas, untadinhas e espetava-se-lhe depois (...) um arame e penduravam-se. INQ1 Pois. INF Penduravam-se. Depois (...) até a gente ir comendo. INQ1 Pois. INF (...) E os ossos, a gente punha em moura. Tinha umas talhas de barro, grandes – é (...) destes que estão ali fora, agora, com as flores –, e a gente punha ali em moura. INQ1 Pois. INF Os ossos. INQ2 E o que era a moura? INF A moura era pôr... Primeiro estavam salgados também, não é? INQ2 Sim. INF Bem salgadinhos: ia-se deitando uma camada (...) de ossos e uma camada de sal, uma camada de ossos e uma camada de sal. E depois deitava-se-lhe, passado uns dias, deitava-se-lhe moura. INQ2 E o que era?... INF Água. É (...) água muito salgada, não é? Que a gente põe água (...) numa vasilha, num balde, pronto, INQ2 Sim. INF num balde, com muito sal, INQ1 Pois. INF e não põe as mãos, põe com uma colher de pau, assim, mexe muito mexidinho, muito mexidinho, até estar em moura. A gente põe-lhe uma batata, isso, a batata, até nadar. Quando a batata está a nadar, então a moura está boa para... INQ2 Ah! INF Está a moura... INQ1 É a maneira de ver. INF É. Muito boa! Ou um ovo até (...) ... Mas uma batata, quase sempre a gente punha uma batata. Ela já estava... A batata está (...) mesmo na superfície, metia-se dentro (...) das vasilhas, ficava ali. INQ1 Das, das talhas? INF Nas talhas. INQ1 Pois. INF Ficava ali naquela moura. INQ1 Pois. INF E depois ia-se tirando conforme se queria.
GIA15
INQ E que tipos de chouriças é que fazia? INF Fazíamos de sangue. Chamávamos chouriças de sangue, chouriças de couros e chouriças de farinha e chouriças de carne. INQ Ah! Uma grande variedade! INF Era. Ai, uma variedade! Ai, meu Deus! Eu se me visse ... A gente podia comer tudo tão bem, agora tudo faz mal. Ai, meu Deus! Mas também ele as coisas eram outras, não sei. A gente ia então àquelas tiras que era para derreter, as tais tiras que a gente cortava... INQ Sim. INF Tinha de as esfolar, não é? Esfolava, tirava-lhe couro. Ficavam só para derreter. E aqueles couros, a gente (...) não os esfolava assim muito fininhos. Partíamos com a faca a ficar um couro com um bocadinho (...) INQ De carne. INF de carne – com aquela carne gorda, um bocadinho. Partia-se toda aos quadradinhos miudinhos. Toda a gente a partir couros! Era uma penitência! A gente fazia aquilo muito miudinho, os couros (...) aos quadradinhos muito miudinhos. E fazíamos depois: deitávamos o sal e vinho e o sangue de porco. O sangue (...) e um bocadinho (...) de vinho (...) e um pisquinho de farinha, de nada, ali, e um bocadinho de gordo também (...) para elas não ficarem muito secas. INQ Pois. INF Pronto! Faziam-se ali as chouriças – deixava-se um pedaço sem encher –, da própria tripa. INQ Pois. INF Que agora é tudo de plástico até. INQ Mas antes era mesmo... INF E a gente fazia assim e depois (...) metia numa panela de água a ferver e pendurava-as (...) INQ Pois. INF um dia ao fumo, com bastante fumo ali no lar.
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INF Ai, as papas de sarrabulho! Mas são muito diferentes as minhas – do que eu faço. E um dos meus filhos até gosta! E os meus filhos gostam mais das papas que comem assim em Ponte Lima, ou aqui ou INQ1 Sim. INF em qualquer parte, do que gostam mesmo das minhas. E nós, minha mãe já fazia assim umas papinhas que eu só gosto dessas papas. O Copérnico também gosta muito dessas papas. (...) Às vezes, dizia assim: "Ó mãe, faça-me até uma refeição só de papas. Pronto, só de papas, que eu não preciso mais nada". Mas este mais novo gosta das papas mais à moda assim que fazem assim nestas... No outro dia fomos a Famalicão almoçar, comeu papas de sarrabulho. Eu (...) não gosto de comer papas em parte nenhuma porque eu não gosto das papas assim (...) com muita farfalhada. (...) E agora as papas que se comem em qualquer pensão é: tudo tem muita carne, não é? (...) Nós fazíamos (...) as papas muito finas. Meu pai dizia que gostava (...) das papas a beber (...) pelo copo. INQ1 Ah! INF Queria as papas muito finas! INQ1 Ralas, pois. INF (...) E eu gosto muito assim mas eles não gostam nada. Mas senão, pronto: as papas são boas é com a água, que é essa água de lavar o porco. INQ1 Rhum-rhum. INF E são as melhores de todas. Eram as papas que a gente gostava (...) era essas (...) de entalir (...) o fígado. Guardávamos aquela água para o outro dia fazermos as papas. Cozíamos o fígado só, separado das outras coisas. O leve e assim, isso já era (...) diferente. A gente não queria aproveitar essa água. Mas aproveitávamos a de cozer o fígado e a de lavar o porco – a primeira de lavar o porco. Ficava assim aquela aguinha com aquela gordurinha, aqueles bocados de gordo assim naquele sangue. Pronto. Senão, a gente (...) faz sempre nessa água e (...) se não tiver água (...) do fígado, que às vezes fazíamos... Depois já mais adiante não tínhamos, mas tínhamos o fígado cozido e a gente ralava o fígado. Um bocadinho de fígado ralado também fica muito bem, e o sangue do porco, como estava então, também aquele sangue também muito esfareladinho, muito esfareladinho – pronto –, farinha-milha, água. Pronto. (...) E fazíamos assim. Depois deitávamos cominhos, uns pouquinhos de cominhos. INQ1 Pois. INF Ora, elas ficam muito boas (...) ... E a gente não queria muito grossas, não é? É a farinha-milha mas muito fina. Peneirada por uma peneira muito fina, para ela ficar muito fininha. INQ1 Pois. INF Pronto, e não deitávamos mais nada. (...) E este meu mais novo diz que não gosta das papas assim; gosta das papas com aquela carne. INQ1 Grossas. INF Aquela carne e (...) INQ2 Desfiada. Carne desfiada. INF aqueles bocadinhos de carne desfiada. Tem quem lhe deite uns bocadinhos de galinha e assim.
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INF1 Pronto. Porque a sementeira do trigo era uma sementeira com uma mão de obra bastante reduzida. Era por isso que se fazia no Inverno. (...) Aqui na nossa zona, normalmente, era feita fim do ano, princípio do ano, ali à volta. INF2 É como ainda agora. INF1 Ainda agora há quem semeie o trigo. Aqui agora quase ninguém semeia trigo. A sementeira do milho, essa é então: era primeiro vessada a terra. Chamava-se vessar porque era com uma charrua então grande, essa puxada a quatro bois. INQ Rhum! INF1 Porque era no tempo do gado... Era no tempo que (...) ainda não havia tractores. Pois, os tractores são muito recentes. Eu fui o primeiro homem aqui de Gião a ter tractor. Quando o Crisóstomo comprou o dele, (...) eu já troquei o meu primeiro. E já tive uns poucos. Ainda ali tenho três. Mas naquele tempo era com o gado. O gado normalmente era, pelo menos, duas juntas de bois, que todas as casas tinham, mais ou menos, preparados e adequados para fazerem vessadas, que se tratava (...) da época de mais extenso trabalho que a lavoura tinha. Era semear e depois colher, depois do São Miguel. Mas o São Miguel já não se relacionava tanto com o gado. Portanto, nessa altura, quando se pensava, ou quando se chegava a Março que a gente pensava em fazer a cultura do milho, todas as casas se preparavam com... Por exemplo, nós aqui tínhamos sempre quatro bois para vessar e uma parelha mais nova que ajudava. Por vezes, até ia ajudar a vessar quando os campos eram compridos. Botavam-se até os seis, até para os novos poderem, por exemplo, ir (...) fazer o cachaço. INF2 Sim, sim. INQ2 Que era o quê, senhor? INF1 A senhora não sabe o que é isso? INQ2 Não, não. INF1 É simples. É como nas mãos fazer calos. INQ2 Ah, sim, pois. INF1 É que enquanto não estavam habituados a trabalhar, os animais sentem-se doridos no cachaço. Depois de ganhar calo e estar habituados a trabalhar, costumava-se dizer: "Ah, trabalha muito bem! Já tem o cachaço feito"! INQ2 Rhum-rhum. INF1 Sabe?
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INF1 Porque mesmo uma rês... Que deu-se várias vezes, pois semear o milho, a gente semeava também com uma rês a puxar o semeador. (...) INF2 Sim. (...) Antes ainda era puxado à mão. Ainda era mesmo semeado... INF1 À mão. Pois (...) antes era à mão. Mas eu estou a referir-me ao meu tempo. INF2 Sim. INF1 Eu ainda tenho um semeador de puxar à mão, mas é daqueles pequeninos (...) . INF2 Sei. Sei. INF1 Ora, acontece que, por vezes, a gente ensinava uma vaca. Para não ter depois de ir pegar num boi, e tal. Que naquele tempo a gente conservava as vacas também para o trabalho. Havia muitas vacas que também trabalhavam. E a gente, normalmente, para trabalho pesado e tal, era os bois, mas às vezes tinha uma junta de vacas que ajudavam ou que iam buscar um carro de mato, porque é uma coisa leve e que trazem . E então, por vezes, se ensinava uma vaca quando se via que a vaca era mansa e que era bem amanhada e inteligente, e tal. A gente adequava uma vaca para semear.
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INF1 Depois (...) dessa função (...) da vessada, ia-se gradar a terra. Era uma função muito trabalhosa! INF2 Muito dura! INF1 Muito dura! Era muito duro aquele serviço! E era muito duro porque era feito com grades de pau com dentes. INF2 Uns dentes de ferro. INF1 Ia à frente uma grade com dentes. Eu ainda tenho uma em casa do caseiro. Ainda vi há dias uma encostada à porta que lhe dei quando comprei o tractor, ficou para lá e depois ele também deixou, e tal, e ele ofereceu-ma a (...) mim. INF2 E a pessoa ia atrás. E a pessoa ia atrás por cima da terra, a segurar na... INF1 Ia à frente a chamar, nas leivas, à frente a chamar o gado, porque (...) o gado não tinha qualquer limite. INF2 Iam outros atrás. INF1 O gado ia para cima da terra, pois era preciso chamar porque senão não ia direito. INQ Pois. INF1 É que (...) uma rês quando tem um rego habitua-se perfeitamente a andar no rego e não sair. Até há o ditado que diz: "Boi velho não erra o rego"! Quer dizer, não sai do rego. E chega fora e entra muito bem ao rego. Até, por exemplo, os animais de sachar o milho: nós tivemos aqui uma égua que andava sozinha. Chegava fora e virava no rego seguinte. INQ Que engraçado! INF1 E tinha até uma coisa muito curiosa essa égua: é que quando se acabava... O problema maior que ela tinha é que quando se acabava, num campo, de sachar... Porque ia-se às vezes nesses campos grandes, ia-se quatro, três vezes ou quatro, sachar. Tinha um problema grande: é que quando se acabava o campo, não se dizia nada à burra e ela estava sempre com a ideia para aquele campo e no dia seguinte era (...) um caso sério, porque ela tinha sempre a ideia de ir para aquele campo. INQ Ia para aquele. INF1 E eu, às vezes, era rapazote e é que ia a cavalo nela, porque ela era muito mansa – era muito velha já! – e acontece que ela teimava comigo porque queria ir para o campo aonde tinha andado. INQ Rhum! INF1 Nós tínhamos um rio, acolá em baixo – que a senhora deve-se lembrar –, acolá em baixo no regato, e, às vezes, era também um castigo porque ela quando levava sede, é claro, chegava ali, estendia logo, e coisa, para ir. E eu, às vezes, virava-me e ia cair dentro do rio. Risos Às vezes ia cair dentro do rio. O rio tinha sempre... Porque era um rio de terra, era um regato com um bocado de água ancorada e tanto e tal, mas só que tinha uma pedra de lavadouro, onde se lavava... (...) Estava quase sempre lá gente a lavar. INF2 Era o rio da (.../NPR) . Era o rio. O rio da (.../NPR) . INF1 E eu ficava espetado naquele lodo, tinha de sair e vir para casa mudar de roupa, e tal, que aquilo só tinha lodo, e tal.
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INF1 Chamava-se para abafar a terra. INQ1 Rhum-rhum. INF1 Porque a terra não podia estar muito tempo exposta ao sol. INF2 Para ficar com uma humidade. INF1 Porque (...) se a gente se desmazelasse e deixasse ficar a terra ali umas horas durante a manhã do dia, a terra secava e depois a semente não nascia. INQ1 Pois. INF1 (...) E já se vê: hoje semeia-se (...) e até se rega para semear. INQ1 Rhum-rhum. INF1 Mas antigamente não se pensava nisso. E ninguém ia regar para semear. De maneira que quando o milho não nascia, causava nessa sementeira vários problemas. Não era só o não nascer; (...) era mais complicado. É que, por exemplo, um campo tinha mais humidade dum lado e não tinha no outro, nascia no que tinha húmido e no outro não... E depois o campo ficava cheio de peladas. INF2 Sim. INF1 Porque o milho do terreno que secou e que não nasceu, só vinha depois nascer quando viesse chuva, que às vezes levava muito tempo. INQ1 Pois. INF1 E depois o campo tinha umas peladas nos primeiros tempos e depois tinha um milho que vinha depois do primeiro. INQ1 Pois. INF1 E como se sabe, depois a colheita tornava-se também complicada, porque ia-se colher, colhia-se todo e depois um vinha verde, outro vinha maduro – essa história. De maneiras que era necessidade, como já disse, gradar a terra quanto antes. Para isso se costumava ter sempre uma junta de bois sobresselentes, principalmente para a frente, para não meter os que andaram a vessar. INQ1 Rhum-rhum. INQ2 Porque estavam cansados? INQ1 Já estavam cansados. INF1 Porque estavam cansados. E era uma opressão, porque a grade (...) de dentes puxava muito, porque é aqui à frente. INQ1 Rhum-rhum. INF1 Eu chamei muitas vezes o gado a vessar, e ainda numa época... A gente dizia: "Ainda cai neve negra". E eu enfiava... Porque naquele tempo, infelizmente, até (...) nem luvas se falava muito nisso, e eu andava com a mão no bolso e andava, com a mão que tinha de andar na soga dos bois, com uma meia de lã. INQ1 Pois. INF1 Porque luvas, não se falava muito em luvas. INF2 Pois, pois, pois. INF1 (...) INQ2 Mas o que é que queria dizer isso: "Ainda cai neve negra"? INF1 Como? INQ2 O que é que isso queria dizer: "Ainda cai neve negra"? INF2 Porque não se via. INF1 (...) Porque eram as últimas neves ainda do ano, ainda caía neve, às vezes, (...) já em Maio. INF2 Mas o que é não se via. (...) A terra ficava dura como com a neve mas não se via a neve. INF1 Isso. INQ1 Ah! INF1 É. Às vezes, diz-se: "Ainda cai neve negra"! INF2 Neve negra, era. INF1 Isso. A dona Cunegundes sabe como eu, e quando eu digo estas coisas, a senhora recorda-se perfeitamente delas. INF2 Sei. Muito bem. Muito bem. INF1 Era assim. INF2 Era. INF1 Era. INF2 Certas coisas, é claro, estás mais dentro, sabes... (...) INF1 De maneiras que consistia... (...) A primeira gradagem – não sei se tomou já nota – consistia em: chamava-se abafar a terra. INQ1 Sim.
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INF1 (...) Era operações engraçadas! INF2 Muito engraçadas! INF1 Ainda não há muitos anos que o 'gigueiro' vinha aqui todos os anos preparar-me as gigas. INQ Rhum-rhum. INF1 Todos os anos, antes de começar a cultivar. INF2 Depois (...) da sementeira à mão – não sei se a senhora tem –, INQ Sim, sim, sim. INF2 é sachado... INQ Isso. INF2 É sachado à mão. Tudo sachado! INF1 (...) Portanto, tem-se de descrever assim: quando semeado a lanço ou à mão – quando se diz a lanço, lanço é o lanço da mão – tinha que ser sachado à mão. INF2 A lanço. É o lanço da mão. Mas era semear a lanço (...) ... INF1 Quando eu falei no problema de alinhar os carreiros, havia também um interesse próprio em que os carreiros fosse estreitos. É que não era como é agora que eles tanto vale direito como torto, porque depois põem a química (...) para não vir erva e não tem problema. INQ Rhum-rhum.
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INF1 Mas era sempre... E depois, sabe como é, (...) aquilo era prejudicial. INF2 Era um tempo... INF1 Era uma alimentação muito diferente. (...) Eu estou convencido se a alimentação de agora fosse a que era quando eu nasci, metade (...) da gente já tinha morrido. INQ1 Rhum! INF2 Mas naquele tempo duravam até aos cem anos! INQ1 Rhum! INF2 E ele comiam isso, que (...) era carne gorda, toucinho... INF1 Pois era. INQ2 Os que escapavam! Os que escapavam! INF1 Mas a senhora não sabe porquê? INQ1 Os que escapavam! INF1 A senhora não sabe porquê? A senhora não sabe donde é que vem a doença? INF2 Não sei, não. INF1 Eu digo-lhe porque é muito simples. A gente é que não dá por ela. É que naquele tempo era a comida má, mas era o ar bom. INF2 Sim. Agora não. INF1 E agora, é o ar fraco e a gente... Eu não tenho balança para pesar, mas parece-me que é bem melhor o ar bom do que a comida. INQ1 Pois. INF1 É que muita gente pensa-se que o maior perigo... INQ2 Não é só o ar. É a água também... INQ1 Pois. INF1 A água! Mas o ar é essencial INQ1 Pois. INF1 e é o que se respira a todo o momento. Basta dizer que não se pode estar muito tempo sem ar. INF2 (...) INF1 E o ar está completamente como a água do rio. INF2 Do rio, pois é. INF1 O ar está todo estragado, todo estragado. INQ1 Pois é. INF1 E é daí que é doenças disto, doenças daquilo, é doenças nos gatos... Dantes os gatos e os cães, quantos ficassem, quantos se não matassem quando nasciam, só morriam depois de velhos ou de acidente. INF2 É, é. INF1 Não havia exemplo dum gato doente, nem dum cão doente, nem nada disso. INQ2 Pois. Porque eles tinham defesas. INF1 Depois apareceu a coisa. Como é que se chamava aquilo, nos cães, quando foram vacinados? INQ2 A raiva? INF1 O danado. A raiva. O danado. Mas aquilo felizmente acabou. INQ1 Rhum-rhum. INQ2 Há muito tempo que... INF1 Há muitos anos que não há exemplo dum cão danado. (...) INF2 É. INQ2 Por exemplo, agora... Aí está. INF1 Mas quer saber uma coisa, minha senhora? INQ2 Perdem-se umas doenças, ganham-se outras. INF1 Quer saber uma coisa? Morreram muitos cãezinhos... INF2 A senhora é capaz de estar aí no sol (...) ? INQ2 Não faz mal... INF1 A senhora chegue-se cá mais para dentro um bocado que eu disse para estarem à vontade. INQ2 Não, não há problema. INF1 Pode passar aqui para este lado. INQ1 Eu, por mim, estou óptima! INQ2 Eu, eu sei, mas... INF1 Estejam à vontade. INQ2 Estou à vontade. INF1 Sabe uma coisa? INQ2 Diga. INF1 Morreram muitos cãezinhos que estavam tão danados como eu, percebeu? E morreram por danados. Mas o danado era a fome, percebeu? É que isso também não era como agora. Dantes um cão vadio morria à fome e não levava muito tempo. Começava a andar aí só com a pele e com os ossos que não arranjava nada em lado nenhum, que não se botava nada fora. INQ1 Pois. INF1 E os cães vadios, que eram muito menos os cães vadios do que há agora... Porque agora há aí zonas com cadelas com ninhadas de cães todos gordos, (...) todos gordos, vadios.
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INQ1 O pendão é o qual? INF1 É aquela bandeira que abre em cima. INF2 É a última coisa... INQ1 Rhum-rhum. INF2 Em cima que dá... Que é aquilo (...) é que faz crescer (...) a espiga. INF1 É a flor... INF2 A flor do milho. Sim, o pendão é a flor. INF1 É a flor do milho e é com aquela flor que o milho (...) se cruza. INF2 Isso. INF1 Vocês não sabem disso? INF2 Ah! INQ2 Se quê? INQ1 Se quê? É que... INF1 Que o milho se cruza. INQ1 Ah! E o que é isso? INF1 Pois é. É porque a flor é que é a fecundação e é que cruza (...) uma raça com outra. (...) Aqui no nosso país não conheço quem tenha. Mas na França, com frequência se vê... Na cultura do milho que se nota? Por exemplo, quatro ou cinco carreiros e depois um carreiro de milho no meio de milho de raça diferente. INQ1 Rhum-rhum. INF1 Porque distingue-se à vista perfeitamente. É daí que sai o híbrido. INQ1 Rhum-rhum. INQ2 Cruza com os outros. INQ1 Pois. INF2 Pois. INQ2 Não sabia. INF1 Vocês sabem que há muitas plantas INQ2 Sim. INF1 que precisam de ter aproximação. INQ2 Sim. Até há alguma árvore precisa de ter o macho e a fêmea. INF1 Pois. Porque senão não há fecundação da flor. O milho, o pendão do milho é exactamente isso.
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INQ E quando chega a altura de tirar o folhelho ao milho, diz-se que se vai fazer uma quê? INF1 Desfolhar. INF2 Desfolhar. Desfolhar. INF1 E sabe uma coisa? Olhe que essa casaca, que esse folhelho – percebeu? –, a natureza tem coisas formidáveis. (...) ... Aquilo não é uma folha; é uma cobertura apropriada que o milho tem e que aquilo tem um isolamento que uma espiga que esteja com a parte de cima virada para baixo, não é fácil entrar o grelo. INQ2 Rhum-rhum. INF2 Não. Não entra. Não entra. INF1 É verdade. INQ2 Rhum-rhum. INF1 Por exemplo, o milho agora: se estivesse uma espiga, agora neste tempo, porque esteve muito inverno... Uma espiga se estiver virada para cima, pode ter os primeiros 'grães' de cima grelados... INQ2 Rhum-rhum. INF1 Sabe o que é grelados? INQ2 Sim. INF1 Se estiver virada para baixo, está enxutinha e não tem milho nenhum grelado, nem sequer está húmida! Está aquele milho... INF2 É. INF1 Conserva ali (...) ... INF2 E o folhelho também é muito bom e que era usado sequinho ... INF1 O folhelho era muito usado nos colchões. INF2 E (...) nas almofadas. INF1 E almofadas. INF2 Nós era sempre, os colchões era, que a gente ripava todo ripadinho, todo... INF1 É, ripava-se. INF2 Todo ripadinho. Assim (...) uma mulher qualquer, todo, sempre a ripar (...) ... Todo. Ficava todo ripadinho. E depois enchia-se os coisos e era acolchoar os coisos, os colchões. INQ2 Pois. INF2 Os nossos era assim. E também usava-se muito (...) para as pipas, (...) para o batoque da pipa. INF1 Sim. INF2 Porque fica isolado. O vinho fica bem tapado. Ainda hoje eu uso. (...) INF1 Em lugar de pano no batoque... (...) INF2 No batoque, em lugar de pano... INF1 E punha-se até quando os tampos a tampar... INF2 Sim. INF1 (...) Quando os tampos eram fortes em relação à madeira da pipa, punha-se nos intervalos das aduelas, às vezes, quando havia necessidade de enchimento. INQ2 Rhum-rhum. INF1 Porque eu reparei muitas pipas e tenho até aí uma dada que fui eu que fiz.
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INF1 O espigueiro teve uma época que se usou muito. Depois, porquê eu não sei... Eu conto isto muitas vezes! E às vezes a respeito da política actual e desta coisa, desta evolução. Porque o mundo levou uma volta e isto é muito diferente daquilo que era dantes. Agora fala-se muito e faz-se pouco e dantes as coisas apareciam feitas, quase não se falava nelas e nem se sabia, não é? INF2 Sim, sim. INF1 As obras públicas faziam as coisas, quase não se sabia. E, portanto, tudo isso eram organismos que funcionavam fora do povo. E (...) dessa história (...) que eu ia dizer que é... De que é que eu estava a falar? INF2 Dos espigueiros, pois. INQ Que antigamente hav-, houve uma altura em que havia muitos. INF1 Ah! Era exactamente isso. Porque houve alturas – eu lembra-me e até me rio, já tenho falado nisto muitas vezes –, que a lavoura... Isto acerca de actualmente e de agora, por exemplo, mais do que nunca, que andam esses engenheiros, mandam para aqui, mandam para acolá, mas acontece que a lavoura tem andado sempre desorientada e até um pouco enganada. Porque a lavoura tem tido (...) muitas fases em que é aconselhada a fazer uma coisa que vê-se, no fim e ao cabo, pela prática, que aquilo não tem jeito nenhum, INQ2 Não tem jeito. INF1 não tem aproveitadouro nenhum. Por exemplo, a Dona Cunegundes não sei se sabe: o meu filho andou a tirar o curso de empresário agrícola. Naquele tempo davam um subsídio – uma ajuda e grande, quase pagavam tudo – a quem quisesse pôr bouças a campo. Há tempo recebe uma circular para deixar cinco por cento, pelo menos, da terra arável a pasto ou abandono. INF2 Pronto. INF1 Isto são duas coisas completamente opostas. INQ2 Uma à outra. INF2 Ai, Jesus! INQ1 É uma coisa, um disparate... INQ2 É, é, é um disparate... INF1 Fala-se muito na reforma agrária. INF2 É. INF1 Já se falou na reforma agrária antes do 25 de Abril. Não se fez nada. Antes do 25 de Abril não se fez reforma nenhuma agrária. E não se fez porque o povo também colheu logo aquilo muito mal. E na ideia do povo a reforma agrária consistia em ter de dar aos outros aquilo que era nosso, ou ter que trocar com quem nós não gostávamos, ou de ter de dar uma coisa boa em troca duma ruim, e tal... INF2 Exacto. INF1 (...) E eu já nesse tempo dizia: "A reforma agrária é uma das grandes obras", para mim. Uma é a reforma agrária e outra é o emparcelamento. Não sei se actualmente merece a pena porque nós estamos um bocado longe dos outros, não temos possibilidades que têm os outros, por um lado, e por outro lado, porque Portugal tem uma parte muito pequena de terra boa, de terra que, na verdade, mereça. Toda a terra tem aproveitadouro. Mas há no nosso país um problema grande: é que as culturas e tudo fica muito caro e nem toda a terra tem condições que permita adequar... INQ2 Pois. INQ1 Eu já tenho visto ali para os lados de Lisboa, INF1 Não se vai fazer um... INQ1 plantarem eucaliptos em terras de, de água, ao pé dos rios... INF1 Tudo tem (...) o seu espaço próprio. Não se vai fazer um arranha-céus nas fraldas da Serra da Estrela. Nem se vai fazer um arranha-céus aí no meio dos montes, em qualquer lado. Pode-se fazer na praia porque se sabe que se aluga tudo e que no fim ele o que falta é casas, não é gente. A reforma agrária no nosso país devia consistir nisto: emparcelamento é útil mas sem prejuízo dos próprios. INF2 Sim. INF1 Sempre sem prejuízo dos próprios. INQ1 Rhum-rhum. INF1 A reforma agrária, o primeiro passo ou coisa essencial a ver era isto: era deixar realmente muitos campos que não valem nada, que estão a enganar os seus próprios donos. E disso eu tenho a certeza, que muitos miseráveis, muitos lavradores que eu conheci, de terras onde eu ia e não tinham uma casa caiada, tiveram de abandonar tudo. Fizeram até ao último e se não é haver aquele contingente que (...) foi para a França e para aqui e para acolá, estavam na miséria, não tinham uma casa caiada, não tinham nada. Imagine, por exemplo, ali, Penamacor. Eu estive numa pensão que se dizia pagar os impostos e tudo o mais, e não tinha não era um quarto-de-banho, era não tinha nem uma retrete. INQ2 Imagine. INF1 Tinha-se de ir a uma bilha, lá ao lado. INQ1 E era uma pensão! INF1 E era uma pensão para pagar imposto! E terras, que eu conheci muitas, INF2 Sim. INF1 que não tinham uma casa caiada. INF2 Sim. INF1 Hoje vai-se lá e vê-se: o monte abandonado. Eu conheço (...) muito terreno com giestas da minha altura que dava centeio. INQ1 Exacto. INF1 E agora está abandonado. E na saída deles, muitos abandonaram, outros puseram as tabuletas e semearam pinhos. E tinha umas tabuletas que era para não meter as ovelhas, dizia: "Tem pinho semeado" – (...) aquela gente toda . Hoje vai-se àquelas terras e têm umas casinhas caiadas todas arranjadinhas, o que é não têm ninguém válido: só têm crianças e velhos – e velhos. INF2 E velhos. Tantos velhos. INF1 O resto está tudo a ganhar o dinheiro na França e fora daqui. INQ2 Pois. INQ1 O país já não aguenta... INF1 Lá vem um ou outro por aí abaixo que vai parar a Lisboa ou ao Porto (...) . INQ1 Para ir ganhar miséria.
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INF1 A reforma agrária – já agora que pouco tempo leva – devia, para mim – a parte essencial, o melhor da reforma agrária –, era abandonar aqueles montes... Eu conheço bocados de terreno como isto, aonde vai um desgraçado dum lavrador semear um bocado de centeio e ter aquilo assim como este terreirito (...) , onde mal dá para dar a volta. E nós temos aqui terras em baixo que é uma maravilha – percebeu? –, que estão aí a eucaliptos e silvas e fetos (...) ... INF2 Pois, pois. INF1 E isso qualquer terra dá. INF2 Ora pronto! INF1 O eucalipto não. INF2 Sim? INF1 Porque o eucalipto quer terra boa. INF2 Eles também agora (...) já estão a dizer para plantar outra coisa. INF1 (...) O eucalipto consiste aqui na nossa zona é uma praga, percebeu? Foi o eucalipto que deu cabo do mato, que dá cabo das bouças. INQ1 Exacto. Pois é. INF1 Todas as bouças, por causa dos eucaliptos, começaram a não ter mato e a ter só fetos e silvas. Porque o eucalipto suga a terra toda. INQ2 Exacto. INQ1 Um eucalipto adulto bebe setenta litros de água por dia. INF1 Pois é. Isso sei eu. INQ2 Imagine. Seca completamente as terras. INQ1 Setenta litros. INF1 E há outra coisa que a senhora não sabe. É que o eucalipto é a árvore de maior desinfecção que temos. Quase todos os produtos desinfectantes para as sanitas, e isto e aquilo, é tudo extraído do eucalipto. Não há bicho nenhum que coma... INQ1 E o papel. O jornal é tudo... INF2 Sim. INF1 Não há bicho nenhum que coma eucalipto. INQ1 Tal é a qualidade! INF1 E já me disse um engenheiro – percebeu? – que até vejamos, porque (...) no chão dos eucaliptos, daquela água que sai (...) , diz ele, aquilo é uma autêntica monda química. Por baixo (...) nem deixa vir... INF2 Não sai nada. Não, não. INF1 Não deixa germinar nada. INQ1 Mata tudo. INF1 Percebeu? (...) ... INQ1 Olhe, nós queríamos saber... INF1 (...) E a gente precisava era isso: é pôr essas terras fracas... INF2 A trabalhar. INF1 Essas terras fracas, (...) porem-lhe aquilo que é próprio das terras fracas. INF2 Pois. INF1 As terras boas, aproveitá-las.
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INQ1 Costuma deixar a terra a repousar dum ano para o outro? INF1 Para milhos, põe-se sempre a terra melhor, porque é uma cultura funda, porque é uma cultura rica. Para centeio, não sei se a senhora sabe disso, porque centeio chama-se pão-macho. Já ouviu falar nalguma vez nisso? INQ1 Não, não. INF2 É semeado debaixo, não é? INF1 Então a senhora pode tomar nota que sempre que se trate de centeio, aveia, trigo, toda essa cultura que é feita... INF2 Cevada. E aveia. INF1 Aveia, que é feita, chama-se pão-macho. E que é próprio para as terras fracas, para as terras mais pobres. INQ1 O con-, o trigo também? INF1 Também. INQ2 Ai o trigo também? INF1 Ah pois, o trigo é muito primo do centeio. INQ2 Rhum-rhum. Pois é. INF1 É muito primo do centeio. Tudo isso chama-se pão-macho. E esse é (...) posto nas terras mais fracas sempre. INQ1 Está bem. INF1 É porque isso – sabe, minha senhora? – é uma cultura que nem pode ser muito adubada. INQ1 Pois. INF1 Porque se for muito adubada, cai; fica forte demais, cai e apodrece todo e não se pode segar. Enrosca Engrossa tudo. INF2 É. A aveia até se vê em qualquer valozinho. INQ1 Olhe e, mas costumam deixar repousar a terra um ano, por exemplo, entre dois?... INF1 Não, não, não. Não. INQ1 É sempre aproveitada a terra? INF1 Sim. Sim. Porque a nossa terra... Aí há também um contra-senso nisso. Quando as terras pobres têm necessidade de descanso, INQ1 Esta não é. INF1 e algumas permitem estar dois ou três anos, as nossas terras não se pode fazer isso, porque elas enchem-se logo de braveza. Enchem-se logo de braveza! As nossas terras quanto mais cultivadas... Até as nossas terras devem ter duas culturas por ano: que é o milho ou o trigo e a erva. INF2 Devem de ser! Sempre, sempre cultivadas. INQ2 Rhum-rhum. INF1 Porque depois semeia-se-lhe a erva, que é o azevém, e que o azevém não deixa vir a grama brava nem as ervas bravas.
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INF Os marcos são umas pedras em forma... INF2 Uns mecos. Uns mecos. Uns mecos. INF1 Sim, em forma de mecos. INF2 É. INF1 E que INQ1 E que têm também um segredo. INF1 têm um segredo. Que normalmente no fundo desses mecos se encontram duas pedras que se dá o nome de testemunhas. Porque eram convidados duas testemunhas, que cada uma delas lançava a sua pedra. INF2 A sua pedra. INQ2 Rhum-rhum. INF1 É daí que vem as testemunhas. Hoje, de facto, não se faz nada disso. Eu quando meto marcos, que eu meto marcos em cada pedaço, muitas vezes, e lá ponho sempre duas pedrinhas. Mas não são as testemunhas, sou eu que ponho duas pedrinhas – não conta-se por testemunhas, não –, que é para se (...) distinguir que, na realidade, que se trata dum marco. INF2 Sim, porque às vezes não se sabe. INF1 Porque depois o marco partiu, ou quê, fica só lá um bocadinho e tal, não se sabe: "Olha está aqui uma pedra, mas não é marco"! INF2 E não se sabe. Acontece como no nosso maninho. INF1 Eu tive outro dia uma coisa curiosa, que foi aqui nas minhas leiras, aqui em frente à escola, porque se fez ali uma rua, alargou-se, e tiraram-se os marcos das estremas. E os marcos do meio quase já tinham desaparecido todos agora com a história dos tractores. Porque, sabe, os tractores vão a puxar de noite e, por mais, o tractor pega num marco, arranca aquilo tudo e não se dá por ela. INF2 À noite. Pois, pois. Pega e arranca. INF1 (...) Os dos meios quase tinham desaparecido todos. E então, acontece que nós fomos corrigir essa marcação, meter marcos novos, e coincidiu, deu em fazer a cova com um marco novo e encontrar as testemunhas doutro. INF2 Estava lá um velho. Ora vês? INF1 Porque aqui na nossa zona não é o que se pensa. Aqui há zonas... Eu tenho treze bouças juntas, por exemplos. Pois (...) nessas bouças juntas se se quiser (...) uma pedrita do tamanho duma pinha, é difícil de arranjar. Porque são zonas que não tem pedra. INQ2 Pois. INF1 E as que têm, nalguma 'forreira' dalgum valo, que é o único sítio onde há pedritas assim, foi pedra que se levou para a obra. INF2 Sim. Ali em baixo INF1 Porque pedras dali não há! INF2 Não há. INF1 Pedras dali não há. E então os marcos e as testemunhas é isso: são os marcos que separam... INQ2 Rhum-rhum. INF1 O marco é a primeira coisa que vale e isso, cada passo, a gente vai ver... Eu e colegas vamos ver o que é que nos parece nesta, porque há problemas nisto e naquilo. Quando aparece o marco, é a primeira coisa a respeitar-se. Depois disso são os sintomas, a forma como a coisa se afeiçoa.
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INF Aconteceu com esta gata uma coisa muito engraçada. INQ Que linda! Tem uns olhos azuis lindos! INF Um dia de manhã, eu ainda estava na cama e disse a Humberta: "Anda, que uma pata já anda ali com sete patinhos"! E eu disse-lhe assim: "Bota conta (...) que eu vou-me pôr a pé (...) e vou apanhá-los". E cheguei aqui fora, vim e tal, (...) nunca pensando que tinha havido problema. E chego aqui, a pata estava ali, eu sabia que ela tinha ali os ovos, e eu olho para ali e não vejo nada. E quando reparo, a pata ia acolá em baixo só com um patinho. Digo: "Ela que disse que tinha sete patos, como é que é só um patinho, e tal"?! Ora, eu reparo aqui para a beira duma 'naguzeira', ali para aquelas pedras, e estava esta gata no meio dos patos novos. Eu digo: "Olha, já matou... O diabo da gata matou os patos todos". A senhora sabe que ela estava a brincar com os patinhos (...) e a mãe teve medo e fugiu só com um. E os outros ficaram ali de volta dela e ela brinca com um e brinca com outro. Então, ela brinca com os cães! Andam aí os cães novos, e ela brinca com eles. INQ2 Mas ela é muito novinha também, não é? INF Hã? INQ2 É novinha? INQ1 É novinha? INF É quê? INQ2 É nova? INF É, é nova. Ela chora por o rapaz, por o meu neto, berra por ele. INQ2 Ah! INF Ele anda sempre com ela. (...) Ela vai dormir a sesta com ele, e tal. Anda sempre aí com ele, e tal, e ela, às vezes, vai ali para dentro, e berra por ele, para ver se ele está ali na cama. E então é engraçado porque nós temos aí outra parecida com ela, só é diferente no rabo, no resto é igual. Mas não são parentes.
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INQ1 A codorniz é só codorniz que se chama? INF É. INQ1 Nunca lhe ouviu chamar paspalhã? INF Não, não. Não, não ouvi. Mas o Cosme amanhã é capaz de se ele saber explicar o macho como é que se chama. INQ1 Então e maior que a perdiz? Que a codorniz? Com patas verdes? INF Não sei. INQ1 Também é de caça. Ele depois... Amanhã eu pergunto-lhe. INF Sim. INQ2 Ele amanhã sabe isso. INF Sim, isso sabe. Isso já é mais... Eles, eles vão muito aos pássaros, apesar que agora há poucos pássaros (...) ... INQ1 E aqui não é costume andarem pássaros junto dos bois, quando andam a lavrar? INF Não, não. (...) Já tenho visto, que até é muito engraçado. Elas andam ali assim sempre, ali mesmo juntinho, INQ2 É. Uns pássaros brancos. INF sempre, junto das patinhas. Que tempos ali junto deles! Tenho visto na televisão. Acho muito engraçado.
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INF Uma carocha é um bicho também que anda muito assim (...) nas palhas velhas ou nos entulhos velhos. É como assim um... Tem umas pernas grandes. E é preto também. Assim (...) quase como uma cabra-loura, mas assim... (...) É preto mesmo. E tem... Anda assim também com umas pernas grandes; e são difíceis de morrer. Mete-lhe a gente o pé em cima, tem uma casca dura, não é muito fácil. Mas não voam. Esses é só no chão. INQ1 E de que tamanho são? E de que tamanho são? INF Ora, são do tamanho de quê? INQ2 E são pretas? INF São pretas. Chamamos-lhe nós as carochas, porque andam... Aquilo é criado muito assim onde é coisas velhas, onde há coisas velhas. A gente aqui em casa tem muito. Aí em baixo, às vezes, dalgumas palhas, dalguns... Atrás de qualquer... INQ2 E, mas não vêm à comida? INF Elas andam... INQ2 Em coisas de comida não há? INF Elas andam assim (...) ... Não, de dia não. (...) INQ1 Mas de noite? INF De noite, mas é só (...) onde tenha assim coisas velhas, para lá. Ai, e aqui é: também há essas, mas é que andam aqui (...) nas coisas, nos canos e assim, que é (...) as baratas. INQ2 Não é baratas? INF Não. INQ2 As carochas não são baratas? INF O que se chama as carochas não são baratas.
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INF1 Mas havia duas coisas que só se faziam com torrão: era a cobertura dos fornos de queimar carvão... Por isso, cada madeireiro que se dedicava a queimar carvão – porque a senhora sabe que nós tivemos uma época em que se aproveitava todos os trepos das árvores para fazer carvão. Essa época acabou. Hoje ninguém tira um cepo para fazer carvão. Mas tivemos uma época que se aproveitava tudo e se rachava (...) os cepos a tiros de fogo. Eu ainda tenho aí um trado, que era do meu avô, que era de furar (...) os canhotos para dar cómodo para os rachar. Um, era essa coisa: portanto, todos os queimadores, os madeireiros, (...) todo o madeireiro que se dedicava e fazia carvão – que tinha também a indústria de carvão –, tinha um homem apropriado porque obrigava a um determinado conhecimento que só o carvoeiro... INF2 É que sabia. Pois. INF1 Porque nem só o vendedor de carvão é que é carvoeiro. Também o que o faz... E chamava-se queimador. Esse homem chamava-se queimador, que é que fazia os fornos de carvão e que assistia do princípio ao fim. (...) Acendia-o e estava ali de dia e de noite. INQ Rhum-rhum. INF1 Tinha uma barraca. Fazia até a barraca quase sempre (...) de terrão também. INQ Ah! INF1 E além (...) do terrão (...) para os fornos de carvão, era usado também para os paus de que se falou ontem, para as divisórias das propriedades.
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INF1 Bom, é que há uma coisa que a senhora não sabe, mas vai ficar a saber para sempre se não lhe esquecer. Sempre que há no forno chama é erro, porque é prejuízo. Faça de conta que aquilo é como gás que se está a perder. INQ Pois. INF1 O forno não pode nunca dar chama. Tem de arder sem chama. INF2 Queimar e partir o carvão para ficar partido. INF1 Percebeu? (...) INQ Senão consome tudo. INF1 Por isso, nos respiros e tudo o mais, quando vem fora o lume, vai-se logo tapar. INQ Pois. INF1 Porque se arder e der chama, aquela chama, aquele gás, é roubado ao carvão. Tem que funcionar abafado. INF2 (...) INF1 Pois é. INQ E depois como faziam?... Pronto, estava já tudo ardido... INF1 Aquilo funciona... Que eu digo muitas vezes que os portugueses que não têm aqui gasolina, e que (...) há-de-se apoiar esta como a gasolina... Foi uma pena não terem aperfeiçoado o gasogénio. É porque vocês não se lembram; eu lembro-me perfeitamente dos carros a gasogénio. E o gasogénio era: então (...) o combustível era carvão. Os carvoeiros faziam era um carvão melhor, um carvão especial, ainda mais... (...) Ainda ontem ouvi uma coisa engraçada, que foi aquele tipo que falou da qualidade da carne dos porcos – não sei se viram? –, INQ Rhum-rhum. Vimos. INF1 em que ele disse, lá o director, que o vendedor o que quer é quilos. E realmente é assim em tudo. INF2 Pois é. INF1 A batata, por exemplo, é uma coisa que está altamente prejudicada por causa do excesso de água que se lhe põe, na maioria dos casos. Fica pesada e nunca mais é boa. Mas aí está: quer-se é quilos ainda mais. E tudo, ou quase tudo, é estragado: por exemplo, as sementeiras com o excesso de adubo e cavar. INF2 É. INF1 E acerca disso, o carvão tinha também esse problema: os carvoeiros, ultimamente, que não tinham concorrência, vendiam o carvão bom e ruim, ia tudo. Encharcavam... Quando tiravam o carvão, o carvão estava todo molhado, a escorrer água; depois deixavam 'assanhar' um bocado, lá ia molhado e tudo. Mas no tempo do gasogénio, era um carvão próprio, até de sobreiro ou carvalho, até mais próprio (...) . INF2 Pois. INF1 Aquilo era melhor para fazer andar os carros e aquilo foi uma pena não ter aperfeiçoado.
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INQ Nos campos, quando estão, quando têm trigo ou milho, ou, ou até nas hortas, não se costuma pôr assim um boneco para espantar os pardais? INF1 Espantalhos. INQ Espantalhos. INF1 Espantalhos. Esses espantalhos põem-se é nas figueiras. INQ Nas figueiras? INF1 É nas figueiras (...) e realmente nas árvores, e tal. INQ Rhum-rhum. INF1 No trigo (...) costumava pôr-se mas era uma palma benzida, uma folha de palma benzida. INF2 Era. INQ Ai era? INF2 Palmeira. Uma palma grande. Trazia-se as palmas maiores que pudesse que era para ele crescer. Quanto maior... Que era (...) para crescer. INF1 (...) Pois. A palma que se ia benzer no dia de Ramos, na sessão de Ramos, tinha duas coisas por finalidade. INF2 No dia de Ramos. INF1 Uma era pôr uma palma no trigo – cá em casa punha-se sempre, no tempo da minha mãe –, e outra era guardar também um bocado duma palma para, quando viesse trovoada, queimar. INF2 Nós também. Também se punha. Trovoada. Era, era. INQ Mas essa palma do trigo era para espantar os pardais? INF2 Não, não. INF1 Não! Não. Para isso, era um espantalho (...) . INQ Um espantalho. Então para que é que era? INF1 Um espantalho. INF2 A palma era para... INF1 Como era o espantalho? INQ Não, para que é que se punha a palma no trigo? INF2 Para crescer. INF1 A palma no trigo era para abençoar o trigo. INF2 E para crescer. E também na altura da praga, também. INF1 Para crescer?! Risos INF2 (...) Para dar uma palma alta. INQ Sim senhora.
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INQ1 Olhe, e com... Há qualquer coisa para caçar pássaros que é assim uma espécie de coisa pegajosa, onde eles se pegam... INF É visco. INQ1 Visco. INF Isso não é para caçar pássaros. É exclusivamente para pintassilgos. Não caem todos os pássaros. INQ1 Ai, é só para os pintassilgos? INF É. Isso é usado na caça aos pintassilgos. INQ1 Olhe, mas e o?... INF E sabe como é posto? INQ1 Não. INF É posto numa palheirinha. Conversa entre uma criança e a avó a propósito de uma caixa de música que está a tocar Ó Héracles, vai, vai, vai. Tira isso, tira, porque aqui não mete música. Risos da criança INQ2 Fica tudo, fica. INF Hoje apareceu aí um gaita aqui. Risos da criança A gaita apareceu aí a tocar e eu: "Lá vem o Zé da gaita (...) ". Risos INQ1 Diga. INF Ora, estávamos aonde? Ah, o visgo. INQ1 Sim. INF O visgo é (...) posto numa palheira, numa cana de trigo ou assim, que depois (...) se enfia dum lado (...) num pauzinho dum arbusto, ou numa coisa dessas onde eles costumam pousar. INQ1 E eles ficam lá... INF Não é posto... O visgo não é posto no chão nem... É numa palheira. INQ1 Ai é? INF É. E é usado para a caça... INQ1 Porque é que é numa palheira, não é num raminho da árvore? INF Porque a palheira é mais própria para aquilo e porque eles gostam mais de se pousar nas palheiras. INQ1 Ai é? INF Depois a palheira é muito lisinha, é fácil adaptar o visgo. Se bem que eu nunca usei. Mas sei perfeitamente que funciona. INQ1 E uma, e usa-se também um, o?... INF (...) Esses aviários têm todos visgo para vender. Agora (...) até há um visgo que se vende numas latinhas (...) . Parece aquelas latas da pomada dos sapatos.
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INQ O senhor já alguma vez viu uma forja de ferreiro? INF1 Uma quê? INQ Forja. INF1 Eu tenho . INF2 Ele até tem. INQ Tem uma? Então quando?... INF1 Eu tenho... Não. INF2 Tu tinhas, não tinhas? INF1 Tenho. E tenho. INQ Mil quatrocentos e vinte e três. INF1 Mas a forja de ferreiro era um bocado diferente; porque eu tenho uma forja de ferreiro, mas é ventilada, é ventoinha. INF2 Ah! INF1 E a forja propriamente dita que a senhora diz compõe-se de forja e fole. INQ Exacto. INF1 E aquilo tinha-o ponta da unha.