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INQ1 Na, na couve ou no nabo, ele costuma a dar um, uma coisinha para cima, quando é novo que até se parte para comer cozido? INF1 Na couve? INQ1 Ou no nabo. INQ2 Na couve. INQ1 Há uma... Na couve. Portanto... INF1 Na couve? Há o olhinho da couve que está (...) mais nova, mais tenra. E, às vezes, (...) as mulheres vão ao quintal e partem aquele olhinho (...) da couve (...) para fazer uma sopa, para fazer uma coisa... INQ2 E aquilo, quando ela está a começar a dar semente dá um quê? INF1 Ele quando está a começar, a gente aqui usam: se é um pé para dar semente, a gente deixam aquele pé para dar semente. Não mexem nele. (...) INF3 Para semear a couvinha. INF1 (...) Para dar a semente, para ele para a gente tirar a couvinha, tem que colher... E depois quando ela espiga, a gente tem que cortar aqueles olhinhos todos, quebrar aqueles olhinhos todos. INQ2 Quando ela espiga, como é que chama àquela coisinha?... INF1 Aquilo é : o espigo é a semente. É aquele aonde estava... INQ2 No espigo? INF1 O espigo estava-lhe na semente. Então aquilo pega porque aquilo começa pequenino... INF2 Dá uma vaginha. INF1 Vai, vai crescendo, dá umas vaginhas e aquilo é a semente da couvinha. Mas a gente tem que lha cortar toda assim (...) para... A gente tratam "capar a couvinha". INQ2 E não há, não há plantas que dão espigo, dessas da... Boa tarde. Pode-se chegar para cá... INF3 Não. Não. INQ2 Sente-se aqui. INF2 Ele corre ali mais ar. INF1 Podes sentar aqui, então, mais para a cabeceira . INQ2 Onde quiser. INF3 É que não há cadeiras ali. INF4 Não, está aqui. INQ2 Não há umas outras plantas assim que se criam no quintal, que se aproveitam esses espigos para cozer? INF2 É a couve-flor. INQ2 Só a couve-flor? INF2 Aqui é só ela . INQ2 No nabo, nunca se aproveitam espigos de nabo? INF1 Não. (...) INF2 A gente não. Aqui não. (...) . INQ2 Não? INQ1 Mas o que é o olho da couve? Aquele... O que é que chama o olho? INF1 É aquela... A novinha. É aquela couvinha novinha que está ali mesmo, que (...) pega a abrir as folhas grandes. Quando está novinha, as mulheres, às vezes, vão ali... Se tem muitas couves... Se não tem, apanham a desfolhar para ele. Mas se há muitas, elas cortam logo aquilo para fazer um... A mais tenrinha! (...) A couve torna-se mais tenra, mais nova. O olho da couve é o espigo, ali o olho. INQ1 Mas aquele espigo quando era tenrinho nunca se costumava partir? INF1 Pois. Mas (...) se as pessoas têm muito - que temos muito aqui e muita quantidade -, vão-lhe já comendo aquelas tenrinhas. Porque (...) tendo com fartura, vão comendo ! Agora se há poucas, vão desfolhando, vão tirando as folhas melhores. INQ2 Claro. Olhe e aqui não há nada a que chamem grelo? INF1 Um grelo? INQ2 Um grelo. O que é um grelo? INF1 Um grelo é grelo de batata. Uma batatinha muito miudinha! Grelo de batata! INQ2 Sim senhor. INF2 A batata, às vezes, é assim deste tamanho. A gente, os grelinhos mais pequeninos... INQ2 Começa... INF1 Às vezes, (...) à batatinha mais miudinha, a gente tratam grelo. INF2 A gente é grelo.
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INQ Então explique-me como é que era esse alagar? INF1 Era em ele de pedra. INQ Havia uma, uma pedra? INF1 Aqui nessa casa havia um alagar. INF2 Havia. INF1 É um quadrado de pedra. INQ Rhum-rhum. INF1 Umas lajes assim grandes todas, com a bica a correr o vinho. E tem uma trave assim por cima, com um peso e um fuso, tudo em madeira. E a gente andavam com aquele peso de roda... INF2 Mas o peso, aquilo era em pedra. INF1 Mas é que nesse tanque ficava... Aquilo era pedra tudo. O peso tem que ficar assim dessa altura 'despenso' do chão, que é (...) para descair o peso, para espremer a uva que está no alagar. No tempo havia era alagares e não prensas. Não. INQ Aquele pauzinho que se enfiava no fuso para rodar, dava algum nome a esse pauzinho? INF2 É o fuso. A gente tratava o fuso. INF1 É. Mas tem um pauzinho ali, tem. INQ Mas depois, em baixo... INF1 Eu sei o que é. (...) Eu sei o que é que o senhor está dizendo. INQ Havia um coiso ali, um pauzinho, que era onde a gente pegava para... INF1 Eu sei. Agora, isso pode ter um nome; no tempo, nunca me explicaram o nome desses pauzinhos. Eu sei que havia o fuso, havia o peso, havia o cincho que era donde se deitava a uva dentro... INQ Que era como aquele que está ali? INF1 'Yeah', mas em vimes. INQ Era em vimes? INF1 Era em vimes. No tempo, ainda apanhei aqui nessa casa, era em vimes. (...)
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INQ1 Sim senhor. Olhe, agora, o senhor disse-me que sabia as coisas do linho... INF1 Do linho? Ai, senhor, do linho, haver (...) de me dizer... INQ1 Dava algum nome ao terreno que estava semeado de linho, só? INF1 Ele semeava-se... Não senhor. (...) INQ2 Conte lá como é que era. INF1 Semeava-se... Ele as senhoras (...) conhecem a semente do linho, não conhecem? INQ2 Sim. INF1 É uma sementinha muito miudinha - não é? INF2 Linhaça. INF1 É uma linhaça. Tratam linhaça, que é a semente que até (...) diz que é muito bom para deitar em vistas (...) quando estão inflamadas - e que no tempo a gente deitavam. Na nossa casa deitava-se. Se tinha alguma coisa dentro, aquilo no outro dia... A gente deitavam um grãozinho daquilo e aquilo limpava a vista. Tirava tudo para fora. Aquilo semeava-se na terra, um bocadinho de terra daquilo, não é? Aquilo crescia, não é? Então quando estava assim grandinho, aquilo era mondado: tirava aquela erva (...) que não era boa (...) para o linho crescer. As mulheres - as raparigas - iam mondar aquilo. Nem sequer os homens mondavam mondavam ele . Se tinham tempo, os homens também ajudavam a mondar. Mas quase sempre era as raparigas que trabalhavam nisso. Ele crescia mais um bocadinho, não é? Crescia. Ele o linho era - com os rapazes, outra vez, e as raparigas -, era tudo amaçado, boleado tudo. É muito bem ele amaçado. INF3 Fica tudo inchadíssimo . INF1 Para ele tombar. Para ele ficar tombado, a dormir para ali. Ficava ali. E ele vem dali é que se põe em pé outra vez - chegava a fim de muito tempo, ele ia-se pondo em pé -, até ele espigar e dar a semente outra vez. Chegava a altura de a semente estar cheia, as pessoas arrancavam o linho e traziam-lhe para casa. Havia um ripanço. A senhora, eu não sei se sabem o que é um ripanço?! INQ2 Um coiso daqueles?... INF1 Com uns dentes assim de ferro, sim senhora. (...) Encostavam aquilo num banco. INF2 Calçavam-lhe uma pedra . INF1 Calçavam duas pedras aqui (...) pesadas para alevantar o banco; calçavam (...) o ripanço atrás com uma pedra também pesada, não é, e as mulheres ripavam aquilo, para ele para a semente cair toda, para ele para tirar a semente, para o ano ter semente outra vez. Depois de o linho estar ripado, o linho é ali estendido em 'currales' de reses - que havia muito curral de reses no outro... INF2 Ali vinha um pau descaído . INF1 Num lugar duro! - mesmo quando é (...) na terra. Num lugar firme! Chão duro! E aquilo estava para ali a secar. Acabava de secar - estava ali uma temporada a secar, não é? -, acabava de secar, o linho ia para o forno. As mulheres coziam pão e o linho entrava para o forno e coiso . Depois de tirar o pão, e o forno quente, aquilo estava tudo em mancheias, para o forno, a secar! INF2 Iam as mancheias . INF1 Acabava de secar bem - quando ele estava bem seco - havia aqui nesta casa do meu sobrinho, que é aqui - nessa entrada dessa canada -, havia ali (...) umas pedras de mármore que era de amaçar o linho. INF2 Com ajuda... INF1 As mulheres todas ali, que ele aquilo é: estava sempre a pedir-se . Quando o linho acabava, entrava outro. INF2 À peaça. INF1 A casa da minha madrinha tinha um celeiro. Era o lugar (...) onde amaçava o linho. INQ2 Com quê? INF1 Com uma maça. Com uma maça de madeira. (...) Ainda tenho lá uma em casa também. As mulheres lá (...) ele amaçavam aquilo muito bem amaçado. Acabavam de amaçar o linho, o linho entrava outra vez para o forno. Ia outra vez ao forno e do forno ia para as pastagens. (...) Estendiam nas pastagens depois de o pasto (...) estar comido. Ele não é com a erva grande! É quando ele as vacas acabavam de comer o pasto, as mulheres pediam aos lavradores: "Eh, meu tio , podes-me deixar estender linho no teu pasto"? - e assim, e assim. Ele lá deixava. Estendiam aquilo tudo. Havia temporadas de vento que, às vezes, enrolava aquilo tudo para os combros, para as barreiras. Ele larga-as. Era só a dizer a elas: "O linho que está por aí, vocês vão ver o linho, que aquilo está ali tudo de lapa ". Andavam as pobrezinhas a juntar aquilo outra vez para deitar aquilo tudo. Quando a erva pegava bem no linho é que o vento nunca mais levantava ele . INQ2 Pois. INF1 Aquilo estava ali uns tempos outra vez, imenso, e traziam o linho para baixo. Ala! (...) Ele o linho para baixo outra vez para as... Havia três mulheres que trabalhavam o linho, que era gramar o linho. INF2 O linho. INF1 Com uma gramadeira, gramar o linho! Depois de o linho gramado, ia (...) para as costas de uma cadeira para a tasquinha, para tasquinhar o linho. INQ2 Que era para tirar o quê? INF1 Para pôr o linho 'thin'! INF2 Pois, o linho 'thin' . INF1 A tasquinha é que tirava aquela folhada toda do linho. Aquilo tudo que não prestava caía fora. E ficava (...) aqueles cabelos fininhos, muito fininhos, bem tasquinhado. A mulher estava nas costas da cadeira, com uma tasquinha - que é como uma espada, tudo em madeira! -, INQ2 Pois. INF1 sempre a dar ali. Davam!... Viravam aquilo para um lado e para o oitro... Tasquinhavam aquilo muito bem tasquinhado. Depois de tudo bem (...) INQ2 Tasquinhado. INF1 tasquinhado, ia para os teares para... Ah! (...) INF2 Ele havia uma roca . INF1 Aí ainda havia uma roca! INF2 As mulheres que fiavam... INF1 As mulheres que fiavam, (...) com saliva da boca e estavam com a roca fiando com o fuso! Enrolavam aquilo; quando aquilo estava em fio... INF2 A fazer linha. Para fazer linha. INF1 A fazer linha é que aquilo ia fazer obra. INQ2 Sim senhora. Grande explicação! INF1 É. O tempo do linho é esse que eu que me lembre.
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INQ1 Olhe, agora outro assunto. Aqui, os homens que costumavam guardar o gado lá para cima, dava algum nome? Um pastor? O que era um pastor? INF1 É um lavrador (...) . INF2 É o cabreiro... INF1 Aqui, um pastor até é um cabreiro. É o (...) de ovelhas ou de cabras. INF3 Nunca foi hábito aqui chamar pastor. INF1 É... O pastor é... INQ2 O lavrador é das ove-, das vacas. INF1 (...) O lavrador é de vacas aqui, aqui. INF3 De vacas. INQ2 De ovelhas... INF1 De ovelhas é que é o pastor. INQ2 É um pastor. INF1 É um pastor. INQ2 E de cabras? INF1 E de cabras também é um pastor. INQ2 Não chamavam cabreiro? INF1 Cabreiro também. Chamavam-lhe cabreiro mas é daquele gado miúdo é pastor. INF3 É cabreiro. INQ2 E o cabreiro anda-... O pastor andava com tudo, com ovelhas e cabras tudo junto, ou não? INF1 Não senhora. Não senhora. Ovelhas à parte e cabras à parte. INQ1 E quando tinham assim muito gado era costume levar um rapazinho para ajudá-lo a tomar conta do gado? INF1 Quem tinha rapazinhos levava; quem tinha filhos seus levava, não é? INQ2 Filhos seus. INF1 (...) Se não tinha, ele amanhavam-se sozinhos, não é? INQ2 Mas, por exemplo, um, um lavrador aqui tem, tinha quantas vacas, por exemplo? Era possível ter até quantas vacas? INF1 Ele no tempo, ora... INQ2 Noutro tempo? INF1 No tempo, o que é que tinha? Era dez, doze vaquinhas - e era se tivesse... INF3 E era o máximo. INF1 E era o máximo. INQ2 Dez, doze? INF2 E mais. INF1 Dez, doze. Ora se o meu pai ... O meu pai sempre foi lavrador e os meus irmãos foram todos lavradores, e eu nunca conheci-lhe mais que dez, doze (...) vacas. E depois é que ele à maneira que a gente se foram casando é que foram se montando... INQ2 Pois. INF1 E hoje está mais. INQ2 E então para essas dez ou doze vacas chegava um lavrador, só? Um lavrador chegava para elas? INF1 Então, um lavrador, aquilo dava-lhe para sustentar aquela casa de dez filhos. INQ2 Não. Eu estava a dizer para se, para tomar conta? Para... INF1 Ah! Da terra? Não dava. INF2 Andava o pastor ... INQ2 Bastava um, um lavrador... INF1 Um só. Um só. INQ2 Não precisava de ajudantes. INF1 Desculpe, não senhora. Porque não havia leite a tirar duas vezes ao dia; era só uma vez ao dia... INF2 E era muito . INF1 Ele o gado não era tratado como é hoje em dia. Lá ia para o pasto, lá ficava, se o tempo estava bom. Se não estava bom, vinha para os 'currales' de Inverno. INF2 Ali . INF1 (...) Era aí uma boiada de Inverno, vinha tudo para os 'currales'. (...) Não ficava fora. INQ2 E onde é que eram os currais? INF1 (...) Eram aqui mesmo abaixo dessa casa. Era o curral do meu pai. Era ao ar livre. Era tapado com combros de cana em toda a volta, e a gente amarravam-nas pela cabeça, ali, e com uma manjedoura, e lá deitavam as comidas que faziam. Comidas, às vezes, inferiores a essas de hoje, porque eram, às vezes, comidas meias podres que se aproveitava porque não havia Provimi - essas rações. Não havia nada disso. INQ2 Mas, portanto, o curral era só tapado... INF1 Só em volta mesmo. INQ2 Em volta. Por cima... INF3 Às vezes, às vezes tinham... INF2 Havia alguns que tinham . INF1 Alguns tinham a arribana; mas muito poucos. INF3 Era poucos. INF1 Muito poucos. E dizem ... INQ2 E cada pessoa tinha o seu curral? INF1 Cada pessoa! E usavam mais até um curral era para os bois de trabalho. Para as vacas, não. INQ1 Mas essa arribana também servia para pôr o gado lá dentro, era? INF1 Servia sim senhor. Tratavam o gado ... INQ1 Em baixo? INF2 Ele era, era . INQ1 Não eram dois pisos?... INQ2 Dois... INF3 Não. É um piso só! INF1 É, é. Ele é: o animal está aqui, faziam um abrigo aqui por cima. E é só um piso. Aqui nunca houve... INQ1 E tinha paredes à volta ou era só o tecto? INF1 Ele até ia ali coiso era rente a uma barreira, rente a (...) um combro de canas. Lá faziam o seu amanho (...) para o gado estar ali bem . INQ1 Bastava só ter assim um tecto... INF1 Sim, sim. E muitos era ao ar livre. INF2 O tecto era de palha. INQ2 O tecto era de palha? INF1 Eh, não havia... Não, não era de palha; era uma coisa para amanhar só. INQ1 E esses lavradores quando iam assim, de Inverno, lá para cima, para o mato com, com, INF1 Com o gado. INQ1 com o gado... É isso que eu lhe queria perguntar: há bocadinho o senhor falou no gado. A que é que se chama gado aqui? É... É todo? INF1 É tudo. É os animais todos. Aquilo é tudo gado. INF3 São as vacas . INF1 As vacas, as cabras, ovelhas, isso é tudo gado, não é? INQ1 Tudo gado. INF1 Tudo gado. A gente trata isso tudo gado, não é?
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INQ1 Há bocadinho também falou que se punha, antigamente nas casas de terra, de chão de terra, que se punha esta coisa de... INF1 Era, era, punham... INF2 E erva-santa. INF1 E erva-santa também que cheirava muito bem. INF2 Para largar aquele cheirinho. INF1 Erva-santa. A senhora sabe o que é erva-santa? INQ1 Erva-santa? Não. Acho que não sei o que é... INF1 É uma erva que dava nas pastagens, que espigava e que cheirava muito bem em casa, quando ela estava seca. INF2 Dava um cheiro... INF1 E as mulheres até gostavam muito, porque as casas... Não havia casas... Havia muita casa era de terra. Não havia de cimento, não havia esses azulejos, não havia esses tijolos de agora. Era tudo de terra e, pelas festas, elas gostavam das casas (...) assim com aquele cheiro daquela erva-santa no chão, ou então ramada de pinho, ou criptoméria também. Aquilo dava cheiro e não estavam com os pés no chão. Pois. INQ1 Mas era só nessa época? INF1 Era só nas alturas das festas que usavam isso - e de Verão (...) quando havia a tal erva-santa. Que então de Verão é que havia a erva-santa, que traziam muita e era o que se usava nas festas. Mesmo as pessoas traziam aquilo (...) já para dar um cheiro em casa. E a casa estava sempre mais bem atimada. INF2 Eu, em casa, também era isso. INF3 Não havia trevo! INF1 Não havia trevo. INQ2 Não, o que eu queria lhe perguntar, era: a gente falou nas pastagens há bocado e eu queria era... Essas pastagens, semeava-se lá qualquer coisa para crescer ou era a erva que crescia assim? INF2 Era, era a erva... INF1 Primeiro, ela nascia por si, a erva-santa e a erva da terra. Depois (...) é que começavam a vir mais: o trevo, azevém, aquilo tudo . Mas no tempo era só erva que nascia para ali e que dava muita erva-santa. INF3 Muita erva-santa. INQ2 Diga-me uma coisa: o azevém não era parecido com esta? Não está aqui. INQ1 O azevém é o quê? INF2 Há azevém de várias qualidades. INQ2 É parecido com isto, com o joio? INQ1 Ah! INF1 Há azevém de muitas qualidades. INQ1 O azevém era parecido com o joio, ou não? INF1 Há um azevém rijo aí que ele eu acho que é parecido com isso. INF3 (...) Eu não conheço o joio. Só conheço o joio é do evangelho! INF1 Do evangelho só. INQ1 E é só de palavra! INF3 E é só de palavra. Eu não sei o que é joio - não é? INQ1 Não está lá? Está lá. INQ2 Está lá. INF3 (...) INQ1 Mas o senhor conheceu o joio, ou não? INF1 (...) Ele é (...) uma espécie de erva rija... INQ1 Sim. INF1 Uma erva muito rija. (...) INQ1 Assim com uma espiga. INF1 Exactamente. INQ1 Rija? INF1 Uma espécie de junco, (...) de junco. INF2 (...) INF1 Mais baixinho, mais... Ele não é como o junco... A senhora sabe o que é a junqueira? INQ1 Sei. INF1 Uma junqueira que é de fazer capachos. INQ1 Dá depois uma folhinha... INF1 E faziam capachos, no tempo, de junco. O joio é uma coisa mais miúda do que isso, mas rija. (...) O animal não gosta disso. É uma erva ruim, não é? É uma erva que não era boa.
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INF1 O vermelho, quando era uma vaca toda vermelha, a gente dava-lhe o nome logo de briosa. INF2 Ou formosa! INF1 Aí havia formosa também. INQ1 Formosa? INF1 Formosa, briosa, era vários nomes que a gente davam pela feituria (...) de cor do animal. INF2 Do animal. INQ1 Eu ainda lhe queria perguntar... INF2 Tem o melão que é tão belo ! INQ1 Queria confirmar este. Portanto, quando nasce um pequenino chamam-lhe o quê? Assim que acaba de nascer... INF1 Um vitelinho. INF2 É um vitelo. INF1 Um vitelo ou vitela. INQ1 E depois? Até, até que idade é que é vitela? INF1 (...) INQ1 Ou vitelo? INF1 (...) Ele quando ele já está comendo já é que lhe chamamos vitelinho já que já está comendo, já está... Era sempre vitelo que tratam, não é. INQ1 Até aos seis meses? Até?... INF1 Mais ou menos. INQ1 E a partir daí como é que chamam? INF1 Já, às vezes, já então uma bezerra. INF2 É uma bezerra. É uma bezerra. INF1 Já está em bezerra, já... INF2 Ou um bezerrinho. INF1 Ou o bezerro ou a bezerra já está comendo bem, já ele já não precisa do leite, não é? INQ1 Rhum-rhum. E depois maior? INF2 É um guexinho já. INF1 Maior (...) já é uma guexa. INQ2 Ou um? INF1 Uma guexa. INQ1 Ou então? Se for... INF2 (...) Se for macho, é um guexote. INF1 Se é fêmea é guexa. Se for macho é um guexote, ou um guexo. INF3 Ou um novilho. INF1 Ou um novilho (...) . INF3 (...) INQ1 Então e um novilho o que é? INF1 É também (...) um guexo. INF3 Mais acima . INQ1 É a mesma coisa? Novilho ou guexo é o mesmo? INF1 É. Ele é era também o mesmo. INQ1 E se for fêmea? INF1 É uma guexa ou novilha. É Ele é também a mesma coisa. INQ1 Mas novilha é antigo? É uma palavra antiga também? INF1 É. Sempre ouvi: a novilha sempre, sempre, novilha - a guexa. Eu sempre ouvi isso de antigo. INF2 (...) . INQ2 Rhum-rhum. Sim senhor. INQ1 Sim senhor. INQ2 Olhe e como é que se dizia de uma vaca se, por acaso, tinha ido ao touro e naquele ano não tinha ficado prenha? Como é que se dizia: olha esta, esta vaca este ano ficou?... INF1 Este ano ficou... Ai, não... INF3 (...) INF1 Essa vaca, ela tomou mas não ficou. Essa vaca anda errada. Anda errada. INQ2 Sim senhor. Falha um ano, é só por acaso naquele ano... INF1 Sim. Mas ele por acaso até pode acontecer a tomar adiante outra vez e errar outra vez. Isso é uma vaca que já está errada. (...) Já é uma vaca que está boa é para ir para o matadouro, se ela continua a fazer isso muita vez. E algumas não continuam. Erram uma vez e na segunda vez vão direitas. Isso depende, então. INQ1 E aquelas vacas que nunca pegam? Que nunca ficam cobertas? INF2 Infecundas. INF1 Como é que dizes? INQ1 Mas como é que se dizia antigamente? Tinha algum nome para essa?... Uma vaca que não servia para ter filhos. INF1 (...) Eu já compreendi, minha senhora, mas eu não sei o nome como é que davam a uma vaca assim. INQ1 Nunca davam?.... INF2 A infecunda, a infecunda (...) não pega. (...) Não, não. Era errada. Se a vaca errou, errou. INQ1 Não chamavam maninha? INF1 Rhum, não senhora, aqui não. INQ1 Não? INF1 Aqui não. INQ2 E quando ela tinha tomado e depois deixava de dar leite, dizia-se "olha a vaca"... INF1 Estava alfeira. INQ2 E o primeiro leite, depois de ela ter parido, aquele primeiro leite que é mais amarelado, mais... INF2 É tenro. INF1 Leite tenro. INQ2 E o que é que?... E o que é que se fazia com esse leite? INF1 Requeijão. Ah, havia casas que faziam requeijão que gostavam; e outras não gostam. Mas havia pessoas que gostavam de um bocadinho de requeijão. Ao fim de dois, três dias é que se tirava esse leite para fazer requeijão. (...) Ele não é logo no primeiro dia. Ao fim de aí... INQ2 Mas era com o leite tenro? INF1 Com o leite tenro. E não é de uma guexa da primeira vez; é de uma vaca já parideira. Porque ele duma guexa, aquilo aguenta ele aguenta-lhe uns dias sempre amarelo. Ao fim de uns dias, acrescentado mas sempre amarelaço. E quando fazem o (...) requeijão (...) não é com aquele leite muito amarelo. É quando o leite já vai perdendo a cor; é que aquilo junta. INQ1 Rhum-rhum. INQ2 Rhum-rhum. INF2 (...) INQ2 A vaca bateu com a cabeça contra a parede e partiu o quê? INF1 Um corno. A gente aqui até tratavam era um corno. INF2 Ou um chifre. INF1 E outros dizem que é chifres. Eu ele ouvi dizer que é um corno.
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INQ Olhe, a bosta das vacas costumava-se juntar assim a um... INF1 Juntava-se aqui nesses 'currales'. Juntava-se que aquilo era tudo aproveitado para semear milhos, para deitar nas terras - tudo acartado às costas, daqui de baixo, tudo empurrado para uns 'currales' e o carro carregava aqui no caminho. (...) Era ajuntado para um monte. (...) INF2 Obrigado. Acabei de fumar agora. INF1 Era cavado. Dava-se cava naquele esterco, duas, três vezes, para fazer um esterco bom - a gente tratavam aquilo estrume - um esterco bom. Era preciso cavar; que aquilo era com milheiros que se acartava para ali (...) . Aproveitavam mesmo a (.../N) , como é hoje. INQ Chamava-se mais esterco ou estrume? INF2 Estrume ou esterco. INF1 Esterco. (...) A gente aqui tratavam mais era esterco. Mas é estrume. INQ Sim senhor. E, portanto, esse sítio onde juntava o esterco, não tinha nome nenhum? INF1 Era no curral. Era no curral das vacas. INQ Não, mas aquele sitiozinho no curral, onde se juntava mais o esterco, não? Ou quando... Quando tinha que limpar o curral, tinha... INF2 (...) Quando estava para alimpar, era preciso limpar e deitar para aquele monte. (...) INQ E esse monte não tinha nome? INF1 Esse monte tinha um nome: (...) é o monte do esterco. A gente cavavam... Deitavam aquilo sempre para ali. Ao fim de tempos é que cavavam aquele monte e deitavam numa serra direita, assim toda direita . Faziam ali umas paredes e aquilo estava ali em cozimento. Ao fim de tempos, tornavam a dar outra cava nesse esterco. Sempre nos 'currales'! E depois é que acartavam isso para as terras.
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INQ1 Quando a gente ia tirar a lã à ovelha, dizia que estava a quê? INF1 Tosquiar. Tosquiar as ovelhas. INQ1 Com quê? INF1 Com uma tesoura, à mão. Que eu ainda tenho essa tesoura lá em casa. Uma tesoura de... Como é? INF2 (...) . INF1 Um arco? Não é bem um arco de cartola. Aquilo é uma tesoura preparada mesmo para cortar. INF2 Cortar. INF1 E hoje em dia já não é assim. Hoje em dia temos máquinas (...) de cortar. INF2 Cortar. INQ1 E quando o senhor estava a tosquiar, aquela quantidade de lã que saía da, que uma ovelha dava, como é que se chamava? INF2 É a lã . INF1 (...) Aquilo, a gente aproveitavam aquela lã toda. A gente aproveitavam aquela lã toda, que a gente sempre... INQ1 Eu sei. Mas, portanto, aquele aparo, aquele montinho de lã que só, era só de uma ovelha, porque aquilo ia sempre inteirinho, ia ficando... INF1 Pois. Aquilo ia (...) ... INQ1 Dava algum nome àquele montinho? INF1 Não senhor. Aquilo é... A gente não davam nome nenhum àquilo. Não dávamos nome. INF2 Pois. (...) INF1 Porque aquilo estava tosquiado, a gente ajuntavam logo para uma saca, que aquilo era para lavá-lo depois, para escaldar, para... Aquilo ele dava muito trabalho! INQ2 Aquela outra coisa que elas faziam era quê? INF1 Era cardar com as cardadeiras. INF3 Eh, tio Amílcar, quando se pesava a lã naquelas balanças próprias que havia antigamente, não é? Não era libra que chamavam depois? Não se chamava uma libra ? INF1 É. Mas isso - oh! -, mas isso já era depois de ela estar lavada. INF3 Não, eu digo (...) depois de estar lavada ou antes de lavar, era o peso da lã. Não era o peso da lã (...) ? INF1 Não. Era o peso da lã mas era depois... Não. A gente não pesavam cada ovelha em si. INF3 (...) . INQ2 Não pesavam ovelha por ovelha? INF1 Não senhora. A gente ajuntavam aquilo tudo: branco, branco; preto, preto à parte. INF2 Para encher. INF1 E depois é que lavavam aquilo tudo, e então é que era pesado naquelas balanças com umas pedras (.../ADJ-P) . INF3 Uma balança, não é? INF1 Umas balançazinhas (...) ... INQ2 E chamava-se o peso? Ou dizia-se em quando, em quê? INF2 É libras. INF1 É libras e gramas que tratavam aquilo. Tinha umas pedras que aquilo já estava pesado (...) por essa gente antiga, e deitavam aquilo ali e depois... INQ2 Pois. INF2 É pedras do calhau . Mas já estavam pesadas (...) . INF3 (...) INF1 Mas (...) ele dava trabalho que aquilo era preciso escaldar... INQ2 Pois. INF1 Aquilo era...
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INQ1 Fazia-se manteiga aqui com a nata? INF1 De ovelha, não senhor. INF2 (...) . INQ1 Não, de vaca? INF1 De vaca, fazia-se. Em casa. INF2 De vaca. Com o leite. INQ1 Em casa? INF2 Era em casa. INQ1 Como é que se fazia? INF1 Ferviam o leite e tiravam-lhe aquela nata, aquele... A gente tratavam o laço do leite, que é a gordura do leite. INF2 É a gordura mesmo . INF1 E iam juntando aqui para uma tigelinha, com umas pedrinhas de sal. Quando tinham uma quantidade, as mulheres batiam aquilo, batiam, batiam, batiam até... INQ2 Dentro de quê? INF1 Como? INQ2 Dentro de quê? INF1 Dentro duma tigela. INF2 Duma tigela. INF3 E há quem batia aquelas natas numa lata (...) . INF1 Num alguidar. INF2 Num alguidar batiam mais depressa. INF1 E há quem batia numa lata, mas a maioria das pessoas era numa tigela. Batiam aquilo bem e quando ela juntava já ele fazia uma bola. Conforme a gordura tende - aquilo já estava temperada com o sal, não é? -, fazia uma manteiga muito boa! Muito saborosa! Comia-se bem com um bocadinho de pão de milho fresco. No tempo! INQ2 Rhum-rhum. Sim senhor. E aquilo fazia-se?... Faziam uma bola com aquilo, era? INF1 (...) Com a manteiga, sim senhora. Aquilo ele estava... INQ2 Ou faziam?... INF1 Aquilo ficava dentro duma tigela com água - naquela bola. Ficava sempre ali com água. Mesmo a gente ia-o gastando e aquilo tinha sempre água ali fresca. Deitavam... INF2 Pois. INF1 Tiravam uma, deitavam outra. Quando aquela não estava boa, deitavam outra até gastar a manteiga, não é?
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INQ1 Agora outro assunto: o pequenino do porco, da porca quando acaba de nascer é o quê? INF1 É um... Como é o nome daquilo? INF2 O bacorinho. INF1 A gente tratam o bacorinho. INQ1 E depois quando é já maiorzinho. INF2 Ou um leitão. INF1 É um marrãozinho. (...) INQ2 Desculpe lá, como é que o senhor disse também? Bacorinho ou então?... INF1 Ou leitão também. INF2 Então, (...) ou um leitãozinho, ou um bacorinho. À maneira que vai crescendo vai tendo outros nomes. INF1 Mas aqui se tratavam muito era bacorinhos. Bacorinhos. "A porca teve tantos bacorinhos"! INQ2 E quando eram um bocadinho maiores já eram?... INF1 Aí já eram ele marrõezinhos. INF3 Não era sempre bácoros? Era sempre bácoros . INF1 Era sempre bácoros até vender. (...) INQ2 É sempre? INF1 Bácoros. Bácoros. Até vender! E depois já eles cresciam mais: "Ah, já tenho um marrãozinho"! Já a gente criavam... INF3 Até oito semanas era bácoro. E depois era marrão, depois de oito semanas. INQ2 Portanto, primeiro era bácoro e depois era?... INF1 Era marrãozinho. INQ2 Mas só se fosse... INF1 Um marrão. Marrãozinho. Eu estou dizendo marrãozinho porque era mais pequenino. Um marrão já é (...) mais grande. INQ1 Mas, e se for... Se fosse um macho, era um bácoro. E se fosse uma fêmea, era uma?... INF1 (...) Ele era uma 'marroazinha'. INQ1 Uma?... INF1 Uma 'marroa'. Ou uma bácora. Uma bácora fêmea. Ou uma 'marroa'. INQ1 E quando eram bácoros, ainda, para comerem, fazia-se uma coisa de madeira ou em, ou em cimento, baixinho, que era para eles poderem comer... INF1 É um gamelão. Um gamelão em madeira. INQ1 E aquilo que se punha no focinho deles para eles não?... INF1 Um garnel para lhe eles não foçar. INF2 Para não foçar. INQ1 Como é que é? INF1 (...) Um garnel. INF2 Uma vergazinha. INF1 Agora já não se usa isso porque os 'currales' são todos acimentados. Mas no tempo usava-se muito isso. INQ2 Desculpa. Costumava-se chamar leitão ao que estava morto? Ao, à carne já para comer? INF1 Havia gente que matavam 'leitãos' (...) novos. E tratavam isso era um leitão: "Vamos comer hoje um leitão". INF3 Nunca foi hábito. INF1 Mas (...) não era muito hábito aqui, não é? INQ2 Ah! INF1 Agora é que já (...) vão usando mais. " (...) Ai, hoje vai-se matar um leitão"... (...) É um leitão. É um marrãozito já grande, novo, pois aproveitam e é que fazem o leitão, comem aquilo. (...) INQ2 Mas é já uma coisa recente, agora? É uma coisa de agora? INF1 Já é muito ... Já é de agora. Isso já é de agora. No tempo (...) não usavam isso. INF3 (...) . INQ2 Pois. INF3 (...) Isso é mais um costume importado do Continente. Isso é: os continentais a virem para cá e a gostarem muito do leitão e habituaram também os açoreanos também a comer leitão. INQ1 Sim senhor. INQ2 Os açoreanos não comiam leitão? Não comiam bácoro? INF2 Não comiam disso. Isso não se preparava. INF1 Não senhora. Aqui era muito raro. Ele era muito raro. INQ2 Só grande? INF1 Era só grande. Criavam aquilo de um ano, um ano e tal. Até havia no tempo que criavam porcos de quatro anos. (...) Isso é que fazia um bom porco! De quatro anos! INF2 Não. Ele não ! INF3 Sim, sim. O porco para ser saboroso tem que ter anos como pés. INF1 Como pés. Exactamente. INQ2 Como é que é? INF1 O porco para ser saboroso - (...) o conduto de porco, a comida dele toda - (...) ele deve ter anos como pés. Quatro anos! E, no tempo, havia muitas casas - a nossa casa era uma delas - que matava era sempre porcos de quatro anos. INF2 Era quatro anos . INF1 Agora não. É de ano, é de meses, já matam e comem... INQ2 Pois. INQ1 Para, para matar, havia alguém que era especialista? INF1 Havia, sim senhor. Isto é matador, isto é matador, isto (...) trabalha nos porcos que é uma maravilha! (...) Não sei trabalhar nada em porco. Ele até não gosto de ver matar. INQ2 Pois. INF1 Não, por enquanto, não gosto de ver matar.
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INQ1 O que é a graxa? INF1 O que é a graxa? É a banha. INQ2 É o mesmo? INF1 É, sim senhor, é. INF2 É a mesma coisa . INQ2 Quando ainda está em rama? Quando ainda está no porco? Também se chama graxa no porco? INF2 Também , pois então. INF1 (...) E mesmo derretida é a graxa. É a banha. INF2 Essa é a banha. Banha. INQ2 Tanto faz INF1 Tanto faz. Tanto faz. INQ2 ser derretida como ser... Nunca chamaram manteiga? INF2 Manteiga? Tratam manteiga também. INF1 Manteiga, mas... Manteiga é quando vai à panela, que está a ferver, ou já ferveu, e as mulheres deitam aquilo em boiões, que é para fazer as comidas pelo ano adiante. É com essa manteiga. Que é da graxa branca que se faz isso. INQ2 Portanto, mas nessa altura já chamam manteiga? INF1 (...) Depois de derretida é que chamam manteiga. INQ1 E graxa é antes de estar derretida? INF1 Graxa é antes de ir para o lume.
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INQ1 Agora outro assunto: se eu tiver dois bois, digo que tenho uma junta; e se tiver dois cavalos ou duas éguas, digo que tenho o quê? Uma... INF1 Uma junta. INQ1 Também? INF1 "Tenho uma junta de cavalos". Se é para puxar, em charretes, é uma junta também, não é? Aqui não há. Já houve. Já houve. Mas aqui não há já essas coisas de charretes. Já não há. INQ1 Dessas charretes que era puxado só... Era para pessoas. INF1 Era, sim senhor. INF2 As pessoas ricas é que tinham disso. INF1 Nessa casa aqui também usavam (...) um charabã. Era só (...) duma besta, não é? (...) INQ2 Usavam o quê? INF1 Um charabã. INQ2 O que é um charabã? INF1 É espécie de uma carroça, mas bem feito, não é, com um cavalo só a puxar, com uns assentos bons. Não é carroça; é um charabã. Um charabã. INQ2 Para as pessoas lá irem?... INF2 (...) INF1 Para as pessoas e que faziam viagens e ganhavam dinheiro. Os donos ganhavam dinheiro, que iam fazer fretes com essa gente rica (...) era naquilo. INQ2 E como é que se chamavam esses homens? Qual era a profissão deles, esses que andavam com o charabã? INF2 (...) INF3 Chamavam-lhe os cocheiros. INF1 É. Como é que se dizia? Cocheiros, é. Cocheiros. INQ2 Rhum-rhum. INF1 Isso, aqui, ele donde a gente tiveram aquilo, aquilo era uma garagem de arrumar o charabã dessa casa. INF3 Aquelas pedras que estão lá estão gastas é disso. INQ1 Mas o charabã não fazia fretes para levar... INF3 (...) INF2 É com o andar é que elas estão gastas. INF1 Fazia, sim senhor. Fazia fretes. E mesmo para ir buscar o doutor quando havia doenças aqui era um charabã ou então em besta (...) nas 'tales' andilhas. (...) Se não queriam falar com o charabã, (...) ele arreavam uma besta numa andilha e iam buscar buscar o doutor à Vila Franca. (...) Não havia carros. INQ1 Uma besta era o quê? Era que animal, a besta? INF2 (...) Ou pode ser um cavalo ou pode ser uma égua. INF1 Ou pode ser uma égua ou pode ser um cavalo. É o que puxava nesse charabã. INQ2 Assim não se pode. Tem que ser só um! INF2 Pois é. INF1 Ou uma égua ou um cavalo. Ele aqui havia era uma égua para puxar nesse charabã. Muitos tinham um cavalo e muitos tinham (...) era éguas, também boas de puxar, que faziam o mesmo serviço. INF2 (...) Ou podia ser um macho ou uma mula. Ou um macho ou uma mula. INQ2 E os outros mais pequenos? Também era uma besta, ou não? O... INF2 Havia o burro, havia a burra; havia o cavalo, há a égua, como ainda hoje há. Mas havia (...) é o macho e a mula, que é filho da burra e filho de burro - não é do cavalo. Isto já é outro animal, que estão dentro destes outros. INQ2 E havia cá muitos machos e mulas, antigamente? INF2 Ah, ele havia muitos. Aquilo havia. Nesta freguesia havia. Ele havia muitos.
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INQ1 Quando havia essas lavouras grandes que podia haver vinte ou trinta trabalhadores ao dia, a trabalhar lá, não havia um rapazito que ajudava? Ou ia buscar água ou ia fazer um recado, quando eles estavam assim ali a trabalhar todos?... INF (...) Eu vou-lhe dizer: que no tempo que o senhor visconde - que eu não sei se o senhor conhece o senhor visconde - ele arroteou esses matos que têm muita pastagem - que é esse senhor visconde que tem aqui o prédio aqui na Senhora da Vida -, este homem deitou muitos homens a cavar mato, não é? (...) Estes homens que estavam a cavar mato, havia três ou quatro rapazes só a acartar água. O serviço deles era só acartar água para os trabalhadores. Iam lá à nascente, acabavam aquela água, iam buscar mais. Mas isso é rapazitos que estão mesmo por conta do dono. Agora, ele haver gente de acartar água, nunca houve. (...) Quando metem muita gente a trabalhar, como esse senhor visconde meteu muitos homens a cavar mato... INQ2 Quando andam, por exemplo, nas vindimas, não há ninguém que vá buscar água? INF Não senhora. O dono (...) da vindima leva (...) água para baixo. Acaba aquela água, vai um trabalhador... Acaba aquela água, precisam de mais água, vai um trabalhador que lá está trabalhando: "Vem cá acima, vá ali à fonte encher mais (...) um garrafão de água ou uma jarra de água". Que no tempo havia muitas jarras que era ele em barro. "Vai buscar mais água"! Não. Ele nunca havia uma pessoa agora INQ2 Só para isso? INF só para isso.
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INQ1 Portanto não havia homens aqui que viessem, que tivessem uma junta e que viessem trabalhar para outros? Por exemplo, lavrar ou assim... INF1 Podiam, se havia muita terra para lavrar. Por exemplo, (...) os meus irmãos chegaram a ir lavrar para Rabo de Peixe. Lá era adiante do que aqui. (...) Ele acabavam lá em Rabo de Peixe, vinham juntas de bois de Rabo de Peixe para aqui, ajudar o meu pai ou os meus irmãos, também a lavrar as terras de cá. E os bois também eram tratados aqui como é que ele os nossos - iam para lá também lavrar e tratar. (...) INQ1 Mas era por ajuda? INF1 Era por ajuda. Eu não cheguei a fazer isso mas meu irmão chegou a fazer. INF2 A gente fazia (...) era juntar reses lá para baixo. INQ1 Diga? INF2 Por exemplo, eu fui tanta vez lavrar lá para baixo. A gente levava as nossas reses para lá - os bois. E ajudava a lavrar lá um mês. Acabava o mês, acabavam-se as comidas lá - os tremoços. E no tempo que se semeava muito semeávamos milho, as reses deles vinham para cima também ajudar a comer os nossos terrenos e os bois também ajudavam a lavrar a gente aqui. Eles não vinham. Os donos de lá não vinham. INQ1 Os donos de lá não vinham. Vinham só as reses... INF2 (...) Vinham só botar as reses cá e iam-se embora. Agora a gente ia lá porque eles... A vida era outra, naquele tempo. INQ1 Claro. INF2 A gente também era uma casa (...) de homens. INQ1 Pois. INF2 Eu ia lá para baixo, eu chegava a lavrar um mês lá em baixo. INQ1 Eram só filhos? Os senhores eram só filhos? Eram dez filhos homens? INF2 Eram dez filhos. Havia três raparigas. Três raparigas fêmeas e sete rapazes homens. INF1 Oh, não. Havia três raparigas e sete rapazes. INF2 Era tudo homes. INQ1 Sim senhor. E não havia homens que viessem só fazer transporte, por exemplo, daqui para a vila, que tivessem uma junta para, com um carro ou assim para... INF1 Havia era esses 'tales' de charabãs. INQ1 Só os dos charabãs? INF1 Só os dos charabãs, porque não havia carros, não havia automóveis aqui, não haviam camionetas. Em 50... INQ1 Pois. E para levar... Para levar coisas? Por exemplo, se não fosse para levar pessoas? INF1 Era ele numa carroça! INF2 Oh! (...) Eu tinha um carro. Carreei tanto para a vila! Eu e outro! Acartar madeiras! INQ1 Exactamente. E como é que se chamava?... INF2 É. Para a vila. Com o carro de bois... INQ1 E o homem que andava?... INF1 É um carreiro. INF2 (...) É o carreiro. Eu acartei tanto: madeiras grossas, madeiras finas, lenha, (.../N) - tudo para a vila. Beterraba. INQ1 E era o carreiro? INF2 Era, era eu . (...) A gente tinha carro e carroça... INF1 (...) Não havia transportes aqui. INQ1 Claro. INF1 Às vezes, um doente adoecia, sabe? A senhora sabe como é que se ia levar ao hospital? Era numa cama, com quatro ou oito homens. INF2 Com oito . INF1 Num colchão, numa porta, com... INF2 Com uns paus. INF1 Tapado com... INF2 Tapado com uma... INQ1 Colchão e porta como? INF1 Deitavam uma porta no chão. INF2 (...) INF1 Deitavam um colchão ali. Deitavam um colchão ali; o doente ia ali dentro. INF2 Coberto. INF1 (...) Com umas cordas, deitavam aqui debaixo, (...) as cordas engatavam assim em cima, tapavam com roupa dum lado e do outro; estava todo tapado, o doente ia ali dentro e iam oito homens para levar o doente para o hospital. INF1 Para descansarem uns aos outros. INF2 (...) Para descansarem uns aos outros. Nunca parava: quatro pegavam e quatro descansavam, para levar a pessoa para o hospital - porque não havia transportes aqui! Isso já é do meu tempo. INQ1 Mais ou menos há quantos anos? INF1 (...) Essa minha madrinha - eu era rapazinho novo -, a dona dessa casa foi numa cama dessas para o hospital. (...) INQ1 Portanto há cinquenta anos? INF1 E era uma pessoa rica. Era uma pessoa rica. Não havia transportes! INQ Há uns cinquenta anos? INF1 Há cinquenta e tal... Cinquenta? Eu tenho sessenta e cinco. Ele há ... Talvez há mais de cinquenta. Há mais de cinquenta. INF3 Há mais de cinquenta anos. INQ1 Há mais? INF2 Há mais de cinquenta. Há mais! INQ2 E chamavam a isso uma cama? INF1 Uma cama. Era numa cama que iam. INF2 Era numa porta! INF1 Numa porta e o colchão ia em cima. INF2 E o colchão ia aqui em cima. INF1 Ia o colchão ali em cima... INF3 Fazia uma cama portátil e levavam... INQ1 Pois. INF1 Ia todo tapado com roupa por cima. Aquilo era como uma casinha que ia ali (...) toda tapada. Quando viam: "Aquilo é um doente que vai para o hospital! Um doente que vai para o hospital"! INQ Mas eram só os doentes ricos ou os pobres também faziam isso? INF1 Era pobres e ricos. Pobres e tudo. INF3 Eram, eram. INF1 Quando havia uma doença, aqueles que queriam ir ... INF2 As pessoas não eram pagas (...) para ajudarem uns aos outros para levar o doente (...) ... INF1 Se era para o hospital... Se era para o hospital... INF3 Se tinham alguém na vila era mais fácil porque sabiam que aqui havia essa pobre . INF2 Ah, pois. INF3 Agora a criatura, a que não tinha dinheiro com que pagasse, era mais difícil arranjar. INF1 Pediam... Mas pediam a pessoas. Sempre para doenças sempre ajuntava pessoal e iam levar ao hospital.
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INQ1 Aqui, para se apanhar passarinhos, melros, não, não se costumava pôr uns melros amarrados cá em baixo para ele bater as asas, para eles virem?... INF1 (...) Não senhor. Alguns deitavam um pássaro cá em baixo, ou morto, ou amarravam ele lá. Mas muitos é primeiro engodo e o terreiro. Deitam muito trigo ali. Está ali uns dias a engodar o terreiro e a praga junta-se. Sabem que ali naquele sítio (...) há trigo, não é? (...) E armavam as redes aí aos domingos; (...) essa gente aos de semana iam caçar. Alguns amarravam lá um pássaro; e outros era engodar com trigo. Estavam ainda uns dias a engodar e, depois, aos domingos iam caçar. A praga juntava-se para ali, e quando ela estava cheia, puxavam a rede e lá apanhavam os seus melrinhos. INQ2 E o que é a praga? INF1 (...) É os canários, (...) é os melros. INF2 Pois, e é os melros. Tem tanta praga! INQ2 Praga é tudo? INF1 Praga de tudo. Tudo quanto cair ali dentro é tudo praga. (...) Tudo o que fica lá dentro da rede. INF3 Ele hoje não falta 'pardales' aqui. INF2 Isto é tudo melros . INQ2 Pois é. INF3 Pois há. INF1 (...) Eles não caçam os 'pardales', que eles afirmam que não é bom. Afirmam que não é bom. Aquilo não é bom canário. INF3 (...) INQ1 A negaça?... INQ2 Diga lá. INF3 Era com esse, um melro morto, às vezes, que se punha lá num espeto para fingir que estava vivo, chamava-se-lhe negaça. INQ1 Para fazer que era... INQ2 Sim senhor. INF1 Alguns deitavam arroz... INQ2 Então como é que se chamam estes melri-, melrinhos que andam agora aí assim, que são muitos? INF1 É canarinhos. A gente tratam canarinhos. Há o canarinho da terra; há esse pardal; há o melro negro; há muita qualidade de melro. INQ2 Está bem. INF1 Pelo menos ele (...) tudo quanto ia lá ao terreiro comer o trigo! Quando estava cheio, eles puxavam a rede. INQ2 É tudo praga? INF1 Aquilo era tudo praga. Eles então diziam: "Oh! Apanhei bastante a praga hoje"! INQ2 E ficavam vivos ou morriam logo? INF1 Ele ficavam vivos. Ele as pessoas depois é que matavam para vender nas lojas (...) para fazer iscas (...) para tomar com o seu copo (...) de bebida - lá com o copo , os canarinhos. INQ1 E nunca, nunca se costumava pôr uma espécie duma cola nos ra-, nos galhos, para ver se quando eles pousavam, eles ficavam presos? INF1 Não. (...) Se usavam isso aqui, eu, quer dizer, não sei. Penso que não. INF3 Uma espécie de cola? INQ1 Não havia cola? INF3 Não havia cola. INQ2 Pois. INF1 Eu penso que não. INQ1 Era uma coisa que se fazia... INF3 Não se punha cola que era para o melrinho ficar vivo. INF1 Eu julgo que não... (...) Para o melrinho ficar vivo.
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INQ1 Diga-me o seu nome, se faz favor? INF1 Anacreonte. INQ1 E a sua idade? A sua idade? INF1 (...) Sessenta e dois. INQ1 E é de aqui da?... INF1 Sim senhor. INQ1 Então e o senhor trabalhou em quê? INQ2 É aqui da Ponta Garça? INF1 (...) É sim senhora. Trabalhei em moleiro e em barroqueiro. E eu agora sou camponês. INQ1 O que era?... O moleiro eu sei o que é. O barroqueiro é que eu não sei o que é. INF1 (...) A gente trabalhava com umas bestas, a acartar madeira, a acartar enchimento para as estufas. INQ1 Chamava-se barroqueiro essa?... INF1 Sim senhor. Ou arreeiro. A gente trata (...) o barroqueiro é um arreeiro. INQ2 O barroqueiro e arreeiro é o mesmo? INF1 É sim senhora. É a mesma coisa. A gente ia tirar queiró para o mato que era para as estufas. E depois, o moleiro é bater às portas (...) dos fregueses para levar as saquinhas para o moinho. É o que a gente fazia. INQ1 E o moinho daqui como é que era? Era moinho de quê? INF1 Era moinho de água. INQ1 E havia... Em casa, as pessoas às vezes tinham uma pedrinha mais pequenina que era para fazer... INF1 Que era... Era (...) de fazer a papa de carolo. INQ1 Como é que se chamava isso? INF1 Era (...) o moinho de mão. A gente tratava o moinho de mão. INQ1 Sim senhor. E uma coisa mais antiga que houve que os senhores me falaram hoje de manhã, que também servia para moer, que era puxado por um animal, dentro duma casa, antes dos moinhos de água... INF1 Isso é o moinho de vento. INF2 Tafona. INF1 Não, não é tafona. Isso é o moinho de vento. É o que a gente tratava o moinho de vento. INF2 Tafona é com uma besta dentro de uma casa que não se fecha . INF1 Não. (...) INQ2 Não, tafona... INQ1 Mas isso o senhor... INQ2 O moinho de vento era movido a vento, não era? INF2 O moinho de vento é fora. O moinho de vento, o vento é que (...) está girando. Agora dentro duma casa é uma tafona. (...) Há um animal, uma burra ou um burro, puxando aquilo... INF1 Ah, e é uma tafona!? Não, uma tafona... INF2 É uma tafona. INF3 Então tu não te lembras disso? INQ2 Já não se lembra? INF1 Não. Não me alembro disso. Das tafonas, eu não me lembro . INF2 Não. (...) INQ2 Também não se lembra já? INF2 Não senhor. Não senhor. INQ1 O senhor falou no moinho de vento. Aqui para estes lados havia moinho de vento ou era para outro lado que havia? INF1 Havia aqui no Pico mas eu não me lembro (...) de esse moinho moer. Eu não me lembro de ele moer. INQ1 Sim senhor. INF2 O meu irmão lembra-se. Aquele meu irmão lembra-se dele aqui mais acima. Andando por esse caminho fora havia um moinho de vento. Ainda está lá as paredes. Ainda estão lá as paredes. Mas eu não me lembro de o moinho andar. INQ1 A água vinha na ribeira e o senhor o que é que tinha de fazer na, na ribeira, para?... INF1 Aquilo ele (...) vinha era numa levada. Vinha do nascimento, a gente fazia a levada e chegava ao que a gente trata o cubo. E depois em baixo faziam (...) , com bocados de madeira, a fecharia do moinho, que era para sair conforme a água... Conforme a água: se fosse muita água, trabalhava com três dedos, se fosse pouca, trabalhava com dois, que é para dar a força no penado que é para ele para a pedrinha andar de roda para ele para o moer, para - como é que se diz? - para moer o milho, para fazer farinha. INQ1 Sim senhor. Essa 'puxaria' como é que era? Era aquela parte estreita onde saía a água? INF1 Era sim senhor. INQ1 Chamava-se 'puxaria'? INF1 É a fecharia do moinho. INQ2 Fecharia. INQ1 Fecharia. Percebi mal. Está bem. INF1 É, a fecharia do moinho que a gente... INQ2 Chamava fecharia? INF1 Era sim senhora. Aquilo era a fecharia que a gente fazia com madeira. Com a pressão (...) do cubo, que era alto, fazia aquela pressão que saía com muita força que era (...) para bater no penado, que é para andar de roda, que era (...) para moer o milho, para fazer farinha. INQ2 O penado era o quê? O penado era o quê? INF1 O penado é uma roda (...) que está em baixo, de madeira, com penas - que a gente tratava o penado. É com penas de madeira que a gente fazia. Trabalhava com pedras de ferir lume em baixo, assim. INQ2 Pedras de quê? INF1 Uma pedra de ferir lume que a gente cá achava no Calhau. Naquelas pedras que ele a gente faziam um buraquinho botavam um em cima e outro em baixo. (...) A de baixo, chamavam a 'reles', e a de cima era o aguilhão que andavam naquela outra, que era (...) para o penado andar ali... INQ1 Como é que se chamava a de baixo? INF1 A 'reles' (...) e o de cima era o aguilhão. INQ1 E, essa 'reles' ficava presa num... INF1 Ele ficava - como é que se diz? - na ponte. A gente tratava a ponte. E depois (...) tem aqui o espojadouro e tem uma agulha, que era de alevantar a pedra e de abaixar. INQ1 E o que era o espojadouro? INF1 O espojadouro era de a gente desencravar o moinho - que tinha um desencravador. Há um prego com uma varinha, um prego desses grandes, a gente tinha o buraco que a gente tratava o espojadouro, quando o moinho encravava, a gente chegava à fecharia, dava assim com o prego, saía (...) aquelas espadas ou coisa, o moinho começava a trabalhar. INQ1 Encravava porquê? Porque?... Alguma coisa que tinha passado... INF1 (...) Sim senhor. E chegava ali (...) se não podia sair, tapava aquele buraquinho. A gente ia com o prego e aquilo desentupia e o moinho... INQ1 Rhum-rhum. Sim senhor. INF1 E agora a agulha - que é para eu dizer ao senhor a agulha -, a gente se queria a farinha mais fina, a gente dava na cunha para fora; (...) o freguês se queria (...) a farinha mais redonda, a gente dava na cunha para dentro, para fazer (...) a farinha mais grossa.
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INQ1 E por cima dos cambeiros não havia uma tábua de madeira? INF1 O trincho. Tem o trincho e depois tem uma - como é que eu ia a dizer ao senhor... E tem uma moega. Tem uma moega do moinho que é de a gente vazar o milho dentro. E tem a telha que cai (...) dentro, de cá (...) de cima, (...) do vão da telha... (...) INQ2 Da moega? INF1 Vão da moega, caem em cima da telha e depois vai lá para baixo (...) para o moinho, para a pedra. INQ1 Indo, indo do eixo... O eixo não vinha mais para cima que era para bater na telha? INF1 Não senhor. INQ1 Como é?... O que é que fazia mexer a telha assim para, para o grão ir caindo? INF1 Ai! (...) Há um cachorro! É o que a gente tratava o cachorro do moinho. Batia na pedra e tem uma cantadeira, que ia à - ele como é que se diz? -, que ia à telha. Aquilo botavam assim um trincho, uma tabuinha assim e aqui está uma telha e aqui está o cachorro com um buraco no trincho, ele botavam aquilo, (...) a pedra andava de roda e aquilo batia: tim-tim-tim e o milho caía. Mexia com a telha e caía na... INQ1 Mas esse cachorro era enfiado no, no, na ponta do veio? INF1 Não senhor. INQ1 Ou agarrava num pau?... INF1 (...) Era num pauzinho mesmo. (...) Os mestres faziam uns buracos, a gente punha um torno e botava assim na cantadeira. INQ1 Rhum-rhum. A cantadeira?... INF1 A cantadeira é uma cantadeira que há, que a gente chama a cantadeira é de aguentá-lo ele - que pregavam no trincho. INQ1 Que era uma tábua que se prendia... INF1 É sim senhor. É uma tábua que a gente põe aqui assim. INQ2 No trincho? INF1 (...) E a gente daqui fazia assim (...) um recortezinho INQ2 Sim. INF1 (...) e botava aqui (...) INQ2 O cachorro. INF1 o cachorro do moinho. É o cachorro. E então (...) ia aqui uma outra tabuinha, que era para ele para mexer com a telha, que é para cair o milho. INQ1 Portanto... INF1 E aqui tem o torno! Tem o torno na moega, que é de a gente... O moinho quando pede grão, a gente dava o grão. O moinho estava carregado, até ele já não queria grão, a gente tirava o grão. Ali é que a gente lhe tempera a farinha: ou grossa ou fina. INQ2 Mas era para fazer?... Mas era para fazer descer a telha? INF1 É, sim senhora. É para fazer descer-se a telha para baixo. (...) Se quiserem: o moinho está pedindo grão, a gente dá uma coisinha de torno para cá. Ele está carregado, o moinho (...) está a moer bem, a gente dá-lhe para cima, para cair menos grão. INQ1 Portanto, o cachorro - eu não sei se o senhor vê bem - era assim um pauzinho que saía da telha para o lado... INF1 (...) É isso mesmo. É, sim senhor. Aí em cima da pedra. É. INQ1 Sim senhor. E aquela parte à frente da, do cambeiro onde a farinha caía para o chão? INF1 Ah, isso é a moega, que a gente trata a moega. INQ1 A moega é onde põe o grão? INF1 É, sim senhor. É as guardas adonde cai a farinha. INQ1 É? INF1 É. Donde cai a farinha que o moinho bota fora. É as guardas dele, que a gente tratava as guardas do milho. INQ2 E era de madeira? INF1 Era, sim senhor. INQ2 Era uma coisa que se punha e tirava? INF1 Era, sim senhor. A gente a punha e tirava. Quando a gente queria picar a pedra, a gente tirava aquilo fora. INQ1 Nunca chamou tremonhada? Tribunal ou tremonhal? INQ2 Tremonhal. INQ1 Tremonhal? Nada? INQ3 Ou caixa. INQ1 Ah, aquela parte de baixo do moinho, onde está o penado e isso tudo, como é que se chama? INF1 É o cabouco. INQ1 Quando o senhor picava as pedras e depois voltava a pô-la lá em cima, não se punha um bocado de farinha à volta para?... INF1 Isso é o... E a gente punha a pedra cima. A gente, se se tratava para a pedra pousar, é uma grade - que a gente tratava a grade - (...) e para levar a pedra para dentro, era (...) um carro. Que a gente tinha (...) até um carro em madeira. E tinha a palanca de 'balrear' para trás e para a frente (...) com a pedra. INQ1 Mas quando punha a pedra já depois de picada não se costumava pôr um bocadinho de farinha na junta das pedras que era para aquilo não sair? INQ2 Para encher. INF1 Botavam fora. Botavam dentro e depois o moinho botava fora. INQ2 Pois. INF1 E depois botavam aí uma saca (...) dessas (...) de milho que era para o porco, que é para alimpar o moinho, que é por causa de não botar uma saca de cozer para não vir pedra. INQ2 Pois. INF1 Botavam do porco. INQ1 Aquele buraco da, da pedra onde o grão caía? Vem da telha. INQ2 O grão veio da telha. Cai para onde? INF1 Eu sei. Eu sei o que é que a senhora está dizendo. Que a gente, ele tem o buraco donde o milho cai - não é?... INQ2 Rhum-rhum. INQ1 Tinha algum nome esse buraco? INF1 Não senhor. Não tinha. (...) INQ1 Não? INQ2 Não chamavam o olho? INQ3 O olho da pedra? Não? INQ1 Não. INF1 O olho da pedra - que a gente de cá, que a gente tratava -, o olho da pedra é quando a gente vão picar a pedra e dizer assim: "Oh!, (...) isto é que é uma pedra boa"! Isso é o olho da pedra. É o olho da pedra. INQ1 É essa pedra que tem um buraquinho?... INF1 Onde picavam, sim senhor. É onde picavam. INQ1 E, não sei se aqui usava, não punha nesse buraco da pedra uma coisa qualquer para o grão não?... INF1 Isso é um chapéu que a gente punha. Era um chapéu (...) ou de palha, ou desses de Braga que havia nalgum tempo. Que é porque batia na segurelha e pulava para fora para o milho não sair. O milho, ele como é que se diz?... (...) O chapéu ficava mais alto (...) e o grão não saía todo. INQ1 O senhor disse que era um chapéu de palha ou de?... INF1 É. É chapéu de palha o que havia no tempo. Havia muitos homens com chapéu de palha. (...) E era chapéus de Braga que usavam no tempo. Cortavam (...) o chapéu por cima, pois , no fundo, e ficava a beira assim. INQ2 Chapéu de Braga. INQ1 O que era um chapéu?... O que era de Braga? De que é que era feito esse chapéu de Braga? Era feito em que material? INF1 Era de... INF2 É destes chapéus que usam agora. INF1 Usam, usam. INQ1 Parece um tecido? INQ2 É. INF1 Sim senhor. É disso. É disso que usavam. INF2 E o chapéu de palha é daquela palha... INF1 É. Da palha que havia. INF2 É por causa do sol, é por causa do sol. INQ1 Se eu bem percebi, o senhor é que tinha que ir buscar as, o, a, o grão a casa das pessoas? INF1 Era, sim senhor. INQ1 E dava algum nome a esses sacos em que trazia o grão para, para o moinho? INF1 Não senhor. Era... A gente tratava as sacas que as mulheres mandavam: umas de fole, outras de linho... INF2 Era as sacas para a moenda. INF1 (...) Era de moenda. A gente era as sacas de moenda. INF2 Era as sacas... Sacada para a moenda. INQ2 Moenda? INF2 Moenda, sim senhor. INF1 É. Era a moenda que a gente tratava. INQ1 Taleigo ou taleiga não se chamava aqui? Taleigo ou taleiga? INF2 Não senhor. INF1 Não senhor. Não se chamava. INQ1 A moenda era aquilo que a pessoa fazia? INF1 Era... Era, sim senhor. INQ1 E também ia... E depois ia levar a moenda a casa?... INF1 E depois ia levar. Sim senhor.
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INF1 Esta é urge. Urze. INQ1 Esta é que é? INF1 É. Esta é que é a urze, que é o que se faz umas vassouras, que fazia-se no tempo, que era de varrer as eiras, retelhar as casas... Usavam muito essa urze. INQ1 E esta urze é baixinha ou pode crescer muito alta? INF1 Ela cria também. (...) Não, aquilo não cria muito alta mas também cria. Há baixinhas, há... Ela vai crescendo. Agora se ela ficar para muito velha, ela vai fazer um tronco mais grosso e despega uma árvorezinha (...) maior. INQ1 Pois. E há alguma que seja parecida com esta? INF1 Nas matas, nesses matos para aí (...) há muitas parecidas, não é? Mas essa, essa é a urze. (...) Há tamujo também que é uma outra erva como as outras. INF2 Tamujo. INF1 Tamujo que é... Sabes o que é que se fazia as seves do carro - que se faziam os 'tanchães' para as seves do carro quando apanhavam o milho? Era com esse tamujo, que dava mesmo uns... INQ1 Ai era? INQ2 E não havia uma que chamasse rapa? INF1 Não. Rapa... INQ1 Não há? INF1 (...) Pode haver esse nome... INQ2 Não, não. INQ1 Mas ontem o senhor falou em queiroga, que eu ouvi. INF1 Queiroga não é esta. Não é esta. INQ1 Mas é parecida? INF1 É parecido. É parecido a isto. INQ1 E a queiroga faz-se maior ou f-, ou é mais pequena? INF1 Também cria. Também cria queiroga assim. INF2 (...) INQ1 Assim para um metro e mais em volta?... INQ2 Depois dá folhas? INF1 Cria. Cria, sim senhor. E se deixam crescer, cria também. INF2 (...) INQ1 Mas a mais forte é a urze ou a queiroga? INF1 É a urze. A urze é mais forte. (...) Cria um tronco. Essa é tudo (...) umas hastes mais bastinhas que faz e cria... A queiroga é sempre assim: ela é muito afolhada. Agora a urze, ele é a tal que cria uma planta maiorzinha, maior. INQ2 Mas e dá flor, a queiroga? INQ3 Porque é que a gente não se... INF1 (...) Tudo dá uma flor. Tudo dá flor. INQ1 Dá flor? O espigo... INF1 Tudo espiga. Quando chega ao seu tempo, tudo espiga. (...) Tudo espiga. Tudo dá. INQ2 Portanto, esta, em princípio, é que é esta, não é? INQ1 Não. INQ2 Não? INQ1 Eu acho que não. INQ2 Que é assim arredondada? INQ1 Eu acho que esta é que é capaz de ser a queiroga. INF1 Esta, esta eu acho que é... INQ3 Não. O senhor não diz que a mais forte é a urze? INF1 A urge, a urge é espécie disso assim. Cria uma árvore assim maiorzinha. A urge é rasteira. (...) A queiroga, ela é rasteira e basta. INQ2 Essa não se vê tão... Quer dizer, ela é assim... Ela está misturada com as outras ervas não se vê muito bem. Mas esta é rasteirinha e mais bastinha e dá... Mas dá é essa flor roxinha. INF1 Está bem. E dá flor assim roxinha. Elas todas dão flor. Espigam e dão flor. A queiroga é mais rasteira ao chão. Cria também, às vezes, assim dessa altura - se deixam-na criar, não é? Que no tempo até quando havia muitos matos, as vacas iam para esses matos - eram as alfeiras. (...) E 'tranchavam' isso. Comiam isso. E arrebentava mais devagar. Arrebentava mais devagar e era sempre mais rasteira. A queiroga era sempre mais rasteira. INQ2 Era mais rasteirinha do que a urze? INF1 Era, sim senhor, porque (...) a urze (...) é que cria mais.
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INF1 'Bâncias'. INF2 'Banças'. INF1 'Bâncias'. INF2 Há 'banças'. INQ1 Diga? INF2 Tratam 'banças' aqui. INF1 Como a folha, ela é parecida com a da faia, ele quando aquilo (...) ... Aquilo não havia cá. INQ1 Rhum-rhum. INF1 Não sei como é que aquilo apareceu para abrigos. INQ1 É moderno. É uma árvore mais... INF1 Isso é recente: uma árvore aí de trinta e tal anos, quarenta anos cá. E as pessoas não gostavam muito daquilo para abrigos porque aquilo come muito na terra. Precisa de tratar muito. E é claro que a gente aqui não havia esses tratos... (...) A pessoa não gostava daquilo para abrigos, embora fosse uma planta que se desenvolvesse muito depressa. Em cinco anos faz um abrigo muito alto. Mas também come muito na terra. INQ1 Pois. INF1 E ia roubar às plantas... INQ1 Às outras plantas. INF1 Às outras plantas. E as pessoas nunca gostaram muito dessa... INF2 Há muitos abrigos aqui de incenso. INQ2 Veja lá. É assim? INF2 É este. INF1 É este, sim senhor. É este. Mesmo por essa florinha, é esta. INQ2 E o gado também come as folhas? INF1 Come, sim senhor. Isso é muito bom para o gado. O gado quando se habitua a comer isso assim tenrinho, até engorda.
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INQ1 Olhe ontem a gente esqueceu-se de perguntar o seu nome. INF1 Ananias. INQ1 Ananias? INF1 Ananias. INQ1 E a sua idade? INF1 Sessenta e um. INQ1 E disse que já estava cá há quarenta e quatro anos? INF1 Quarenta e quatro. INQ1 Mas nasceu nos Arrifes então? INF1 Nasci nos Arrifes. INQ1 Portanto, veio com vinte... Dezassete. INF1 Vinte? (...) Catorze anos estive por ali. Ai, Jesus ! INQ1 E o senhor? INF2 Aristóbulo. INQ1 E a sua idade? INF2 Oitenta anos que eu já fiz. INQ1 E sempre daqui? INF2 Sim, eu nasci aqui mais acima e criei-me sempre aqui. Sempre aqui trabalhando (...) e nesta terra. Já saí daqui para ir para o Canadá, mas foi por de visita. E fui ver isto para aí e antes para as ilhas: para o Corvo!... Nas ilhas! Que eu estive lá oito dias! Gostei de ver aquilo também por lá. INQ1 É bonito? INF2 É bonito. INQ2 E o Amós também não está... INQ1 Ah, desculpe, fale aí Senhor Amós. INF3 Ah, o meu nome?! Amós, de cinquenta e dois anos. Também nasci cá. Nasci cá... INQ2 E nunca saiu de cá? INQ1 Andou aqui... INF3 Nunca saí de cá. Nunca saí. INQ1 Ontem quando falámos das coisas do vinho, lembra-se? O senhor chamou a isto... INF3 A gente tratam uma selha. INQ1 Uma selha? INQ2 Tanto fazem grande como pequena? INF3 Selha ou a dorna. Sim senhora. Tanto faz grande como pequena. A gente habituaram-se: "Ah! Traz-me aquela selha"! "Traz a selha maior"! "Traz a selha mais pequena"! Olhe, há alguns também que tratam dorna. INQ1 E as uvas vinham dentro disso em cima do carro ou vinham dentro doutra coisa? INF3 É em cestos. INQ1 Dentro de cestos? INF3 Ele é em cestos. É tudo acartado em cestos. Isto só servia (...) ... Se a senhora puder... INQ2 Sim senhor. INQ1 É já isso... A gente já se vai sentar, é só para perguntar: é que agora aqui, à entrada, deste lado, há duas coisas bem maiores do que estas. INF3 Há. Há a dorna maior. Há a selha maior. A selha maior, a selha mais pequena e ainda há selhas mais pequeninas de que esta, não é? INF2 E havia um balseiro. INF3 Há. Ele há selhas... INQ2 Mas... INQ1 Mas antes chamava-se balseiro como o seu irmão diz?... INF3 Balseiro é um... Também serve quando é pouca uva. INF2 (...) INQ1 Não, não. Eu digo estes dois. INQ2 Também serve quando é pouca? INF3 Quando há pouca uva, a gente deitam numa, por exemplo, desses já - um balseiro grande, seja uma selha pequena, que fazem o mesmo trabalho, não é? INQ2 Pois. INF3 Agora se há muita uva para deitar (...) dentro, pois a gente temos outros balseiros - que tratam os balseiros -, maiores! INQ2 O balseiro que altura é que tem, mais ou menos? INF3 Ah, é mais ou menos... INQ2 É que nunca vi um balseiro. INQ1 Ó Gabriela, é chegares ali fora, se quiseres. INF3 Nunca viu? A senhora se quiser ver tenho ali (...) na minha garagem, um balseiro. INQ2 Tem?Ah, então ainda bem que eu queria tirar uma fotografia. INF1 Ah, ele tem aqui um balseiro. Está... Ai, eu acho que ele no tempo tinha aí um balseiro... INQ2 Ai, João... INF2 (...) INQ1 Não, foi só para isso... INF1 Era mais ou menos. INQ1 O senhor Aristóbulo explica. É aqui estes dois. INF2 Isto é uma selha... INQ1 Como aquela que ali está. INQ2 Ah,... INF2 Como aquela que está ali! Contanto que esta é mais grande que aquela. E aquela outra, a gente trata um balseiro que é onde... As uvas, a gente esmaga naquelas pequeninas e bota ali dentro para fazer a fermentação - aquilo já se trata um balseiro. INQ2 Portanto, o balseiro é muito mais alto e mais estreito que a selha. INF2 Ah, é mais alto. (...) Mais alto. INQ1 Diga-me uma coisa: isso era feito de propósito ou aproveitavam do, duma vasilha qualquer que não prestava? INF2 Não. (...) Os mestres é que faziam isto. Isto é serrado em aduela - a gente trata aduelas - INQ1 Rhum-rhum. INF2 e os carpinteiros, o que tem jeito de se fazer este vasilhame faz. Isto há arcos para aguentar isto! INQ1 Sim senhor. INF2 Em ferro. INQ1 Rhum-rhum. Portanto era feito de propósito. INQ2 E isso quantos litros é que leva? Essa selha maior, quantos?... INF2 Ah, essa selha depois de cheia leva... Isto é uma selha muito grande. Isto leva talvez aí uns dezassete almudes de vinho. INQ2 Pois. INF2 Em vinho! Em uvas leva menos - o que é (...) depois de ter o vinho. INQ2 Pois claro. E o... E o bacelo?... INF2 (...) Aquele leva quase vinte ou mais de vinte. (...) É conforme os tamanhos. Há até mais grande! INQ1 Mas o balseiro era só para pôr o vinho para ferver? INF2 Era. Para ferver. INQ1 Nunca se esmagava lá dentro? INF2 Não senhor. Esmagar é nestas selhas. INQ2 Podemos tirar uma fotografia daquilo? INF1 Não, Aristóbulo. Esmaga-se na máquina ou esmaga-se. INF2 E também se esmaga naquela pequenina. Conforme a uva (...) ... INQ2 Ah, sim, sim. INQ1 Não, não. Eu digo no balseiro. O balseiro normalmente era para pôr o vinho... INF2 O balseiro era só para botar o vinho ali dentro INQ1 Para ferver. INF2 para ferver. E depois então esgota-se. INQ1 E antes de meter para dentro do coiso? INF2 Está ali um buraco que a gente esgotava para as selhas. INQ1 Sim, senhor. INF3 Às vezes vêm aqui parar aqui (...) uns homens que percebem melhor disso, dizem que a fermentação do balseiro é muito melhor do que na selha, por ser (...) uma vasilha alta e até a configuração dela: é mais estreita de boca e mais larga no fundo. INQ2 Ai, é mais estreita de boca do que do fundo? INF3 É. Um balseiro (...) para ser bom, tem que... INQ2 Mas este aqui não é, pois não? INF3 (...) É ao contrário. INF1 Aquele ali não. Põe-se ao contrário, que o balseiro... Aquele balseiro é estreito em baixo, no fundo, e largo na boca. INF3 Aquele, mas.... E aquele outro ao contrário que está ali? Aquele outro que está ali? INF2 Aquele não. (...) INF1 Oh! Aquele é a selha. INF3 Há mais um ali que é ao contrário. A fermentação, há diferenças na fermentação INQ1 Rhum-rhum. INQ2 Rhum-rhum. INF3 quando é mais estreita em cima e mais larga em baixo. INQ2 Ai, a fermentação é diferente? INF3 A fermentação é diferente. E na selha também é diferente! INQ2 Rhum-rhum. INF3 Qual é a diferença que há? Os 'profissionados' é que... (...) Os muito ligados (...) a isso é que sabem qual é a diferença que há. INF1 Isto é que era um ralador antigo! INQ2 Ah, isso... INF1 É que se ralava a uva nisso, assim em cima dessa selha! A gente deitavam isso em cima disso... Isso já é uma coisa muito antiga que está ainda aí que já não usam isso. E aquilo era: aquele ralozinho que está ali, a gente vazavam o cesto de uva ali dentro e com as mãos, tratado com dois homens, um dum lado e outro doutro... INQ2 Com as mãos? Só com as mãos? INF1 Com as mãos! Só com as mãos, sim senhor, é que pisavam a uva e depois a uva caía (...) aqui dentro. Quando isso estava cheio, a gente deitava dentro do balseiro. Acabavam de encher o balseiro, se havia mais uvas era para dentro do balseiro, outra vez, da mesma maneira. Era assim que se ralava a uva. INQ2 Mas portanto, quando ia para o balseiro já ia sem os, sem as cascas e sem aquelas coisas, ou não? As cascas também vai?... INF3 Não senhor, aquilo vai tudo... Vai tudo misturado. Tudo! INQ2 Portanto, depois o que ficava aqui dentro do esmagador também ia para dentro do balseiro? INF3 Tudo ali para dentro! (...) Aquele pé grosso, (...) o bago, a casca, as pevides vai tudo fazer a fermentação ali para dentro. INQ2 Ah, pois! INF3 (...) Depois é que vai para o balseiro. Ali faz a fermentação, não é? Ao fim de oito dias, a gente esgotam o vinho. Aquilo já está tudo puro, em baixo, o vinho sai para fora. É o vinho que a gente deitam (...) nas pipas. INQ2 Mas tiram como, de lá? INF1 É com um batoque. É um furo! INQ2 Ai há um furo no balseiro! INF1 É um furo que o balseiro tem e a gente esgotam ali por aquele furo, não é, que ele está... O vinho sai puro dali! E a gente dali deitam já (...) das pipas, dentro nas pipas. E depois o pé que fica aqui dentro, que é aquele pé basto, é que vai para a prensa ou para o lagar, a apertar (...) para tirar mais vinho. INQ2 Para sair o resto. INF1 Que ainda tira mais... Ainda se tira mais vinho. INQ2 E esse vinho é diferente do outro, ou não? Esse que é tratado? INF1 (...) É mais fraco! A gente no tempo misturavam aquilo com o vinho do esgoto, não é? Mas hoje em dia, essas adegas grandes deitam muitos tratos, não é, misturam aquilo tudo. Mas para se fazer vinho em casa (...) o que sai do balseiro, deitar à parte! (...) O da prensa, à parte também! INQ2 Pois. INF1 Fica um vinho (...) INQ2 Mais fraco. INF1 mais fraco. Aquilo é um vinho que (...) já foi ali ao aperto. Aquilo é o resto de tudo que está ali. É um vinhinho mais fraco, mais claro, não é? Um vinho mais fraco. INQ2 Nunca havia o hábito aqui de misturar água nesse... nesse pé? INF1 Não senhora, aqui nós é aquilo. (...) Pode haver gente que misture, mas aqui não senhora. INQ2 Pois. Mas aqui não? INF1 Aqui a gente não... Vinho é vinho, água é água! INF3 Pode haver ... (...) A nossa uva aqui não dá para misturar água no pé. É um vinho...É muito fraco. INF1 Pois é , é mais fraco. INF3 É fraco. Isso aqui não dá mais do que oito, nove graus. O vinho bom, aqui, é oito, nove graus. Não passa disso. INQ2 E a qualidade de uva qual é? INF3 É a uva de cheiro. INQ2 Uva de cheiro. INF3 (...) Não, há ilhas que chamam uva-isabel. INQ2 Rhã-rhã. Pois, pois, pois. INF3 (...) Ou a casta americana. INQ2 A casta americana. INF3 É. Que até o governo está proibindo. (...) INQ2 Agora? INF3 Sim. Está proibindo essa casta. INQ2 Então e o?... Mas cá nos Açores, também? INF3 Cá nos Açores.
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INQ E no, no porco, havia alguma coisa que se chamasse o debulho? INF1 Debulho? É quando se mata o porco. Fazem debulho. INQ E como é que é? INF É o sangue... Quando matam o porco, as mulheres tiram ali uma tigela de sangue à parte e o outro sangue vai para fazer as morcelas. Fica (...) aquela tigela ou (...) a quantidade que as mulheres querem, que precisem para o debulho. E lá fazem uma mistura com salsa (...) e cebola e... As mulheres é que sabem fazer esse tempero, não é? INF2 E leva sal muito basto . INF1 E fazem o debulho então que é (...) para comer no... A gente matam o porco assim hoje e amanhã da manhã é que vão almoçar esse debulho! Ele é no outro dia é que almoçam dessa comida: o debulho e o peito. Ele é juntamente com o peito. INQ E o sarapatel? Havia algum?... INF1 Havia, sim senhor, sarapatel! Era o resto que crescia das morcelas. As mulheres não queriam fazer mais morcelas e deixavam ali um bocado para fazer sarapatel. INQ E como é que era esse sarapatel? INF1 Também era misturado com graxas e coisas do porco. INQ Mas depois era conservado dentro da?... INF1 Era conservado também (...) com banha, INQ1 Com a banha. INF1 para tapar, para não se perder. Porque ele era tudo tapado com banha! Mesmo o chouriço, hoje em dia, é tapado num boião com banha, (...) para ele não se perder. Com banha de porco!
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INQ É? Dá um flor branca? INF1 (...) E larga um mau cheiro. E larga mau cheiro. INF2 E ataca a fossa. (...) Isso larga mau cheiro, essa. INF1 (...) Quando a gente INQ Sim. INF1 pegam nela, ela larga um mau cheiro. Que a gente fica com as mãos... Largam aquele cheiro... INQ E depois dá assim uma, uma... INF2 Dá. Dá, sim senhor. INF1 Dá, sim senhor. E pica. INF2 Pica. INF1 É isso que pica. Aquilo ele tem uns picanços ali. Aquilo (...) é a semente. INF2 Isso pica que é um caso sério! INQ É.
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INQ1 É uma planta que tem uma, a rama dela, a folha é parecido com a salsa, e dá uma florinha meia arroxeada, mais clarinha... Aqui. Está a ver? É esta. INQ2 Ai! Pronto, já saiu. INF Salsa-parrilha. É parecido com a salsa? INQ2 É. Mas esta é venenosa até, pelo menos para o gado. INF (...) Pois. (...) Essa salsa, a gente não se usa mais. INQ2 Não? INF Não senhora. Não senhora. A gente tratam isso salsa-parrilha.
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INQ1 Mas a salsa-parrilha dá que flor? INF1 Dá flor amarela. INQ1 Ah! Amarela, não. Mas essa dá florinha assim... INQ2 Assim... Ou branquinha, ou mais branquinha que isto até. E aparece aí no meio do, da erva, da... INF1 (...) Isso é parecido muito com a erva-moleirinha, aquilo que a gente chama a erva-moleirinha. INF2 E isto, eu acho que é erva-moleirinha. INF1 Mas a erva-moleirinha tem um leite quando se parte o ramo... INQ2 Ai é? INF2 Ai é! INF1 Tem um leite branco. INF3 Ai, isso é erva-moleirinha! INF1 Isto é erva-moleirinha. INF3 Que dá esta florinha mesmo que está aqui toda a florinha da cor . INF1 (...) Até (...) a flor é assim com esse... INQ2 Com as pontinhas mais escuras? INF1 Com as pontinhas, sim senhora. Erva-moleirinha. A gente tratam aí isso a erva-moleirinha. Esta é a erva-moleirinha.
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INQ1 É uma coisa que dá, faz um chá que é muito amargoso... Dessas baguinhas... INF1 A marcela? INQ2 Rhum-rhum. INF2 É essa aí. Está aí, oh. INF1 Marcela. E há também ao pé dessas marcelas - isso dá muito, isso dá nos matos -, INQ2 Ah é verdade. Esta não ficou há bocado... INF1 (...) há uma ervazinha que tratam a erva de Nossa Senhora. Uma erva rasteira! Também é muito boa para chás! INQ2 Rhum-rhum. Rhã-rhã. E dá?... INF1 Que tratavam aquela erva que (...) Nossa Senhora tinha ali estendido os seus mantos... INF2 (...) INQ2 Mas a cabecinha da, da erva de Nossa Senhora de que cor é? INF1 Aquilo se dá cabecinha... Ele até aquilo é uma erva muito rasteirinha. (...) É muito bonita numa... INQ2 Mas é assim prateada? Assim brilhante? Ou não? INF2 Não! Não é. INF1 É. É. É em cor, é, (...) mas baixinha sempre. Ela lavra (...) pelo mato. Isso costuma quase sempre é dar nos matos. INF2 É no mato! (...) INF1 E ela vai rasteirinha sempre no chão, essa...
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INF1 Nas Carcelas dava disso! Há ainda nos matos - ele nos matos que a gente deitavam (...) as vacas! Eram as alfeiras, sabe? INF2 (...) Mas custa-se a ver . Agora, custa-se a encontrar. INF1 Ele custa sempre a (...) encontrar já disso. Porque, a gente, já está tudo arroteado aí dentro. INQ1 Mas não é essa, senhor Amílcar, pois não? INF1 Não senhor! Isto parece-me que é fava da terra, que é a que dá nos muros. INF2 (...) . INQ1 É. Dá nos muros? INF1 Isso é (...) fava da terra. (...) INF2 Tudo isto é fava. Exactamente . INF1 É, mas isso é o que dá nos muros. Isso é fava da terra que o Anaxímenes foi buscar isso para fazer um chá para as vacas. INQ2 Fava da terra, portanto, é a nossa... INQ1 Cento e vinte e dois? INF1 Ao quintal do Cássio. INQ1 Cento e vinte e dois. INF1 Fava da terra. INQ2 E então a erva ferra que o senhor falou?... INF1 (...) Há a erva-ferro. INF2 (...) INQ2 O que é erva-ferra? INF3 É parecido com essa que está aqui, mas não é. Isso é uma outra erva. INF1 É uma erva... INQ2 É parecida com a fava do mato? INQ3 É fava da terra. É fava da terra, da terra, da terra. INF1 É... É uma erva rasteira. É também erva rasteira. A gente, quando havia uma lata de leite que derramava, a gente pegava num bocadinho de erva-ferro que dá (...) nos matos, ele era ao pé das canadas, donde passava os animais... INF2 Já se custa a encontrar mas aparece. INF1 Ele a gente pegavam num bocadinho de erva dele e espremiam-lha assim. Deitavam naquele buraco e soldava a lata. Soldava por uns tempos. Não derramava mais. INQ2 Ah! Pois, pois, pois. INF2 Ou... INF1 Quando lavavam já se sabe que aquilo tirava. INF2 Ou mesmo com cola que a gente fazia, aquilo encharcava-se . INF1 Mas a gente já sabiam que aquele lado (...) estava roto, não é, e deitavam-lhe um bocadinho daquilo e aquilo era como uma cola, pegava ali. Isso é a erva-ferro.
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INF Isso é trepadeira também. INQ Isso é uma trepadeira também? INF Isso é trepadeira, mas dizer o nome dela... Aqui há muitas trepadeiras também onde se trepam pelos muros.
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INQ Cheira bem? INF1 Cheira bem. INF2 Cheira a perfume! INF1 Faz-se chás. Também se faz-se chás. INQ Chama-lhe como? INF2 Maria-luísa. INF2 Há muita coisas que... INF3 E há malvas! INF2 Malvas também há. INQ Há. Mas também já cá está essa. INF1 (...) E há malvas também, (...) que é bom para inchumes, para esfregar para... A gente fervem malvas e esfregam o animal se está inchado, o mojo inchado. INF3 Para doentes. Ou levava o mojo inchado. INQ Pois, pois, pois.
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INQ1 O que é para si uma bonina? INF1 Ah! Uma bonina é aquela flor... Olhe, eu tenho ali uma planta de bonina. Agora flor não está. É uma amarela, assim amarela. Cor-de-laranja. INQ1 Cor-de-laranja. INF1 Cor-de-laranja. INQ1 Baixinha? INF1 Sim. Ela pode crescer. Se ela estiver em terra ou coisa, ela cresce assim, alta. Mas... INQ1 E dá uma?... Uma espécie de um malmequer? INF1 Sim. É, é. INQ1 Cor-de-laranja? INF1 Cor-de-laranja. INQ1 Já sei o que é. INF1 É. Que cheira até um cheiro não... INQ1 Feio? Mau? INF1 É, é. Não é assim muito agradável. É bom para o jardim. INF2 Esse amarelo, INQ1 É. É. INF2 esse amarelo é que não é a bonina? Que a gente chama cor de bonina? INF1 Tu tens ali. INF3 Um amarelo forte! INF1 Tu tens ali tanta. É. INF3 Um amarelo forte. INF1 Cor-de-laranja, cor-de-cenoura. INF3 É uma que dava nas pastagens? INF2 Para mim, a bonina é uma cor. A cor. A cor. INQ1 A cor é que se chama bonina? INF3 Cor de bonina. É. É. INF2 É. A cor é que se chama bonina e não o... E não a... INF3 Não. Aquela planta chama-se bonina. Eu lembro-me do meu pai na Cova Grande, quando ia passar o Verão lá para cima, a minha irmã dizer: "Ai, eu queria ir, eu queria ir brincar com as boninas"! - (...) com aquelas florinhas. Ia apanhar... Ia apanhar as boninas. INF1 Eu tenho a impressão de que a cor é que derivou (...) da flor. INQ1 Sim, sim. Deve ser isso. INF1 Como a gente diz também: "A cor da cenoura, é o cor-de-laranja". INQ1 Claro. Cor-de-laranja. INF3 É, é, é. INF2 É verdade. E a bonina é aquele ... INF1 E a bonina é aquele amarelo forte... INF2 Aquele amarelo forte. INF1 Também derivou... Quando a gente diz: "Um amarelo bonina" é: deriva da bonina. INF2 Ah, é amarelo . INQ1 Pois, pois, pois. INQ2 Mas ela não tem folhas brancas? Portanto, é tudo?... Toda ela é amarela? INF1 É amarela. INQ1 Oh João, as folhas são verdes. INQ2 Ah, pois são. Aquelas pétalas... INF1 As folhas... As folhas são verdes. Tenho aqui. Tenho aqui a folha (...) ... INQ1 Pronto. É que aquilo para nós é maravilha. INF3 Ah, pois é! INF1 A planta, a planta (...) tem ali. INQ1 E cheira mal? INF3 É exactamente, exactamente. É essa. É, é. INQ1 E depois quando seca é que dá assim umas coisas?... As sementes são assim todas, parecem uns dedos assim tortos? INQ3 Ah, já sei. Já sei qual é. INF1 Exactamente. INF2 (...) INQ1 É. Aquilo para nós é maravilha. INF2 Bonina é bonina. INF3 Abre , é bonina. INF1 É. É. Agora esta sempre conheci, desde miúda, a gente brincava, apanhava, trazia raminhos, mas... INQ1 Aqui não havia nada a que chamassem margaridas? INF2 Há! INF1 Margaridas, há. INQ1 É o quê? INF1 Mas a margarida é outra vez um género dum malmequer... INQ1 Se calhar é outra. INF1 É outra coisa . INQ1 Veja lá se é uma coisa assim desse género? INF1 É, é. INQ1 Baixinho, no campo? INQ2 Está ali, está ali. INQ3 Está ali? INF1 É. É. É... Esse é o... Esse, INQ1 Cento e sessenta e seis. INF1 esse não é bem a margarida. Isso é o malmequer grado que a gente chama. Eu não sei se tem outro nome. Porque antigamente havia aquele malmequer que tinha mesmo (...) ... INQ1 Sim. Fazia umas moitas... INF1 Exactamente. INF3 Houve tanto cá. INF1 Agora, eles - pois digo - têm outras plantas mais modernas que agora aparecem... INQ1 Pois, pois. INF1 E dizem: "O malmequer grado"... INQ1 Pois, pois. INF1 O malmequer que cresce então bastante. INF2 Pois, isso é que há. INF3 Sim, mas é um bocado diferente daquele nacional. O nacional é mais pequenino. É. A flor é mais pequena. INF1 Por isso, o outro nacional é, portanto, aquele (...) miudinho. INF3 E era mais bonito! INF1 E até já há em amarelo - esse malmequer miudinho também num amarelo pálido e num rosa pálido também. Porque eu tenho até, nas furnas... Já tenho uma plantinha mas ainda não me deu flor (...) desse amarelinho. Agora a margarida é um género disso, mas é mais dobradinho!... É... Não tem... INQ1 Tem mais flor, tem mais pétalas? INF1 Sim, sim. INQ1 Ah! INF2 E (...) aquelas plantas que tu levaste lá (...) da casa da tua mãe, não dava para as senhoras terem lá na ?... INF1 Ah! INF2 Aquilo como é que se chama? INF1 Aquilo não sei. (...) E aquilo parece-me que é como (...) uma erva daninha (...) se puder. INF2 Mas é bonito. INQ1 Pois. INF1 Porque aquilo multiplica-se muito. E se a gente não estiver sempre em cima, a gente, aquilo dá cabo do jardim. Portanto, a gente... Eu quis para dividir, mas é preciso... Porque aquilo tem muitas raízes e é preciso estar sempre (...) INQ1 A tirar. INF1 a tirar para ficar sempre... INQ1 Para aquilo não alastrar. INF1 Exactamente. Alastra muito. É, é.
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INF1 Aquilo é uma variedade de hera. É que Aqui há uma hera bastante que não é... O braço, portanto, o raminho dela, o tronco ou como se queira chamar não é flexível. INQ Pois. É. INF1 É mais dura. Até é tesinha. Que era aquilo que vocês tinham (...) ali, no seu livro. Era muito... É diferente. Agora a outra é mole e é o que ele diz que se pode amarrar. A gente puxa, aquilo vem muito comprido... INQ E essa outra trepadeira que tem ali no muro, que é mais rija, tem algum nome, ou não? INF1 Não. É sempre... A variedade... INQ Não tem nome nenhum. É uma que alastra muito naqueles muros de pedra e que ficam as pedras muito... INF1 E que se agarra. Exacto, agarra. Todas elas se arrastam; INQ Pois. Fixam... INF1 (...) adere (...) aos muros de pedra - todas as heras, (...) as variedades... INF2 (...) Mesmo no muro de blocos também. Os muros que têm pedaços em blocos... É. INF1 Sim. Não é preciso que seja assim em pedra pedra - a pedra basalto que a gente aqui tem... INQ Pois, pois pois. INF1 Mesmo o cimento, quer dizer, a gente tem é lá cimento, e ela adere-se... E adere... (...) Encontra terra e estende-se. E estende-se. É preciso que a gente vá cortando, porque senão enleia também... Estende-se muito.
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INF1 Aquela flor como é que se chama? A gente chama malvão. Mas aquilo tem um outro nome que é (...) ... INQ Gerânio. INF1 Gerânio. INQ Gerânio. Sim. Chamam malvão? INF1 Malvão. Aquilo chama-se... INQ Aqui chama-se malvão? Que dão assim umas flores todas?... INF1 Sim. O malvão malvão, é esse assim, que é logo o girânio. INQ Pois. INF1 Agora há uma outras variedades que são trepadores. (...) INQ Ah, pois há! Crescem, crescem... Sim, sim senhora. INF1 Até aquilo estar... Eu estou a puxar, a puxar, e eles estão sempre, entre aqui e ali (...) ... INQ Sim, sim, sim. É. INF1 Esses, portanto, já é outra variedade de trepadeira. (...) INQ Pois. INF1 Há muita... INF2 Há muita trepadeira! INF1 Muita, muita, muita! É isso. INF2 Há aquelas com uma rosinha muito pequenina , não é? INF1 Ah, sim! As rosinhas também de trepar! INQ Pois. INF1 É. Há muito também . INF2 A 'rosa-pataca'. INF1 Portanto, generalizam. (...) No povo é trepadeira! INQ Claro. É trepadeira. INF1 É trepadeira.
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INQ Mas há um que se chame cedro fino e cedro da América ou não há nenhum que se chame, desses? INF Ah, os nomes deles (...) eu desconheço! INQ O senhor, não sabe? INF Porque eu sei que (...) essas muitas variedades de cedros veio quando veio os serviços florestais. INQ Pois.
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INQ1 Àqueles sapatos que eram com madeira por baixo, como é que chamava? INQ2 Galochas, não era? INF1 As galochas. INQ2 Galochas. INQ3 Galochas. INF2 Essas que eram com madeira eram as galochas. Faziam também de 'alcaça', faziam de almo faziam de pinho, faziam de várias qualidades da madeira. INF3 Fazia de criptoméria. INF2 Faziam conforme queriam fazer. INQ1 Sim senhor. INF1 Faziam mais do almo porque era mais leve (...) para a mulher andar com aquilo no pé. Era mais leve do que com a 'alcaça'. A 'alcaça' é mais pesada. É, a madeira mais pesada. E faziam então com o almo - com esse almo -, que é uma madeira mais leve. Quando estava seco aquilo era leve e mais quente para o pé. INF3 E quente! INQ2 Mas as galochas só as mulheres é que usavam? INF1 E os homens também. À noite quando lavavam os pés, para não deitar os pés no... Calçavam as galochas. INF2 Isto agora já está tudo calçado! Não tem pé descalço! INQ1 Mas era o mesmo feitio? INF1 Era o mesmo feitio, sim senhor. INF3 Não! Não! Não era o mesmo feitio! (...) INF2 No tempo era tudo com o pezinho no chão! Isto é do meu tempo e (...) destes mais velhos. E eles usavam umas galochas. Quando chegavam à noite, lavavam os pés e calçavam aquelas galochas. INQ2 Em casa, só? INF2 Em casa. E às vezes davam um passeio aqui e ali. INQ1 Ó senhor Aristóbulo, mas as galochas dos homens... INF2 Iam para a missa as mulheres de galochas! Isto é do meu tempo! INF3 E o homem descalço! INF2 E os homens descalços, que não tinham nada para calçar! Não havia dinheiro! Era uma miséria naquele tempo! Isto agora é que está tudo rico. INQ1 Rhum-rhum. INQ2 Pois. INQ1 Eu queria-lhe perguntar: as galochas dos homens eram iguais às das mulheres ou eram diferentes? INF2 Eram mais grandes as deles. INQ1 Não, mas o feitio, o feitio. INF2 Era o mesmo feitio. INQ1 Era em bico? INF2 Tudo em bico, tudo em bico. INQ1 E fechado por cima, onde enfiava o pé? INF2 Fechado por cima, para onde enfiava o pé. INF3 Faziam umas tarolas! INF2 Com um arcozinho atrás. INQ1 Umas? INF3 (...) Faziam as tarolas. Botava-se uma correia assim por cima, para meter o pé. Para os homens! INQ1 Chamava-se tarola? INF3 Chamava-se tarola. INQ1 Mas, o... Aqui à frente via-se os dedos? INF2 Via-se, via-se. INF3 Via-se os dedos, via-se. INQ1 Ah, portanto, era só uma tirazinha em cima? INF3 Era só a tirazinha. INF2 Era só uma correiinha aqui. INF1 É. E daí chamava-se tarola. INF2 Tinham um correiinha , as tarolas. INQ2 Era só uma correia? Não metiam pelo meio dos dedos? INQ1 Não. Era só por cima com os... INF3 Pois, exactamente. Pois. É a tarola. Quando era fechada, era galocha. INF2 Desde que eu conheço galochas, a galocha do homem não era igual à da mulher. A galocha do homem era toda fechada e a da mulher era aberta na frente. INQ1 Tinha um biquinho? INF2 A do homem tinha um biquinho e aberta toda de cabedal. (...) INQ1 Sim. INQ2 Fechada? INF2 Fechada. E a da mulher era mais sobre o redondo e aberta (...) para os dedos saírem além (...) ... INQ2 E chamava tarola? INF2 Galocha! Sempre uma galocha! INQ2 Ai, era sempre galocha? INF2 Sempre uma galocha! INQ1 A tarola é outra. INF1 Então, é a que tem (...) a faixa, não é? INQ1 Só... INF2 A tarola (...) é outro modelo já (...) ... Tanto de pau (...) , como também de cima, (...) da parte de couro. INF3 (...) É a tarola. INQ1 A tarola. INF3 E galocha era aberta. INF2 A tarola (...) era já um calçado de mais luxo. INF3 É. INF1 (...) A galocha era mais leve. INF2 A galocha era mais de trabalho. A tarola já servia para ir à missa, já servia (...) para ir namorar... As raparigas novas, de tarolas, já se podiam apresentar ao pé do noivo com a tarola; com a galocha, era mais um calçado de trabalho.
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INQ1 Diga? Como é que chama? INF1 A codorniz. INQ1 Como é que chama? INF1 A codorniz. INQ2 E os pequeninos da codorniz, têm algum nome? INF2 É os perdigotos. INF1 Era a codornizinha... A gente encontram muitos ninhos... Agora já não se vê tanto, mas primeiro via-se muitos ninhos de codorniz. Aquilo, eles mal descascam, aquilo é como os pintainhos: saem logo para fora (...) pela relva, para os pastos. Mas é tudo (...) codornizinhas pequeninas. INQ2 Mas não chamava também o outro nome? INF2 Perdigoto, sim. Perdigotozinhos pequeninos. INQ1 Mas eram os filhos das codornizes? INF2 Era, sim senhor. INQ1 E uns outros que tinham um bico?... INQ2 Isto é o quê? INF3 É o milhafre. É o milhafre. INF2 (...) É aquele que está ali. INF3 É. INQ1 Sim senhor. Que fazia o ninho aí também no meio do chão, nos matos, que tem um biquinho pequenino... INF1 Ah! Sei. É galinhoto. INF2 Isto é galinhoto! INQ1 Diga? INF2 Galinhoto! A gente trata galinhoto. Há quem... INF1 Mas há pouco disso cá. Há muito pouco. INF2 Já aparece menos. No tempo aparecia com a codorniz. INF3 Nas matas. INF2 Nos matos e nas matas. INQ1 Tens mais algum aí? INQ2 Não. Depois tenho aqueles da, da, do coiso... INQ1 Do mar? INQ2 Do mar. Aqui no... INF2 As garças. INQ2 O que há mais aqui no mar é garças? INF1 Há garças, sim senhora. INF3 É o que deu o nome aqui à terra, à freguesia. INQ3 Pois é. INQ2 Pois. É Ponta Garça. INF3 Ponta Garça. INQ1 Aquele bichinho que vai ro-, comer a rama da batata-doce? INF2 Bichinhos... INF3 Batateiro. INF1 Bicho-batateiro. INQ1 Que é de várias cores, não é? INF1 Exactamente. INQ1 E não há?... INQ2 Isso é género de lagarta? INF1 É, é. (...) INF2 É, sim senhora. INF1 É lagarta em ponto grande. INQ1 E não há um outro que anda por baixo da terra e que também vai comer a batata-doce? INF2 Rosca. Chama-se rosca. INQ1 Que é escurinho... INF2 (...) Dão-lhe o nome a rosca. INQ1 E como é que é a forma? Como é que é?... INF2 É comprido também. (...) INQ1 Mas é escuro, escuro? INF2 Escuro. INQ2 Mas tem assim esse tamanho? INF2 Não. É assim. A rosca é assim mais ou menos com muita perna.
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INQ1 Portanto, qual é a diferença entre o bicho-batateiro e a rosca? INF1 O batateiro (...) é gordo, senhora. É comprido e gordo. É. (...) Um batateiro é um bicho assim grosso, não é? E a rosca é 'finina', compridinha. É. Ela é assim (...) mais curta. Mais curta. INF2 Mais pequenina. INF1 Mais pequena. INF3 E um em cima da terra e outro debaixo da terra, não é? INF1 É. INF2 (...) E um é por baixo e outro é por cima. INF1 Um é por baixo e outro é por cima. INF2 E o batateiro é por cima. E lá em baixo... INF1 Esse pequenino anda por debaixo da terra comendo... INF2 Alimenta-se das folhas (...) . E alimenta-se mesmo da batata, esse tal .
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INQ1 Não. INF1 Tem casca dura? INQ1 A, a cas-... Quer dizer, ela não é muito dura porque... INF1 Sim. INQ1 Mas é... Não é mole. INF1 Sim. INQ1 E quando a gente lhe toca, ela enrosca-se. INF2 Ah! É a rosca. Isso é tudo... A gente chama isso tudo roscas. INF1 Um bichinho preto! Um bichinho preto! INF2 Sim. INQ2 Sim. INF1 A gente toca nele e ele enrola! INF2 É isso mesmo. INF1 Enrola-se faz um nó. INF2 Faz um nó. INQ2 Também chama rosca? INF1 Ele também é rosca. (...) INF2 É rosca. A gente dá o nome dessas coisas é tudo rosca.
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INQ1 Este voa... Tem dois pares de asas. Voa muito rasteirinho, ou por cima da água... INF1 (...) Isso é (...) de lagos, não é? INQ1 É sim. INQ2 É, mais assim na zona dos charcos. INF1 Anda em cima das lagoas dos charcos. INQ2 Não tem nome? INF1 Borboleta. Chamam-lhe aquilo a borboleta, ou borboleta de chuva - de água. (...) Borboleta de água ou uma coisa assim. INQ2 Trezentos e sessenta e sete. INF2 Mas isso é em charcos, o zangão de água. (...) INF1 Zangão de água. INF2 É, é, é. INQ2 Como é que é? INF1 Zangão de água. INQ1 Será o zangão de água? INQ2 Trezentos e setenta e seis. INF1 Há o zangão de água. INQ1 É. Zangão de água. INF3 A gente trata zangão. INF2 É a (.../N) . INF3 Ele não vive aqui. INF1 É mesmo comprido, assim. INF3 Ah, isto é um zangão. INF2 Um zangão de água. INF3 Isto voa muito em cima de um poço de água... INQ2 E chama-lhe zangão de água? INF1 A gente trata zangões. INQ2 Sim senhor. INQ1 Esta está? INQ2 Três, sete, seis. Essa... INQ1 Uma vermelhinha, pequenina?... INF2 Carochinha. INF1 É a que dava nos trigos. A carochinha. INF2 A carocha dos trigos. INF1 A carochinha ou carochinha miúda. A carochinha miúda que dava nos trigos. Brincavam muito com essa carochinha os rapazes (...) . INQ2 Portanto, essa era... INQ1 E noutros sítios chamam a joaninha, também? INF1 Joaninha, é. É. INF2 É joaninha também. INQ2 Três, sete, quatro. INF2 A joaninha.
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INQ1 Olhe, e nas orelhas dos cães havia algum bicho que... INF1 (...) Carrapato. Carrapato, ainda dá hoje. INF2 Havia e há. INF1 Havia e há! INQ2 E nas vacas também aparece? INF1 E nas vacas também dá. Mas agora dá muito frequente é nos campos. INF2 É. INQ1 Pois. Mas olhe, no nordeste não há. INF2 Carrapato? INF1 Não há? INQ1 Não. O que é bom é ir para o nordeste viver. Não há carrapatos. Ninguém conhece. Diz que nunca... INF1 (...) Eu também conheci o carrapato... Já tinha quase vinte anos, quando (...) conheci o carrapato. INF2 Aqui dão na...
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INF1 É percevejo. Percevejo. INF2 Percevejo, isso dava na tropa. INQ1 Há uns que pegavam nas camas. INF2 Isso dava nas camas, na tropa. No tempo da tropa, isso dava que até... Dava tanto. INQ2 Chama como? INF2 (...) Como é que se diz? INF1 Percevejo. INF2 Percevejo. Percevejo (...) . INQ2 E o outro que o senhor disse que estava na madeira, que fura a madeira? INF1 Isso é... A gente trata caruncho. É um bichinho comprido que vai roendo a madeira. INQ1 E se eu tiver uma tábua toda cheia disso, eu digo que a tábua está quê? INF1 (...) INQ1 Não, mas eu digo isto?... INQ2 Diga? INF2 A tábua está toda carunchosa. INF1 É, exactamente. INF3 E uma pessoa quando está velha também está carunchosa. INF2 (...) Fica carunchoso como si . INF1 Por ti não seja ! INQ2 Parece que está. Parece que está, não é, senhor Aristóbulo? Parece que está mas não está. INF1 Ai, ai, ai! INQ1 Esses bichinhos pretos que vão ao açúcar? INF2 A formiga. INF1 Formiga. INQ1 E há uma que tem?... INF2 Há uma (...) que tem rabo, mais grande. INF1 (...) INF2 É uma formiga grada. (...) Trata-se formiga grada cá. Que (...) há formiga miúda e formiga grada. INQ1 E uma que tem asas? INF2 (...) Ah, todas têm. INF1 Então não é a formiga, mas é já com asas. INF2 Até há algumas que voam... E este ano apareceu uma nova. Este ano apareceu a formiga grande nova (...) que se alimenta de ervas. INF1 Isso é então já (...) um mosquito. INQ2 Ai! Rói ervas? INF2 Um mosquito? Não é um mosquito. INF3 Mas é uma coisa grande! INF2 Mas é grande! INQ2 Ah! Já sei. INF3 Um mosquito que em vez de se alimentar de sangue alimenta-se de erva. INF2 Pois é. Não havia aqui. INF3 Não. Este ano foi o primeiro ano que apareceu cá. INQ2 Não havia cá? INF2 Não havia. INF3 Este ano é que houve uma quantidade... INF2 Não sei como é que aquilo apareceu. INQ2 É aquela melga grande. INQ3 É a grande. INF3 Não sei como é que aquilo apareceu... INQ1 É aquelas melgas grandes. INQ2 Lá no continente há há muitos anos, disto. INF1 Não, não é dessas. INF2 É disto, sim senhor. É disto. (...) Este ano é que houve disso cá, com muita fartura. INF1 Apareceu disto este ano aqui que foi um caso sério. INF2 Quando se acende... INQ2 Mas lá no continente já há há muito tempo. INF1 Aqui foi este ano, porque não havia cá. INF2 Este ano havia cá isso aí. INF3 Não sei como é que isso vieram para cá.
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INQ E esta que salta?... INF1 Isso é gafanhoto. INF2 O gafanhoto. INQ O daqui é verde ou é castanho? INF1 É verde. INF2 E há cá... Há também castanho. INF3 E há aqui castanho. INF1 Há. Há castanho e verde também. INF3 Há. Há castanho e verde. INF1 Há castanho e verde. INF4 (...) Mas a princípio (...) era mais verde. INF1 Não. A princípio o gafanhoto dava nas restevas e ele tomava a cor (...) do ambiente. INQ2 Exactamente. É. INF1 Tomava a cor do ambiente e não era verde. Agora como ele os prados é tudo verde, tudo verde, as pastagens é tudo verde, e ele toma logo a cor do ambiente. INF4 Ah, sim. Rhum-rhum. INF1 Agora é que o gafanhoto está mais verde do que o que era há anos quando dava nas restevas do trigo. INF4 Sim, sim. INQ1 E este? INF2 (...) A aranha. INQ1 Aqui há uma aranha que tem assim só o corpo redondo e com umas pernas compridas? INF1 Há, sim senhor. INQ1 Ou é só?... INF1 (...) E assim o corpo amarelo. Há umas que tem o corpo amarelo, que dá nas vinhas. Agora no tempo das vinhas, elas estão penduradas lá - gradas! INQ1 Rhum-rhum. É tudo aranhas? INF1 É tudo aranhas. A gente trata aquilo tudo aranhas. INQ2 E essa coisa que ela faz? INF1 Aquilo (...) é a teia que ela (...) está tecendo. INQ2 Chama-lhe? INF1 Teia.
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INQ1 Sim. Não há aqui nada a que chamem o moscão? INF1 Não senhora. INQ1 Não? Moscão não há? INF1 Não. INQ2 E um que costuma picar o olho às vacas? INF1 A vespra (...) pica as vacas e elas até, se estão amarradas, elas tentam de se soltar. INF2 Isso é a vespa. Não é a vespa? INF1 É vespra. INF2 É vespra. INQ1 Rhum-rhum. INQ2 Rhum-rhum. INQ1 Mas porque... INQ2 Mas ele agora há uma mosquinha pequenina que está sempre à volta... INF3 (...) INF1 Ah, como é que se chama aquilo? (...) É mosca do olho. INQ2 Mosca do?... E depois não?... INQ1 Mosca do?... INF1 Olho. Porque é: frequentemente elas estão sempre em volta de... INQ2 É. E não há uma mosca que é maior do que essa, que também pica? INF1 É a mosca (...) normal. Mas não tem nome... INQ2 Pica o animal? INF1 Pica o animal mas não é (...) ... Não tem nome. É mosca. INF2 Mosca do cavalo. INF3 Ou cadela (...) . INF4 Não, não. INF2 Mosca do cavalo. Isso é uma mosca-cavalo. INF4 Há mosca do cavalo. INF1 Não é a mosca-cavalo. (...) Não é parecida com ela. INF4 Sim, sim. INQ2 Como é que é uma mosca do cavalo? INF1 A mosca do cavalo, quer dizer, ela pende mais para os cavalos, para as burras (...) ... INF2 Tem uma mosca chamada mosca dos cavalos. INQ2 Mas é, é maior do que a mosca vareja ou é?... INF1 Não senhor. É mais ou menos o mesmo tamanho . INF2 É tamanho, tamanho . INF3 (...) INQ2 Mas, mas é parecido com a mosca? INF3 É, sim senhor. INQ2 Essa mosca-cavalo tem a?... INF1 Não é parecida com a mosca! INF3 Não é. É mais curta. Ela é mais curta mesmo que essa mosca. INF2 E é mais chata e tudo. INF3 E mais chata. A barriga dela mesmo é mais chata. INF1 Tem uma barriga... A barriga dela parece um ovo. INF3 É. Tratam mosca do cavalo. INF1 Espreme-se a barriga e sai um nó. (...) INF4 E aqui também dá (...) . Mas agora já não dá (...) . INF2 Não! INF3 Uma conta branca! Uma conta branca. Uma gota de água . A gente espreme... Ele a barriga dela é parecida com uma conta. Parece uma coisa que não vai abrir . INF1 (...) Aquela mosca do cavalo pendia mais (...) para as bestas, (...) para o lado dos cavalos. Aparecia por ali nas vacas mas ela então não durava muito nas vacas. INQ2 Pois. Rhum-rhum. INF3 E para morrer, só cortando-lhe a cabeça. INF4 É, é. INQ2 Ah, isso já nos tinham dito. INQ1 Ah!... INF3 Isso é. Sem lhe cortar-lhe a cabeça, ela está sempre mexendo, sempre mexendo, sempre. Tira-se-lhe a barriga e ela continua viva. Ora agora aquilo devem ter dores, não é? INF2 Está sempre, está sempre... Corta a barriga e aquilo está sempre ... INQ1 Pois, pois. INF3 Cortando-lhe a cabeça, então é que ela...
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INQ1 Então, diga-me lá: como é que se chama essa parte de baixo da arribana? INF (...) Os pulins da arribana. INQ1 Os pulins da arribana. INF É que há os pés da arribana, não é? (...) INQ1 E é para quê? Porque é que tem esses?... É porque eu noutras ilhas vi isto até abaixo... INF Exactamente. Noutras ilhas até fazem uma casa. (...) Fazem casa e o milho está arrumado ali dentro, não é? A gente aqui usam essa... Fazem as arribanas e o milho fica fora todo o ano. Fica fora todo o ano. Não tem moléstia também nenhuma em todo o ano fora. Contanto a gente tem que o pôr a escorrer quando vem a água para não entrar para dentro. Por isso é: isso chama-se os pulins; essa peça de madeira que está aqui, que vem por aí adiante - que vem por aí adiante (...) ao comprido -, INQ1 Do pulim ao outro? INF do pulim ao outro, é o fechal da arribana. INQ1 O?... INF O fechal da arribana. E aqui (...) essas outras peças é a travessa da arribana. (...) INQ1 A travessa, portanto... O fechal é na parte mais comprida?... INF Fechal, comprida; as travessas, (...) para travar. E isto chama-se (...) a tesoura da arribana, (...) INQ1 A tesoura? INF para travar as pernas da arribana - que as pernas é essas varas. (...) INQ1 E é a que... Portanto, a tesoura é a que fica no meio a travar? INF (...) Exactamente. Está encruzada, travando para os dois lados. Chama-se a tesoura e isso é as pernas da arribana. (...) INQ1 Pernas da arribana. INF Sim senhora. A gente 'emancheiam' o milho: fazem manchinhos. Ah, não meti de além . INQ1 Oi! INF A gente 'emancheiam' o milho todo em manchos assim, INQ1 Pois, uns manchos... INF amarram, INQ1 E queria tirar também fotografia aos manchos. INF e depois é que dependuram aí. Que não se pode pendurar maçaroca a maçaroca. INQ1 Pois, pois. Tem que ser... INF E quando a gente abrem o milho, então é que se chama esgalhar o milho. INQ1 Esgalhar? INF Esgalhar o milho é quando a gente abrem o milho assim. INQ1 Ai, está lindo o milho! Espere lá, não pendure ainda só para tirar uma fotografia a um manchinho, se faz favor. INF Quer que eu deite sobre a arribana? INQ1 Diga? INF Quer que eu deite sobre (...) a arribana? INQ1 Não, não. Deixe estar na sua mão, que eu tiro na sua mão. Corte na gravação INF Estão a podar a vinha, é (...) esta lenha. Isto serve para lenha, para queimar, para se cozer pão. INQ1 E como é que chama a esse coisinho aí que tem atado, aí assim? Chama-lhe um quê? INF Isso? INQ1 Esse bocadinho de vinha que está aí atado? INF (...) Ele aqui isso a gente tratam um amarrilho - INQ1 Sim. Isso... Um amarrilho. INF que é uma espadana, é; que a espadana é a tal tabua que a gente falaram ontem. INQ1 Pois. INF É a espadana. INQ1 E assim esse conjunto da?... INF Ele é É um molho. INQ1 Um molho de?... INF É um molho. Há molhos maiores, molhos mais pequenitos... INQ1 Sim senhora. Obrigadinho. INF Nada, nada. INQ1 Então adeus. Até logo. INQ2 Obrigadinho. INQ1 Obrigado.
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INF Com carros aí e desprezarem (...) os 'animales' para acartar as coisas! Vão tudo no carro. Mas ainda tenho isso tudo acautelado: a empreita... Isso é o tamoeiro. Isso trata-se tudo (...) o tamoeiro, mas só essa parte é a empreita. E isso é o arrocho onde se arrocha a carga. E isso é a empreita. Aqui é a cabeçada, o freio, que ainda o tenho aqui... INQ1 Nunca havia um freio que em vez de ir no meio ia aqui por baixo? INF Havia, sim senhora. Mas a gente usam sempre é mais estes - é mais este freio. Este freio aguenta mais o animal. Este freio (...) vai por dentro da boca, o outro é só por baixo. Já é uma espécie de barbela. O outro é espécie de uma barbela. Tenho aqui a corrente que é a tal corrente que se engatava na grade! INQ1 Ah! INF Tenho aqui o macinho. INQ1 O macinho de bater o... INF O macinho de abrir o arado e de fechar o arado - que é quando se abria e fechava-se o arado de pau. E isso é a tal corrente: está preparada ainda de engatar na grade. Essas duas argolas engatam os dentes da grade, e depois ela vai à canga dos bois lá dentro, (...) para eles puxarem a grade. Ainda tenho isso tudo aqui. INQ2 Sim senhor. Mas já não usa nada disso? Nem o seu filho também não usa? INF Já não se usa. Já não se usa. Agora tudo é em tractores. (...) Estão todas trabalhadas em tractores. (...) Já não trabalham a bois. Hoje, (...) já não usam nada disso. Mas gosto de ter isso acautelado. É uma recordação. INQ1 Claro. INQ2 Pois claro. INF É uma recordação, não é verdade?
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INF1 Ah, tu já não trabalhas muito nisso, não é? INF2 Eu não trabalho porque eu estou doente do coração. INF1 Foi a minha mulher é que me disse: "Olha, a Andreia, ela ainda tece"! Lá é que é bom para ver aquilo . INF2 É. Ele eu estou doente do coração. Quer dizer, (...) eu faço um bocadinho, mas é é a minha filha. INF1 E é preciso (...) não teimar muito (...) . Ah, a tua filha também tece? INF2 Ah, ela sabe tecer igual a mim! INF1 É muito bom. INQ Ai é? Ela tece como a mãe? INF2 Ela sabe. Quer dizer, até que ele quando as camionetas subiram muito, ela gostava de... Como é? Disse-me: "A mamã se acha que as camionetas são muito caras" - porque ela trabalha na cidade. "Eu desisto e"... INF1 E (...) a vida continua. INF2 E eu disse: "Não senhora"! Eu disse: "Estudaste tanto e agora ias ficar sem"... Oh! A gente quando temos aqui (...) a manta já muito para cima, a gente agora tem que tirar uma tirada. A gente vem aqui, a gente tiram... Oh, agora está baixinho, a gente tiram um fio só - quando está muito alto, o algodão, porque isso eu faço um rolo assim muito grande. INQ Rhum-rhum. INF2 Eu faço. A gente, depois, a gente puxam aqui para levar a manta para o seu lugar para começar a trabalhar.
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INQ1 Olhe, mas eu queria-lhe perguntar: antes de pôr isto aqui, aqui no tear, o que é que tem que fazer cá fora? INF1 A gente, primeiro, a gente temos uma urdideira donde a gente levam... Eu ponho ali na servidão, porque é preciso um campo grande. Os rapazes tiram-me a carrinha para fora e eu, ali na servidão, eu ponho (...) , quer dizer, (...) uma grade. Até para se mostrar se... INQ1 É uma... É uma tabuinha com uns tornos... É? INF1 Sim senhor. INF2 É espécie de grade. INF1 É. Como uma grade. A gente mesmo chamam aquilo a urdideira. INF1 Aquilo é a urdideira . INF2 Eu começo a urdir... A gente, antigamente, a gente tinha era um caixote deste tamanho com doze quadradinhos, porque a gente ali punha era cada novelo em si. Mas eu nunca quis fazer, porque os fios pegavam muito. Eu nunca fiz, nunca fiz... Eu ia urdir para casa da senhora Andrelina. Essa senhora morreu, vendem o tear, e o que é que eu inspirei? Eu disse: "Ah! Vai ser com tigelas"! E eu fazia doze tigelas e punha ali no chão e fazia. Agora a gente compram, já não é... Porque a gente era meadas que a gente compravam. A gente levavam à dobadoura que era para dobar... Fazia os novelos. Ele agora vendem é umas 'cepolas' de linha. E eu, com aquelas 'cepolas', eu ponho doze, às vezes, eu ponho as garrafas de gás, ou coisa. E punha-se... Ah, o restelo também está ali. Que eu até pensei... INQ1 Ah, deixe estar, deixe estar que a gente já vê. Explique agora. Portanto?... INF1 Eu ponho o restelo, passo o fio e começo a urdir com a espadilha que é como uma faca grande, tudo cheio de buraquinhos, aquilo. Agora, eu sempre fui puxando, quer dizer, não só aquilo que me ensinaram - porque eu não nasci aprendida, foi uma senhora que me ensinou... Ela urdia com doze novelos. E eu, (...) para ser mais prático para mim, 'encurtecendo' sempre o serviço, eu fui... Porque o meu pai é que me fez aquela espadilha; e ele, quando me fez aquela espadilha, ele pôs mais buraquinhos, mais furinhos. (...) E a minha mãe disse assim: "Para que será que estás fazendo isso à rapariga"? E ele disse: "Ah, nunca se sabe para o que é que é preciso". E eu agora (...) fui aumentando sempre um fio, sempre um fio... Porque a gente temos as nossas contas aqui todas. Era doze fios para passar aqui e tudo, pronto. E eu fui sempre pondo um fio até que eu já vou até dezasseis novelos. Em lugar de eu pôr doze, eu ponho dezasseis, eu faço três cabrestilhos e já me reserva um. Em lugar de eu fazer quatro cabrestilhos, eu faço três e a conta dos fios já me dá aquilo que eu... Quer dizer, fazendo sempre o serviço, mas 'encurtecendo-me' sempre (...) o trabalho. A gente quando tem (...) a teia urdida, com a largura (...) da haste e do liço, eu faço uma meada. Ponho (...) numa pana ou num saco plástico - naquilo que a gente entende - e trago para aqui. Aqui é preciso três pessoas (...) INQ1 Para quê? INF1 para carregar. Até, noutro dia, eu disse à rapariga: "Tu hás-de ver se me tiras algumas fotografias a gente carregando"! Quer dizer, eu estou a ver que devia ficar sem esse serviço, porque não posso. E eu, isto, eu adoro isso. INQ2 Pois. INF1 Eu canso muito, mas aqui o bocadinho que eu estou , eu penso até que não me faz mal. Faz-me mal mas eu penso que não faz, porque eu gosto muito disso. Eu com catorze anos... A minha vida foi essa. Sei fazer os meus pontinhos, sei fazer malha, sei fazer renda, sei marcar, bordei à máquina. Isto tudo eu sei fazer! Mas eu adoro é isso! Isso eu adoro! E eu não sei se aquele senhor sabe muito bem - que a gente tem a nossa vida -, trabalhavam muito pelas terras! INF2 Então não trabalhavam?! Antigamente, as mulheres iam olhando pelas terras. INF1 A gente trabalhavam muito pelas terras, mas a minha mãe sempre nos deixou aprender aquilo que a gente desejavam! Tanto eu como as minhas irmãs. A minha irmã Andresa também sabe tecer. INF2 Também sabe tecer. INF1 É. Também sabe tecer. Ela ficou foi doente da coluna e deixou porque ela vinha... INF2 E fiar também? INF1 Não, ela não fiava. Ela vinha era para aqui. Porque ela não sabe muito bem urdir. E depois ela não sabe dividir as cores. E eu é que dividia. Punha tudo à maneira (...) de ela tecer. E ela, ela ganhou um bom dinheirinho aqui. A gente 'traze-a' para aqui, é preciso três pessoas: uma sentada ali no chão, puxando essa... Isso está assim por aqui (...) ... Ele como é? Com uma meada de linha grossa, ela está uma ali sentada puxando. INQ2 Mas como é que se chama isto tudo junto? INF1 Isso tudo junto é uma teia. INQ2 Portanto, há uma sentada... INF1 Uma está sentada ali puxando a teia. A outra está aqui com uma varinha nesse tornozinho enrolando - que é enrolando isso. E eu estou aqui sentada com o restelo. Que a gente chamam aquilo restelo. Que é tudo cheio duns (...) coisinhas... Eu é que estou ali porque ele essas cabeças têm que ser muito bem feitas, porque se não, depois, descabeça - ali. Porque (...) eu aqui já tenho a prática e vou-lhe dando sempre o jeito - porque isso vai sempre apertando -, que é para não fazer... Porque se a gente porem sempre no mesmo tear, isso faz um rolo assim (...) e descabeça. Até que eu já disse: "Eu, quando eu fizer um órgão novo" - porque isso, ele essa parte chama-se um órgão -, "eu, quando eu fizer, eu vou fazer mas vai ser com a madeira à maneira de"... Qualquer pessoa pode carregar que não tem aquela ciência de fazer cabeça. Porque a gente estão sempre olho ali, olho ali (...) para isso: estas linhas, que é a teia, ir sempre puxando para dentro.
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INF1 Depois de ter carregado, pronto! Ajudam-me a carregar... A gente temos... Porque a gente quando fazem ali, a gente fazem (...) uns 'encruzes', assim, fio por fio! Porque a gente fazem é com o dedo. A gente pegam assim, fazem assim. Fica aqui assim em cruz. E este 'encruz' é preciso que a gente nunca o desmanchem, porque, se não, enriça-nos muito o coisa. Eu trago para aqui, temos aqui essas canas grossas, ele eu abro os 'encruzes', a gente metem a cana e fica ali. Eu amarro (...) com uns nozinhos as pontinhas do algodão e fica aqui. Pronto! Eu, depois, eu começo a repassar aqui. Isso aqui é repassado fio por fio. INQ1 E isto como é que lhe chama? INF1 A isso chama-se um liço. E a gente repassam isso é fio por fio. A gente tem de passar esses fios todos. A gente levam-lhe aqui o dedo, abrem o dedo e metem o fio ao meio e puxam. A gente levam aqui, já se sabe, horas e horas nisso. Pois . Porque isso é muito fio. INQ1 Pois. INF1 E ele a gente repassam aqui. Depois de estar repassado aqui, eu tiro isso daqui... INQ1 O que é isso? Como é que se chama? INF1 Isso é uma haste. Esta? Uma haste. INQ1 Uma haste. INF1 E isso a gente chamam a queixa, que é o com que a gente batem. INQ1 Portanto, a haste está dentro da queixa? INF1 É, é. A haste vai para dentro para a queixa. (...) A gente, depois, aqui, a gente tem-lhe que enfiar dois fios (...) cada rachinha dessa outra vez. Aqui é uma só, porque é o fio daqui e o fio daqui. A gente, depois, passam os dois aqui. Está pronto, a gente pegam numa varinha dessas - que a outra está aqui dentro -, a gente pegam numa varinha dessas, com (...) umas cordas que eu tenho aqui, a gente põe aqui no órgão e enfiam essa varinha. Uma pessoa aguenta-me aqui porque coisa... É. Ele qualquer pessoa me aguenta! E eu, muita vez, eu faço sozinha! E a gente começam a puxar a teia, aqui, o algodão, a gente começam-lhe a puxar e amarram aqui contra a varinha. Depois de ter amarrado, a gente vão aqui, botam as premedeiras, que é donde a gente põe os pés... INQ2 Como é que se chama? INF1 Premedeiras, que é donde a gente põe os pés. E a gente começam o tecido. INQ1 E essa varinha como é que se chama? INF1 A vara. INQ1 Chama-se mesmo a vara? INF1 É. INQ1 Não compres coisas nenhumas. INF1 Essa é a vara e agora essa que eu tenho aqui (...) é vara. É. A gente chamam isso as varinhas. E isso é uma vara que é de a gente medir (...) ... INQ1 O tecido? INF1 Ele o tecido. Porque uma manta são duas varas dessas. Isso dá um metro e doze centímetros. INQ1 Uma vara é um metro e doze centímetros? INF1 Uma vara é (...) uma coisa e é doze centímetros. Mas eu quase sempre agora já não uso isso. É a fita que eu tenho aqui. Porque a gente mesmo quando começam a tecer, isso é tudo por medida: essas listras que a gente fazem (...) ... E eu avezei a moda (...) de ser com a fita. Tenho aqui: é tantos, é tantos e a gente: hehe-hehe... Que eu, primeiro, a gente era com uma canina, com umas coisinhas... Agora é a tal coisa: é tudo mais prático, não é? Aí eu meço é (...) com a fita. Depois de estar, começo a tecer. INQ1 E como é que chama a isto? INF1 Isso chama-se a chave do tear. INQ1 A?... INF1 Chave. INQ1 Que é para?... INF1 Que é para apertar a teia. INQ1 Portanto, no, no órgão? Enfia no órgão? INF1 (...) A gente põe aqui no órgão que é (...) para rodar. E aqui também é a chave. Porque aquela ele é diferente porque isso é uma coisa que faz muita força mesmo. INQ1 Pois. INF1 Isso faz muita... INQ1 Esta aqui também lhe chama varinha? INF1 É também varinha. INQ1 Pronto. INF1 A gente chamam essas varinhas é varinhas. E isso agora aqui, depois de a gente terem repassados, a gente põem dentro na queixa. Isso aqui é a queixa INQ1 E a haste. INF1 e a haste, que é donde a gente começam a bater. (...) INQ1 E estas coisas?... Isto aqui que serve para prender os liços? INF1 Ele isso aqui a gente chamam é os cabrestilhozinhos - a esses bocadinhos. Aqui é uma rodinha que a gente chamam, porque a gente temos aqui uma... Agora essas (...) , tratam isso é as cabritas. INQ1 Estas aqui de cima onde estão as rodinhas são as cabritas? INF1 É. A gente chamam cabritas. INQ1 Então e os cabrestilhos, não é os fios daqui? INF1 É. Os cabrestilhos é isso. Mas a gente também chamam isso cabrestilhinhos. INQ1 Também chama a isso... Diga? INF1 Cabrestilhinhos INQ1 Cabrestilhinhos. INF1 que a gente chamam isso. INQ1 Os cabrestilhos são quantos fios? INF1 É doze. INQ1 Doze fios? INF1 Doze. Mas é a tal coisa que eu já ponho mais novelos e eu agora faço com dezasseis. INQ2 Já faz mais uns. INF1 É, é. Eu já faço mais quatro fios em cada cabrestilho - foi o que eu disse ainda agora -, quatro fios em cada cabrestilho. Em lugar de eu fazer quatro cabrestilhos, eu faço três e já tenho quatro. INQ1 Pois, pois. INF1 É. Porque é quatro fios. Porque é: um cabrestilho são doze, porque é os doze novelos que a gente põem na urdideira (...) ... INQ1 Pois. E aquela antiga que tinha de que me falou há bocadinho? Aquela caixa com os doze novelos?... INF1 Isso, eu não tenho. INQ1 Mas como é que se chamava? Lembra-se? INF1 É casal. A gente chamavam aquilo era o casal. É. O meu rapaz disse: "Ai, eu qualquer dia faço isso à minha mãe". Eu disse: "Ai, eu não quero que eu já estou no resto da minha vida, (...) eu não quero" . (...) INQ1 Antes quer as panas? INF1 É. INF2 As tigelas. INF1 As tigelas. (...) Aquilo ali, a tigela é lisa INQ1 Pois. Não prende. INF1 e o fio não prende nada. Porque é: isso é uma coisa quando apanha (...) uma coisinha dessas assim, a gente ficam logo engatadas. Porque é: esse tear isso já tem anos. INQ1 Claro. Olhe e.... INF1 Eu já teço... Eu tinha catorze anos, eu já teço há quarenta e dois anos. Porque eu tenho cinquenta e seis e eu comecei a tecer com a idade de catorze anos. Com catorze anos, eu já estava aprendendo. Comecei (...) a tecer mas eu sempre gostei: teci cobertores de tear, não é só mantas que eu faço! (...) Eu ele (...) fazia, agora é que (...) eu não quero fazer porque não posso. Mas daqueles teares que a gente chamavam o tear (...) de Norte. Daqueles teares de INQ1 De duas pessoas? INF1 cobertores. Não. INQ1 Ah! INF1 Cobertores (...) de Norte (...) . INF2 Não havia em lã de ovelha, há? INF1 Que era com lã de ovelha. INF2 Não se trabalhava em lã de ovelha! INF1 Ele eu tenho! Eu tenho (...) quatro, três cobertores desses. Daqueles que era de risquinhas. E eu tenho INQ2 Essas coisas todas tem. INF1 essas coisas todas. A gente tecem muito agora é muita carpete. Porque as pessoas já não querem mantas para as camas, é carpetes, é tapetes, é (...) almofadas. Então, eu trabalho aqui em lã (...) e em retalho. INQ1 Em linho já não trabalhou ou ainda trabalhou? INF1 Tenho ali duas sacas para fazer. Eu tenho ali duas sacas para tecer que eu disse a ela, no outro dia, à senhora que me falou, eu disse: "Tu tiveste foi uma grande sorte de me pores aqui, em casa, sem eu... Eu estou doente! Porque se eu estivesse doente, (...) já não vinha para cá". INQ1 Pois. INF1 Porque aquilo ele leva muito tempo a tecer! E, já se sabe, a pequena chega no carro das sete, é um bocadinho à noite, e também uma pessoa não vai sacrificar aquilo que aquilo também é miúda. INQ1 Pois claro. INF1 Mas ela também gosta! Ela também gosta. Todos os dias, (...) quando eu vou-me à missa, ela fica aqui. Ela chega no carro das sete, eu digo assim: "Olha, se queres, ele já está as canelas". Porque as canelas eu ponho. A gente chamam esses canudinhos INQ1 Pois. INF1 é canelas. Isso antigamente era de cana. Porque eu ainda tenho aqui... Ah, olhe! Eu guardei, porque eu gosto muito de coisas antigas! Eu guardei, eu disse: "Ai, eu não acabo com isso, que isso fica aqui para uma recordação". Começou a haver esses caninos que isso é da luz. INQ1 Pois. INF1 E os meus filhos começaram-me a (...) irem atrás... Eu tenho um rapaz que trabalha de mestre. Começou-me a trazer, começou-me a trazer, eu agora uso é disso. A gente fazem as canelas... INQ1 Aonde? INF1 A gente fazem à mão. INQ1 À mão. INF1 Mas eu tenho uma roda! Está aqui, aqui em cima. INQ1 Ah! Estou a ver. Aquela chamada... Era a roda das canelas? INF1 É. A gente fazem as canelas e a gente chamavam aquilo o caneleiro. INQ1 O?... INF1 Caneleiro. (...) O linho é feito ali! Ele quando eu teço coisas INQ1 De lã. INF1 de lã, a gente fazem ali, porque é mais depressa. E agora a gente aqui, quando eu faço as canelas, aquilo é: eu já faço tudo por medidas. INQ1 Pois. INF1 Tudo. Eu tenho aqui a minha medida que é daqui dessa coisa à cabeça do tear. Assim até aqui, eu meço quantos retalhos eu queira pôr aqui. Eu meço (...) ... Quer dizer, a gente, em primeiro, não faziam isso; INQ1 Pois. INF1 a gente iam fazendo. Mas eu gosto de fazer as listras das minhas mantas é com os retalhos iguais. Se dá para seis fios, eu ponho seis; se dá para quatro, é quatro. Eu gosto muito de fazer é tudo igual, porque casa mais depressa. A gente, essas mantas com essas listras, a gente chamam mantas casadas. Agora das outras que é... Canelinha de uma cor que é... A gente chamam aquelas mantas a eito - que a gente chamavam... INQ1 As que são todas de uma cor? INF1 Não é de uma cor. Várias cores: é canela duma cor, canela doutra. Agora essas (...) são as mantas casadas (...) . INQ1 Portanto, qual é a diferença? É porque aqui, neste caso, o que é que?... INF1 (...) INQ1 São casadas porquê? INF1 São casadas porque (...) uma parte duma manta, que a gente chamam um ramo de manta, tem que casar com a outra. Essas listrinhas, a gente quando cosem, cosem e fica a manta igual (...) ... INQ2 Ficam as duas larguras... INF1 As duas. As duas larguras, mas com essas risquinhas, INQ2 A bater certo. INF1 portanto, a bater certo: tanto igual de um lado, como igual do outro. Já se sabe, a gente fazem vários feitios. Não é só desse... É os retalhos também é que mandam.
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INF Há. E ali na Alagoa. Eu, quando eu passo lá, eu ponho-me assim: "Credo! Eu estou inquieta para parar, para apanhar aí umas primaveras para mim levar comigo". O meu filho ontem - não sei donde é que ele trouxe -, ele trouxe-me (...) umas varinhas disso. O Anás chegou a casa: "Ó mamã! Está aqui (...) esses espetos. A Céu trouxe para a mamã". Digo eu assim: "Ai, eu sei isso o que é! Ai, seja pelas almas, que eu estou acabando os meus". (...) No outro dia falou na televisão, que (...) as nossas estradas estão (...) com muita primavera. Aí para baixo já se vê muita, mas não as sabem é podar e atimar. Eu digo assim: "Credo, que eu no cerrado dos bezerros também tenho, eu disso"! INQ Mas tem alguma?... Tem alguma flor? Dá alguma flor? INF Dá uma florinha branca. INQ Branca. INF Branca que é (...) assim: é um montinho aqui e outro aqui, tudo, tudo... Como a flor do pessegueiro!
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INF1 Ó Anastácio! A vóvó precisa disso, querido! Ai, isso então! A vóvó quer! INF2 Se ele partir, o pai há-de trazer mais. INF1 Não! Ah, o pai traz, mas eu não quero que isso faz-me muita... É que aquilo faz-me muita falta, porque a gente sem isso, a gente não trabalham. INQ Claro. INF É. O senhor faz favor de me dar para aqui. É... A gente sem isso, a gente não trabalham. Porque isso é: eu tendo isso e não tendo o espetinho...
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INQ1 E isto, é para quê? INF1 (...) Eu já não disse à senhora? Eu gosto muito de coisas antigas. E a gente estiveram fazendo limpeza lá em cima, à casa de meu pai. Tinha ferraduras, tinha de embolar os bois. Papá tinha isso tudo. INQ1 Como é que se chama de, de embolar os bois? INF2 É bolas de deitar na ponta dos bois. A gente tratam INQ1 Como é que se chamava? INF2 bolas. INQ1 Bolas. INF1 Ele eu trouxe... INF2 Em metal amarelo. Em metal amarelo. INF1 Era metal amarelo. INF2 Metal amarelo. INF1 Eu trouxe para baixo, eu disse: "Ai credo! Eu tenho aí só duas"! Até pus essa aqui - essa ferradura aqui - e pus essa aqui... Eu disse: "A gente antigamente, a gente usavam isso com duas canas aqui". INQ2 Rhum-rhum. INQ1 Pois era. INF1 E a gente amarravam um atilho e estava dependurado. INQ1 A senhora agora já não põe... E agora a senhora já não põe canas? INF1 Ele não! Eu não ponho canas porque eu tenho a minha prática de trabalhar e trabalho bem sem canas. INF2 Era para fazer peso, não era? Para fazer peso... INF1 (...) Não, era para fazer peso INQ1 E para puxar as... INF1 e para encruzar. Porque a gente quando fazem isso assim... INQ2 Agora eu não sei o que é... Ah, é aqui, não é? INQ1 Agora metes por uma. INF1 Mal. Ele não! INQ1 Não? INQ2 Não? INF1 Ah, está bem! INQ2 Agora está. Espere que eu já meti foi no, já me tapou num... INQ1 Não tens muito jeito para o tear, João! INQ2 Tenho essa ponta aqui partida, pá. INQ1 Tens que por... Põe mais para cá que fica mais largo... INQ2 Mas eu já percebi. O que a senhora quer dizer é que depois quando puxar a premedeira, os de baixo vêm para cima e os de cima para baixo. INF1 Oh! A gente vão assim e a gente... É aqui rente é melhor. Oh! A gente levavam-na assim aí, e depois a gente faziam assim. O que é que se trata aqui? Eu já sei o que é. Essa é com a outra. Vá. A gente depois põem outra! INQ2 Rhum-rhum. Fica aqui... INF1 E é: a gente punham aquela... A gente, isso ele dava-nos uma ideia era que quando arrebentasse um fio não enriçava. INQ1 Ah! INQ2 Rhum-rhum. Pois, pois. INF1 Mas eu agora, eu venho ... E outra: os algodões agora são muito mais fortes, não rebenta tanto. Em primeiro rebentavam mais. Agora não rebentam. São mais rijos. E é: a gente usavam e depois amarravam um atilhinho aí. E INQ2 Portanto, para substituir... INF1 ele a gente punha uma ferradura dessas e estava ali fazendo peso para aguentar as varinhas. INQ2 Peso. Sim senhora. INF1 Mas eu também, depois, deixei disso. Agora peguei foi por curiosidade.
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INQ Quando a senhora fazia coisas mais finas que precisava de fazer a franja, como é que fazia? INF Ai a franja eu fazia era (...) com uma hastezinha, pequenina, que eu tinha. E era ou com o dedo (...) ou com um bocadinho - um bocadinho assim como aquele que o senhor teve na mão. A gente punham ali só para nos guiar. Não era nada para... INQ Pois. Dava algum nome a essa coisinha pequenina onde fazia a franja? INF Não... Até (...) não sei. INQ Não sabe. INF Não sei. Porque a gente, quase sempre, a gente, apertavam era com o dedo. Quase sempre. A gente estavam aqui. E aquilo é mais uma coisa que a gente fazem é sentadas.
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INQ1 E aquele trabalho que se fazia com as meadas, de pôr na água e isso, era para quê? Depois de a meada estar feita. INF Era para lavar, para tirar certas gorduras, porque é: a lã, antes de ser trabalhada, a gente, ele escaldavam-na, (...) lavavam duas, três vezes... (...) A branca, (...) faziam barrela, que as barrelas antigamente era feitas era com cinza, que era para fazer a lã muito branquinha. Porque é: a gente faziam camisolas... Eu fiz tantas! As sueras que os meus pais andavam... O meu pai e o meu irmão - o meu avô! - andavam (...) nas vacas... Ele depois de ter o fio da lã, eu é que fazia as sueras para eles. Porque eu também aprendi muito com a senhora Andresa. Eu sempre fui muito curiosa! Donde quer que ele eu pretendia que eu havera aprender aquele serviço, eu ia ter com a pessoa, se me queria ensinar. E antigamente não havia aquela coisa de não quererem ensinar; ensinavam umas às outras. INQ2 Pois. Claro. INQ1 Rhum-rhum. INF E eu aprendi muito com ela. INQ1 Sim senhora. Quando a senhora está a fazer este trabalho aqui no tear, diz que está a quê? INF Tecendo. INQ2 E quando estava a fazer o trabalho na?... INF Urdindo.
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INQ1 O, o, o fio ficava embrulhado aqui? Aqui em cima, era? Ou era aqui nesta coisinha? INF Não senhor. INQ1 Era aqui? INF Isso é mais uma ideia daqui. Isso era um fuso daqui. INQ1 Ah! INQ2 Ah! INF Isso é um fuso daqui. INQ1 Está bem. INF Mas isso é só para mostrar que elas tinham uma rodinha dessas assim em baixo. INQ1 Sim senhor. INF Havia umas que tinha era ele uma verga. E outras era mesmo de madeira, INQ2 De madeira. INF assim fininho, larguinho em baixo, ia... Mas assim mais alto, INQ1 Mais comprido. INF que isso também era mais comprido. INQ2 Pois. INQ3 Pois. INQ1 Rhum-rhum. E esse era... É que era... INF Até que pode ir ver esse que eu fiz novo, INQ1 Pois. Exacto. INF o fio é mais comprido. INQ1 Sim senhora. Portanto... INF Porque ele esse é comprido porque isso partiu daqui. INQ1 Porque era de duas... Pois, está bem! Era para estar ali na roda... INF É porque ele isso é daqui. Mas eu guardei porque como era uma coisa muito antiga, guardei. E elas estavam aqui, a dar-lhe o jeito sempre. INQ1 A dar-lhe o jeito. INF É sempre assim. E a vara, elas metiam-na aqui na cintura, a cana. INQ2 A vara era o quê? A vara da cana? INF A cana que tinha a maçaroca. INQ2 A cana que tinha a maçaroca. INF Sim. Elas estavam assim aguentando, e elas tinham lá a sua prática com os seus dedos, porque aquilo quando coisa, elas - ou com esses -, elas davam jeito para o fio ir tudo no mesmo tear. E elas estavam aqui fazendo isso. Isso eu nunca aprendi, mas vi muito. Porque a gente iam buscar a lã... (...) A senhora Ângela que morou... Ela morou ao pé do café (...) do Anatólio. E ela é que nos fiava a lã. A gente iam buscar dum lado e iam levar a ela para fazer (...) o fio. E ela lá é que nos fazia (...) o fio, e a gente depois iam buscar. Ela, às vezes, dava em meada; e quando ela não nos dava em meada, ele ela dava-nos em novelo. Mas era sempre uma libra. A gente pagavam e tudo, o dinheiro, era por libra. Isso a gente nunca aprenderam. A minha mãe andava fora... INQ1 Uma libra quanto, quanto é que pesava mais ou menos? Não sabe agora?... INF Oitocentas gramas. Uma libra é oitocentas gramas porque eu cheguei a ter as pedras - e eu acho que ainda tenho isso guardadas por aí. Mas eu não sei donde foi que eu as pus. Eu tenho a balança mas já muito velhinha. Ela está arrumada (...) é numa caixa. Eu embrulhei-lhe e arrumei-a.
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INQ E andou à escola ainda ou não? INF Ai, tenho a quarta classe! INQ Quarta? INF A quarta classe que eu tenho! Porque era, antigamente, era o que se tinha. INQ Era obrigatório. Claro, era. INF Ele eu tenho a quarta classe.
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INQ1 E esta onde tem o tecido enrolado? INF Ah, a gente chamam é (...) o rolo. INQ1 O rolo. INF É. (...) INQ1 Porque tem uma parte num órgão e depois outra parte no rolo, não é? INF É. Porque a gente quando vão descarregando daqui do órgão, a gente vão passando é para o rolo. INQ1 Pois. INQ2 Para não ficar muito cheio aí, não é? INF Pois. A gente aqui não podem tecer com muita altura. INQ1 Pois. INF A gente quando tem aqui uns dois metros enrolado, a gente já não podem tecer mais porque isso fica muito alto. INQ1 Pois. INF E a gente desenrolam e passem... A gente fazem assim: eu, agora, eu vou tirar uma tirada, que é... INQ2 Uma tirada é o que está no?... INF A tirada é para trás. E eu, agora, eu vou desenrolar o rolo - que ele mesmo estava para tirar. INQ1 Rhum-rhum. INF A gente passam-lhe a vara assim até aqui a uma certa altura. INQ1 A varinha? INF A varinha, a gente passam-na para aqui. A gente acertam pouco mais ou menos aqui o coisa, e a gente tornam, medem, passam aqui INQ2 Os dedos, por aí. INF nos dedos, porque a gente tem aqui as nossas coisas. E a gente enrolam de novo. Estou enrolando porque eu já tirei a tirada. Está pronto a a gente começar outra vez ele a tecer. A gente chamam isso é as cordas. INQ1 As cordas, que é o que prende a chave? INF É o que prende a chave (...) daqui da parte de trás. Agora a gente, ele puxam isso para trás ou coisa e a gente vem aqui, fazem o rolo. INQ2 Agora saiu daí. INQ3 Essa está quase pronta. Essa medida... INF Essa, isso já está acabando. INQ3 Está acabando. INF É. A gente estão acabando. E mesmo a teia tem ali só mais uma manta. (...) INQ2 Está aqui marcada. INF Ele, ele está aí marcado. Isso é um lacinho que eu ponho aí, porque, às vezes, se eu levo muito tempo a tecer e se eu me despercebo... É porque é: a gente quando era mantas, a gente sabem que estão tecendo uma manta são dois ramos. Mas como há uma que quer dois metros, outra quer cinco metros, e a gente temos a nossa medida ali... Quando a gente urde - a gente chamam aquilo é o ramo -, a gente sabem quantos ramos botam ali. Eu costumo a carregar sempre dez mantas e meia. São vinte e um ramo. INQ2 Portanto, é dois ramos para cada... INF Para cada manta. INQ2 Para cada manta. INF Mas como a gente agora há uma que quer um bocado de passadeira e outra quer uma carpete que leva só dois metros e outra quer metro e meio por metro e meio, e eu para não me desperceber INQ2 Marca. INF (...) , quando eu começo a enrolar aí - quando a gente começam a carregar -, eu carrego um ramo. Assino-o logo, que é donde está aí esse 'assinozinho'. A isso ainda não chegou porque eu estou acabando essa manta e ainda me fica mais um raminho. INQ2 Mas um ramo, qual é o comprimento que dá na manta? INF É dois metros e vinte cinco. INQ2 Portanto, são duas... quase duas varas. Não é bem. Não. É um bocadinho mais do que a vara, não é? Porque a vara é um metro e?... INQ3 Um metro e dez. INQ1 Um metro e doze. INF Um metro e doze. INQ2 É. Duas varas. INQ3 Pois é. É duas varas. INQ1 É duas varas. INF É duas varas. Duas varas, ele é uma manta. Mas há pessoas, como (...) as camas agora INQ1 São maiores. INQ3 São maiores. INF são maiores, elas pedem-me que querem com mais medida. INQ1 Comprimento. INF Eu faço da maneira que a pessoa quer. INQ1 Claro. INF Agora largura, eu não posso fazer mais do que esse. INQ1 Não pode ser. INF Que isso dá oitenta e cinco centímetros ou lá o que é. Mas eu tenho de cinquenta centímetros e tenho de sessenta. Porque ele talho-as então pelo lado de dentro. Eu tenho mais hastes; não é só essa. INQ3 Pois. INQ2 Rhum-rhum. INF E isto é tudo, ele tanto o liço, como a haste, eu é que faço tudo com a minha mão. Ele esse trabalho não é ninguém que o faça, eu é que sei fazer tudo.
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INF A gente tecem os cobertores é por meio de uma carta. A gente para tecer os cobertores, a gente, está aí escrito. Porque a gente quando começam a repassar, a gente repassam, por exemplo, seis na folha de trás, seis na folha da frente, doze na do meio, uma na de trás e da frente... Nas de trás ou na das da frente, aquilo, a gente quando não errem, é aqui no tecer que a gente fazem o cobertor. O cobertor já está feito é aqui no repasso. Quando a gente estão repassando, a gente já fazem os 'encruzes' todos é ali. É aquelas medidinhas. INQ1 Pois, pois. INF É. E a gente até, a gente é por carta. A gente temos (...) uma carta escrita INQ2 A dizer como é que é. INQ1 Pois. INF a dizer como é porque ele também a gente não aguentam tudo (...) de cabeça. INQ1 Na cabeça. Pois. INQ2 Rhum-rhum. INF (...) Eu tenho aí (...) três ou quatro feitios (...) de cartas.
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INF1 Aquilo é as cabaças donde a gente arrumavam as... INF2 Sementes. INF1 As sementes. Eu também nunca as desprezei. Até com aquelas eu disse: "Não se"... Isso veio quando tiraram tudo lá de cima de casa (...) de meu irmão. E eu fui... Mesmo os capachos, a canga... INQ1 Mas a?... INF1 (...) E eu dei muita coisa para o museu: o carro de bois; o carro de bois do papá! Está lá em baixo no museu. INF2 Foi para o museu. INF1 Foi. Eu dei-o ao museu. Eu dei-o ao museu na condição: um dia que a gente queiram fazer uma festa ou coisa, eles... INF2 Poder levantar? INF1 Sim, poder levantar. Eu ofereci. Ele aquilo deixava-me dinheiro mas eu disse: "Eu quero que me estimem isso"! Porque se eu tivesse lugar, eu botava era aqui. INF2 Lá é que está bem estimado. INQ2 Pois. INF1 Mas aquilo lá, eu disse: "Não é para me porem à água"! Eles disseram que não. Ele está lá bem estimado. Eu dei muita coisa! O senhor Amílcar - não é? - conhece aquelas caixas que levavam para a tropa, que era abertas - é metade aberto? INF2 É, Amílcar. Não conheço?! INF1 Eu dei uma também para o... INF2 (...) INF1 É o senhor doutor Anaxágoras, para arrumar as suas roupas. INF2 Cada um levava a sua caixa (...) para arrumar as suas roupas. Mas sabe que hoje em dia já não é assim. Porque É que hoje em dia, (...) o quartel é que dá as caixas. Mas no tempo que eu fui para a tropa, a gente é que levavam a caixa de casa. INF1 É. O meu irmão também quando foi levou sua caixa. O senhor doutor Anaxágoras esteve cá e gostou muito de muita coisa. Gostou de muita coisa ele que a gente tem: a banca (...) de lavarem os pés, a trempe. Coisas assim muito antigas: um alguidar quebrado, uma balsa. Ele ele gostou muito e eu... INQ2 A balsa era o quê? INF1 Era uma salgadeira de salgar... INF2 Em barro. INQ2 Em barro? INF1 É em barro. INF2 É, sim senhora. É em barro. Ainda tenho lá uma no... A senhora quando foi tirar a fotografia ao quintal tinha lá uma (...) cheia de terra, (...) para qualquer dia despejar a terra e lavá-la também para fazer o sal com ela. INQ2 Ah! Eu não vi. INF1 De terra. Ah, ainda ele o senhor Aristóbulo ainda salga nela?! INF2 Eu tenho! Eu ainda tenho, tenho! INF1 Rhum-rhum. (...) INF2 Ainda tenho uma. INF1 A última que eu tinha, ele o senhor do museu levou-a. Ele gostou muito e eu disse: "Ah, senhor, pronto! O senhor leva consigo". INQ2 Rhum-rhum. Pois é. Essas coisas é bom estar nos museus porque a gente sempre vai lá e vê e... INF1 A gente - é, é - vê e está mais bem guardado do que seja em ... INQ2 Pois. INF2 Pois é porque agora já não se... Por exemplo, os carros de bois - não é? - aquilo ocupa muito lugar. É preciso (...) estar num lugar à abrigada, não é? INQ2 Pois é. INF2 (...) Já não usam aquilo. INF1 Aquilo quase que tem cinco metros de comprido. Não tem? INF2 Ah! Cabeçalho e tudo! Cabeçalho e tudo! INF1 Ah, é o cabeçalho e tudo. INF2 É mais ou menos isso. Os carros aqui eram grandes. INF1 Eram enormes esses carros! Azeviche! INF2 Os nossos carros aqui eram... INQ2 Cinco metros de comprido? INF2 Era a freguesia que os carros eram mais grandes eram os nossos carros aqui. INF1 Era. INF2 A gente vêem carros aí nas outras freguesias, que ainda há, mas muito mais pequeninos do que os nossos. INQ2 Hum! INF2 Mesmo aí nas ilhas para fora, a gente, às vezes, na televisão, vêem é como carrinhos pequeninos, não é? INQ2 Pois. É. INF2 Os nossos carros eram grandes. E então quando carregavam milhos! Porque isso ele eram grandes seves de milho! INQ2 Pois. INF1 Ele o senhor Anaxarco da Carreira chegou a fazer uma seve. INF2 Pois. É, é . INF1 O museu é que lhe falou e diz que essa seve está no nosso carro. INQ2 Ah! INF1 Ele eu ainda não fui lá baixo ver porque papá tinha ali a sua arribana que era de arrumar os coisas, começou-se ele a estragar que era de milheiros, de coisas assim e pronto! INF2 Pois. Fica tudo ao ar livre. INF1 Eu não lhe dei para o museu mais cedo porque o Celso nunca deixou. Mas (...) quando se partiram - porque eu é que arrematei os bens de meu pai todos... Quer dizer, não foi só para mim! Mas eu é que avaliei... Arrematei, eu arrematei. Eu não peguei em tudo para mim porque eu não quis. Dei uma parte a meu irmão e outra parte a Andresa, e a minha irmã Angélica, que o ele o Celso não. Recebeu foi dinheiro. E pronto! Depois que eu tenho o carro no meu poder, eu dei-lhe logo ao museu. Mandei-lhe logo dizer para eles virem-no buscar. A gente lhe fizeram... INQ2 Fez bem. INQ3 Pois. INF1 Eu pu-lo lá em baixo. Eu gosto muito de coisas antigas. INQ2 Pois. Então e isso aí por cima do senhor é que é o?... INF1 É o milho. INQ2 Milho quê? INF1 É... Isso é as maçarocas do milho. INF2 Está ali o milho vermelho. INQ2 Mas que milho? É um milho especial. INF1 É o milho do pão. INQ2 Mas é um milho vermelho, é especial. INF1 Aquilo era antigamente, quando a gente estavam fazendo serões, que a gente apanhavam uma maçaroca daquelas... INF2 É isso mesmo. Antigamente. INQ2 O que é que faziam? INF1 Oh! Iam dar um beijo... INF2 Faziam uma festa grande. INF1 É, é. Ou acabava o serão ou faziam os namorados, se tinha namorados... INF2 Oh, os rapazes, os rapazes beijavam aquelas raparigas, se for rapaz que achava a maçaroca... (...) Ou uma rapariga é que achava a maçaroca: "Agora tens que dar um beijo nesse pessoal todo que está aqui dentro fazendo o serão". INF1 E antigamente os noivos não se beijavam à vista das noivas e ali à vista dos pais! INQ2 E ali podiam?! INF1 E ali... INF2 Esse era obrigado! INF1 Era obrigado a dar! Ali é que eles satisfaziam as suas vontades. INQ2 E chamavam milho quê? INF2 (...) A gente, ele primeiro tratavam isso era o milho-rei. (...) INF1 Era o milho-rei, era. INF2 Era o milho-rei. Mas isso pode ter outro nome. (...) INF1 Agora a gente chamam é o milho-mulato.
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INQ E também havia ele antigamente ovelhas... INF Havia . Oh! O meu pai tinha!... A gente tinha muitas. E não era só o meu pai. Havia muitas ovelhas. (...) E faziam (...) muito trabalho com a lã de ovelha. INQ Sim. E o homem que tomava conta das ovelhas como é que se chamava? INF O homem era pastor. INQ Pastor. INF Ele era pastor. (...) Isto é: a gente tinha ovelhas mas ninguém tomava conta delas! A gente todos, as nossas ovelhas - porque a gente tinha muitas, também; e não só a gente, aqui mais acima havia outro lavrador que também tinha muitas... Mas a gente usavam as ovelhas amarradas! INQ Sim. INF Sempre amarradas. Algumas à solta mas a força era amarrarem-nas. INQ Sim. INF E a gente todos cuidavam nelas, qualquer um ia lá e mudavam-nas. INQ Ah! INF Não andavam à solta (...) como um rancho de cabras, um rancho de ovelhas. E (...) a gente não, a gente não; a gente sempre tiveram ovelhas mas era sem amarrá-las! INQ Ah, e se fosse, por exemplo, um pastor com?... INF Ah, o pastor, isso ele cuida nas ovelhas à solta, não é? Como um cabreiro... INQ Quando um cabreiro está ali com, com as ovelhas, o que é que a gente diz que ele está fazendo? Ele está?... O que é que ele está?... Ele está guardando? Ele está?... INF Ele está só tomando conta delas. Por exemplo, pode por causa dos cães, não é? Porque as ovelhas ou as cabras, quando se ajuntarem ajuntaram , elas param em qualquer parte, quando começarem a comer, elas estão todas juntas. E o dono está ali só para cuidar delas, (...) para os cães não fazer mal a elas (...) e trazê-las à noite para o curral, (...) para as ordenhar, em certos lugares. INQ É isso. E, e quando, por exemplo, as ovelhas ou as cabras estão a comer, estão comendo, o que é que a gente diz que elas estão a fazendo? O que é que elas estão a fazer? Elas estão?... INF Elas estão pastando. Estão comendo. INQ Estão pastando. INF Exactamente. Estão pastando.
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INQ E ele antigamente onde é que se juntavam as ovelhas para fazer?... INF Não senhor. O leite... Ah! (...) Para a tosquia? INQ Sim. Para a tosquia. INF A gente, o meu pai, e eu, eu sempre me lembra que os que tinham ovelhas - eu ainda tenho aqui uma tesoura que era para fazer esse (...) ... Se quiser ver, eu posso ir lá mostrar. (...) Já não corta, mas era com aquilo que a gente cortavam a lã da ovelha. O senhor vai-me dar licença que eu vou buscá-la. Corte na gravação INF A tesoura que a gente se tosquiavam as ovelhas! A gente trazíamos aqui para baixo, depois a gente peavam-nas, as mãos e os pés, para elas estarem quietinhas, a gente pegavam-lhe pela cabeça, começavam pela cabeça, e iam, iam, iam, e iam cortando em toda a volta, e a lã ia enrolando de volta do corpo da ovelha... (...) Era com essa tesoura que se cortava a lã da ovelha. INQ Hoje em dia já ninguém faz isso, não é? INF Já agora não senhor. Agora têm máquinas preparadas que é como um 'mochim'. (...) É electricidade. Ligam aquilo, é diferente. É. Mas no tempo era com isso. INQ Sim. Sim. Sim. E, portanto, onde, onde é que se?... Onde é que se juntavam as ovelhas para, para tosquiar? INF A gente traziam-nas para casa. INQ Sim. INF (...) O meu pai trazia, quando era (...) ... Que a gente tosquiavam as ovelhas (...) duas vezes no ano - duas ou três vezes, parece-me. Não tenho bem a certeza, mas duas (...) era firme. Duas no ano. Porque se não se tosquiava as ovelhas a tempo e a hora, elas ficavam tomadas e morriam. INQ Ah! INF Ele morriam com a lã de ovelha porque era muito quente nelas. A gente tínhamo-las que tosquiar nas épocas próprias (...) para elas não morrerem, não é? INQ Sim. Não se juntava num, num sítio para?... INF Não senhor. (...) A gente traziam as nossas era (...) para casa, (...) e em casa, não era dentro em casa, era num..., atrás, ou num pátio assim como há aí. INQ Sim. INF A gente, por exemplo, se fosse nesse tempo, era aí fora que se tosquiava as ovelhas. INQ Pois. e não se guardava num curral, não se fazia isso num curral? INF Quem tinha, isto é, curral... Aqui, em Ponta Garça, eu nunca vi ovelhas acurraladas. Isso cabras, sim senhor. Ovelhas, quem as tinha era amarradas como eu já disse ao senhor. Era ele nos campos. Ele andavam sempre mais acauteladas, então, mais perto de casa por causa dos cães. Porque os cães degolavam muitas ovelhas! Chupavam o sangue e deixavam-nas mortas. INQ Sim. Pronto. Mas usa-se o curral aqui? Há?... INF Ah! Há. Hoje já não se usa curral; usava-se curral (...) para vacas - para as vacas! INQ Sim. INF E os cabreiros, para as cabras! INQ Sim. INF E algum que tinha alguma ovelha, de repente caldeada com a cabra, também vinha para o curral, não é? INQ Pois. INF Porque, às vezes, um cabreiro tem uma ovelha ou duas, não é, e vão, e vinham caldeadas. Hoje já não há cabreiros aqui também! INQ Ah! Mas antigamente havia muitos? INF Havia muitos, muitos cabreiros! (...) E essas pessoas que tinham ovelhas, como o meu pai e mais pessoas aí para cima, (...) não as traziam para o curral. Andavam sempre mais perto e ao jeito da gente, não é, ao de casa, não é, nesses bocadinhos mais perto de casa, por causa dos cães... INQ Sim. E... Mas quando se guardavam as ovelhas lá em cima no mato, não se usava um abrigo qualquer para as ovelhas se?... INF Isso as ovelhas não precisam de abrigo. (...) Nunca precisaram muito de abrigo porque elas por si se abrigam! A ovelha quando está coberta de lã, ela não acha frio nenhum. INQ Sim. INF Que até o que se costuma-se a dizer... A gente aqui usam... Uma pessoa, às vezes, o tempo está norte, não é, e o (...) norte, ela , de cima, fica abrigada rente a uma barreira, não é verdade? Mas a ovelha, às vezes, procurava contra e a gente diziam assim: "Oh! Tu estás como as ovelhas: tu procuras contra o tempo"! A ovelha no tempo que estava norte e ela aí é que fugia ali para baixo! INQ Ah! Sim, sim. INF Não sei se o senhor está compreendendo? INQ Sim, é isso. INF O norte abriga de cima, não é, e elas (...) não se abrigavam. Elas estavam cheias de lã, não é, não sentiam frio. Era andar para baixo, contra o tempo! INQ Sim.
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INQ E an-... E antigamente, antes de existir o coalho, usava-se outra coisa para fazer o queijo... INF Os cabreiros usavam... Ou quando nascia um cabritinho pequenininho, tiravam o bucho daquele cabritinho e dali é que faziam o coalho (...) para fazer os queijos. INQ Ah! E dava-se algum nome a isso, a isso? INF É. Isso tem nome. Eu vou ver se me recorda. Isto tem nome: (...) é o bichinho (...) , um bichinho... INQ É difícil lembrar-se o coiso... INF Pois, isso tem... (...) Eu, se eu penso num... Mas agora não me vem à ideia. INQ Rhum. Mas não é?... Não se chamava isso, não era o coalho, ou era? INF Não. Coalho era... Desse bichinho é que se fazia o... Aquilo é: antes (...) tiravam aquele bichinho... INQ Mas dava-se um nome, um nome... INF Um nome. Exactamente, dava-se, sim senhor. INQ Não era a palavra coalheira, não? INF Ele a gente davam outro nome aquilo. Não me recordo.