SRP01
INF Pois, estive na Suíça. INQ1 Durante quanto tempo? INF (...) Fui lá (...) oito anos, lá. INQ1 Mas era só... INF Só trabalhar trabalhei por épocas (...) de cinco, seis meses. Depois regressava novamente a Portugal. INQ1 E cá em Portugal, trabalhou?... Já trabalhou num sítio sem ser este aqui? INF Tenho trabalhado aqui nas voltas de Serpa e já trabalhei em Lisboa também lá (...) numas obras. INQ1 Durante quanto tempo? INF Ainda eu lá trabalhei três meses. Faz nove anos agora (...) para Agosto. Fui para lá no dia seis de Agosto e depois vim (...) em Outubro, nos fins de Outubro. O mais tenho trabalhado sempre aqui às voltas de Serpa. INQ2 Olhe, mas quando esteve na Suíça o que é que falava? INF (...) INQ2 Que língua falava? INF Eles ali no cantão donde estive - que chamam lá, chamam-lhe um cantão; a gente aqui é um concelho, eles lá chamam-lhe um cantão - em alemão. INQ2 E sabe?... Mas não sabe falar alemão? INF Oh, isso alemão, isso não é nada. Isso um homem, mais ou menos, ajeita-se é lidando com eles. Um fulano apanha aquela..., mais ou menos, aquelas palavras. Mas dito! Agora, por ideias como eles, um homem não é capaz. Agora a gente, com a habituação de lidar com eles, ajeita-se, mais ou menos, àquilo que eles dizem; a gente começa a aprender... INQ2 E há lá muitos portugueses? INF Portugueses, havia muitos. Porque é um país que emigram à volta (...) de cinco mil portugueses para lá. INQ2 E o senhor... estava mais no meio dos portugueses ou mais no meio dos?... INF Não. Por acaso, dentro (...) de duas épocas não cheguei a avistar português nenhum. E depois é que calhei a avistar dois portugueses. E passado três épocas a seguir é que trabalhei junto com três portugueses. INQ1 Donde é que eram esses portugueses com quem trabalhou? INF (...) Os outros três portugueses eram do Algarve. Pertenciam (...) a este concelho do Algarve. INQ1 E ainda sabe?... Ainda sabe palavras de alemão? INF Não. Palavras de alemão, isso não é mui difícil um fulano procurar assim uma ideia. INQ1 Já não se lembra? INF Pois. INQ2 Como é que se diz bom dia, em alemão? INF Eles lá bom dia, ele é em alemão é "guten tag", "guten tag". (...) INQ2 E senhor, como é que se diz? Senhor, quando se fala? INF Senhor? INQ1 Como é que falava com o patrão? INF Eles lá com o patrão é a "tu". Eles aplicam a palavra toda: "tu"! - "du frau" ou "fraulein", (...) que é rapariga nova; se for "frau", já é (...) uma mulher casada; e se for homem, é um (.../N) . Pois. Se for pequeno, é um (.../N) . Aquilo (...) de povo para povo, mais ou menos, lá, têm as mesmas diferenças que nós temos cá. Eu encontrei as mesmas diferenças porque estive (...) em vários povos - ouviu? - e encontrava as mesmas diferenças que nós temos cá no nosso país, assim eu encontrava lá. INQ2 Se calhar até mais diferenças... INF Ou talvez mais diferenças. Pois. Porque (...) o país, a Suíça principalmente, fala setenta e cinco alemão e vinte e cinco é em jugoslavos, é em italiano, é em espanhol, é em 'austriano', é em francês. (...) A diferença que dá! Ainda (...) muito mais difícil (...) do que à gente! Porque a gente, mais ou menos, é uma pronúncia só. A diferença que temos é, de terra para terra, o mesmo artigo, (...) mudarmos-lhe o nome. E eles lá não. E eles lá têm (...) um idioma muito diferente. INQ1 Olhe, e como é que cá, as pessoas de cá chamam à, à terra? INF À terra, a gente aqui é o terreno. INQ1 Não. Mas à, à vila? INF Ah, à vila? É Serpa. INQ1 É Serpa que se diz? INF Pois, Serpa. INQ1 E o habitante? Como é que se chama à pessoa que vive cá? INF (...) A gente aqui, o habitante, é os habitantes de Serpa. INQ1 Como é que se chamam? INF Ou sejam filhos de Serpa. INQ1 Não dizem numa palavra só? INF Pois, pois. INQ1 Serpense, ou?... INF Bom, Serpa, serpense. Isso é (...) a palavra (...) do escrito. INQ1 Pois. INF Mas a gente diz: "Olha, sou de Serpa". Pois. "Olha, (...) são os filhos de Serpa" - propriamente a palavra que a gente aplica. INQ1 E para as mulheres? INF E para as mulheres, são as mulheres filhas de Serpa. A gente já não tem essa habituação de "senhora" a uma mulher. INQ1 Pois. INF Habituação de "mulher". INQ1 Olhe e, e à maneira de falar cá de Serpa dão, dão algum nome? INF O nome? O nome, mais ou menos, é o processo (...) em que eu mostro. Agora já se encontra aí, vá, às vezes, diferenças porque já há aí muito pessoal de vários sítios... É os que se acham mal num lado, é os que se acham mal noutro e voltam e aos depois (...) lá trazem as suas criações diferentes. Pois. Mas geralmente com a habituação daqui (...) dos filhos próprios da terra, mais ou menos, é tudo com a habituação em que eu falo. INQ1 Pois, mas não dão um nome a essa maneira de falar? INF Pois não! INQ1 Mas, olhe... Conhece ali os de Barrancos? INF Não. Os de Barrancos não conheço. INQ1 Mas já tem ouvido falar? INF Tenho ouvido falar. Esses já falam assim uma coisa meio espanhol. INQ1 Como é que chama a essa fala? INF É o 'barraquense'. INQ1 Então e outras coisas... Não há aqui outras terras aqui ao pé que também... dão assim o nome, da maneira de falar? INF Aqui ao pé só (...) aqui a Aldeia Nova. INQ1 Como é que chama à maneira de falar da Aldeia Nova? INF "E então que como vai"? INQ1 E quais é que são as terras aqui ao pé que falam mais diferente de Serpa? INF Assim mais diferente de Serpa, que eu encontro mais diferença, INQ1 Aqui ao pé. INF aqui próximo, é assim Pias. Tem assim um bocadinho a mais de diferença. INQ1 Qual é, qual é que é a diferença que nota? INF É (...) uma pronúncia assim um bocado mais descansada. INQ1 Falam mais devagar? INF Falam mais devagar. Pois. (...) A pronúncia, mais ou menos é o mesmo; o que eles dão é uma pronúncia (...) mais descansada do que é a a gente aqui. INQ2 Olhe, e as pessoas de Baleizão falam como as de cá? INF Não. Esses já é diferente. INQ2 Como é? INF Já o de Baleizão: "E como é que vai"? Pois. "E que é que tu fazes ? Onde é que tu vais"?, "Ó nina, onde vais agora"? E esses já é os mais rápidos. Esses já 'repitam' a pronúncia mais rápido. E dão... INQ2 Então e os de Beja? INF E dão assim aquela estacada. Olhe, os de Beja, quer que lhe diga, há aí muitos, (...) nem têm quase a pronúncia como a nossa aqui, é mais descansada. Pois. Já o Baleizão ali, aquilo (...) é uma pancada dada assim de pedrada, a maneira (...) de eles falar. INQ1 E então aqui os de?... Aqui destas terras de ao pé: de São Brás, de Santa Iria?... INF Como isto aqui, Santa Iria, mais ou menos, é o mesmo. INQ1 E os de Brinches? INF E o Brinches, olhe, Brinches é a coisa que se compara aqui melhor. INQ1 Ai é? INF Pois. INQ1 E os da Aldeia Nova, já disse que era diferente... INF Pois, diferente. INQ1 Pois. E os de Vila Verde? INF Os de (...) Vila Verde de Ficalho? INQ1 Vale de Vargo, essa gente aí como é que fala? INF Esses, mais ou menos, não sou capaz assim de pronunciar a maneira (...) da palavra deles. Isso o homem só apanha aquilo bem, às vezes, quando está assim a trabalhar com eles é que vem e é capaz (...) de arremedar (...) na altura. Depois, passa. INQ1 Mas falam de maneira diferente daqui? INF Oh, é diferente, um bocadinho diferente, sim senhor. Lá diferente falam. INQ1 E acha que as pessoas aqui de Serpa falam de uma maneira diferente dos outros, ou não? INF (...) A gente daqui acha-se diferença, porque, quando se entra aí em qualquer casa ou numa rua, se se ouvir falar, a gente diz logo: "Este, por o falar, de Serpa não é"! E parte das vezes não sabe a terra que é, mas (...) a gente diz logo: "De Serpa não é"! "Só se daqui em volta"! O que se conhece (...) melhor, que a gente sabe logo donde ele é, é se for de Baleizão. Do povo de Baleizão, se estiver aqui um baleizoeiro falando aí diante de qualquer, e depois a gente for a passar por uma rua, diz: "Aquele tipo é de Baleizão"; ou "Aquela senhora é de Baleizão". E já se for de qualquer das outras aldeias aqui em volta, o fulano diz: "De Serpa não é"; mas qual é a aldeia, (...) não é muito bom de se conhecer.
SRP02
INQ1 Olhe, e às vezes no Inverno aparece assim uma... Quando o céu está limpo, aparece assim uma claridade, com muita luz... INF Aquele raio, aquilo a gente chama-lhe o circo, ou seja ao sol ou seja à lua, que aparece tanto uma coisa como outra. A gente chama-lhe: "A lua hoje leva circo"; ou: "O sol leva circo". INQ1 Olhe, e o circo da lua costuma servir para, para quê? As pessoas sabem?... INF Aquilo, mais ou menos, é uma experiência que a gente tem que em é ela levando circo, temos tendência de ser mudança de tempo, ou para frio ou para chuva. INQ1 Olhe, e quando é, quando é na lua cheia, há uma luz assim. Como é que se chama a luz, que a lua deita, que a lua deita? INF A luz? INQ1 Da lua. INF A lua? É (...) uma claridade. Quando está menos descoberta, é os raios que ela tem lá dentro. INQ1 Como é que se chama? INF É os raios-planetas. INQ1 Está bem. Mas como é que se chama essa luz? Hoje está um grande?... INF Está uma grande luz. INQ1 Não dizem doutra maneira? INF Não. O que é a gente diz assim: " (...) Hoje está uma grande lua"! INQ1 Não dizem luar? INF Não. A gente aplica é "uma grande lua". Pois. "Porquê"? E uma a outra pessoa pode dizer: "Porquê? Porque se vê bem, não vês? Sai a gente à rua de noite, parece que estamos no pino do dia"! INQ1 Olhe, e, e também se vêem outras coisas, não é? INF Há outras coisas que são as estrelas. INQ1 Uma só é uma?... INF Uma estrela. INQ1 Olhe, e uma estrela que aparece assim antes de, da... INF Da manhã? INQ1 Pois. INF Da manhã, chama-lhe a gente o planeta-da-manhã. INQ2 Chamam-lhe mesmo o planeta ou a estrela? INF O planeta-da-manhã. Aqui Que a gente, (...) uns é "o planeta-da-manhã" e outros costumam a dizer: "É a estrela-da-manhã"! Pois. INQ1 E, e há uma que aparece logo depois de o, de o sol desaparecer. Como é que se chama? INF Esse é a do luar. É a do luar. INQ1 Não. Mas uma estrela que aparece... INF Depois de o sol se pôr? INQ1 Do outro lado. INF Do outro lado, é 'pôr-do-ar-de-dia'. INQ1 Essa estrela como é que se chama? INF Essa estrela (...) chama-lhe a gente a 'estrela-do-pôr-do-ar-de-dia'. Pois. INQ2 ... INF Porque (...) desaparece (...) o clarão, desaparece a estrela. INQ1 E essa estrela da manhã não chamam outra, doutra maneira qualquer? Estrela-boieira, ou outro nome assim? INF Bom, isso quem tem esse hábito de chamar a estrela-boieira é propriamente quem lida com esses gados, que aquilo era um relógio que eles tinham. Que ela nasce ali às quatro horas da manhã, regulavam-se (...) quando não havia relógios. Saíam à rua, se o ar estava limpo e se ela já vinha fora, diziam : "Já cá está a estrela-boieira, que são horas de dar de comer aos bois". É essa a razão que esses se regulavam por essa estrela. Mas era (...) essa gente que tinha de dar de comer aos animais porque depois às seis horas tinham que sair (...) para o trabalho e já ele os animais tinham que ir comidos. Darem aquelas rações. INQ1 Olhe. Pois. E há umas estrelas que aparecem... sempre todas juntas, umas ao pé das outras, não há? INF Há. (...) Essas miudinhas (...) que se chama a gente: "é o sete-estrelas". INQ2 É o?... INF O sete-estrelas. INQ1 E há uma que são três estrelas que também costumam aparecer ao pé umas das outras? INF (...) É o lobo... INQ1 São três? INF São três. É o lobo, é o cão e atrás o cabreiro. Pois. Que o lobo vai às cabras e depois o cabreiro 'açodia' o cão ao lobo, e atrás vai o cabreiro fugindo. INQ1 Fugindo atrás do lobo? INF (...) Fugindo atrás do cão, porque o cão vai à frente (...) do cabreiro, e fugindo atrás do lobo. INQ1 Para ver se o agarra? INF Para ver se o agarra. INQ1 Então não é, não é a fugir com medo dele? INF Pois não. Vai a correr sempre para que o lobo não alcance as cabras que lhe dê fim delas. INQ1 Portanto, cada estrela tem seu nome? INF (...) Cada uma tem o seu nome. INQ2 E as?... E as três todas juntas como se chamam? INF As três todas juntas, não sei, porque é uma das coisas que a gente nunca as chega a ver as três juntas. A gente vê-as sempre, por uma vida inteira, sempre com o mesmo 'despaço'. Vê-as sempre com aquele 'despaço', nem as vê mais perto, nem as vê mais longe. INQ1 Pois. INF Vê-se sempre com o mesmo 'despaço'. INQ1 Olhe, e assim nas noites de claridade no Verão costuma aparecer uma, uma coisa que vai de lado a lado do céu, assim branca?... INF Uns raios? INQ1 Não. São muitas estrelas juntas, é assim parece leite, tudo branco... São caminhos. INF (...) Um caminho. É. Chama-lhe a gente a estrada-de-Santiago. INQ2 De?... INF Estrada-de-Santiago. INQ1 Olhe, e, e depois há outra coisa que é uma estrela que as pessoas se servem para se orientar. Sabe como é que se chama? INF Chama-lhe a gente (...) a estrela-do-marinheiro. É a guia do marinheiro. INQ1 Diga. INF (...) Quando deixar de ver aquela estrela, também (...) ele deixa-se de regular no mar. INQ1 E como é que?... O que é que aquela estrela indica? INF Do norte ao sul. INQ1 Do norte ao?... INF Ao sul. INQ1 E o sítio de, donde o sol nasce como é que se chama? INF A gente chama-lhe o nascente. INQ2 O? INF O nascente. O nascente. INQ1 Diga lá outra vez, faz favor. INF A gente lhe chama o nascente!
SRP03
INQ1 E, e depois quando a água fica, fica coalhada, como é que se lhe chama? Já não se chama água, pois não? INF Não. (...) Dês que fica coalhada, a gente chama-lhe gelo. INQ1 E quando aparece assim?... INQ2 Chamam-lhe o quê? INF Gelo. INQ1 Nos tanques e na, na, por cima das folhas ... INF Isso chama-lhe a gente coalhada. INQ1 Como é que se chamam esses bocados de gelo? INF Esses bocados, chama-lhe a gente: "É um bocado de gelo" - água coalhada. INQ1 Não lhe chamam doutra maneira? INF Não. INQ1 Caramelo? INF Ou que seja (...) isso, o caramelo. Mas a gente diz é (...) : "Um bocado de gelo" - seja ele um bocado de caramelo. Isto tanto (...) se aplica duma maneira como se aplica doutra. Pois. Qualquer das maneiras que uma pessoa diga para outra, percebe o que é, o que quer dizer aquilo - (...) que seja "um bocado de caramelo", como seja "a água está coalhada". INQ1 Pois. E olhe, e quando cai assim uma coisa branca, que tapa o chão e que fica assim... INF (...) Isso é a chuva de neve. Pois. INQ1 Olhe, e a chuva vem aos pingos, não é? INF Aos pingos. INQ1 Pois. E, e a neve como é que vem? Já alguma vez viu neve? INF Já. Por acaso, já caiu aqui na nossa região por duas vezes. Foi só a única vez ainda que se conheceu aqui, porque aqui para este margem não dá. Foi duma vez em 45, e parece-me que foi depois (...) em 53 que caiu aqui neve. Andava a trabalhar no campo - até (...) na limpeza do alvoredo. Uma foi no dia quinze de Fevereiro e outra parece-me que foi (...) a vinte de Janeiro, se (...) não estou em erro. INQ2 Olhe, e como é que ela caía? Como é que?... INF (...) Primeiramente começou a cair em coisa pouca aquelas pastinhas. Parecia pastinhas de algodão. Aquela coisa pouca, aquela coisa pouca, e volta e meia a 'rajar' mais e a 'rajar', até que chegou a pontos... Tapou-se tudo. A gente já deixava de ver os terrenos, de se vermos uns aos outros, já começou a cair aqueles 'trojões' grandes já eles diziam: "Tal não é os 'trojões' de neve que já cai"! Pareciam pastas de algodão, já quase tamanho da mão de um homem! É que eles Aquilo a ficarem ligados um ao outro, um homem chega a pontos que o campo põe-se tudo direito. Não se sabe por onde é que um homem há-de passar e as ruas não se conhecia nada. INQ1 Por exemplo, quando se cai diz que?... INF Está a chover neve. INQ1 Não se diz doutra maneira? Caiu um grande?... INF Nevoeiro. Pois. INQ1 Não é, não é nevão? INF Não. A gente, pois , "neve". "Choveu muita neve". "Ele choveu muita neve". "Os terrenos estão tapados de neve". Pois.
SRP04
INQ1 Olhe, então e quando o barranco seca, depois ficam assim uns sítios onde fica a água durante o ano inteiro? Na ribeira, também... INF Sim. Pois há. Sim, há. Pois. (...) Há sítios que se aguenta. INQ1 Como é que se chama isso? INF A gente chama aquilo um pego. INQ1 E como é que se chama à parte mais funda do pego? INF A gente onde chega à desciam à parte mais funda do pego, (...) a gente diz assim: "Aqui para este lado tem maior profundidade". Pois. INQ1 Não lhe chamam cachafundão? INF Isso, o cachafundão, chama a gente a um sítio onde a água faz qualquer caracol, que trabalha assim por aspiração do ar, é que a gente diz assim: "Tal é aquele cachafundão que além está que além ele até faz caracol". INQ1 Olhe e o sítio onde se pode passar do, um rio dum lado ao outro, sem ponte nem pedras?... INF Sem ponte nem pedra, chamamos-lhe a gente um vau seco. INQ1 Um?... INF Um vau seco. INQ2 Um quê? INF Vau. Que temos aqui um, (...) aqui bem próximo de nós. Que é INQ1 Do Guadiana? INF do Guadiana; e até em todas as estações do Verão se passa. Quase que um homem que não nem é preciso tampouco descalçar-se. Que é mesmo o terreno ali que sobe. INQ1 Pois. INF Ela pode levar muita água, mas naquele sítio, quando vem aí de Agosto, Setembro, passa-se ali perfeitamente. Porque é mesmo o terreno que é alto. INQ2 E que sítio é esse? Como é que se chama? INF Isso fica aí em baixo. Fica assim Fica-se num sítio, onde se junta (...) a uma propriedade que chama-se a cascalheira. Aquilo ali é o sítio (...) adonde se passa. Noutro tempo, quando havia contrabandistas, aí é que era a passagem deles para aquele lado, para Beja. Em vindo o Verão, ali é que era a passagem deles. INQ1 Já não há contrabandistas? INF Isso acabou. INQ2 Como é que é? Cascalheira? INF Cascalheira. Uma propriedade duma cascalheira que é donde está o vau. Que (...) até o nome do vau que está registado que o povo o conhece é por o Vau da Crespa. Pois. INQ1 E já não há contrabandistas, já desapareceram? INF Isso desapareceu. INQ1 E há quanto tempo? INF Isso pode haver (...) aí questão duns dez, quinze anos que isso... Isso desapareceu, essa coisa. INQ2 Ah! Tenho impressão que não. INQ1 Ainda há. INQ2 Ainda não desapareceu. Ainda há uns ciganos, ainda fazem... INF Bom, isso já fazem faz ! Mas, quer dizer, já não é uma das coisas (...) como faziam dantes. Pois. INQ1 Donde é que eram os contrabandistas? Eram daqui dalguma terra ao pé? INF Eram de qualquer terra. Isso aí ... INQ1 Não havia aí nenhuma terra que tivesse muitos, não? INF Não, não. Isso qualquer um, porque as dificuldades da vida eram más e então iam à Espanha a ver (...) se traziam um açúcar, ou um café, ou um toucinho... INQ1 Mas era as pessoas que traziam para elas próprias ou era para venderem? INF Que traziam (...) para outra pessoa (...) que lhe encomendava. Pois. Que havia dificuldades no governo de vida e iam . Mas agora não. Porque (...) não faziam ligações. Agora, agora já não faz falta: o que há num país há noutro. E se as coisas faltam, os governos mandam vir dum lado para o outro, tudo aos mesmos preços. Já não vale a pena qualquer arriscar-se a uma coisa dessas tão grandes como se eles arriscavam (...) .
SRP05
INQ Olhe, e um talhão, o que é um talhão? INF Um talhão, costuma a gente a dizer um talhão de terra, chama-lhe a gente (...) uma terra que fica (...) para obrar, para cultivar. Tanto pode ser para (...) ... O talhão pode ser (...) para batata, como pode ser para semear novamente de hortaliça no outro ano a seguir (...) de várias qualidades. Porque a gente está a trabalhar numa horta, diz assim: "Olha, (...) arranja-se aquele talhão daquela terra". E o patrão pode dizer... E a gente pode dizer assim: "Ó patrão, então e aquilo será para semear o quê"? "Deixar ver! Vamos arranjar aquele talhão e quando aquele talhão estiver arranjado, aos depois logo se vê o que é que a gente havemos de semear. Esperamos a época". Que depois lá vêm as épocas, que depois vão a ver às vezes aquilo que mais pode produzir. Os valores! E depois lá vêem os jornais: "Ah, na época tal, se criar esta hortaliça, produzo mais. Se criar a outra, pode produzir menos"...
SRP06
INQ Olhe, e o terreno que não é cultivado?... INF E o terreno que (...) não é cultivado... INQ Como é que se chama? Assim, um terreno aí... INF (...) Que não é cultivado, chama-se um terreno inculto. (...) A gente diz assim : "Tal é o terreno daquele inculto que se está além abandonado"! INQ E o terreno que serve para pastar? INF Para abandonar, diz: "Aquilo que está além, se fosse"... Se tiver mata, diz a gente assim: "Se aquele mato fosse corto, aquele terreno produzia boas qualidades de pastagem... Que belo gado que se criava ali"! INQ Olhe, então as folhas são divididas, não é, conforme coiso? INF Sim. INQ E há uma, há umas que ficam uns anos sem ser cultivadas. INF Há umas que ficam. INQ Como é que se chamam? Diz-se que está?... INF (...) Sem ser cultivadas, é pastagens para gados que se diz. INQ Diz que está de quê? INF Pois. (...) Pastagens para gados. INQ Não, mas... As folhas ficam de?... INF Divididas, uma de descanso. A gente diz: "Esta fica de descanso". INQ Diga. INF Descanso. Aqui depois há a do descanso, que o patrão chega, vai, ou vai o feitor - que se chama ao o encarregado geral duma casa - ouviu?... INQ Pois. Já lá vamos então. INF Pois. (...) E diz assim: "Olha, esta fica de descanso, que é para pastagem para o gado". E para a nova Primavera a seguir, depois (...) de os prados - que propriamente, a gente, pastagem, coiso, mas o prado, que é o nome verdadeiro da gente , quando chegar ao prado..., - depois de o prado comido dos animais, é encharruado, para apanhar o Verão inteiro aquele sol - a terra que está em baixo apanhar o sol, que é essa que vai dar depois a seara no outro ano a seguir. INQ Olhe, e... Estar de descanso ou estar de pousio é a mesma coisa? INF É igual. É a mesma coisa. INQ Como é que cá dizem mais? INF Suponhamos, se estiver de descanso (...) , e até pode ficar de descanso um ano, dois, o primeiro ano, a gente chama-lhe a relva. Se passar (...) do segundo ano para a frente, já passa a ao pousio. E já pode ser pousio uma vida inteira que assim esteja, que é sempre aquele nome, (...) já se não passa. Calhou a altura, passado três, quatro anos, foi lavrada, para ser produzida, a gente diz assim: "Olha, aquela terra já foi cultivada". Porque já levou um fabrico para ser... Embora nunca seja cultivada mais, INQ Pois. INF para dar produto, mas já mudou o nome: "Aquela terra vai ser cultivada". INQ Olhe...
SRP07
INF Quer dizer, (...) ou vou para a mata fazer uma roça... INQ1 E diz-me o quê? Eu não conheço essa. INQ2 Sem ser por "fazer". INF Pois. INQ2 Não pode dizer: "Vou roçar"? INF Pois. "Vou roçar", não. "Vou fazer uma roça". INQ2 Não diz: "Vou roçar"? INF (...) Porque a gente diz também: "Vou roçar". E o outro pode dizer assim, a outra pessoa pode dizer assim: "Então vai roçar o quê"? Porque roçar há de muitas maneiras: há roçar a erva, há roçar o mato, há roçar uma mata (...) de pinho (...) que está muito basta - não é assim? - que pode ser aliviada, e é por essa a razão. E assim, uma roça já sabe que é só mato completamente bravo, mato que não produz. E se for para uma roça, como a gente tem este coiso, já pode ser uma mata (...) que costuma-se a plantar a mata semeada de almástica, mata de eucalipto, de pinheiro, do sobro, da cortiça. E dá o caso, a gente ver que é demais, o patrão vê que é demais, para não estar a gastar mais ordenados, semeia ao moitão. E depois faz o seguinte: aquilo é marcado com umas canas, ou sejam uns paus tanchados mais altos (...) com coisas, depois (...) diz (...) para aquela pessoa: "Olhe, está a ver? Pegas (...) nesta fouce" - chama-lhe a gente uma fouce, ou uma gadanha, com um cabo -, "olha, agora vais gadanhando isto" - quando está mais ou menos desta altura -, "vais gadanhando e vais deixando um aqui, outro aqui e outro aqui". Quer dizer, aquilo depois é puxado, é posto em moitão, aquilo secou. Depois de secar, eles chegam, passou-se-lhe com uma máquina por cima e aquilo (...) estrançou. Se não querem assim, o que é que faz? Quando aquilo está seco, puxa-se para um lar onde o lume não chegue, dá-se-lhe fogo, e aquela cinza é espalhada para o pé (...) da planta. E a terra é cavada, novamente afofada, para a planta avivar.
SRP08
INQ1 Então e no, e no alqueve? Passam só uma vez com o, com o arado? INF Passa-se. (...) INQ1 Ou com a charrua? INF Não. (...) No alqueve só se passa apenas uma vez. Quer dizer, passa uma vez para fazer o risco. Hum? E depois já se sabe que tem que ir fazendo com travesso para tapar. INQ1 Como é que se chama a isso? INF A semeação. Pois. Que é a semeação (...) de mão, de semear a semente - ouviu?- e é a outra que andamos lavrando, ali. Mas é que a gente já não diz assim: "Andamos lavrando". (...) Só se chama o lavrar quando é voltar a terra e não está lá semente. E se anda semeando, diz assim: "Então (...) onde é que tens a tua lavoura"? "Olha, a lavoura é em tal parte". "Que andam fazendo"? "Andam semeando". Diz-se: "Andam semeando". "E quantos arados trazes lá? Quantos arados trazes"? E o outro é assim: "Tenho lá cinco arados semeando". "Quando é que acabas"? "Acabamos sábado". Pois. INQ1 Olhe... INF Aquilo é um dito . Já se sabe que a terra... Isto é uma tirinha e a terra tem que voltar aqui e tem que ir sempre encostando. (...) INQ1 ... E isso que abre como é que se chama? INF Um rego. INQ1 Um?... INF Um rego. E a terra que vai ficando a este lado chama-se uma margem. INQ2 A parte que fica para cima, é? INF Para cima, é uma margem. Uma margem. Pois. INQ1 Olhe, e quando... Lavrou com bois, não lavrou? INF Lavrou, sim. INQ1 Às vezes quando, quando o boi... Havia um boi que ia ao rego, não é? INF Há um que vai ao rego . INQ1 Quando o boi saía do rego e ficava assim um bocado de terra por lavrar, como é que se chamava a esse bocado de terra? INF Chama-se os regos . Chamava-lhe a gente àquilo uma loba. INQ1 Uma?... INF Uma loba. INQ1 Depois tinha que voltar atrás porque?... INF Voltar atrás novamente com o animal, tinha que trazer de volta e depois tinha que novamente cortar, passar... (...) Se aquele rego estava feito aqui, ficava este quadradinho - suponhamos que era esta loba -, já o homem tinha que fazer duas vezes, passar aqui para encostar, para fazer a margem seguida. Porque depois atrás vinha o encarregado, que andava a ver, diz assim: "Então, já deixaste além uma loba". Pois - ouviu ? "E a terra está crua"! Que a essa loba chama-se depois a terra crua. Porque a terra crua, a semente ficava ali em cima, vinha a bichareza, comia. E se ficasse com pouca terra em cima, a raiz ficava na terra que estava crua - ouviu? - e a raiz não gerava e a planta não se criava. E depois (...) a seara começava a crescer e ficava assim aquelas manchas na seara, tal e qual como está estas 'nodinhas' aqui nesta mesa. E então, vá, a gente, muitas das vezes, como se calhou, como eu, como outros... Uma pessoa às vezes fica lá: "Ah, está lá longe, passar"! Mas eles vinham vindo, vinham vindo: "Alto lá, pché! Tu é que andaste além! Volta lá atrás! Tens que lá passar"! E eu: "Homessa"! Depois começavam os outros companheiros: "Eh, fulano"!... A zangarem, a dar ferro à gente, para coisa... "Eh, fizeste isso mal feito. Não devias ter feito. Eh, coisa e tal"... A dar aquele ferro à gente, para se zangar . "Eh, outra vez?! Eh"! E logo : "O encarregado viu. O encarregado viu". "Não houvera de ver"! Porque depois, se não vir, mais tarde, representa-se o patrão - a passear a terra, quando vê a seara nascida e tal, vão vendo -, vão a passear a terra com o encarregado, vão passeando, passo a passo, vão passeando... Onde quer que houver esta tal dita loba que fique, que a semente não esteja voltada... Porque a semente caiu em cima deste assento de terra, mas essa dita terra tem que ser toda arrancada ao contrário. Tem de ficar toda em cima. Se cair terra daqui para aqui, e esta terra não ficar voltada assim, a semente não se cria bem. E assim, se a terra está aqui, o tal dito charrueco passou aqui, voltou este rego ao contrário. Se voltou aqui e a semente ficou no mesmo sítio, a semente não foi mexida, a semente ali é conhecida sempre. E eles vão: "Queres ver? Estás a ver? Aqui onde a terra ficou crua"... Eles depois já... Depois (...) já não é nome de loba. Só é nome de loba quando se está lavrando. E depois (...) de se voltar as costas, que eles vão ver, (...) já não se chama loba. Chama-se: "Ora vês! A terra aqui ficou crua! Tanto ficou crua que a semente não se cria; está-se conhecendo"!
SRP09
INQ1 Portanto, quando se vai semear, dantes não havia um?... Tinha que se fazer assim um?... INF A marcação. INQ1 Como é que se chamava? INF (...) Embelgar. (...) Embelgação de terra. INQ1 Portanto era?... E como é que se chamava assim esse, espécie desse corredor... chamava-se?... INF E esse (...) da espécie é uma mão. Uma mão. Pois. INQ1 Portanto, assim... INF (...) As mãos. INQ1 Pois. INF Porque ficava com seis passos, que era a medida por a gente, (...) com o semeador, que deitava a semente. Cada passo, é a mão-cheia de semente e era deitada. E então, chamava-se a gente aquilo um arco. Quer dizer, tinha que atracar os seis passos com dois arcos. A gente amansou o passo, cada um o passo que dá, joga aqui assim, vai nesta posição. Jogou aqui assim a mão e fez isto. Quando deu o outro passo, jogou, deitou o outro arco para aqui. Fez isto e jogou o arco assim. Chama-se isto um arco. É o espalhar da semente. E então a terra tem que ser riscada, que é por para a gente nunca fugir daquela conta. Porque chegava a pontos que perdia o norte e acabava a pôr a semente em cima uma da outra. E assim guiou-se por o meio (...) da dita mão, marcou um arco para a direita, marcou um o arco para a esquerda e assim foi indo. Chegou à ponta, voltou novamente. O mesmo giro. Vai um fazendo esse serviço - que chama-se (...) o semeador - ouviu?... INQ1 Olhe, mas espere lá aí, já me vai dizer... Mas como é que se chamava isso?... INF A isso? (...) É a mão. INQ1 A mão. INF Mete por esta mão adiante e vai semeando a semente. INQ1 Não dizem uma belga? INF Ou que diga, como às vezes é o hábito que a gente se regulava : "Olha, ou meto nessa belga". INQ1 Também diziam? INF Também dizíamos. Ou: "meto nessa belga", ou: "meto nessa mão". Pois. INQ1 Pois. Portanto, deitar a semente na terra é?... INF É semear. Pois. INQ1 Pois. Olhe, se estiver a falar com outra pessoa e diz assim: "Olha, não vais lá... Não vais semear que, que eu, que eu logo"?... INF "Logo semeio". (...) Muita das vezes... INQ2 Como? Torna a... Pode repetir, se faz favor. INF Porque... INQ1 "Que eu logo"?... INF "Que eu logo semeio". Muita das vezes, se acontecia haver muito gado e o próprio homem que andava a semear andava, às vezes, estafado já -, que via-se, às vezes, custoso: quando acabava uma belga, era outro arado a voltar, a voltar, a voltar, e aquilo chegava a pontos estafado - e lá havia uma pessoa sempre - era boa de consciência, e vinha-se a altura do descanso, que aquilo ali, de duas em duas horas, davam vinte minutos para os animais descansarem e a gente fumar um cigarro - e depois lá havia um que andava mais folgado... INQ2 Quer? INF Não, obrigado. Não gasto. Muito agradecido. E lá havia um que sempre andava mais descansado, porque muito diferente é... Em 'mormentes' de dias de chuva, que agora já quase que não se faz isso, assim na enchente , mas como ela era feita aqui há anos... Dias inteiros a chover... Chama-se aquilo um (...) sementeiro, cheio de semente aqui a este ombro, um homem ali de seis, sete horas - ouviu? - (...) era de custar. E lá havia, naqueles vinte minutos que se estava de descanso, lá havia um qualquer, dizia assim : "Pcht, ó fulano, saia para cá aí o sementeiro". Que se chamava aquilo um sementeiro. "Descansa lá tu aí um bocadinho que eu agora vou eu semear. Então, vou eu semear". Lá ia ele, adiantava ali três, quatro, cinco belgas, depois, pronto, agarrava-se ao arado, ia a lavrar, e o outro ia novamente com aquilo... Já o outro ia um bocadinho mais descansado. INQ1 Olhe, e as belgas eram marcadas com quê? INF As belgas? As belgas eram marcadas com uns bocadinhos dumas canas, com - suponhamos - com um trapo branco, qualquer um outro papel, diferente de cor (...) da terra, (...) para desenhar. Conforme era... Se a terra era direita... E depois dependia da habilidade de cada um. Porque há aí alguns cá na vila, que conhecemos com essa habilidade, quase que (...) à distância de duzentos metros, ou cem, se a terra fosse direita, punham uma baliza aqui e outra naquela ponta, tinha avondo. E outras pessoas com menos habilidade, já de quarenta em quarenta metros tinham que pôr umas balizazinhas, uma aqui - ouviu? - e outra aqui. Tinham que ir pondo. E depois o fulano vai, naquela posição assim, agarrado ao arado e com esta mão agarrado às arreatas (...) das bestas, ia seguindo. Porque isto era, suponhamos, a canga - chama-se a canga, que está em cima dos animais - e o ponto tinha que ficar aqui assim ao meio. O ponto tinha que bater assim. E a canga do animal tinha que passar por aqui. A gente ia seguindo, puxando o animal com esta coisa e lá ia. (...) Não se olhava para o chão. Porque aquilo era só um risquinho, não importava aquilo ficar mal feito. Aquilo é só um risquinho que é para saber (...) para se mandar a semente à terra. INQ1 Portanto, depois o semeador quando ia, guiava-se pelo risco? INF Por ali, pelo risco . Pois, então. INQ1 Pelo risco, não é? INF Pela do risco. É só já pelo risco. INQ1 Pois. E, e isso era feito com, com o mesmo arado ou era com outro arado? INF O arado é o mesmo. INQ1 É o mesmo. INF Agora havia uma diferença: o que faziam era outro mais pequenino por que favorecerem o animal e aquilo (...) era para andar. INQ1 E esse arado mais pequenino não tinha outro nome? INF Não. (...) O nome era o mesmo. O que é o que podia ser é o seguinte: "Olha, (...) levas o arado de três, ou o arado de quatro, ou o arado de cinco". É a diferença. INQ1 Mesmo quando era com arados de pau chamava-lhe assim? INF (...) Havia diferentes (...) tamanhos. INQ1 Mas chamavam-lhe assim, um, dois, três? INF O um, o dois, três. Porque haviam o arado de dois, o arado de três, o arado de cinco, que era o maior. Daí para a frente passava a uma charrua. (...) INQ1 Mas eram os arados de pau, os antigos? INF Os antigos. (...) E se fora charrueco, era o mesmo lema , tinha mesmo (...) nomeação de (...) aiveca.
SRP10
INF Na semeação de muitos, à hora (...) daqueles descansos que nós tínhamos, (...) aquele que não sabia, dizia assim o encarregado, dizia: "Ó rapaz, anda cá. Pega aqui (...) no sementeiro e vai lá semear, que é para aprenderes, que eu te ensino". Isso era uma das coisas que a gente gostávamos, (...) para aprender. Porque eles depois diziam assim: "Vá que é (...) para seres um homem, porque eu já estou velho e daqui a amanhã morro e depois não acabam-se os mestres de agricultura". Que tínhamos isso muito... Por devoção, aqueles homens de mais idade gostavam sempre (...) de ensinar e diziam muito esta palavra: "Porque senão eu morro e logo é : desaparece. Olha, fulano já é mais velho do que eu , e o outro é mais velho, e logo... (...) Tu tens que aprender. Anda cá"! "Oh, mas eu, fica mal feito, as coisas"... " Vai lá semear. Deixa. Fica mal feito este ano, o ano que aí vem logo fica melhor". E assim nós conseguíamos a aprender com a força de vontade. E aquele que a ideia tinha, que às vezes dependia (...) das ideias de cada um (...) . INQ1 Olhe, e portanto com o sementeiro semeava-se... Dizia-se que era semear? INF Semear. "Semear" como "deitar a semente à terra". "Vou deitar a semente à terra". INQ1 Mas há... Pode-se... Pois, pode-se semear assim ou pode-se semear doutra maneira. Pode-se semear a?... INF Ah! INQ2 Semear as favas... INF (...) Semear a fava é ao rego. INQ1 Como é que isso se chama? INF Isso chama-se semear ao rego. INQ1 E quando é semear assim, diz que é semear?... INF (...) A braçado. É ao braçado. A gente semear semeando assim (...) é semear a braçado. E semear no rego, já era as mulheres que faziam isso. Isso já eram as mulheres.
SRP11
INQ Há terras que, que levam... Há certas, certas ervas, certas plantas que precisam de levar água, não é? INF Água, pois. INQ Pois. E outras que, que se criam mesmo em terra?... INF Em terra quase virgem, sem precisar de água. INQ Pois. Como é que se chama a essa terra? INF A essa terra, a gente diz assim: "Esta terra é muito 'humidosa'! Quase que nem precisava de água"! INQ Não. Mas não é, não é isso. Olhe, por exemplo, o milho. Há um milho que precisa de levar água, outro milho que não precisa de levar água... INF Sim, há o milho de sequeiro, que é o milho miudinho. INQ O milho de?... INF O milho miudinho, que é o milho de sequeiro. Chamam-lhe Chama-lhe a gente o milho de sequeiro. INQ Não. Pois. INF E há outro milho grado, que chamam-lhe chama-lhe a gente o milho de regadio. INQ É isso. INF Que esse tem que levar água forçosamente. INQ Pois. INF Pode a terra ser muito fresca, mas se não levar uma pinguinha de água, vai abaixo, (...) não cria bago. INQ Pois. INF Lança a maçaroca mas não cria bago. INQ Olhe, e, e na terra de regadio tem que se, tem que se fazer o quê? INF Uma terra de regadio tem que ser a terra... INQ A terra tem que ser?... INF A terra tem que ser arranjada (...) aos canteiros lhe chama a gente. E fazer-lhe umas regadeiras-mestre. (...) INQ Isso é tudo é para fazer o quê? É para?... INF (...) Para semear. INQ Não. INF Para o milho, regar. INQ Para?... INF Regar. INQ É para regar ou para fazer a?... INF A sementeira. Porque a terra é arranjada primeiro (...) que seja semeada. INQ Pois.
SRP12
INQ Portanto, mas essas pessoas que têm assim... um poço que tem mais que um dono, como é que se chama? Não, não podem regar todos ao mesmo tempo, não é? INF Pois não. (...) INQ Como é que se chama... a vez de cada um regar? INF A vez de cada um é, suponhamos, como eles dizerem aqui assim: "Ouve lá"!... Dando-se eles bem - que às vezes, aparecem assim e depois aparecem 'arrevidades'. Mas deixemos isso. Dando-se eles bem, diz assim: "Olha lá, a que horas é que tu começas a regar"? "Então porquê"? "Oh! Eu queria começar - suponhamos - de manhã". "Olha lá, também faz jeito. Olha, tenho que ir fazer outro serviço - ou vou picar (...) um feijão que tenho semeado - e depois tu regas na parte da manhã e na parte da tarde rego eu". E eles olham um para o outro: "Olha lá, também está bem, pronto. Fazemos assim". E assim se fica. Um rega na parte da manhã, o outro foi fazer outro serviço e na parte da parte regou o outro, o outro inquilino.
SRP13
INF Tira-se uma licença à hidráulica. (...) Faz-se ali um murozito e aquela água prende-se e depois a água corre. Se puder correr sozinha, corre. Se não tiver, nessa altura é posto ali um motor e a água, com o motor, segue (...) para o serviço adonde faz falta. INQ Olhe, mas... INF Chama-se aquilo uma presa. INQ Pois. E nas hortas costuma haver uma, uma outra coisa, não é?, em vez, em vez de ser... INF (...) Fora de águas? (...) Em água? INQ Pois, assim um... INF (...) Há o coiso a que chama-se uma nora. (...) INQ Não. Pois. Espere, isso é outra coisa. Não. A... INF Há o tanque. É o tanque, que é para juntar a água. INQ Pois. INF Porque, geralmente, nas hortas, sempre fizeram assim. Faziam... (...) Quer dizer, faziam assim quando não havia os motores. INQ Pois. INF Hoje já há motores, já não estão com esse processo. Mas quando não havia motores, buscavam sempre mais ou menos o tanque onde as águas depois saíssem dali sozinhas para regar o terreno todo. Mas agora, como já há motores, já não estão com isso. Fazem (...) - chamam-lhe eles agora - uma pieta em ponto moderno, pequeno - um tanquezito pequeno, que a gente chama-lhe uma pieta -, suponhamos com um metro ou dois quadrado, para aí com um metro de fundo. Esse dito motor lançou lá a mangueira, vai correr por o terreno adiante... As mangueiras (...) plásticas, como há hoje com bastante abundância, para aí, conforme lá cai, assim vai correndo, vai alagando a outra terra, a outra, (...) por adonde faz falta. INQ Olhe, e a água, portanto, está dentro no tanque e sai. Sai por onde? INF Quando sai dali, vai a correr por a terra. Chama-se aquilo uma regadeira-mestra. Pois. INQ E depois da, da regadeira-mestra o que é que sai? INF (...) Entra para as outras. INQ E como é que chamam o?... INF Chamam-se (...) as serventias. Pois. INQ Mas como é que?... INF (...) Que é para dar água às plantas que se estão a criar. INQ Também se chama uma regadeira? INF Uma regadeira à mesma. INQ E as outras mais pequeninas também? INF Uma regadeira à mesma. Com a diferença que a outra mais pequeninas é a regadeira do cantão e as outras são as mestras. São as que vão dando a água (...) para os filhos de lado. INQ Pois. E aquela grande? INF Aquela grande (...) é uma regadeira-real. Pode haver uma regadeira desta sempre em volta desta mesa, (...) INQ Pois. INF que é (...) a horta que está ali, é a regadeira-real. Se a regadeira estiver... INQ Às vezes até é assim de tijolo, não é? INF Pois. Muitas feitas de tijolo; e outras são feitas só no Verão, quando faz falta, só na terra. INQ Pois. INF Abre-se-o Abre-se com uma enxada, o fulano vai puxando dum lado, puxando doutro, depois bateu, bateu, e a água começa a fazer aquele 'lisso' por baixo e 'lisso' por baixo, pronto. Vem-se ao Inverno, INQ Não se diz o rego? INF aquilo desmanchado. Não. Aqui já não é o rego. É sempre uma regadeira. Pois. INQ Pois. Olhe, e portanto, quando se quer mudar a água dum, duma regadeira para outra, o que é que se, o que é que se vai fazer? INF A gente diz assim: "Olha, (...) vais mudar a água (...) para a outra regadeira pequena, ou para a regadeira do meio, (...) ou para a segunda, ou para a regadeira curta"... Porque conforme são depois as distâncias ... É que depois aqueles nomes põe a gente, põe a gente para quando tem outro homem que manda fazer as coisas, para saber, sem ir lá ao pé, (...) a dizer-lhe onde há-de fazer. INQ Pois, pois. INF "Vai lá e mudas para a regadeira pequena, para a regadeira curta, para a regadeira (...) do cantão, lá (...) daquele canteiro (...) do feijão, para o canteiro do milho"... INQ Pois. INF "Para o canteiro (...) da couve, para o canteiro do melão"... E então, é assim aquelas (.../N) para já o fulano que anda a trabalhar por conta desse tipo de patrão, já sabe o que vai fazer, sem o patrão precisar de ir lá ao pé dele. INQ Pois. Olhe, e com que é se, com que é que se muda a água? INF Se muda a água com uma enxada. INQ Não, mas o que é que se põe na, na regadeira?... INF Madeira. (...) Chama-se aquilo uma presa - não vês ? INQ Aquele monte de terra... INF Aquele monte de terra chama-se-lhe uma presa.
SRP14
INQ1 O homem que anda a fazer a aceifa, diz que é um?... INF Um ceifador. O que anda ceifando chama-se um ceifador. INQ1 E uma mulher? INF E uma mulher, o nome, é igual. INQ1 Como é que é? Não se diz?... INF Uma ceifadeira: "Olha, é uma mulher que anda a ceifar". Pois. A diferença, o nome é em fêmea mas substitui e é o mesmo sentido. Pois. INQ1 Olhe, e com o que é que se ceifa? INF Com uma fouce. INQ1 E não, para se... Para proteger os dedos, o que é que?... INF Para se protegerem os dedos, é uns canudos. INQ1 De cana? INF De cana, sim senhor. INQ1 Olhe, e como é que se chama assim a porção de trigo que um, que um ceifador?... INF (...) A porção de trigo chama-se-lhe... INQ1 Que agarra com a mão? INF Que a mão... É a mancheia. INQ2 Olhe, e isso é num, num ceifador, não é? INF Sim senhor. INQ2 Mas uma, uma ceifadeira? INF Ceifadeira, pois, que é o ceifador... Pois claro, ele é uma ceifadeira porque é em fêmea... INQ2 Mas as mulheres, a mancheia das mulheres é mais pequenina? INF Mais pequena, sim. INQ2 Como é que lhe chama? INF Uma mancheia, porque a gente dá-lhe a mesma coisa. O que é que... Tanto que isso se às vezes há homem que faz a mancheia pequena, vai logo o outro, o encarregado que anda atrás ou assim: "Caramba, fazes uma mancheia que parece a mancheia duma mulher, homem! Não admira uma mulher fazer uma mancheia pequena porque tem a chave da mão pequena. Agora tu que tens (...) a chave da mão grande e fazes uma mancheia pequena". Porque eles, as habituações (...) do ensino, era a gente fazer a mancheia grande. Não é: dá-lhe um golpe, põe no chão, dá-lhe outro um golpe, põe no chão. A gente não . O dado do preceito é a gente dar dois golpes, chegam-se os dois golpes, encheu a fouce - ouviu? - e deu o primeiro mantulho. Pega aqui numa coisinha assim, com este dedo - que me ensinaram: "E faz isto" - e prendo-o aqui debaixo deste dedo. (...) E a ponta... O trigo ficou assim um bocadinho assim fora, aqueles bocadinhos que sobraram. Deu outro golpe, deu outro mantulho e depois deu outro golpe, aos três golpes e já não deu mantulho nenhum. Já não se fez mais enrolo nenhum, que a mão não dá. Levou, deu o último golpe e apanhou assim com a fouce; agarrou a semente assim, com a fouce pôs isto. Chegou ali, voltou assim. Não me põe esta parte que está desatada... Não põe, não põe para baixo. Não é o preceito. O preceito é voltar a mão assim ao contrário. A gente com a mão - isto é a espiga - faz assim, zás, voltou ao contrário, porque a manchinha que está desatada, que não está ligada, ficou para cima. Porque há outra... Atrás vem um outro companheiro ceifando, põe ao contrário e aquela... Quer dizer, (...) que as duas manchinhas, dum e doutro, que estão desatadas ficam entremente as duas que estão atadas. Está a perceber? INQ1 Pois, pois. INF Assim é que... INQ2 Também lhe chamam mancheia ou manchinha? INF (...) Pois, sim senhor. INQ2 Não é... Quando as mulheres andam a ceifar não chamam manchinha àquilo que elas apanham? INF Pois. Uma manchinha! Pois. E elas é uma manchinha, porque já se sabe: uma mão, chave da mão pequena. INQ2 Pois. Foi o que nós encontrámos também em Peroguarda, uma senhora que nos disse, que era uma ceifadora... Uma ceifadora, o que ela apanhava era uma manchinha, não era uma mancheia. Mancheia era dos homens. E o senhor Armínio também nos disse a mesma coisa... INF Pois. (...) INQ1 Portanto, a das mulheres chama-se uma manchinha? INF Uma manchinha. Pois. INQ1 E a dos homens? Uma mancheia? INF Uma mancheia. INQ1 Então afinal sempre há... INF Pois. INQ1 Bom! Então e depois como é que se chamam esses montes que se vão fazendo?... INF (...) Esses montes, chama-se (...) o casar (...) da semente. O casamento da semente. INQ1 Mas e depois, e como é que se chama esse monte? É uma?... É, é um?... INF (...) É o casamento da semente, (...) um mantulho de semente. INQ2 Mantulho? INF Mantulho da semente. INQ2 Mantulho. INF Da semente. INQ1 E depois esses, esses mantulhos são, são... INF Aos depois são apanhados e são (...) feitos então num molho. Que ao depois andam homens atrás apanhando. E com duas pernas, duas partes (...) da semente, da parte que está corta, são - a parte das espigas - atadas e com uma parte de cada lado adonde foi corta - ouviu? - é que se mete ali a semente e depois novamente (...) é atada. E ou pode ficar deitada, como pode ficar de pé - ouviu? Chama-se então já um molho. INQ1 Pois. E esses molhos depois são todos juntos, não são? INF E ao depois são todos juntos. INQ1 Como é que se chama? INF Depois de todos juntos, é uma moreia. INQ1 Pois. E, e... Já transcreveste isso? Pois. Um só é um, um molho. E dois? INF E dois, faz dois molhos. INQ1 E?... INQ2 Olhe, e uma gavela o que é? INF (...) Uma gavela? É um molho que está feito, e fica mal feito, e tem uma mancheia de semente que fica fora, está-se quase safando desta parte do atilho que se põe ao meio, e a gente diz assim: "Não vês essa gavela da semente que está aí a safar-se do molho"? INQ2 Ah! INQ1 Está tudo? Uma paveia. E uma paveia? INF Uma paveia? Uma paveia é do grão; ou seja o tal chícharo! INQ1 Pois. INF Se é apanhado assim à mão, que a mulher apanhe, se não é ceifado - ouviu? -, é apanhado e depois forma-se assim em redondo. E isso então é que se chama uma paveia. Como seja a fava que se ceife, também vão ficando em paveia. Mas com a diferença que a fava já, depois, já (...) ... Ceifadas, quando estão já secas, faz-se novamente em molhos também. Depois (...) já deixa de ser paveias para molhos. INQ1 Pois. Então a paveia é assim no chão, em redondo? INF A paveia do grão, o coiso é em redondo. (...) E as favas, chama-se paveia à mesma, mas com a diferença: (...) não se põe em redondo; ficam com o comprimento porque aquilo depois é para ser novamente atada quando está enxuto. Porque a fava é ceifada sempre verde - um bocadinho verde. INQ1 Pois. INF E então primeiramente ficou no chão assim às manchinhas, e depois são as paveias. E depois é que se junta tudo num molho. E o grão não, porque o grão e o chícharo é apanhado completamente seco. Portanto, (...) as mulheres vão apanhando e vai-se logo carregando e vai-se debulhando. E a fava já tem que estar ali um mês ou dois à espera que elas acabem de enxugar, porque, se for atado, apodrece. INQ1 Olhe, e, e com o que é que se atam os molhos do trigo? INF Do trigo? Com a própria semente. INQ1 Como é que se chama? INF Chama-se um atilho. INQ1 Olhe e depois como é que se chama àquilo que fica... Depois duma seara ceifada, o que é que fica? INF Ceifada, chama-se-lhe o restolho.
SRP15
INQ Isto aqui? Conhece isso? INF Isto aqui já, mais ou menos, não havia no meu tempo mas ainda vi, se não estou enganado, que isto era (...) com o que se batia o centeio. INQ Como é que se chama essa?... INF (...) O nome disto é que (...) já não (...) vem (...) na minha idade. E porque, quer dizer, e podia ter 'ouvisto', muita das vezes, ainda ter assim o nome - não viu? INQ O malho? INF (...) Sei que isto que era com o que se batia o centeio; com o que eles debulhavam o centeio era com isto. Pois. INQ O malho, não era? INF Não sei lá (...) a certeza também do nome, também não digo. Sei é de real certeza (...) que isto era com o que se eles batiam batia o centeio, porque as palhas eram aproveitadas para os colchões, para os enxergões, para as camas. E então punham-no além, uhm?!, (...) e um segurava e o outro batia só na parte da espiga que o centeio saía e a palha ficava toda boa. Que depois as palhas novamente eram vendidas para os enxergões (...) para as camas, que era o que se usava noutro tempo. Não é como agora, já há a tal... Há o escuma e essas coisas, e isso desapareceu. Já é os colchões diferentes; as camas já são diferentes. INQ Olhe, e não sabe o nome das partes disso? INF Agora as partes e os nomes disso, já não. Isso (...) já não havia no meu tempo.
SRP16
INQ1 Olhe, depois o trigo, passava-se com o trilho, ou com as bestas, fosse o que fosse, não é? INF Fosse o que fosse. INQ1 E, e depois ficava o grão separado da palha, não era? INF Ficava separado. Levava umas quantas voltas. INQ1 Pois. INF Depois levava primeiramente ali um bocado, uma hora ou duas, conforme se via. Por sua vez, o encarregado dizia assim: "Vamos meter as pontas para dentro". Aquilo chamavam-se "as pontas para dentro" porque aquilo dos animais - ou fosse (...) com o trilhado -, aquilo começava a sair para fora. Lá ia a gente (...) com uma forquilha... INQ1 Com uma?... INF Com uma forquilha. Pois. Com quatro dentes... INQ2 Com uma?... INF (...) Uma forquilha. E então, empurrava-se assim. Chamava-se as pontas para dentro, rodava-se à roda. E depois (...) com uma vassoura, varria-se o trigo sempre assim para dentro, a varrer. INQ2 Mas quando varria o que é que diziam? Estavam a quê? INF "Vamos varrer o solo". INQ2 Era assim que diziam? INF Varrer o solo. "Vamos lá varrer o solo". INQ2 Não diziam doutra maneira? INF Pois. E como: "Vamos lá meter as pontas para dentro". INQ2 E não diziam acoanhar? INF Não, não. (...) Aqui (...) era varrer. INQ1 Isso é depois. INF Pois. INQ2 Depois do ...? INF Era varrer. Depois daquilo, (...) dava-se volta. Chegava, a gente pegávamos na forquilha, começava-se numa ponta, começavam a voltar. Iam voltando. Lá voltava, até que o voltava todo. Voltava-o todo, os animais começavam a trabalhar normalmente . Quando via que estava completamente já todo bagulhado - ouviu? -, o que é que se fazia? Atirava-se a palha ao ar. INQ1 Como é que se chamava isso? INF "Vamos limpar". Joga-se a palha contra o vento. Se o vento está daqui, a gente leva a forquilha a este lado e joga-o para aqui. Porque o bago vai para aquele lado (...) e a palha avoa (...) para a frente. E então tem de se começar: se o vento está deste lado, a gente começava a jogar a palha ao ar deste lado, que é para a ir levando sempre para diante, sempre para diante. Quando chegava aqui a esta ponta, já o que vinha ficando atrás estava limpo. Ficava limpo. Depois de estar limpo, junta-se, vamos fazer num monte. INQ1 Pois. INF É um monte. Faz-se um moitão ... INQ1 Portanto, já, já tinha dito... INQ2 Que é? INQ1 Portanto, o grão ficava separado do quê? Ficava dum lado o grão... INF (...) Separado da palha, porque o vento (...) é que a levava. INQ1 Pois. E, e depois ficava assim uma espécie dum pó... INF E fica. INQ1 Como é que chamava assim aquele... INF Aquele pó, aquilo é a moinha. INQ2 ... INQ1 Ah! Pois. INQ2 ... INQ1 E o pó que ficava na eira, como é que se chamava? INF Aquele pó? Ficava na eira? Bom, aqui a gente, mais ou menos, é o pó e depois (...) quando estava junto (...) é que saía outro, chamava-lhe a gente as moinhas. Pois. INQ2 Então e esse pó, também não era limpa? INF (...) Era limpo também. Isso também saía novamente depois ao vento; saía tudo fora parte. INQ1 Pois, e, e... INF Porque isso é que é a tal moinha, que é a tal camisa (...) que está segurando o baguinho de trigo, que é a tal camisa que segura o bago de trigo. Que é isso depois, no fim - que aparece toda junta no fim - (...) que lhe se chama a gente a moinha. É a moinha que é só (...) a própria camisa (...) do baguinho de trigo, onde o bago de trigo foi criado. INQ1 Pois. E isso era junto com quê? INF Isso depois tirava-se com uns ancinhos. Com o tal ancinho talvez ... INQ1 Mas isso para ser apanhado já não podia... Isso era limpo, não era? INF Era limpo. Que o vento é que ia soprando e a gente ia puxando.
SRP17
INQ1 Sabe o que é o... Não usam a palavra crivo? INF (...) Os crivos é o que se metiam debaixo. Pois. Isso é os crivos, que aquilo (...) são móveis: tiram-se e põem-se. Pois. Se for para se (...) lhe fazer um seleccionamento de fava, tem um crivo de um tamanho; se for seleccionar o trigo, se quiser aproveitar trigo miúdo, tem um tamanho; se for aproveitar só o grado, (...) tem outro tamanho. INQ1 É a rede, não é? INF É a rede, pois, que é o tal crivo - por isso é igual. INQ1 Portanto chama-se o quê? INF Um crivo, ou seja a rede. O que tem é as dimensões diferentes (...) conforme (...) a 'espelhamento' que queiram fazer da semente. INQ1 Pois. Olhe, e portanto?... INQ2 Para medir o trigo, como é que era? INF Para medir o trigo era uma deca. Uma vasilha que se chamava-se uma deca. INQ1 Quantos alqueires eram? INF (...) Mais ou menos (...) a deca (...) estava completa por (...) ou vinte quilos ou vinte litros, ou fosse uma de dez. E havia um alqueire, que isso é mais antigo, esse levava treze. INQ1 Olhe, e portanto aquilo é uma caixa, não é? INF É uma caixa quadrada. INQ1 De quê? De madeira? INF Em madeira. Em madeira é (...) quando o raso tem uma asa de cada lado. INQ1 Pois. E depois aquilo é?... INF (...) É arrasado (...) com um pau que chama-se uma rasoira. INQ1 Pois. A rasoira serve para?... INQ2 Uma?... INF A rasoira. Uma rasoira. INQ1 Serve para quê? INF Para arrasar a deca, ou seja, arrasar um alqueire. Que o pau é redondo, fica-lhe para aí uns cinco centímetros de sobra de cada lado, que é para arrasar (...) o friso (...) da medida. INQ1 Pois. Olhe, e, e depois o trigo ia para dentro de quê? INF Duns sacos. INQ1 Um só é um?... INF Duns sacos... INQ1 Um só?... INF Um só? INQ1 É um?... INF Um saco. INQ1 Pois. E depois, e da eira ia para onde? INF Da eira, claro, da eira vai para o saco, e do saco carrega-se para cima do carro, e do carro vai para o monte. INQ1 E lá no monte guardava-se aonde? INF E no monte guardava-se no celeiro. INQ1 No?... INF No celeiro. INQ1 Pois. E, e às vezes as pessoas tinham assim, tinham pouco trigo ou isso, tinham assim umas caixas de madeira grandes, como é que se chamava? INF Eram (...) umas caixas INQ1 O trigo que se guardar... INF para os que se guardava guardavam , pois. INQ1 Como é que se chamava isso? INF Pois, as caixas... Umas arcas! INQ1 Uma só é uma?... INF Uma arca. Ou as arcas. INQ1 E umas que eram metidas na parede, como é que se chamava? INF Eram as arcas metidas na parede, ou fosse outras fora, que (...) era em madeira, móveis. INQ1 Uma tulha? INF Uma tulha, que é medida (...) na parede, (...) são as tulhas (...) da coisa, (...) da parede. E se fosse as outras, como eram móveis, eram as arcas, porque se moviam; outras vezes emborcavam-se para se limpar. INQ1 Pois. Olhe, e, e a... e a palha que fica na, na eira, o que é que se faz? Depois também vai para?... INF A palha que se fica na eira, (...) se tiver cómodo debaixo de telha, chama-se um palheiro. INQ1 Chama-se um?... INF Um palheiro. INQ1 Pois. Se... INF (...) Vai para o palheiro. E se não tiver, faz-se uma serra.
SRP18
INQ Olhe, e portanto, já falámos ainda há bocado quando estivemos a falar no regadio, o que é que era um que havia de regadio e um de sequeiro, um que era miudinho e o outro?... INF É o milho. O milho miudinho. INQ Pois. Olhe, o milho dá assim umas coisas em cima, como é que se chama? INF A flor. INQ Como é que se chama a flor do milho? INF É aquela, a (...) flor... A barba! INQ Não é a barba do milho. INF Ah! A flor do... (...) A barba é outra coisa que fica na maçaroca. Não é flor... Uma espigada?... O milho está... Espigada, ele não é. Um homem às vezes... Assim, de repente, às vezes... Um homem quando está a lidar com as coisas, tudo, tudo lhe vai ali à medida. (...) A maçaroca, o espigo... A bandeira! A bandeira - percebes ? A bandeira do milho.
SRP19
INQ1 Mas há pessoas que têm em casa, que não precisam de ir à praça. INF Há pessoas que têm. INQ1 Têm o quê? INF Têm... Chama-se aquilo um alegrete INQ1 Um alegrete? INF (...) adonde se semeiam qualquer temperos que se possam pôr (...) na comida. INQ2 Olhe, ainda há bocado disse que as noras estavam aonde? INF As noras? Nas hortas. INQ2 Uma só é uma?... INF É uma horta. INQ1 Olhe, e as coisas, plantas, quando são muito pequeninas, que é preciso para, para as plantar... INF A plantar. Chama-se: é uma almástica. INQ1 E quem é?... Quem é que trata das hortas? INF Das hortas, são os... INQ1 O homem que trata da horta... INF O homem da horta chama-se um hortelão. INQ1 Se forem dois, são dois?... INF São dois hortelões. (...) INQ2 Um só é um?... INF São dois hortelões. INQ2 O homem que anda na horta é?... INF É hortelão. Que faz ser um como mais. INQ2 Pois. E dois são dois?... INF São dois. INQ2 Dois quê? INF (...) Dois homens que trabalham na horta. Porque (...) há diferença: aquele próprio que seja dono, ou que seja rendeiro, e que tenha homens a trabalhar, esse é que se chama o hortelão próprio. Quer dizer, o responsável, que é o usufrutuário daquilo, é que se chama o hortelão próprio. E os outros que lá trabalham, é assim: "Trabalho na horta do meu patrão. Eu trabalho na horta. (...) E o hortelão é fulano". A gente diz assim: "Então trabalhas (...) na horta, quem é o hortelão"? "O hortelão é fulano". "Assim está bem". E já não é ele que é hortelão, que trabalha... Até pode o hortelão não trabalhar, mas o que é o usufrutuário (...) da fazenda, que seja dono, que seja rendeiro, esse é que tem o nome (...) de hortelão. Os outros é: "Trabalho na horta". Pois. INQ2 Pois. Mas dois, duas pessoas que sejam donos da horta, como é que se chamam? INF Se forem donos da horta, são ambos dois hortelões. Pois. INQ1 E se for uma mulher? INF E se for uma mulher, é uma horteloa. INQ1 Olhe, e na... E portanto, na horta, o que é que se cultiva? INF As hortas, cultiva-se a couve. INQ1 ... Espere aí. A couve. INQ2 Cultiva-se a?... INF A couve. INQ1 Se for uma couve pequenina, como é que lhe chama? INF É um repolho. Se for grande, é uma couve grande, não é assim? Conforme as qualidades. Isso depois depende da qualidade. Isso depois os vários nomes, vai tudo da qualidade. Que a couve, cada uma couve tem uma qualidade, e isso depois depende. Quer dizer que a gente passa por uma horta, vê um couval, diz: "Olha que rico couval"! Aos depois aquele couval tem diferentes: porque uma é branca, outra é lombarda, outra é riçada, outra (...) é couve-flor - e tudo vai a palavra...; a primeira palavra é tudo "couve". Pois. Há diferente: outra é a couve (...) só de grelo, que é para espigar - ouviu? -, é diferente. Ora vê ? INQ1 ... Ou vou eu ou vais tu? Posso ser eu a continuar e vais lá tu com a senhora. Portanto, o senhor... Mas tem, quando tem uma couve que é, que não é bem o repolho, o repolho é couve branca, não é? INF Pois. Couve, pois. Está bem. INQ1 Mas tem uma couve, mas não está contente, foi à... A sua mulher foi à praça e trouxe de lá uma couve e o senhor: "Ai, isto... Esta couve é muito pequenina"! INF "Tal é este repolho o tamanho (...) deste repolho"! O repolho é pequeno. Se for grande, já a gente diz assim. "Que rica couve! Que rica couve"! E se for pequena: "Tal é este repolho"! "Isto não presta"! - parte das vezes. Que muita das vezes, a gente traz um repolho grande, pensa que ele que é bom, mas por dentro está oco. É por essa a razão que agora já não há enganos por isso: porque se compra a peso. Já se sabe que se for grande, mas vai ao peso, se não tiver peso, a gente diz logo: "Olhe, é muito grande, mas eu não a quero que pesa pouco". Já se sabe por dentro que não tem de comer. INQ1 Pois. INF E então naturalmente (...) não a quer. Que vai pesar uma pequenina, aquela é que pesa, já sabe que aquela é que tem que comer. Que é isso que é a diferença do peso - é muito razoável que seja assim. INQ1 Então e quando o senhor goste muito, gosta muito da couve que está a comer, que diz assim... Diz... Não diz: "Ai que rica couve"! INF Pois não. Digo: (...) INQ1 "Ai que rica"... INF "Boa couve"! Pois. INQ1 "Boa couve"! INF Eu digo, suponhamos: "Que boa couve"! Como posso dizer: "Que rica couve da horta de fulano"! INQ1 Pois, pois. Olhe, e há outras coisas verdes que agora se comem, agora estão a aparecer, na Primavera... INF (...) Na Primavera, há (...) ... INQ1 Que se tiram das couves. INF De que se tiram agora? É o espigo. Pois. Que isso é o espigo. INQ1 O espigo e o grelo é a mesma coisa? INF É o espigo ou o grelo, pois. INQ1 É a mesma coisa? INF É a mesma coisa, que (...) é depois de ela espigada é que faz aquilo. INQ1 Como é que dizem? Espigo, não é? INF É um espigo, pois. Ou espigo, ou: "Dê-me um molhinho de espigo", (...) ou: "um molho de grelo". Pois. Aquilo é tudo depois de ela espigada. Que aquilo já é apropriado (...) tudo para sopa. INQ1 E há outra coisa com que se faz salada? INF A salada, é a alface. INQ1 Mas também se faz salada com mais coisas... INF Há mais coisas. (...) Há o repolho branco. INQ1 Mas para fazer salada... INF O repolho branco também se faz. INQ1 Também? INF (...) E há (...) um nabo pequenino, que é (...) o rabanete, que também se faz salada. INQ1 Espere aí. Já lá vamos...Nove, quinhentos... Está muito longe. Mas há outras coisas que crescem junto da água, que tem assim umas folhas pequeninas... INF Ah! Isso é o agrião. Pois. INQ1 Agrião. INF O agrião. INQ1 E outras coisas que até se faz com, também verdes, com as folhas compridas, que se faz com a sopa de grão ou do feijão... INF Ah! É (...) o catacus. INQ1 O quê? INF Catacuses, com a folha comprida que se faz com o grão. (...) INQ1 Para se fazer sopa? INF Para fazer a sopa com grão (...) - para cozer, com grão. INQ1 E ainda há outra coisa verde que se põe na sopa... INF (...) E há outra (...) que é a celga (...) que essa é mais aplicada... INQ1 A quê? INF Celga, que é mais aplicada... É (...) com o mesmo sistema. É um bocadinho diferente, até mesmo o gosto é diferente. Que essa é apropriada (...) é para o feijão. INQ1 E então, e os espinafres? INF (...) E os espinafres, pode ser aplicado é para o feijão, que é próprio, que é o... Mas já isso é uma coisa mansa que se cria mais (...) nas hortas. E a outra (...) já se torna uma coisa brava. É brava já se cria assim ao campo, como se cria outra coisa qualquer. O que é, é que (...) é muito perguntado também.
SRP20
INQ1 Olhe, e como é que se chamam as folhas da, da parreira? INF A gente aqui, são as folhas. Pois. Nós aqui, é a folha da parreira, é a folha. E assim tenho ouvido toda a vida. Pois. A folha duma parreira. Ou seja, a folha (...) da parreira, diz a gente àquelas que são (...) de armar em casa, onde se faz as tais parreiras para fazer o tal sombrais. Se for das outras, já a gente lhe diz (...) a folha da cepa. Pois. Já é a folha da cepa. INQ2 Olhe e quando é preciso tirar as folhas que estão a mais? INF As folhas quando estão a mais... INQ2 Quando... Já, já não, não entram, não dá sol nas uvas, é preciso?... INF Na uva, quando eu mais ou menos que vejo, aí em Agosto - que já duma vez fiz isso... Aí em Agosto é quando a gente vai dar a passagem a isso e quando, aquela que está muito sombria, arranca-lhe aquelas folhas... INQ2 E como é que se diz? Que vai fazer o quê? INF Vou desparrar. Isso, por acaso, isso foi um serviço que eu já fiz. Estive com um patrão que fiz isso. E, às vezes, há coisas que o fulano pode ver mas em não fazendo, não sabe, parte das vezes. Mas calhei estar aí uma vez com um patrão e (...) íamos fazer isso. Em Agosto, íamos fazer isso. INQ2 Olhe e quando a parreira dá flor e começa assim a cair... INF Tem que ser enxofrada. INQ2 Começa a cair a flor, não cai? INF Não. Quando vai a cair essa flor, mas... Depois quando a uva está vingada?! INQ2 Não. Quando está em flor? INF Ah! Quando está em flor? (...) De começar a cair? A gente o que diz: "Olha a flor está a cair! Terá falta de quê? Será enxoframento"? Pode ser falta de enxoframento.
SRP21
INQ1 E as uvas onde é que se põem para se levarem para?... INF As uvas, há umas tinas apropriadas, em pequenas, que põem em cima (...) duns reboques ou umas camionetas, conforme os transportes houver. Pequenas, podem levar trezentos, quatrocentos quilos, como há outras que levam mais e outras que levam menos. É mais umas tinas de madeira... E chegam... Essas tinas de madeira, quando chegam às adegas, se aquilo for para caso de negócio, é pesada. Antes de ir (...) para o moinho, é pesada. Porque já vão sabendo, (...) quantos quilos (...) de uva vão pesando, quantos litros (...) de uva pode produzir. E se for o próprio produtor, que não for para coiso , (...) não pesa. Chegou ali, despejou-o para a máquina, e a máquina foi moendo, e pronto, aquilo acabou. (...) Aí há duas maneiras. Pois. INQ1 Portanto, as uvas, as uvas servem para fazer o quê? INF Para o vinho. INQ1 O senhor já viu alguma vez fazer vinho? INF Por acaso já vi fazer. INQ1 E onde é que era que se fazia? INF Vi fazer e fiz. Foi na Suíça. INQ1 Ai o senhor esteve na Suíça? Quanto tempo? INF (...) Foi só onde vi fazer. (...) Há dois anos que lá estive. INQ1 Esteve lá a trabalhar? INF Estive lá a trabalhar com um produtor (...) de vinha. (...) E foi lá onde foi a primeira vez (...) onde eu vi como se fazia o vinho. INQ1 E esteve lá muito tempo? INF Estive lá dois anos com aquele patrão. Quer dizer que fui duas épocas. No Inverno voltei cá. Fui duas épocas. Pois. E ele (...) tinha uma fazendazinha (...) de vinha, é claro, e fazia ele mesmo. E lá é que é que eu vi. Porque cá, nunca cheguei a trabalhar cá nessas coisas. E (...) vi lá, portanto, o mesmo feitio, mais ou menos que fazem lá, os sistemas são os mesmos. E a gente vínhamos de lá com a uva, com as mesmas ditas tinas - a de madeira -, deitava-se para dentro da máquina, a máquina era eléctrica, moía. Depois de aquilo moer, levávamos aquilo para uma prancha - ouviu? -, era metida nos cinchos. E depois a prancha apertava e... INQ1 Com que é que apertava... a prancha? INF (...) Com a prancha apertava - ouviu? - e o vinho corria (...) para umas outras tinas de madeira que eles ali tinham e dali conduzíamos com umas mangueiras... Lançava-se ali a mangueira, tinha um motorzinho pequenino, que aquilo era uma caixinha deste tamanho - porque que tinha para aí dez ou quinze centímetros de quadrado -, uma caixazinha pequena, um motorzito, e aquilo conforme ele ia correndo para ali (...) com uns tubozinhos, assim ia correndo lá (...) logo para os potes grandes de conserva. E depois ele ia, conforme aquilo ia correndo o vinho, assim tinha ali umas...
SRP22
INQ1 Depois aquilo tinha assim uma coisa que descia, com uma, uma pedra na ponta para... INF É uma... Chama-se uma prancha. INQ2 Uma?... INF Uma prancha. INQ1 E essa prancha estava presa assim numa... INF (...) Essa prancha (...) era (...) mandada por meio de uma manivela (...) com um ferro metido ou fosse um bocado de madeira. INQ1 Pois. Mas olhe, ela tinha assim uma?... Uma assim, uma espécie disto, isto é o quê? INF Pois. INQ1 Uma?... INF Uma vara. Pois. E eram duas ou três pessoas a andar com aquilo à roda, e aquilo ia dando aqueles 'estralos', e era uma espécie duma rosca, ia rodando, ia apertando, ia apertando, ia apertando. Pois. INQ1 E a vara girava, tinha assim uma?... INF A vara (...) girava. Era móvel. A gente tirava-a e punha-a punha . INQ1 Pois. Mas e tinha assim uma rosca. Lembra-se como é que isso se chamava, assim uma coisa...? INF (...) Para andar aquilo para baixo é por meio de rosca. Pois. Agora, o sítio (...) onde (...) se metia, tinha um caixilho - um caixilho assim como isto. A gente mete numa vara... Essa na Suíça, então, trabalhei eu, o primeiro ano, trabalhei assim. Pois. Na Suíça, trabalhei assim. Essa, essa foi assim como era cá no outro tempo, mas cá nunca (...) cheguei a trabalhar cá nessas. Mas lá trabalhei naquele. E no segundo ano quando estive com aquele patrão, já foi aí eléctrico. Acabou com aquilo, que aquilo custava muito. Claro. Tem aquela caixa, a gente metia aqui, que era até era uma vara de ferro. Era em ferro. A gente metia-a aqui, punha-se... Isto era (...) aquela parte da bacia - lhe chamavam eles, a bacia - com trinta centímetros assim de altura, e nós púnhamos aqui o vinho, ou, quer ver, o engaço da uva depois de estar pisado. Púnhamo-lo aqui. Depois levava umas tábuas a atravessar, umas duma maneira, outras doutras, assim cruzadas. E depois levava (...) dois barrotes - lhe chamavam eles; são dois bocados de pau - com uma diferença (...) , vá, suponhamos de quinze centímetros, para cada lado, por um metro de comprido, conforme fosse (...) a largura (...) que aquele tabuleiro tem. Porque, o tabuleiro, há uns maiores do que outros: se for maior, mais despacho dá; se for mais pequeno, (...) dá menos. Isso depende. Mas o feitio é igual. E depois a gente metia ali aquela parte (...) da prancha. (...) Tem um bocado dum ferro, trazia-se abaixo - ouviu? - e o homem metia. Conforme ia rodando, ia andando à volta. Ia andando à volta e aquilo ia pregando um 'estralo': trás, trás! Ia rodando, ia passando a rosca e aquilo vinha descendo abaixo, vinha descendo abaixo. E o vinho vinha a correr para fora. Pois. Lá estava a tal dita tina de madeira a apará-lo. Se estava cheio, nós carregávamos com uma outra vasilha, com uns baldes, para os potes. INQ1 Exactamente. Já está? INF Isso foi (...) o que fiz (...) no primeiro ano, com essa coisa da vara. INQ1 Olhe, e depois o vinho quando ficava assim a, a ferver, como é que lhe... Não se lhe chama vinho ainda, pois não? INF Pois não. (...) Eles lá (...) chamavam-lhe o pé, a água-pé. Pois. Eles lá chamavam-lhe a água-pé (...) quando ele estava a ferver. E quando ele deixava de ferver, depois é que já passava ao nome de vinho. INQ1 Mas há outra palavra, sem ser água-pé, que se usa cá. INQ2 Quando... está doce, e as crianças gostam muito de beber... INF Há o mostro. INQ2 Como? INF É o mostro do vinho. Pois. Que é o doce!
SRP23
INQ1 Aqui quais são, quais são, qual é a árvore que há aqui mais à volta de Serpa, aqui da vila? INF Em qualidades de arvoredo mais (...) em volta... INQ1 Aquela que há aqui mais? INF Que há aqui mais é a oliveira. INQ1 A oliveira dá assim uns rebentos, não dá? INF Pois dá, os rebentos. INQ1 Como é que se chamam os rebentos da oliveira? INF Isso os arrebentos (...) da oliveira, a gente chama-lhe o arrebentão. Pois. INQ1 Ah, mas aqueles que nascem no pé!? INF No pé? Que seja no pé, que seja em qualquer (...) da parte 'enfluente' das pernadas, a gente, é um arrebentão. Pois. Agora, se for do pé, (...) e o pé (...) da planta, se for de raseamento bravo, já a gente lhe chama um 'burrico'. Pois. Os pés de 'burrico' porque (...) são bravos. Passou para cima onde o tronco passa a ser manso, passa a arrebentão. INQ1 Não. É em baixo, é em baixo. INF (...) Em baixo são os pés de 'burrico'. Pois. INQ1 Pois. E quando se vai tirar, e quando se vão tirar esses 'burricos', como é que se chama a isso? INF A gente chama: "Vamos a desburricar"! INQ1 Olhe, e a flor... A oliveira dá uma flor, não dá? INF Dá a flor. A gente chama-lhe é a flor da azeitona - que é o candeio. Porque a gente propriamente diz, aplica logo... Se vê uma oliveira com muita flor, a gente diz assim: "Que lindo candeio que esta árvore tem"! INQ2 Que lindo quê? INF Candeio. Pois. Quando se vê com muita flor - também. INQ1 E se tiver, se agarrar assim numa flor, diz assim: "Ah, o que é que tens aí na mão"?, o senhor pode dizer: "Tenho aqui um candeio"!? INF Não. A gente diz: "Tenho é (...) a flor (...) da azeitona". (...) INQ1 Pois. Pode-se dizer candeio, quando é a?... INF O candeio, quando a árvore está completa. INQ1 Pois. É a?... INF Pois. Se a gente colher (...) e o outro perguntar: "Isso, não sei o que é que tens"... Exactamente, digo: "Tenho aqui a flor (...) da azeitona na mão". "O que é que estás vendo"? "Estou a ver se está falida ou não". Porque a azeitona, aquilo é uma espécie dum 'botanito', é tal e qual como o bago de chumbo. Aquilo vem fechado. INQ1 Como o quê? INF Que é exactamente como o bago de chumbo, em redondo. Pois. Mas está fechado. E aquele que abre, aquele que abrir - a gente vai ver se está aberto -, aquele que abrir, está gerando azeitona. E se estiver já uma caindo e outra cair fechada, e no mesmo dito ramo, uma cai e a outra fica em cima e continua a estar fechado, é porque (...) de facto está toda falida. Porque se estiver gerando a azeitona, aquilo abre. E vai abrindo - aquilo é uma espécie dum cravo -, vai abrindo e lá fica a azeitona da banda de dentro. Agora, se ela não abrir, então está falida. (...) Não tem azeitona gerada. INQ1 Olhe, e as oliveiras enxertam-se em quê? INF É enxertado (...) no próprio manso delas. INQ1 Ou então também há uma árvore, uma coisa em que se costuma enxertar, não é, oliveira brava? Como é que chamam? INF A oliveira brava, pois. O que é Porque a oliveira brava chama-se o zambujo. Pois. E da mansa, se vai tirar a brulha, depois depende as qualidades em que o patrão queira. INQ1 Pois. INQ2 Ainda não tem novecentos e oitenta e um. INQ1 Que qualidades é que há de oliveira? INF As qualidades que eu, mais ou menos, conheço... INQ1 Rhum? INQ2 Não tenho a novecentos e oitenta e um. Já disse, mas não tenho. INQ1 Ah! Pois... Como é que se chama a fruta que a oliveira dá que a gente não percebeu? INF Azeitona. INQ1 Diga lá, diga lá. INF As qualidades, conheço ou o verdeal, ou o cordovil, a maçanilha, é a gama, é o galego e é a carrasquinha (...) e o galego miudinho - que é esse que a gente lhe chama o galego de Borba, que é um miudinho que há muito. Lá para baixo, nas áreas de Lisboa e Santarém, isso para aí é só tudo disso. Em se passando de Beja para a frente, já o que se vê é só tudo disso: o miudinho, pois - que isso se lhe chama a gente o galego de Borba. Indo E para aqui, é o vedonho grosso. Há estas seis qualidades. INQ1 Olhe, quando... quando a azeitona já está madura, tem que se fazer o quê? INF Quando a azeitona está madura, (...) o que se lhe faz é o varejo. INQ1 Tem que se ir à?... Quando é no, quando é no, no trigo é a ceifa, não é? INF É a ceifa. INQ1 E quando é na azeitona? INF "Vamos ao varejo". INQ1 Não se diz "à apanha"? INF (...) Bom, nós vamos ao varejo e as mulheres vão ao apanho. INQ1 Pois. INF Aqui a palavra para o homem é uma maneira e para a mulher é outra. Pois. INQ1 ... Está bem.
SRP24
INQ Olhe, e depois há umas coisas assim para apanhar a azeitona, uma espécie dum?... INF Há... Há um... Para apanhar? INQ Pode-se apanhar assim à mão, também, de fazer assim, como é que se chama aquilo? INF (...) Isso, à mão, tirada de cima das árvores à mão, chama-se a ripa. INQ Chama-se?... INF A ripa. "Vamos ripar azeitona". INQ Vamos?... INF "Vamos ripar azeitona". INQ Ripar? INF Ripar azeitona. INQ Olhe, e depois põem-se assim uns, uns panos no chão, mais ou menos... INF Põe-se. Põem-se uns panos (...) . E essa coisa, já a gente diz: "Vamos a pôr os panos". INQ É panos que se chamam? INF Panos. Os panos mesmo. INQ Olhe, e depois a azeitona vai para aonde, vai para o lagar, não é? INF Aquela azeitona vai para o lagar. INQ E no lagar há assim umas... Como é que se chama aquilo? INF É umas tulhas. INQ Uma só é uma?... INF É uma tulha. INQ E da azeitona o que é que se tira? INF E da azeitona sai (...) o azeite. INQ E depois a, a azeitona é, é moída, não é? INF É moída. INQ Aonde? Como é que se chama o sítio onde a azeitona é moída? INF (...) Onde é moída é o moinho. INQ Pois... Lembra-se dos moinhos das azeitonas que tinham assim uma, uma coisa de pedra?... INF Desses, não. INQ Pois. Não sabe como é que se chamavam aquelas coisas?... INF Não. Disso, já não. Disso, já não. Desses, já não conheci. INQ Pois. INF Já conheci é destes agora (...) tudo a motores. Pois. (...) INQ ... Mas mesmo os de motores também têm uma pedra que roda, não é? INF Pois têm. Têm lá umas pedras (...) que é para para a moer. Pois. INQ Como é que se chama essa pedra? Como é que se chama essa pedra? INF Que é a mó. Pois. (...) Que são três mós. É feitio de pião. Pois. Que são largas de um lado e morrem as três assim. Pois. INQ De um lado... Pois. Olhe, então e depois, depois da, da azeitona moída, põe-se em cima dumas coisas, como é que se chamam? INF (...) Duns capachos. INQ Pois. E como é que se chama a?... Capacho. E aquele que lá está em baixo, onde a gente limpou os pés é uma coisa dessas, não é? INF É um capacho. É daquilo, é disso. É um capacho. Põe-se um, uma camada de azeitona - de massa! Que aquilo depois (...) já perde o nome de azeitona: já não é azeitona, é massa. Põe-se a massa. Põe-se uma camada de massa, põe-se um capacho. Põe-se outro, põe-se outro. Aquilo, mais ou menos, é conforme a altura que eles queiram. Põem dez, põem doze, põem quinze, conforme. Aquilo, se houver muito aperto, a azeitona e a ... Por aqui há a prancha que dá a altura para porem quinze, vinte capachos, põem. Isso, se houver, às vezes... Outras vezes (...) não há vasilhas suficientes para dar o espaço trespasso ao azeite, já têm que pôr menos porção. INQ Pois. Olhe, não se diz uma seira? INF (...) É o capacho. (...) O capacho é aquilo e a seira é fechado. É que a seira é fechada. Aquela que está ali em aberta é o capacho. E a seira... Aqui, agora, seira, já não fazem disso. Agora já é tudo capacho. É que a seira, é assim em volta, como está ali, mas tinha metade voltado para dentro. E ficava um 'ovamento' assim solto, por a banda de dentro. Pois. Pois. Que isso era a seira. E agora, a seira, isso já 'desexistiu'; agora já é só o capacho.
SRP25
INQ1 Olhe, então e o trigo serve para fazer o quê? INF O trigo serve para várias coisas. Conforme as qualidades do trigo, assim... INQ1 Pois, está bem. Mas todo ele não se come, não se utiliza assim em grão, pois não? INF Pois não. INQ1 Primeiro de tudo, o que é que tem de se fazer? INF (...) Primeiro de tudo, (...) tem de ser moído, ser feito em farinha. INQ1 Pois. E é moído aonde? INF Ora há-de ser nos moinhos ou seja... INQ1 Um só é um?... INF Um moinho. INQ1 Pois. Que moinhos é que há aqui? INF Moinhos? INQ1 Moinhos mesmo, não é de fábrica. INF Moinhos mesmo, bastantes havia! (...) INQ1 Como é que eram? Eram de vento ou eram de água? INF (...) Há aí de vento e há de água. E (...) até de vento há aí um que trabalha. INQ1 Ainda? INF Acá na vila. Sim senhor. INQ1 Aonde? INF Acá na vila. Além à ponta da vila, daquele lado, está além um que trabalha. Com a diferença que trabalha agora já porque já lá tem um motor. INQ1 Oh! INF (...) Bom! INQ1 Trabalha!? INF Mas está preparado! Trabalhou, agora já no meu tempo! Agora, aquele dono que o comprou viu que aquilo que lhe ficava caro com os panos - ouviu?; naturalmente, diz que aquilo que por jeitos que lançaram-lhe um imposto diferente, estão a ver?, um imposto diferente - e então comprou um motor e trabalha a motor, mas lá tem a dita... A armação lá está feita; o que lhe tirou foi os panos. INQ2 Mas podemos visitá-lo? INF Pode. Então isso pode visitá-lo! INQ2 Temos de lá ir. INF Pois. Isso pode. Fica à ponta da vila, daquele lado. Então, Até estão lá a trabalhar - o pessoal e tudo. Fornece a farinha aí (...) para as casas de comércio, que vendem.
SRP26
INQ Há aqui uma latinha que faz um barulhinho, aqui ao (dos lados). INF Essa latinha é para quando se acaba aqui o trigo, INQ Como é que se chama? INF cai para baixo essa lata. Se não me engano, parece ou é o guizo ou o chocalho que lhe eles dão. Pois. Que cai para baixo. Que depois começa (...) a trabalhar em cima da pedra: trrim-tim-tim-tim. Porque isto em bem como de noite, estão chamando a qualquer coisa , estão a dormir, é isso aí : já se sabe que isto cai para baixo, faz uma barulheira disparatada. Já sabem que aqui o trigo aqui que se acabou. INQ Não chamam taramela? INF (...) assim os nomes disso, (...) não tenho assim (...) a certeza. INQ Então e esta coisa aqui, o que é? INF Esta parte aqui (...) é a volta que eles têm, que é um pano, para tapar a farinha, para a farinha cair toda ali (...) à rés. Senão a farinha (...) deita mãos a avoar. E mesmo assim avoa ela muito, que se agarra às paredes.
SRP27
INQ1 Olhe, então e depois o, aquilo fica cheio de cinza, não é, o forno, fica tudo... INF Sim. INQ1 E como é que se tira a cinza? INF A cinza (...) é tirado com um pano. INQ1 Com um pano? INF Com um pano. INQ1 Lá de dentro? INF Lá de dentro para fora. INQ1 Mas naquele, nos fornos... Assim nos fornos grandes, que não se chega lá com o braço, há assim uma coisa assim, tem um, um cabo... INF Tem. INQ1 Tem assim um cabo. INF Tem um cabo, tem uma vara. INQ1 Pois. E depois aqui assim tem um, uma coisa assim... INF Pois . INQ1 Para puxar. INF (...) Isso chama-se um rodo, que é para espalhar o borralho. (...) INQ2 Chama-se o quê? INF Um rodo. Que é para espalhar o borralho. Para dar o calor igual. INQ2 Se forem dois, são dois?... INF São dois rodos. (...) Que um serve depois novamente para juntar todo para um canto. INQ1 Pois. INF E depois é que vai então o varredor. Que se chama o varredor, que é uma roupa velhas, que eles pedem, que agora até esses fornos já acabaram em Serpa, que está tudo fechado. Já não há fornos desses que funcionam. Quer dizer, minto. (...) Ainda estão aí dois que funcionam. Havia aí muitos, mas já está tudo fechado. Começou a aparecer este pão (...) das padarias e esta coisa, de conduzirem o pão para os comércios, e isso acabou. E então é que vai então (...) o varredor (...) que é esse dito pano - que eles até pediam a quem tinha roupas velhas - que atavam a uma dita vara e depois era molhado dentro de água e depois é que varriam então o solo com aquela cinza. Depois de aquilo bem varrido é que era o pão posto lá dentro. INQ1 Olhe, então e o pão ia para o forno dentro de?... Ia e vinha na, em quê? Não era na mão, pois não? INF Não. Ia (...) nuns tabuleiros. INQ1 Olhe e... Como é que se costumava pagar?... Como é que se pagava ao, à pessoa que tinha o forno? INF A pessoa que tinha o forno, costumava-se a pagar um pão - um de cada quinze, se pagava um. INQ1 E como é que se chamava a isso, a esse pagamento? INF A esse pão, chamava-se-lhe uma poia. O nome próprio era uma poia. E agora já mudaram isso, mesmo esses poucos que estão, já lhe chamam a pitança, que agora já não querem pão, agora querem dinheiro. Pagam, suponhamos, cinco escudos, ou dez; conforme a porção de pães (...) que lá vão, assim já pagam a pitança. Mas o próprio é o nome... O próprio nome que existe enquanto existir fornos desses - mesmo que ainda estão aí dois , ainda há gente que ainda lhe chama isso - é a poia. Se forem vinte pães que lá meter, paga dois; se forem vinte e cinco, paga dois; se for aos trinta, paga três. Mas tem que ser um pão de quilo para cima, todo. Tem que ter de quilo para cima. (...) INQ2 É de?... É de cada dez? De cada dez paga um? INF Cada dez. Mas se alcançarmos quinze, às vezes são dez e às vezes são quinze... Se for um freguês que coza muito, também: "Olhe, com um pão dá"! Mas se for um freguês que parte das vezes (...) que coza pouco, uma vez que vai, também não vai (...) a perdoar-lhe três ou quatro pães para lhe levar um por o mesmo. Diz assim: "Olha, paga dois"! Faz-lhe dez por um. Pois. Em dez, tira-lhe um, que lhe chama a poia. INQ1 E a parte de baixo do pão, como é que se chama? INF É o solo. INQ1 E a parte dura do pão, por fora? INF Por fora, é a côdea. INQ1 E aquela mole lá por dentro?... INF É o miolo. INQ2 É o quê? INF O miolo. INQ1 E, e quando se está a partir o pão, caem assim umas coisinhas... INF A gente lhe chama os uns miolinhos. INQ1 E os homens que fazem o pão, como é que se chamam? Um homem que faz pão? INF (...) Um homem que faz pão chama-se um amassador. INQ2 E o homem que vende o pão? INF (...) Que vende o pão é um padeiro.
SRP28
INQ1 E depois o que é que se faz à, à cortiça? Põe-se em?... INF A cortiça é posto em meda. Pois. INQ2 Espera aí. Onde é que eu risquei agora uma, a boleta? INQ1 Está mais para trás. INQ2 Aonde? INF (...) Na outra qualidade... Pois. (...) INQ1 Então e como é que se chama a grande de?... INF Porque (...) a grande de... INQ2 Disse que era verdeal. INF (...) Mas é que (...) falava-se, numa maneira, (...) do azinho. INQ1 Pois, pois. INF Pois. INQ2 A verdeal é do azinho? INF (...) É que o azinho também tem verdeal como tem a outra. Pois. Que o azinho também tem as duas qualidades. INQ1 Pois. Como é que se chama a grande da?... INF A (...) do coiso é o bastão - essa grada! Pois. E a outra miudinha é que é a 'holândia'!
SRP29
INQ1 Aos pinheiros costuma-se fazer assim um corte e pôr assim um balde aqui... INF Aquilo é para... INQ1 Para aproveitar o quê? INF A resina. INQ1 Pois. E quando se está a fazer isso, o que é que se diz? Sabe como é que se chama a isso? INF A fazer isso, não sei. INQ1 ... E põem aqui assim uma coisa de barro, não é? Sabe como é que se chama... essa coisa? INF É o de barros . Aquilo é (...) um jarrozito. INQ1 E a resina serve para fazer o quê? INF Calculo eu que deve ser aquilo aproveitado para tintas - para grudamentos de madeiras. INQ1 Pois. Mas ainda fazem... Fazem outras coisas também. Olhe... os sapateiros o que é que usam para passar a linha?... INF É aquela coisa da cola. INQ1 Como é que se chama? INF É a que chamam-lhe cola. INQ1 Não. Para passar a linha. Eles passam assim a linha por uma coisa assim, para ficar, para a linha ficar dura, sabe? Já viu fazer? INF Dura? É a cola. INQ1 Uma coisa que eles têm na mão: há um que é o louro, outro que é o preto. Como é que isso se chama? INF É o louro preto? INQ1 O que é que?... Como é que se chama? INF (...) Que é para enrijar a ponta. INQ1 Como é que isso se chama? INF Não tenho assim a lembrança. Nós, é a cola, é a cola. Não tenho assim, mais ou menos, a lembrança, bem verdadeiramente. INQ1 Não é o pez? Pez-louro? INF Pés Pez ... Pés-louro Pez-louro ... INQ1 Não lhe chamam pez? INQ2 Sim. Olhe e um sítio onde há muitos pinheiros, como é que se chama? INF É um pinheiral. INQ2 O que é que?... Corte na gravação original INF Acender o lume. INQ2 Com que é que fazem o lume? INF É com lenha. INQ2 Bom, estás a ver?! E como é que se chama um homem que anda a cortar a, que vai cortar a lenha? INF Chama-se um cortador. INQ2 Quando põe a lenha no lume, ela não é toda igual, pois não? INF Pois não. INQ2 Há umas que são maiores e outras que são mais pequenas. INF Mais pequenas. INQ2 Como é que chamam às maiores? INF Então aquela maior (...) é a lenha comprida. INQ2 Pois... O senhor como é que diz à sua mulher? "Olha, chega-me aí"... INF "Essa lenha para cá". Pois. INQ2 Quando quer uma pequenina? INF " (...) Dá-me aí essa lenha mais curta". INQ2 Não diz assim. Isso é muito complicado para dizer. INF "Dá-me essa lenha mais pequena". INQ2 Não diz: "Dá-me, dá-me essa cavaca ou esse"?... INF (...) Se for (...) por grossura, (...) diz: "Dá-me essa lenha delgada". INQ1 Não diz uma cavaca? INF Ah, (...) uma cavaca se diz a uma lenha que esteja grossa, que seja desdobrada, é que a gente lhe põe o nome de cavaca. Se for lenha toda redonda, (...) já a gente não lhe põe cavaca. Só põe cavaca como este lápis: está assim; se a gente agora cortá-lo aqui - ou seja ao comprimento -, e se o abrir ao meio, como sendo a lenha, é que a gente já lhe chama a cavaca. Se for a lenha que não é redonda, já não é cavaca. INQ1 Pois. INQ2 Pois. INQ1 E quando é, e se for ainda mais cortada? INF (...) E se for (...) mais cortada, já a gente lhe pode chamar os 'corcodilhos'. Pois. INQ1 Os...? INQ2 ...? INF Uns 'corcodilhozitos'. Pois. Porque é uma lenha curta (...) própria para fogão. INQ2 Mil, cento e nove.
SRP30
INQ1 Olhe, então e quando se capa os carneiros, o que é que lhes tira? INF Aquilo tira-se os testículos. INQ1 Os?... INF Os testículos. INQ1 É assim que dizem? INF Os testículos ou propriamente os tomates. INQ1 Olhe, então e a... No rebanho, depois há sempre um, um, uma ovelha mais velha ou um carneiro que é quem guia, não é? INF Pois, há sempre. INQ1 Como é que se chama? INF Isso chama-se um cabresto. INQ2 E a cria das ovelhas, como se chama? INF Chama-se um borrego. INQ1 E quando, quando acaba de nascer? INF Quando acaba de nascer, é um borreguinho. INQ1 É?... INF Um borreguinho. INQ2 E quando já, já é, já é mais crescidito? INF Bom, por ter já passado quinze dias ou mais, já a gente diz um borrego. Pois. INQ2 E depois? INF Vai sempre a borrego. INQ2 Portanto, primeiro é borreguinho, depois é borrego... INF Borreguinho quando nasce e ali enquanto é pequenino, a gente: "Ai, o borreguinho! Ai, o borreguinho! Ai, o borreguinho"! Depois, vai-se desenvolvendo, a gente já começa a alomear a um borrego. INQ2 Depois já passa a quê?... Passa a um borrego ou?... INF Mais ou menos, já (...) passa a borrego, até, suponhamos, até a passar (...) uma Primavera por cima. Passou uma Primavera por cima, (...) se for fêmea, passa a borrega. INQ2 Borrega? INF Borrega - ouviu? -, até a fazer um ano. Se for macho, passa a borrego até fazer um ano o que seguiu para os dois anos, passou o borrego a malato (...) e passou a borrega a malata. As duas letras são iguais. Só a diferença é o da palavra ser dita um para macho, e outro para fêmea. INQ1 E depois dos dois anos? INF Dos dois anos, ovelha! E seja ele macho, passar a carneiro!
SRP31
INQ Olhe, onde é que se guardam os, os chibos quando nascem? INF Num corveiro. INQ No?... INF Num corveiro. INQ O que é um corveiro? INF Aquilo é feito de mato. INQ Olhe lá, e quando depois os, os chibos crescem, há uns que ficam para cobrição e outros que não ficam, não é? INF Pois. INQ O que é que se tem de fazer aos que não ficam? INF Os que não ficam, vendem-nos. INQ Mas... antes de os vender? INF Antes de os vender, quando chegou a altura (...) de eles já (...) não mamarem, andam à parte. INQ Mas há uns que ficam inteiros, não é? Outros que ficam?... INF Pois. E aqueles (...) que eles vendem para fora, se - conforme for a época - se eles pensarem em terem-nos até terem cinco ou seis meses, capam-nos, que engordam mais. Pois. INQ Portanto, têm que os ir?... INF Capar. INQ E depois de os terem... Depois disso, o chibo fica?... INF Capado. INQ Como é que se capa o chibo? INF É capado com o mesmo sistema como se capa o borrego. INQ Como é? INF É a mesma coisa. Pode ser corto a bolsa, tirar o tomate para fora, como pode ser capado por meio dum fio. É atado cá à bolsa - aquilo é a bolsa -, e aquilo é atado cá em cima com o fio apertado, (...) e o sangue não gira para baixo e, por tempos, aquilo consegue a secar. É que secam dentro da bolsa; não são tirados. INQ Pois. INF E há uma outra maneira de se capar com uma agulha. Mete-se um fio - um fio assim desta grossura, assim suponhamos da grossura dum fósforo -, com uma agulha; a gente apalpa ali com os dedos e sente (...) 'acontra' a veia - contra a veia (...) do tomate - e com a agulha atravessou aqui a veia. Passou dum lado ao outro. Chegou, (...) deu um nozinho aqui (...) no fio, deu outro nozinho deste lado, deu-lhe um golpe, cortou e deixou ficar. E aquele dito fio faz apodrecer a veia. E a veia descaiu, (...) desde que apodreceu, caiu o testículo, solto , para baixo para dentro da bolsa, (...) e o testículo secou-se. Não tem giramento. E então o testículo secou-se e a bolsa do animal ficou (...) sempre do mesmo tamanho. Como pode ser aberto e tirados para fora! INQ E quem é que costuma capar? INF Propriamente, essa das coisas são mesmo os próprios moirais, que todos aprenderam a fazer essas coisas. Agora, estes modernos, não sei se saberão, se não. Mas noutro tempo, os moirais é que faziam isso. Os próprios que as guardavam é que faziam isso.
SRP32
INQ1 Aquela coisa que fica por cima do leite, depois de... INF É a escuma. INQ2 Não. Quando o leite fica assim dentro de uma vasilha, depois fica assim com uma, uma coisa amarela... INF Amarela. (...) É a manteiga do leite. INQ1 E essa manteiga tira-se? INF Tira-se. INQ1 E põe-se aonde? INF Tirado para (...) uma outra vasilha. INQ1 Como é que se chama essa vasilha? INF É uma vasilha. Pode ser uma outra vasilha qualquer: pode ser um prato, pode ser um alguidar. INQ1 Não há uma própria para isso? INF Não. Não, porque, a gente aqui, nem mesmo eles aproveitam, não fazem isso. INQ2 Olhe lá, quando o leite ferve, e depois como é que?... Quando começa a ficar frio, começa a criar uma coisa por cima... INF É a 'lisga'. É a 'lisga'. INQ2 Então qual é a diferença entre a 'lisga' e a manteiga? INF Porque (...) a manteiga é sem ele ser aquecido. Acabou-se de ordenhar, pôs-se o leite ali a pontos de arrefecer. Em ele arrefecendo, depois vem a manteiga e vem acima, que é o amarelo. E se por acaso, for leite que for fervido, já não faz isso. Faz a 'lisga' - ouviu? -, que faz a 'lisga'. Porque a manteiga fica logo cozida, fica toda caldeada. Tanto que o leite, em sendo fervido, fica mais grosso. E se não for fervido, (...) não fica grosso. É por isso que está essa diferença: que é essa gordura que vem acima que caldeia com ele, porque coze. INQ2 E costuma-se... aproveitar essa manteiga do leite? INF Essa manteiga, aqui, (...) não aproveitam isso. Fazem tudo para queijo. INQ2 Para?... INF Para queijo. INQ1 E como é que se faz o queijo? INF (...) Vai a um coalho. INQ1 A um?... INF A um coalho. INQ2 O que é o coalho? INQ1 Para?... INF O coalho é para o leite se pôr grosso. INQ2 Ou então para?... Cá não se diz doutra maneira?... INF (...) Vai coalhar. Pois. INQ1 E depois de coalhar, o que é que fica ali? Fica a... INF Depois de coalhar, (...) fica a massa. INQ1 Como é que se chama essa massa? INF É a massa do queijo que se vai fazer. INQ2 O que é, o que é o coalho? INF O coalho é o leite estar simples - não é? - e depois meter dentro duma vasilha - um pote, ou seja de barro, ou seja de lata - e mete-se o cardo lá dentro - uma porção de cardo, que é umas ervas que se criam aí no campo, que deitam uma flor. Aquela flor é corta agora em Junho, que é quando dá aquela flor, que há muita gente que vai apanhar isso e depois casas que compram e têm essas coisas guardadas (...) para agora neste tempo, quando produzem aí isso. Que o tempo de produzir é agora - que estão fazendo! Aqui em baixo, há uma casa dessas, que estão fazendo, aqui ao pé do cinema, que faz ali queijo desse leite que vêm ali trazer, e quando o leite é passado, por mor (...) das impurezas que traz. Chama-se aquilo o coalho! Põe-se-lhe o cardo dentro, chama-se aquilo o coalho! E deita-se-lhe sal. Chama-se aquilo coalhar: "Vou pôr o leite a coalhar". Depois quando está coalhado que já está duro (...) ... INQ1 Depois já, depois que está quê? INF Que está duro. Coalhado, mas tem que ficar duro. Tem que ficar num bloco só. Aquilo fica só num bloco. Depois é que é tirado novamente para fora para uma... INQ2 Portanto, deixe-me lá só dizer uma coisa: o coalho é o leite com o cardo? INF O leite com o cardo, pois. E (...) depois de estar coalhado, é que é tirado para se fazer os queijos. INQ2 Pois. Mas nem tudo, nem toda essa massa se aproveita, pois não? INF Aproveita-se toda. INQ1 Então, mas há uma parte que fica molhada. INF (...) A massa aproveita-se toda, agora... INQ2 Mas há uma parte do coalho que não se aproveita. INF Mas... Pois! Mas é que ele essa dita massa, depois de a massa se estar fabricando, é que vai aparecendo INQ2 O quê? INF o chorrilho - que se chama o chorrilho. É que enquanto a massa está ali, (...) que não se está mexendo, não tem água nenhuma separada. A água só se vê depois de a gente a fabricar. Quando se está fazendo os queijos é que a água começa a aparecer. Enquanto está ali, a gente olha ali para o pote, diz: "Está tudo coalhado"! Está tudo coalhado, mas depois de a tirar dali para fora é que a água começa a aparecer. INQ2 Pois. INQ1 Olhe, e com essa água... Essa água também serve para fazer outra coisa? INF Essa água, faz-se almece. INQ1 Como é que se faz o almece? INF É posto ao lume a cozer. INQ1 E o que é que se põe dentro? INF Não se põe nada. INQ1 É só assim? INF É só assim. (...) Pode-se pôr uma coisa, (...) se querer que ele fique mais gostoso. E deixa-se-lhe uma coisinha de leite e depois deita-se-lhe para dentro, para ficar mais gostoso. INQ1 Depois como é que se come esse almece? INF Esse almece é comido e depois esse dito almece (...) ainda tem outra água, novamente, azul. Depois ainda tem outra água, azul! Ainda deita novamente essa... Esse almece ainda tem filhos, outra vez, novamente. Essa então é que já não vale então para nada. INQ2 Como é que se chama essa água? INF Essa água já é o azul - ouviu? INQ1 Que giro! INF Porque a primeira é o chorrilho e aquele é já (...) o azul do almece - que é completamente azulada, azulada, mesmo, mesmo, mesmo! Que essa é que já não tem aplicação nenhuma. E o próprio leite da ovelha é aproveitado: (...) dá dois aproveitamentos; e pela outra, dá três. Porque essa depois é aproveitado para os animais. INQ2 Qual? INF (...) Pode ser para porcos. INQ2 Mas qual, qual? O azul? INF O azul. Pode ser para se dar a porcos. Serve para fazer (...) umas travias, para uma farinha para galinhas, que também lhe pegam que é uma beleza - muito bem! Que se lhes fazerem uma travia ou 'couvão' para as vacas, também lhe pegam, que lambem aquilo que é uma beleza . Para qualquer dos animais, comem aquilo bem feito em travia. INQ1 O que é isso da travia? INF Uma travia é com farinhas. INQ1 É uma ração com farinhas? INF É uma ração, feito ali, ali caldeado, chamam uma travia. Com essa dita. Aí é o último discurso que tem quem quer aproveitar; e quem não quer, deita fora. INQ1 Olhe, e há outra coisa que se faz com o leite, com, também com o leite, mas é fervido... Que é preciso ferver o leite... Que... quer dizer, que se faz, que se coalha o leite depois de estar fervido. INF Não, deste, não dou. Porque o leite coze, aquilo põe-se ao coalho. Para ferver, só se for... Se for para ferver só se for só (...) propriamente só para fazer manteigas. Se for (...) para o queijo, para fazer queijo, já não pode ser. Já não pode ser fervido, (...) porque o leite fervido já não fabrica. Pois. INQ2 Olhe, depois... Depois quando se faz a... Faz-se o coalho, não é? Depois tira-se a massa e depois aquilo é, é mexido e não sei quê... INF É mexido, pois. INQ2 Pois. E depois sai aquela água mas a água ainda leva muito leite misturado, leva muito coalho misturado, não leva? INF Não leva nada. Aqueles bocadinhos que se safam - ali à ponta da..., chama-se uma queijeira, donde aquilo é feito (...) - aquilo aproveita-se tudo. Aquilo, conforme aqueles bocadinhos miudinhos vão safando, assim a gente com a mão vem-os apanhando e vem-os pondo ali em cima da outra. INQ2 E o requeijão, como é que se faz? INF O requeijão é feito do almece. Pois. O requeijão é feito do almece. Que é esse dito almece... Se a gente o quiser comer para sopa - com sopa -, faz-se o almece... Se se quiser comer com sopa, mete-lhe sopas dentro e come. Se não quiser, escorre-lhe a dita água toda, ali por um coador... INQ2 Então qual é a diferença entre o chorrilho e o almece? INF A diferença é porque que o artigo é o mesmo. É que o mesmo dito chorrilho dá filho ainda. Pois. Que o chorrilho - o primeiro chorrilho - é filho do leite e essa água azul já é filho do chorrilho. INQ1 Portanto, é neto do leite? INF Pois, exactamente. Pois. É que é assim mesmo! E só aparece (...) essa água verde, novamente, esse azulamento dessa água (...) se esse chorrilho (...) for cozido. Se o chorrilho não for cozido, não se sabe: só existe ali uma - uma qualidade. E se aquele for cozido, aparece outra qualidade ainda. Pois. E é daí depois que se vai fazer o requeijão. INQ2 Vai-se fazer o?... INF O requeijão. Pois. Escorrem essa água toda fora, e a massa que fica ali é que fazem então o requeijão - quem quer! INQ2 Então e o atabefe? INF E o atabefe é o leite ao lume. O atabefe deixa-se ferver além um bocadinho, mas isso é para a gente comer. INQ2 Com o quê? Mas é também com o coalho? INF Isso é com o leite. Isso não chega a coalhar. Põe-se o leite além ao lume e o leite da ovelha - (...) que a cabra não é preciso, mas o da ovelha tem que se ir mexendo - tem que se ir, com um pauzinho, tem que se lhe ir mexendo, mexendo... Porque senão corta-se (...) e coalha tal e qual pronto para fazer queijo. Mas para queijo não presta, porque não pode ser, porque não se fabrica. INQ2 Mas tem cardo? INF Não tem cardo. INQ2 Não tem cardo? É só o leite a cozer? INF É só o leite a cozer. Mas tem que o estar mexendo. Está ali numa vasilha e a gente tem que estar sempre assim a mexer, assim a mexer. E o lume, (...) pouco lume. Está-lo a mexer, a mexer. E ele começa-se a pôr grosso e a gente vai-lhe metendo uma colher dentro, vai-lhe metendo uma colher dentro, e a gente a mexer. Em ele fazendo monco - como a gente quando está constipado, fica um bocadinho de ranho aqui pendurado - pendurado assim da colher é quando ele está bom. Encheu, encheu Encheu cheio ; (...) Tirou o toco ; tirou-o para fora. INQ1 E não se põe nada? Não se põe sal nem nada? INF Põe-se uma coisinha de sal quem gosta goste . Quem gosta põe. INQ1 Mas esse... INF Quem não quer, (...) não põe - INQ1 Nunca comi. INF ouviu? INQ2 Olhe, então e depois a massa, é apertada dentro do quê? INF (...) Dum cincho. Pois. INQ2 Sabe o que é a francela? INF A francela é o que se põe em cima. INQ2 Ah! INQ1 É o que se põe quê? INF O que se põe em cima do queijo. INQ2 Depois de o queijo já estar feito? INF Quando o queijo se começa a fazer. Quando o queijo se põe (...) no cincho... Acaba de se pôr a massa (...) no cincho - que chama-se depois massa; depois já perde o nome de leite, passa para massa -, quando se põe no acincho -, põe-se-lhe a francela em cima. Depois a gente está ali um bocadinho, a francela vai fazendo aquele carão na massa, e depois a gente tira a francela e vai-o apertando com as mãos, vai-o apertando. Vai-o apertando - a massa amassa com as mãos - e vem apertando o cincho. O cincho é assim, depois vem-o apertando. E tem um ganchinho que tem aqui uns buracos e esses buracos é por onde a água vai saindo. E a gente vai-o sempre apertando, vai-o apertando e vem vindo. Em fim dum bocado, em vendo que chega a pontos... Com as mãos, de a gente mexer, ele começa-se a pôr muito mole. Põe-se mole, a gente chega, prega com essa dita francela e põe a francela em cima outra vez, outro bocadito, para ele tomar côdea. E a gente descansa ali além um bocado, está descansando! INQ1 Para ele tomar o quê? INF Côdea. INQ2 E o que é a francela? INF A francela é feito de madeira de azinho. INQ2 E é muito pesada? INF É pesada, porque tem que ser (...) uma madeira pesada. É de azinho. INQ2 Mas esta é grande? É uma coisa grande ou uma coisa pequenina? INF Aquilo, mais ou menos, pode dar quê? Pode dar assim, isto assim. Assim. INQ2 E põe-se uma em cima de cada cincho ou põe-se em cima de vários? INF Não. (...) Põe-se uma em (...) cima de cada um. Em cima de cada cincho é uma. Pois.
SRP33
INQ Não se diz pocilga? INF (...) O pocilga é para dormir. INQ Para dormir? INF Para dormir. Mas a engorda tem que ser... (...) Têm que andar cá por fora. (...) Que a gente diz assim: "O porco de engorda vai para a rociada" - que é para a rociada! Que é o andar ali no campo, que o porco também tem que transitar um bocado. Até Tem umas tantas horas (...) vai transitar - que a gente diz: "Vai transitar para a rociada" - e depois volta novamente a comer. Que o porco, quando se diz que está para a engorda, pelo menos de duas em duas horas tem que estar comendo. INQ E o que é que se dá ao porco para ele engordar? INF Para engordar, há (...) 'diferentas' comidas, conforme o dono queira o tempo em que ele leve a engordar. Pode ser com farinhas próprias, só de uma qualidade, que seja milho, como pode ser o milho feito em farinha, como pode ser a fava, só por si, deitada de molho para não escaldar a boca. Porque chega a pontos que faz doer o dente ao animal. É um bocadinho deitada de molho, ele torna-se mais macio, o animal come mais - ouviu? Como pode ser o 'gramijo', como pode ser com a cevada, como pode ser com um trigo (...) que seja ruim, que tenha muitas impurezas, que não seja aceitado no celeiro - que mandam fazer em farinhas, juntamente, aquelas sementilhas e aquilo desfaz aquilo tudo, trás! Pode ser dado em seco, dentro dumas vasilhas, como pode ser feito em travia. (...) E a porção é conforme (...) o dono tiver o compromisso, ou ele tenha falta do dinheiro. Diz assim: "Dentro (...) de dois meses, tenho que pôr os porcos à matança". Chama-se deitar os porcos à terra. É quando eles firmam o cu no chão que já se não são capazes capaz de levantar. Digo: "O porco já está com o cu no chão que tem que se... Tem que ir para a matança". Tem que deitá-los a terra. Enquanto eles andam por si, é porque estão leves. E quando o porco põe o cu no chão, que levanta as mãos só para cima, digo: "Prontos! Já se não pode dar mais comida porque ele já não põe mais carne e não aumenta mais". Está é prejudicando. Porque come e não põe mais carne. E então, nessa altura, sentou o cu no chão, vai para a matança. Chegou-se ao pé do comprador que estiver comprometido: "Olhe, tenho lá então uma vara de porcos. Tenho quarenta, tenho cinquenta, tenho cem... Estão prontos a vender". "Quantas arrobas podem ter"? "Olhe, podem ter quatro, podem ter cinco... Vamos a pesá-los". Nessa altura são pesados e o dono aliviou-se dessa carne.
SRP34
INQ1 E ele como é que faz quando anda à procura de comida? INF Quando pergunta a comida, rasteja... Rasteja com a venta. Pois. Pelo nariz é que rasteja à procura da comida. Pois. Se a comida está debaixo da terra, lá vai procurar com a tromba se a terra lhe dar... INQ1 E chama-se rastejar a isso? INF É o rastejar, porque o animal quando vai à procura da coisa vai sempre com a venta sempre baixa. INQ2 Não se diz foçar? INF Foçar é quando encontra e depois come . Que depois quando encontra a comida que ele gosta, depois foça à pergunta dela. Mas primeiramente vai rastejando ao cheiro. Ele vai andando, vai rastejando, chegou ali encontrou o cheiro duma erva qualquer ou uma raiz que ele gostou, e então começou a foçar, arrancou a raiz da erva que é para ele a comer. Que há (...) várias ervas que eles gostam, não pegam na rama, e vão à pergunta da raiz. E então vai rastejando. Encontrou, começou a foçar, para descobrir a raiz para comer.
SRP35
INQ1 Então, portanto eles estão sentados na, à beira, à beira do rio, e estão com uma coisa, estão à pesca de?... INF Estão à pesca de anzol. Chama-se aquilo uma 'cibela'. E têm a (...) cana na mão. INQ2 Olhe, e o anzol?... INF E o anzol está na ponta da roca. INQ2 Olhe... INF Que Aqui é a roca, tem o anzol, depois tem o fio e que vem à cana. INQ2 Olhe, e no anzol o que é que se põe, para apanhar o peixe? INF (...) O que se põe? Põe-se uma minhoca. INQ1 Uma?... INQ2 Como é que se chama isso? INF Uma minhoca. É mesmo o nome: uma minhoca. Que são uns bichinhos assim desta grossura INQ2 Pois, eu sei. INF que se criam debaixo da terra. INQ2 Mas também se pode pôr uma mosca ou outra coisa qualquer... INF Pode-se pôr, perfeitamente, mas aquilo é o que está (...) mais apropriado, que a bichareza 'aboquenta' mais - ou então, o peixe pequeno. INQ2 Pois. E como é que se chama isso? Se é peixe pequeno, sem dizer se é peixe pequeno, se é minhoca, se é uma mosca, se é... INF O que se chama, então, isso o que se chama é o seguinte. A gente: "Tu, do que é que (...) estás pescando, pá"? "Ando aqui à pesca". "E então o que é que 'pusestes' na 'cibela'" - ouviu? "Bom, pus daqueles peixes pequenos". Pois. (...) Ou: "Pus uma minhoca". Que assim é a resposta. INQ2 Pois. INF Pois. Mas o peixe pequeno, geralmente quem põe isso - que lhe aquilo dá muito trabalho - é (...) o pescador. Aquele que é (...) pescador que pesca de rede, que tem umas redes apropriadas miudinhas, e apanham aquele peixe assim, mais ou menos, deste tamanho, e depois tiram uma quantidade deles que lhe faz falta para porem nos anzóis... INQ2 Nos quê? INF (...) Para porem nos anzóis. E depois o resto, deitam-nos (...) para a água. E cada vez que querem queiram queira , apanham uns quantos e ficam... Agora para quem vai com (...) um dia, para passar o tempo, que é um 'sport', passar por para um rio, chegou ali, levou o tal dito sacho, rhum?... INQ2 Quê? INF Um sacho. Levou um sachozinho na mão - cá está o tal dito sacho, a ferramenta que está aí -, levou um sachozinho, chegou ali a umas nas areias, rente rumo até junto além (...) à água, que é onde há muito disso, e cavou até que descobre uma minhoca ou duas e pôs ali a minhoca e pronto. Apanhou logo umas quantas. Leva uma latinha ou qualquer uma vasilha, uma vasilhinha qualquer - 'suferiores' -, assim uma caixa de papelão, qualquer coisa. Põe uma coisinha de areia e põe ali a minhoca. Para cada vez que deita aquilo fora... Que muitas das vezes há aqueles peixes 'pequerrichitos' - hem!? - e vão, comem a minhoca. E o grande - já vêem -, não encontrando nada, já (...) não come. Já não vai porque encontra o arame - aquilo é um arame - e então já não pica. E eles, volta e meia, têm que puxar aquilo para fora para ver se verdadeiramente tem a minhoca ou não tem. Porque muitas vezes aqueles pequenos comem-os , e depois se é o caso que comem, têm que pôr, ou tornar a pôr, outra. E se há um peixe grande que vai, que engole aquilo, dá logo sinal. Porque eles têm uma bolha - chamam-lhe eles uma bolhazinha de cortiça, que está cá no fio - e desde que apanha um peixe grande, o peixe faz força e aquela bolhazinha de cortiça mete-se debaixo de água. Em eles vendo meter a cortiça debaixo de água, já sabem que há lá peixe preso. Pois. E então, começam a enrolar a roca. É uma roca que tem uma manivelazinha, começam a enrolar e depois a linha. Aquele dito fio é propriamente é uma linha. Antes era fio de carreto; e agora (...) é uma linha de 'line' nylon . Agora é o 'line' nylon . Pois. É uma linha de 'line' nylon , que eles já vendem isso apropriado. INQ1 É uma linha de?... INF De 'line' nylon . 'Line' Nylon . Linha de 'line' nylon .