STA01
INQ1 E aquela comida que vai dar ao gado? "Olha, são horas de ir dar"... INF Ao gado. "Bota lá messe. Bota lá nabos. Bota-lhe agora o milho ao gado (...) que é horas". INQ2 Rhum-rhum. INF Agora é ele. Pronto, agora é ele. INQ1 Não se diz pensar o gado? INF Olhe, aqui por o geral é: "Bota-lhe de comer". É as coisas para cá. Não vamos estar a dizer que é pensar... Pois (...) um qualquer hoje sabe bem que eu vou pôr : "Aquele é... Olha aquele que bom pensador é de gado". Que é um bom. Mas à moda aqui que se usava era: "Bota-lhe de comer". INQ1 Sim senhor. E a, essas ervas que é, o que é que é? INF É diversas. INQ1 Diga lá o nome de algumas. INF Olhe, principiando, (...) agora estamos a usar (...) já a pôr-lhe o milho, o milho ao gado, a cana do milho, o milho ao gado. INQ2 E mais? Portanto, outras ervas? INF E depois do milho, agora, ao acabar o milho, ele dão-lhe a folhada dos nabos, a folhada para o gado. INQ1 Pode ir dizendo. INF Acabou-se a folhada, botamos os nabos ao gado. Depois de acabar os nabos, quase por o geral, ele vai vir a ferranha, a messe. INQ1 Portanto, a messe é só de ferranha? INF É sim. INQ1 E depois? INF E depois de acabar a messe, ele volta a vir a nova erva para o gado. Erva. INQ1 E depois é erva. INF Depois é erva outra vez. Até agora ao milho é sempre erva.
STA02
INQ1 Portanto, e queijo também não se faz aqui? INF Não senhor. Aqui não há quem fabrique nada disso. INQ2 Cá ninguém faz isso... INQ1 Portanto, o leite aqui é só para beber? INF Para beber ou (...) INQ1 Para os animais? INF para o alimento deles. INQ2 Olhe, e não sabe como é que se fazia o leite coalhado? INF Não sei. INQ2 Isso era muito usado, não era? Antigamente o leite coalhado pela manhã, que se bebia de manhã? INF Não, não. Não senhor. INQ2 Não? INF Não senhor. Aqui (...) no nosso sítio nunca foi. INQ2 Ah não? INF Nunca, nunca, nunca, nunca. Olhe, sei dizer-lhe que, pronto, aí iam para cima, e as vaquinhas que era... (...) Agora espalhou-se isto. INQ1 Pois. INF Espalhou-se. Mas, antigamente, pois eles: "Vamos à feira" - para as mulheres paridas - "à manteiga, que vêm aqui as de tal sítio e as de tal sítio com a manteiga venderem". E então diz que punham (...) aquele leite a coalhar e tiravam-lhe por cima a tona, faziam manteiga. E depois por baixo faziam então requeijão. Mas eu não posso dar bons indícios disso que (...) não é certo . INQ1 Não há nada no leite que chame a nata? Aqui? INF Pois, é a tal nata. INQ1 É nata. INF É nata.
STA03
INQ Como é que se chama esse homem? INF O 'matachim' dos porcos, o que me vem matar os porcos. INQ Rhum-rhum. Pronto, então chega o 'matachim' e depois explique-me tudo. INF Pois. Ah, isso eu explico! Mas não lhe explico bem porque agora não estamos nessa ocasião. INQ Sim, mas todos os anos faz isso, portanto lembra-se bem. INF Mas a ocasião da matança... Chegou a matança - não é? -, o dia da matança. INQ Pois. INF Vem (...) o 'matachim', o matador dos porcos - o matador dos porcos. Chamou-se o pessoal. De manhã toca (...) a porem-se à lareira, ao lume, logo de manhã, (...) a matar, nós lhe chamamos matar o bicho. Toca a beber aguardente e a comer nozes ou figos ou bolachas. INQ Rhum-rhum. INF É isso e vinho e pão. Pronto, matou-se o bicho: "Vamos lá matar os recos". Foi o sangrador (...) com o matador, (...) os outros agarramos os recos, e o matador diz que ele o reco: "Ele o reco caiu no banco". E veio a que aparou o sangue do reco. Sangrou, (...) aparou-lhe o sangue para uma bacia, ou para um alguidar, não é? Até ali era alguidares, que ele não havia bacias, alguidares. Aparou-lhe o sangue, detrás dum matou-se outro - quatro ou cinco, ou três, ou dois, ou um. INQ Pois. INF Depois toca a chamuscá-los e a pelá-los. Depois toca a lavá-los bem lavados, (...) com água e com umas pedras de esfregar e carqueja, bem esfregados, bem lavados. Depois ergueram-se, toca a estripá-los. Tiraram-se-lhe as tripas, dependuraram-se com a rectaguarda para o ar, com os presuntos para o ar. INQ Rhum-rhum. INF Tiraram-se as tripas fora. Diz-se: "Já estão a abrir o porco" - para tirar as tripas (...) e os miúdos todos. Naquele meio tempo, vem o sangue cozido. Toca a irmos comer o sangue e a beber vinho e a comer pão. INQ Rhum-rhum. INF Pronto, acabou-se essa comida, toca a continuar com os recos a estripá-los e a acabar de os lavar. Depois acabaram de se lavar, arrumaram-se, dependuraram-se bem dependuradinhos, e vem (...) o jantar. INQ Rhum-rhum. INF E dali do jantar ficaram os porcos por desmanchar até amanhã.
STA04
INQ1 Quem é que mexia nas tripas? INF As mulheres iam chamar-lhe - estrumar as tripas. Deitar aquele adubo fora, e elas muito direitinhas para irem para o rio, para as lavarem, INQ1 Rhum-rhum. INF dentro do cesto. INQ2 E os homens continuavam a desmanchar? INF Não. Depois de os homens desmancharem. Depois de o comer feito e comíamos, pois as mulheres iam lavar para o rio e os homens iam... Não podemos dizer para a bebedeira que fica feio! INQ2 Fica muito feio! Risos INQ1 Mas nesse caso... Portanto, nesse dia já, os homens já não faziam mais nada? INF Não senhor. Os homens já não faziam mais nada. INQ1 Portanto, e as mulheres iam para o ribeiro lavar? INF Para o rio lavar as tripas. INQ1 E, e depois o que é que fazi-, o que é, como é que lavavam as tripas? INF Lavavam... Ai, esse assunto é: INQ1 Exacto. INF despejaram-nas no rio, por o rio abaixo, (...) pela água abaixo; depois viravam-nas, com o de dentro para fora, e lavavam, e esfregavam aquilo muito bem lavado, muito bem esfregado. INQ1 Rhum-rhum. E essas tripas eram para fazer o quê? INF Chouriças e chouriços. O fumeiro. INQ1 Pois.
STA05
INF No segundo dia, depois lá vinha (...) o matador dos porcos - mas depois só é o patrão e o matador! Toca a desmanchar os porcos, a abri-los para os salgar, cortar-lhe as patas e abri-los. Pois cortá-los por o meio abaixo, e levá-los para a salgadeira e salgá-los. E depois comer umas assadurazitas e beber umas pinguitas. Depois pitar a carne para o chouriço, a que era de pitar, e a outra para a salgadeira. INQ1 Mas quem é que pitava a carne, eram as mulheres? INF Os homens. INQ1 Os homens. INF Os homens. INQ1 Era porque era muita quantidade, não é? INF Pois. INQ2 Mas ainda não... Eu queria perguntar uma coisa era: no fim do primeiro dia, o que é que se ceava? INF Ai... INQ2 Ainda se ceava alguma coisa do porco ou não? INF Depois do jantar, depois cada um era em sua casa, para a sua casa. INQ2 ... Rhum-rhum. INF Quase que normalmente é assim: depois lá fica só a família. INQ1 E no segundo dia, também tinham uma comida especial? INF Ai, isso está bem! Isso a comida, está bem que era especial. INQ1 E o que é que era? INF Ah! O que é que era? Se calhar pode ser vitela... INQ1 Ai não comiam do porco? INF Vitela. Não. Do porco, comia-se um bocadito dos miúdos, o primeiro dia - um bocadito. Podia ser uma grande caçada de perdizes - que eu já (...) por graças a Deus, naquele tempo tinha-as, se calhar, aí uma dúzia de perdizes, ou mais - ou de coelhos bravos. E do porco só era o que tocava dos miúdos: fígado, fígado e assim. Não era mais nada - o primeiro dia. INQ2 Então e depois? E fazia-se morcelas com o sangue ou não?... INF (...) Não senhor. O sangue era ele sozinho primeiro. INQ2 Era só no... INF Era primitivo. Era a primeira coisa... INQ2 Era cozido? INF Cozido. Sangue cozido com azeite e pimento espanhol - porque tanto me dá que isto acuse como é que não acuse. INQ2 Não faz mal nenhum! A gente também come pimento espanhol... INF Mas isto é assim, não é assim?
STA06
INQ Portanto, como é que se chama àquele que é filho dum cavalo e duma burra? INF Chama-se-lhe: em sendo macho, é macho; em sendo fêmea, é mula. INQ Rhum-rhum. E pode ser tanto filho dum cavalo como filho duma égua? INF Não. INQ Sendo, sendo o cavalo o pai e a burra a mãe? INF Não senhor. É macho sempre e mula sempre. É (...) um macho burrenho ou uma mula burrenha. INQ Rhum. INF E é um macho (...) de égua - compreendeu? -, ou mula de égua. INQ Rhum-rhum. INF É assim, então. INQ É, é. É isso mesmo. INF Ah, valha-me Deus! Vocês sabem mais do que eu e vêm cá para me (...) .
STA07
INQ1 Sabe como é que se tira a cera das abelhas? INF Sei, sei. INQ1 Então como é que é. INF Junta com o mel. E a cera, no mês de Março, também sei. Mas é a cera seca e a cera verde. Agora tira o favo do mel junto com a cera para um balde ou para uma bacia. E depois espremo e esgoto o mel, e depois fica uma cera. E é por cima do cortiço. E no mês de Março, viro a colmeia e tiro a cera seca para o fundo da colmeia. É assim. INQ1 O que é que põe para, para, para elas não lhe ferrarem? INF (...) Vou-lhe dizer que ponho uma careta, mas eu já a meter medo que me encontram feio e não me querem morder. (...) INQ1 Acho que não põe careta nenhuma! INQ2 Mas o que é que põe para elas?... INF Ponho uma careta, com uma rede, INQ2 Pronto. INF pela frente para me não morderem. INQ2 E não põe?... INF Tapo-me. INQ2 E para elas saírem do, do, da, do cortiço para fora? INF Ai, para elas saírem do cortiço, mas é para lhe tirar a cera e o mel. INQ2 Pois. INF Ponho-lhe um bocadinho de fumo com o ar - a fumar com o ar (...) . INQ1 Não usam uma coisa qualquer que se chama a crestadeira? INF Mas é (...) para ripar para fora. INQ1 Para cortarem... INF Sim senhor. Para cortar os favos do mel. INQ1 Como é que se chama isso então? INF Nós lhe chamamos-lhe uma crestadeira. Até lhe chamávamos uma rapadeira. INQ2 Rhum-rhum. INQ1 Olhe, e há outros bichinhos... Portanto, o mel é só isso. Ainda há outra coisa que é importante no, no, ne-, para quem cultiva abelhas que é: como é que se apanha um enxame, quando eles fogem? Quando é preciso... INF Quando se apanha o enxame, eu levo um cortiço limpinho - podendo levar -, um cortiço limpinho e ponho-o e é como apanho o meu enxame. Não é com mais nada. Se lhe às vezes faço um bocadinho com cera verde para elas lhe começar a cheirar. Não lhe boto mais nada. Pronto. INQ1 E não toca nada? INF Toco-lhe com uma pedra de lá adentro... INQ1 Como é que diz? INF "Casa nova, casa nova, casa nova". Pronto. É sempre aquilo que me ensinaram. INQ2 E elas entram lá para dentro depois? INF E elas entram para dentro constantemente. Estou tocando no cortiço: "tum-tum-tum-tum-tum-tum-tum-tum-tum". Ou com um martelico: "Trum-trum-trum", para a abelhinha entrar para casa dela. INQ2 Rhum-rhum. Portanto, isso já perto do enxame, quando?... INF O enxame a entrar pelo cortiço dentro.
STA08
INQ1 Olhe, faz de conta que lhe foge um enxame e vai para uma terra que não é sua. INF Eu lá já não vou por ele. INQ1 Não vai por ele? INF Pois não. Vai o dono da terra. INQ1 Ai é? E mas, e se vem o, portanto, o enxame para a sua terra, o senhor é que tem direito a ele? INF Também. É meu. INQ2 Rhum-rhum. Isso não sabia. Julguei que se podia ir buscar. INF Não, mas não. Eu não vou lá dentro (...) do que é do vizinho. Porque se se ele desloca... É um supor, que é um supor, que eu, eu tenho umas colmeias lá abaixo, um pedaço grande e, vamos, vem um enxame por aí acima e pousa aqui na do vizinho, eu não sei se ele é meu, se não é. Não é? INQ2 Pois. INF Em vendo o dum vizinho e vem pousar ao meu, não sei se ele é meu, se não é. Agora para ser justamente, se o venho acompanhando, quase dou por ele. INQ2 Pois. INF Eu ando com um bocado de vergonha, não é? Se não venho, não vou. Só se me ele disser: "Vai lá"! Que eu já dei com eles a virem-me aqui às vezes por eles. INQ2 Rhum-rhum. INF Que a gente tem aqui colmeias. Não viram já aí umas colmeiazicas? INQ2 Vi, para trás. INF Pois.
STA09
INF Como a havia aqui! Pode saber, se viveu em Cabeceiras. (...) Qualquer aldeia há Juntas de Freguesia. Presidente e membros da Junta. INQ1 Pois, pois. INF Presidentes e membros. Andam para aí, que todos gostavam, não sei, queriam ter a fama, um qualquer, de dizer: "Ai, eu sou o Presidente da Junta (...) daquela aldeia, ou daquela, ou daquela". Não sei como principiaram para aí com essa: "Daqui, nhum, nhum, nhum! Daqui, nhum, nhum, nhum, nhum". Daqui, dali e dacolá. Quando foi no 25 de Abril - que as senhoras lembram-se, ou não? -, INQ2 Sim. INQ1 Sim. INQ2 Lembramo-nos muito bem. INF por acaso, eu, analfabeto - ai Jesus! Como andava o mundo! -, também me levaram (...) para a Junta da Freguesia. Digo eu: "Mas eles estarão maluquinhos! Oh! Quem é que se lembrou de tal coisa, sem saber assinar nada disso"! (...) Que até fui à caça! Pff! Entrei por essa Espanha dentro - donde cá ainda não havia, havia em Espanha. INQ2 Pois. INF E um senhor qualquer de Montalegre telefona-me para aqui: "Oh, (...) tal dia abre (...) a caça em Espanha". E eu já farto de o saber; já o sabia. (...) Ainda antes de um mês (...) de abrir já sabia que dia é que abria. INQ1 Rhum-rhum. INF E telefona-me: "Gotardo, tu podes"... (...) Dizia-me: "Pode ir? Eu poderei lá estar às tantas da manhã. (...) Se fica de estar, mas esteja à hora que quiser. Eu cá estou. E se está mais tarde de que essa hora tal, só me encontra por tal sítio". Brrr! Quando eu, às tantas, o carro, (...) eu dei conta que parou ali em cima, que eu já andava a pé, e lá fomos. Quando eu aqui coiso, pronto, também fui. Tinha sido para a Junta da Freguesia. Eu e outros dois. "Como é que eles estão tolos, pá?! O mesmo foi para o presidente? E mesmo nós púnhamos um carimbo pelas informações de mim. Pelas informações do Gotardo é que pomos um carimbo (...) e aquele que vê que assinar, põe-lhe um carimbo e ao que vê que não assina, não põe. E, de resto, os outros é que 'há-dem' assinar". "Mas não quero presidente (...) "! Chatearam-me para... Lá me aguentei, eu e eles... Veio o 25 de Abril, houve aquela revolta, tudo fora. Eu fiquei tão tranquilo, tão tranquilo, que foi como que - ai! -, como é que me dessem (...) um grande manjar, não foi?! Um grande manjar! (...) Queria que visse o que... Então, vá, no fundo, nós, nós éramos os chamarizes. Que trabalho aqui fez a nossa povoação ! Que trabalho que aí fez, coitados! Uns com os outros. Todos. Colaboraram uns com os outros. Se houve de ralhar, fui eu com o Presidente da Câmara. Eu era analfabeto. Ai, cheguei-lhas!... Para lhe dizer, olhe, pois tanto faz. Se os senhores são matrimónio, são; e se não são, é igual. (...) INQ1 Somos, somos. INF Não, mas é assim mesmo. Disse-lhe: " (...) Ó senhor doutor, queria que furássemos os penedos das rochas com o grilo? Não as furávamos. Então levam-nos o compressor e tiram-nos as mangas? E deixam-nos lá o compressor para quê"? Se eu tinha (...) o meu povo todo assim a ajudar-nos (...) a esbandalharmos aquilo tudo, tudo ali, e tiram-nos as mangas dali para fora?! Depois encheram-me o corpo disto e daquilo, e o senhor presidente agora ia-me pedir isto e aquilo e eles querem... Não, por minha ideia e dos que forem do meu lado, não põem. Não põem aqui nada em Montalegre. " Ó Gotardo, assim, ó Gotardo, assado, temos que... Olhe que ele o ministro vem cá, a ver se nos ajuda". "Que me ajude, que não me ajude, nem ministro nenhum nem presidente me ajuda como me ajuda o meu povo, eu para eles e eles para mim, a trabalhar". E não. E não! O homem naquilo lá ... "Pois, agora o meu homem já está e não vem". Pronto, passou-se. Mas olhe que depois batiam-me assim e diziam: "Ó Gotardo, assim é que são homens"! "Então, lá vai a máquina e o compressor e lá vai isso para vos ajudar a trabalhar". Mas assim criei os homens (...) para se fazer serviço no nosso concelho, que é um concelho pobrezinho! INQ1 Claro. INF Pobrezinho! Assim é que se faz (...) o serviço uns com os outros. Depois mandou-nos o compressor, mandou-nos para aqui um homem para trabalhar, mandou-nos coisas. Eu fiquei íntimo amigo eu e o homem. INQ1 Rhum. INF Mas se o Gotardo (...) começa a "rnhum-rnhum", a engrunhar, as coisas (...) não rolavam bem. Porque eu goste que role, para mim, mas também gostava que rolar para os outros. INQ1 Pois. Mas era para abrir alguma estrada? INF Para abrir uma estrada para a tal praça que ele abriu para nós e para os espanhóis. INQ1 Rhum-rhum. INF Que era um caminho horrível (...) ! Mas é que nós de lá é donde tiramos os comestíveis, pode-se dizer, para comermos e nos alimentar esta freguesia toda - INQ1 Pois. INF quase com duzentos fogos, que estava; agora está como hoje se vê. INQ1 Mas agora já está boa. Já está, já está boa... INF Agora vai lá o carro. Vamos lá se quiser. Vamos lá com o carro por aí abaixo, direitinho quase como vai por aí acima, homem! É assim mesmo! Pronto, aquilo passou. Veio o 25 de Abril, entraram as (.../N) , eu não me zanguei nada por sair, que eu gostei. Entraram uns, já saíram outros, e tal, aí têm andado. Entra um, não querem... Agora, depois, puseram - não sei como lhe chamam -, puseram dum lado e doutro: do PPD, ou do AD, e os que agora estão, vão, pegaram e fizeram outro partido, do APU. INQ1 Pois. INF Ou do APU ou... INQ1 Pois, pois. INF E pega aqui votou a maior parte no APU. INQ1 Aqui? INF Aqui. Risos Pois. INQ1 Por isso é que ficaram conhecidos cá. INF Como comunistas. Compreendido. Como comunistas. INQ2 Então mas isso não é vergonha nenhuma. INF Não é vergonha nenhuma, mas agora o Presidente da Câmara não ajuda para aqui nada, nada, nada. INQ1 Mas, portanto, votaram aqui para a Junta de Freguesia? INF Para a Junta de Freguesia. INQ1 Portanto, a Junta de Freguesia daqui é da APU, é? INF Pois. INQ1 E o... INF E o Presidente da Câmara... INQ1 É do PSD. INQ2 É do PSD. INQ1 PSD ou PS, agora... INQ2 Não. Não sei. É PS também? INF É o da AD. É o AD. INQ1 AD. INQ2 A AD já não... INF Já não existem, não? INQ1 ... Portanto, e aqui, não ajudam nada agora para aqui? INF Cá?! Cortou tudo. (...) INQ2 Mas aqui é a única freguesia APU nesta zona? INF Oh homem! Então nós (...) estávamos a caminhar bem, mas agora... Donde é que nós tem?... A Junta, onde tem rendimento para fazer uma ponte? INQ1 Pois. INF Daqui ali, (...) quando ele nos juntamos, a Solveira, outro dia... INQ1 Mas falta só o... INF Porque vocês não conhecem isto. Porque não conhecem nada disso. Mas eu, daqui para Vilar de Perdizes, INQ2 É muito pertinho. INF vocês saem daqui com o carro (...) para Vilar, e eu saio por aqui a pé, e a pé chego tão depressa quase como vocês a Vilar. Compreendido? INQ1 Ah pois. INQ2 É que para ir para Vilar de carro tem que se dar uma volta medonha. INF Acabou-se. Para ir pela Solveira, eu com dois tiros de chumbo, aos senhores, ao passarem, - posso-lhe dizer; daqui não, mas dali -, quase com dois tiros de chumbo, ao passarem, e tal, agrido-os, não é? E têm de ir a Gralhas e dar aquela volta. INQ1 Pois é. INF E aqui era chxiu! E de Solveira ia a Vilar, e de Vilar corria a Chaves, que era como nos dizia lá (...) o dono da empresa (...) das carreiras. Diz: "Vós fazeis aquela estrada, nós vamos: Vilar, Solveira, de Solveira, Santo André, ou Santo André, Gralhas e Meixedo". Apanhamos tudo (...) com a mesma cajadada. INQ1 Pois. INF Aí estamos nós aqui neste recantinho, presos - presos, enrolados -, e agora o que eu quero dizer aos senhores: não sei se são do partido B, se A, se C... INQ1 Não. INF Eu para mim o meu partido é o meu, pronto. INQ2 Eu não sou, eu não sou de partido nenhum. INF Então pronto, acabou-se. Mas é que hoje (...) tanto me dá. (...) INQ1 Pois. Ah, mas achei mal. Lá por a Junta ter, portanto, as pessoas terem votado aqui APU, que o Presidente não dê dinheiro para cá por não ser da mesma... INF Ai, não... Que não ajuda nada em nada! Cortou tudo! Tínhamos os saneamentos a andar; as águas, estamos com elas mal; a estrada aí faz-nos uma falta formidável. Tal está, cortou tudo! INQ2 Mas a obrigação do presidente é dar apoio às juntas de freguesia, seja qual for o partido que lá está. INF Está bem, mas eles estão ... Eu tenho um primo... INQ2 Um presidente é assim. INF Um primo meu! Tenho um filho dum primo carnal directo meu, que ele morreu, e está um filho, um doutor, lá (...) nos deputados. INQ1 Rhum.
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INF Eu, para mim, que mais me dá este, que mais me dá aquele, que mais me dá aqueloutro! Eu, o que eu gostava era que corresse a minha vidinha mas não estragar a sua. E a senhora ou o senhor, se eles querem também estragar a minha, que Deus Nosso Senhor nos castigue a qualquer um. É ou não é assim? INQ1 Acho que sim. INF Eu encontro que é assim mesmo. Se pudéssemos todos rolar tranquilamente (...) ... Era ou não era? INQ2 Claro. INF Eu encontro que é assim. Pronto. (...) Dizia o meu pai, pois foi o meu instrutor. Um que morreu, coitadito, (...) que me deu ainda catequese: "Ah! Ó Gualberto", para um vizinho, "então, homem, tu e quem vives"? "Eu sozinho". "Cala-te homem. Olha que o diabo já lá não quer mais nenhum". Que ele já estava velho. Tornava, estando tal, com o resultado e tal: "Ah, ah, ah! Ó Gualberto, tu e quem? Então agora já"... "Olhe, porque estou eu sozinho". "Cala-te, homem, cala-te, que ainda o diabo cá tem mais um". Compreendido uma vez, dizia... Mas na brincadeira! (...) Para mim, cai-me estas chalaças (...) que dizia aquele homem. Um homem que, Jesus, Senhor, que era... (...) Mas caíram-me, parece que até melhor ... E outros que parece que dizem assim: "Ó amigo, ó amigo, ó amigo"!, mas são é: zás! É enterrar o amigo. Olhe que só é a enterrarem o amigo. INQ1 Também há. INF Hã? Não há disso? INQ1 Há, há. INF Principalmente aqui por o nosso sítio que somos tão retorcidos uns para os outros!
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INQ1 Diga lá como é que é? INF Dizem na nossa... Quando entra a lua nova e vem trovões, (...) dizem assim: "Lua nova toada, trinta dias molhada"! INQ1 Rhum-rhum. Olhe, e para além da lua, há uns outros, outras pequeninas que brilham à noite. INF Está bem. As estrelas. INQ1 E, e há umas estrela que aparece mais cedo do que as outras. INF Chamamos-lhe a estrela-do-pastor. INQ1 E há... INF Que diz que era por que o tal pastor se guiava. Não sabemos mais nada. INQ1 Pois. INF (...) Eu é aquilo que ouvia - INQ1 Rhum-rhum. INF não é? - nos meus velhos. INQ1 E, e não há umas, portanto, é um conjunto delas que são sete? INF O sete-estrelos. Esse só vinha depois lá... Cá chamam-lhe: "Aí vem o sete-estrelos rondador". INQ1 Rhum-rhum.... INF Era (...) a conversa da minha aldeia. INQ1 E INQ2 E o que é que isso quer dizer? Porque é que são os sete-estrelos rondadores? INF Porque havia rapazes que andavam a botar as rondas de noite, que sem ninguém lhe ver, cantando. E depois diziam: "Olha, aí andam os do sete-estrelos a rondar agora". INQ1 Rhum-rhum. INF A cantar, pela rua abaixo e acima - como aparecem nas cidades, deitados nos bancos. Cantam (...) e depois não podem cantar... (...) INQ1 E não há um, outras que são assim três seguidas? INF Ai, (...) até me lembra de ouvir, mas olhe, eu não... INQ1 Nunca ouviu falar nas três-marias? INF Ai, nessas três estrelas... As três estrelas. INQ1 Pois. INF As três estrelas é que eu não lhe... Essa, eu não lhe digo como é (...) ... Ai, Gotardo! (...) INQ2 Pronto, deixe lá! INF Passaram-se-me as coisas. (...) Eu tinha tudo tão bem encarrilhado! INQ2 E... INF Olhe, ai que não me lembra! INQ1 Deixe estar. Pronto.
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INF Vinha um senhor de Lisboa para aqui e vinha todos os anos passar férias. Mas é com verdade! INQ1 Pois. INF Que lha conto como... Férias de Lisboa, aqui, (...) neste tempo! E um domingo toca o sino. Cá, por exemplo, vá, toca de bombo para ir à missa, quem quer ir. O senhor se quer ir, vai e se não quer ir, ficou. E o homenzito, coitadito, até era manquito - ele na minha casa não bebeu -, e aprontou-se num instantinho para ir à missa. Ora, cá não há casas (...) de esgoto. Não há casas de nada disso. É uns para aqui, outros para ali, para onde se escapam, ao esconderijo. E o homenzinho deu-lhe vontade - é assim mesmo, pois dá a todos - de ir dar de corpo, e vai num instante ao pé da igreja, escapa-se ali (...) a um sítio esconderijo. E lá, depois, foi limpar (...) - para lhe pedir licença -, vai limpar o rabito e enrodilha as suas urtigas. Nós lhe chamamos urtigas. Enrodilhou-as... O homem era manco, fugiu, ele fugiu, que: "Ai Jesus"! "Ai, que ervas aqui há"! Risos INQ2 É a pouca sorte. INF "Que ervas aqui há"! "Que ervas aqui há"! Lá se vai lavar, faz ferver a água, faz tudo... INQ1 Pois. INF Olhe, chama-se-lhe as urtigas. INQ1 É isso. INF É? Então olhe, bote-me aqui outra pinga, mas olhe que não lhe ensino mais nenhuma. Já que (...) vocês não me ensinam a mim...
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INQ1 A cidreira também já aqui está. INF Ah, ah! A cidreira está ali; aqui há muita. INQ2 E manjerona há por aqui? INF Há muita. Eu agora tinha aqui umas quantos pés dela. E eu gosto. E é o que tenho usado e acho muito... INQ2 Como é que chama? INF Cidreira. INQ2 Pois. INQ1 E manjerona? INF Não. Aqui é cidreira. INQ2 Pois. E um, um que é, que acho que dá aí nos montes, que se diz... Até há uma cantiga que se diz: não sei quê "aos molhos, por causa"... INF Oh, já sei também. Cria-se ali de volta das abelhinhas. INQ2 Das abelhas? INQ1 É o quê? INF Das abelhas. O alecrim. INQ2 Isso. INF É. INQ2 Sim senhor. E uma que dá... Cheira muito bem, e que dá uma flor, é, é... INF (...) Como que é um bagozito assim comprido, não é? INQ1 É, é. INQ2 Sim. INF Também se cria de volta das abelhas. (...) A arçã. Será arçã? INQ1 Como? INF Arçã. INQ1 Arçã? INF Arçã. INQ2 Arçã. INQ1 Arçã. INF (...) "Quem está doente e por a arçã não passou"... "Quem por a arçã passou e não cheirou com o mal ficou". Que é a tal que dá muito cheiro, não é? INQ2 Dá. Mas é, é roxo? INF Roxo, a flor. INQ2 A flor. Que é assim sobre... A flor sobre o comprido? INF Isso mesmo. Pois, é a arçã. INQ2 Não é a mesma coisa que o rosmaninho? INQ1 Quem por a arçã passou e não cheirou... INF Não senhor. "Quem por a arçã passou e não cheirou com o mal ficou".
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INF Ai! Valha-me Deus! Vocês 'chamarão-me' a isto os míscaros ou os patanelos? (...) INQ1 Mas agora... INQ2 Diga lá. INF (...) Os cogumelos. INQ2 Míscaros. INF Míscaros. Ai, ele valha-me Deus! INQ1 Cogumelos. INQ2 E que mais? Cogu-, quê? INF Os cogumelos é uns... INQ2 Cogumelos. INQ1 São uns? INF São uns. Os míscaros são outros. INQ1 Qual é a diferença entre um e outro? INF (...) Nós chamamos-lhe: os cogumelos é os patanelos. INQ1 Rhum-rhum. INQ2 Cogumelos ou patanelos. INF Patanelos. Cogumelos patanelos. E os outros são míscaros. INQ1 Porquê? Mas qual é a diferença entre um e?... Como é que se distinguem? INF (...) Ai, é muito bem. É (...) no folho e no pé que botam, (...) e naquele folhelho que botam porque parecem folhas. INQ1 Rhum-rhum. INF Parecem estas folhas de livro, não é? INQ2 Sim. INF É isso. É os patanelos. E o míscaro é direito, directo por baixo. INQ1 Portanto, não tem essa parte. INF Pois. INQ1 E ambos se comem? INF E ambos se comem. Ai, ai que longe! É por isso que as coisas andam tão... INQ1 Deixe estar. INF Ai, que longe! INQ2 Mas a gente quando... INF (...) INQ1 E não, e não há uns que também se apanham... Diz. INQ2 E os que não se podem comer como é que se chamam? INF Chamamos-lhe como? (...) É assim: os vermelhos, chamamos-lhe arrebenta-bois, nós cá no nosso sítio - os vermelhos. INQ2 E os outros? INF E os outros chamamos-lhe as cacabinas. Cacabinas também que não se podem comer. E outros comem-nos. Pronto! E eu também hei-de experimentar a comer, que eu gosto muito daquilo. Pronto. INQ2 Estes cacabinas? INF Das cacabinas brancas. INQ1 Mas há umas redondas que estão debaixo da terra ou crescem para fora? INF (...) Crescem para fora! Vêm mesmo , porque são assim altas. Se for preciso são assim. INQ2 E não há já nenhuns também muito venenosos que se chamam 'ressalgar'? 'Ressalgar'. INF Não. Ele isso aqui não conheço. Aqui é tudo, olhe, é patanelos, (...) arrebenta-bois, cacabina... O patanelo e o míscaro é para comer. E o arrebenta-boi e as cacabinas... Só há cacabinas e patanelos. Dos outros não lhe ouço chamar mais nomeadas. INQ1 E não há uns assim redondinhos que crescem debaixo do chão junto à, à?... INF Nós é tudo míscaros. É tudo míscaros. INQ1 Mas então esse que eu estou a dizer não, muitas vezes não rompem para fora do chão? INF (...) Mas isso é conforme a árvore que os dá. INQ1 Parecem umas batatas. INF Nós dizemos assim: "Olha, olha que míscaros aqui há de carvalho", ou de castanheiro, ou de tojo... Que os do tojo são roxos. INQ1 Rhum. INF (...) Um homem parte assim um míscaro, é branquinho. E de caminho, de momento, ele abre aquilo, ele abre tanto que fica todo roxo! Mas são distintos! INQ1 Rhum-rhum. INF Distintos, (...) ai Jesus, para comer!
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INF (...) E pode pôr também carqueja. INQ É igual a?... Não é bem verde? INF (...) Não é bem igual, é diferente! INQ E como é que é a queiroga? É verde? INF A queiroga é imitante à urzeira mas é verde. É verde.
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INF Para fazer o pão, primeiro tem que se (...) pôr o fermento na masseira. Um bocadinho de farinha, um bocadinho de água e um bocadinho de massa da vezinha anterior, para o fermento levedar. No mesmo dia, depois de o fermento estar lêvedo, pode a gente peneirar, amassar e levedar. (...) Antes de levedar, deita a gente para um cesto, para um lençol, e fica a levedar hora e meia. No Verão, hora e meia e no Inverno, duas horas. Leva-se para o forno. INQ1 E quanto tempo amassa? INF Dez minutos. INQ1 Só? INF Só. Dez minutos, para amassar uma fornadinha de pão. INQ2 ... Portanto, põe num cesto e aquilo fica a levedar, é? INF Fica. Tapadinho com um lençol. INQ2 E ainda em casa? INF Aqui em casa. Depois vai para o forno, tira-se para fora do cesto, estende-se uma palhinha num tendal que a gente já lá tem, estende-se o lençol, a gente começa a fazer os pães. Põe ali o pão. Põe ali, aquece o forno, para o pão tornar a estar lêvedo. Varre-se o forno e mete-se o pão dentro. INQ2 E quando está a fazer aquilo ao pão, como é que diz que está a, a fazer? INF A tender. A tender. INQ2 E depois é que põe no tendal? INF E depois arrodilha a gente o pão. Corta o pão, arrodilha, atira com ele para o tendal. Fica a levedar. Depois de o pão estar todo cortado, todo postinho no tendal, tem uma hora para levedar. INQ2 Rhum-rhum. INF Depois de estar lêvedo, a gente varre o forno, mete-o dentro, ao fim de hora e meia está cozido. INQ2 E varre o forno com quê? INF Varre-se o forno com matão, uma giesta. Uma giesta enfiada num estadulho, num pau grande, a gente começa a varrer, e é donde se mete, com uma pá. INQ2 Pois. E por onde é que puxa o, as brasas? INF Para a porta do forno. (...) INQ2 Tinha que puxar para a porta? INF Só para a porta. Não se tira para fora. INQ2 Não? INF Há aldeias que tiram para fora, mas nós não. Fica na porta do forno. INQ1 E nunca fecham a porta do forno? INF (...) Nunca fechamos, que não tem porta. (...) Tem a porta mas não tem a fechadura. INQ2 Rhum-rhum. INF Fica sempre (...) o forno aberto. INQ1 Mesmo no Inverno? INF Mesmo no Inverno. INQ1 Quando há neve?... INF Sempre.
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INQ Um sítio onde há muitas árvores de, de fruta, aqui dão-lhe algum nome? INF Aqui não lhe damos o nome (...) ... Olhe, não lhe damos nome... Aqui é donde está tão atrasadinho que não tem nome nenhum esse sítio (...) ... INQ Pois, era só para saber se dão. INF Pois, por aqui (...) não lhe dão porque não dou conta que ninguém lhe chame, que ainda não ouvi a ninguém aqui (...) no nosso sítio. Nem aqui, aqui no nosso concelho, INQ Pois. INF não dei conta nenhuma. INQ Pois. INF Donde vai um homem por aí fora e diz assim: "Olha que pomar tão bonito"! INQ Rhum-rhum. INF E aqui não lhe chamamos pomar. "Olha tantas maceiras"! Ou macieiras. INQ Rhum-rhum. INF "Tantas pereiras de roda daquele ladeiro"! - ou daquela vala. INQ Pois. INF É o que nós lhe chamamos. De roda do terreno onde tem muitas: "Olha, naquele nabal - ou naquele lameiro - tem três ou quatro pereiras, tem cinco ou seis macieiras"!... INQ Pois, dependendo dos... INF É assim mesmo.
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INF1 Eu já disse. Estou conversando não sei (...) com quem, que ainda foi uma coisa que não procurei, mas é assim mesmo. Eu sei quem é. Eu sei que é ela. Mas olhe, um dia qualquer... INQ A gente não o leva para a prisão. INF1 Não. Mas um dia qualquer - que não foi um dia, foi por duas vezes - já tive muitas consultas médicas. E dos advogados cuido que ainda muitas mais. Fraco sinal, o mal de tudo! Porque se fosse boa pessoa, não era preciso o (...) de advogado, e se fosse são, não era preciso médicos. E diz uma vez um médico, dizendo eu : "Ó senhor doutor, olhe que isto parte (...) da feira" - aqui por o nosso sítio - "é festa, poderei botar um copinho de vinho? Às vezes me junto com os meus amigos"... E diz: "Poucochinho. Há que beber com jeito". Estávamos ou quatro ou cinco colegas - quatro éramos - e diz-me: "Mas olhe, (...) que beba com jeito, que estejam os colegas de frente e que lhe vejam encharcado no céu da boca". Compreende (...) a senhora? INQ2 Não. INF2 Não compreendeu. INF1 Não compreendeu? Estarmos aqui a conversar todos e eu beber, beber e até abrir assim a boca e vermos já o vinho encharcado no céu da boca! INF2 Foi um doutor que lhe deu esta receita.
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INF1 Mas também volto a lhe dizer outra... (...) Mas se lhe não conto estas que lhe conto, se não foi assim, tal e qual, a conversa como agora aqui nós todos... INQ1 Claro. INQ2 Claro. INF1 Igualzinho! Indo eu e um - agora não sei se é general, se que é - um espanhol. Ele é major e médico - lá quando entra lá no... - em Vigo. INQ2 Rhum-rhum. INF1 (...) Em andando com eles à caça... E saímos daqui, eles ainda mataram o bicho melhor do que eu! Que eles eram espanhóis, não tinham... Mas lá andámos. Fomos por aí acima por donde vossemecês... INF2 Eles não estão a ver o que é matar o bicho; é almoçar. INF1 É almoçar. (...) INF2 Almoçar. INQ2 Matar o bicho é a primeira coisa... INF1 É a primeira coisa (...) ao levantar a gente. INF2 O almoço (...) é logo de manhã cedo. INQ2 Pois. INF2 É o café, faça de conta. INF1 E eles a botarem e eu com a pressa - era eu e a mãe que Deus tenha -, Deus Nosso Senhor me perdoe. Eu com tanta lide, toca a chamar - e mesmo agora, está aqui assim, assim o dentista, o tal, e um doutor assim, assim. Ai Jesus, o que me custou! "Mas vamos lá embora"! "Tu sabes "... Eles a meterem-se comigo porque foi um desafio que tivemos. Eu não sei se quando foram à Espanha, vocês não foram aqui, foram a Verín - não foi? - com o padre de Vilar. INQ2 Foi. INF1 Foi a Verín, eu logo disse que era a Verín. (...) E ele estava para ali e depois começou a falar das perdizes, assim e assado, e toca a desafiarmo-nos. O padre, eu tratava-o depois por "tu", que ele é muito mais velho, mas os galegos como tratam o pai por "tu" -, eu também e ele a mim. Digo: "Bem, ou pagas mil pesetas por cada uma, eu pago duas mil. O que matar mais é o que ganha". (...) Depois tanto, tanto me aborreceu, disse: "Não te deixo pôr os olhos na primeira"! E só te digo... Olhe, Nosso Senhor que quisesse, que viesse para aí, se não lhe dizia na mesma! "E não lhe deixo pôr os olhos"... Às vezes dizia-lhe "não te deixo", outras vezes "não lhe deixo". É mui grande , não as vê - as perdizes. Mas conto-lhe (...) que tive aí mais de quantas testemunhas. E vamos, saímos, e o padre daqui; depois éramos cinco ou seis. E aqui batem eles então sabendo de mim. (...) A mim, chamavam-me a Garça - por andar muito! INQ2 Rhum-rhum. INF1 Tinha umas pernas - graças a Deus - que subia de alto a alto, (...) deste alto para aquele, daquela baixa para aquela, era como um foguete! Ainda não estava deste lado, já estava daquele! E diz ele: "E a Garça do Gotardo"? Diz: "Aí lhe mando esta caixa de cartuchos, mas eu quero lá tornar"! Ainda não veio. "Quero lá tornar onde a ele"! Andámos, tumba, tumba, tumba, um pedaço, íamos a passar... Que vocês passaram na estrada de Gralhas para aqui (...) , INQ2 Rhum-rhum. INF1 mas nós viemos ali de Solveira cá para cima - de ao pé de Solveira. E diz-me: "Eh Gotardo"! "Diga lá. Ou mande, doutor". "Tenho uma fome que não dou passada"! "Se não dá passada, comera"! INF2 (...) INF1 "Então como quer"? "Comera". "Não posso. Deu-me isto, não posso". E eu disse-lhe: "Doutor, eu tenho aqui um cachinho, ou uma miga de pão - como lhe chamam 'ustedes', carago! -, pão negro e um cibo de carne, de toucinho de reco, vá ". Nós é reco, chamamos-lhe, (...) ao porco. INQ1 Pois. INQ2 Pois, sim. INF1 Diz: "Nada, nada, nada. Dás-me um cachinho de pão, só uma bocada ou duas, e dá-me uma regadela com a bota (...) "... A bota é a borracha. Também não tenho aí que a levaram. E o homem bota duas bocadas ou três (...) ... Ele não quis mais nada. E era do toucinho, era até era febra e gordo, vá (...) ... E bota e ao fim anda um pedaço, um pedaço: "Gotardo, que seja a última vez que te ouça dizer e que não volvas mais a dizer isso, que o pão que é negro! Gotardo, nunca mais volvas dizer que o pão que é negro! Deves dizer: negra é a fome! Negra é a fome"! INF2 Ele tinha vontade... INF1 E eu olho para mim assim: "Um doutor assim" ... Quantas vezes aqui já tenho contado?! INF2 Homem ! Tinha vontade o homenzito. INF1 O homem disse mesmo assim e olhe que me lembrou sempre, sempre, sempre, sempre. Diz: "Negra é a fome". Diz: "Não é o pão". "Dizer que o pão que é negro?! Não é negro. Negra é a fome"! INQ2 Rhum-rhum. INF1 Pronto. INQ2 Pois é. INF1 Continuamos. INF2 E é verdade. A gente quando tem fome... INF1 Agora, as senhoras, se nos querem botar duas também que fiquem lá dos seus lados, botem-nos duas também que Deus nos guarde. Porque ainda é muito... INF2 É de Cabeceiras. INF1 Ai é aqui?... INF2 A senhora. INQ1 Eu, eu não... INF2 A mãe. INQ1 A minha mãe é de Cabeceiras. INF1 Ai, então é aqui de pertinho de nós!
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INQ1 Então, e como é que a senhora faz o pão? INF1 Consoante seja a fornada. INF2 Amassamos (...) a farinha na masseira - não é? -, primeiro. Amassamos a massa. Primeiro fazemos o fermento; depois fazemos a massa; depois bota-se para o cesto - não é? -; e depois do cesto, põe-se a levedar. Ao levedar, vem para o forno; chega ao forno, a gente vai-o tender - fingir, como lhe chama alguma gente - não é? -, vai-o a gente tender. E depois deixa-o levedar; estamos a chiscar ao forno, e mentres ele leveda. Ao levedar, 'vamos-o' meter ao forno. Agarramos numa pá, metemos ao forno. Está um homem a meter ou uma mulher, e as outras carregamos o pão para dentro do forno. E não lhe fazemos mais nada. INQ2 E, por exemplo, como é que sabe que o forno já está quente bastante para pôr o pão lá dentro? INF2 Porque se põe branco à entrada (...) ali da porta; tem uma pedra que ao estar aquela pedra quente, já está o forno quente. INQ2 Depois com que é que puxa o, as brasas...? INF2 Com os matões. É (...) um lareiro assim grande, (...) com uma giesta (...) assim à moda dum matão. Olhe, está ali. INQ2 Pois. INF2 E 'puxamos-os' cá para fora e depois, ao estar aqui aquilo o forno bem varridinho, metemos o pão.
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INQ Mas, ao romper, já era com, com quê? INF Com... INQ Com que é que fazia? INF (...) Normalmente era sempre com as charruas de ferro, que nos a nós lembra - com a tal charrua de ferro. INQ Rhum-rhum.
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INF1 Bem, isso é o eirado, como o tal (...) de couves, ou beterraba, não é? INQ Rhum. INF1 Chamamos-lhe... INF2 Viveiro. INF1 Hã? INF2 Viveiro. INF1 Viveiros não, nós damos-lhe sempre (...) o talho (...) das beterrabas ou o talho das couves - INQ Rhum-rhum. INF1 donde a gente vai pôr e depois muda. INQ Pois. Mas, por exemplo, para a cebola, também chamam o talho, é? Portanto, a cebola tem que... INF1 Não. Nós nunca aqui... INQ Aqui não há cebola? INF1 Aqui não se semeia. Plantam-se, mas é comprado, já as que são grandes. INQ Pois. E como é que chama a esse grande que compra? INF1 Chamamos-lhe mercar cebolos para plantar. INQ Cebolos? INF1 Cebolos. INQ E o que é que estava a dizer viveiro? A que é que chamou viveiro? É à mesma coisa? INF2 É. INQ É. INF1 É a mesma coisa do talho (...) do cebolo (...) . INQ Rhum-rhum. Olhe, então diga-me aqui no, no nabal, o que é que costuma semear. Por exemplo, esse grande que está aqui, que até o bicho está a roer, está até, está com doença, com piolho. INF1 Ah, é o feijão. É semear o feijão. INQ Rhum-rhum. Há o feijão mas também há outras coisas que, que se semeiam aí no nabal? INF1 Ah, sim. INQ Diga lá. INF1 Semeamos aí couves (...) ou beterraba. INQ Rhum-rhum. INF1 Assim o tal era dito. INQ Pois. E uns que são assim redondinhos, com as, como as folhas da couve, mas são assim todos muito fechadinhos? INF2 Repolho. INF1 É os repolhos, vá.
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INQ1 Até às vezes se diz que passou uma pessoa e que... INF Que deu um mau ar. É. INQ2 É. INQ1 A criança está com mau ar, é? INF Pois, que lhe botaram mau ar à criança, apanhou mau ar. INQ1 E a criança ficou com quê? INF Ficou paralítica, se calhar, tolhida dum lado, muitas vezes. INQ2 Rhum-rhum. INQ1 E o que é que se faz para lhe retirar esse mau ar? INF Limpa-se com uma boina ou com uma meia dum homem - com a boina da cabeça ou com a meia dum homem. INQ1 Dum homem qualquer? INF Sim. (...) Tem que ser dum homem, duma mulher não. INQ1 Mas é de qualquer homem? INF Qualquer homem. Qualquer homem. Esse mau ar é limpo com a boina ou com a meia. INQ1 E como é que sabem que é mau ar e que não é, sei lá, um ataque? INF Olhe, quantas vezes há um animal que está, se calhar, numa corte, e vai, abrem uma porta e tumba! (...) Eu não o sei limpar por acaso, mas vai uma senhora e limpa e o animal levanta. INQ1 E o que é que ela diz enquanto está a limpar? INF Reza-lhe umas palavras que eu não sei. "Mau ar vai-te daqui, a boina e a meia andam atrás de ti"... Mas agora não sei mais para a frente. É. Limpa assim. INQ2 E dão algum nome?... INQ1 E não há aqui ninguém que saiba essa, essa reza? INF Ainda as há. Até aqui esta velhotinha do Jácome, a nossa vizinha que eu disse outro dia que sabia cantar, essa sabe, que limpava. A nós, em nossa casa, também nos limpou. INQ1 Portanto... INQ2 E da-, e dava algum nome à, às pessoas que a gente, que se julgava que davam mau ar às?... INF Não, porque muitas vezes, a gente não dá conta. Se calhar, ao abrir uma porta, vem esse mau ar. A gente não sabe donde é que vem. INQ2 Pois. INF Outras vezes, dizem: "Olha, aquela botou-me mau olhado". Dizem assim.
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INQ1 O que é que se come pelo, pelo Entrudo? INF Olhe, aqui, ao Entrudo, costuma-se comer uma cabeça de porco. INQ1 Olhe, desculpe lá, só um bocadinho. O Entrudo, neste terceiro, não é? Sim. Diga. INF Uma cabeça de porco, chouriças e chouriço. Quem tenha um frango, mata o frango e come-o. E (...) uma letria, também para não ser tão gordurento. INQ2 Rhum-rhum. INF E rabanadas. INQ1 E depois? A seguir ao Entrudo, há aquele período em que... INF A Quaresma, que não se pode comer a carne. INQ1 E depois? A seguir vem o quê? INF Vem a Páscoa. INQ1 E o que é que se come na Páscoa? INF Ah, na Páscoa, já é mais gulosa também. Essa quer pão-de-ló, quer folar, quer bolos. Essa é muito comedora! INQ2 Está. INQ1 Posso passar para aqui, para a parte das festas? INQ2 Podes. Depois... INQ1 Olhe, o que é que se faz aqui de festa? Que festa é que há? Como é que é a festa do Natal? INF Aqui a festa do Natal é unir-se (...) a família uma com a outra - aqueles que se unem - e fazem a ceia do Natal. É a única festa que aqui se encontra. INQ1 E no, mas nas ruas não se faz nada? INF Não faz. No Natal nada. INQ1 E não há uma missa? INF À meia-noite. Só houve um ano quando veio (...) o padre para aqui, agora nunca mais tornou a haver, a missa do Natal, da meia-noite. INQ1 Olhe, e depois quando muda de ano, na passagem do ano, o que é que se faz? INF Há quem diga que deita as coisas velhas que tem todas à rua; toca nas buzinas pelas ruas. Risos INQ1 E, e que mais? INF E os rapazes andam com os chocalhos ou com a concertina para aí, rua abaixo, rua acima, a espantarem o ano velho pelo novo. INQ1 E o que é que eles cantam? INF Canções que lhe apetece, de bebedeiras quase sempre. INQ1 Não havia umas canções especiais que se cantavam nessa altura? INF Não. Eles agora não procuram canções; eles procuram... O que lhe lembra na cabeça é o que eles botam, se calhar. INQ1 Não, mas no seu tempo, quando era pequena, não cantavam assim pelas portas a pedir não sei o quê? INF Não. No Natal não há; nos Reis depois à frente é que havia essas canções. INQ1 Depois de pass-, do Ano Novo. INF Depois. O dia 5 de Janeiro que é sempre o dia de Reis. Dia 5 de Janeiro e dia 6. Esses é que andavam pelas portas a cantar as canções dos Reis. INQ1 E como é que se chamavam essas canções dos Reis? INF Mesmo mas é... (...) "É os Reis, vamos cantar os Reis"!
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INF (...) Havia uma velhotinha que morreu, que era uma minha, vá, prima - que era ela do meu pai -, mas já morreu há três anos com oitenta e cinco anos. E essa é que sabia tudo (...) quanto tocava (...) do acto. Mas nós já não conhecemos nunca esse acto. Só em Vilar é que ele fomos já lá a um ele . INQ1 Portanto, mas ela ainda é do tempo em que se fazia? INF Ela era. Mas era a mais velhinha que aqui havia. INQ1 E já morreu? INF Já morreu. Essa aí é que sabia tudo ainda, do tempo passado. Mas nós não. Nós aqui na nossa terra, desde que eu nasci nunca houve isto. Vamos a Vilar. Quando é que fazem lá o acto, nós vamos a Vilar ver. INQ1 Mas lá fazem só pela Páscoa, não é? INF É. E é dia de Ramos, que é (...) oito dias antes da Páscoa, ou mesmo nos três dias que nós dizemos que é quando morre o senhor, que é os dias da ressurreição. Quando morre, é que eles fazem esse acto. INQ1 Olhe, como é que se chama àquela, àquela semana que vai do domingo de Ramos ao domingo de Páscoa? INF A semana da quaresma e da paixão. INQ1 E a quinta-feira? INF Da paixão. INQ1 Quinta-feira da paixão? INF E quinta-feira santa. E sexta-feira santa. É os dois dias. É. INQ1 Não é quinta-feira de endoenças, sexta-feira da paixão? INF Aqui, não senhor. INQ1 E sábado de aleluia? INF Nada. INQ1 Não? INF Aqui é quinta-feira santa e sexta-feira santa. Quinta-feira da paixão e (...) sexta-feira da paixão. INQ1 Está bem. Olhe, e depois da, da Páscoa, no primeiro de Maio... Quando chegava o mês de Maio, o que é que se fazia? INF Pois. Nada. Aqui na nossa terra nada. INQ1 Mas não havia assim um dia qualquer em que iam para o campo apanhar espigas e ramos de flores para pôr em casa? INF Aqui... INQ2 Numa quinta-feira? Quinta-feira da espiga, não? INF Nada. Aqui não se consta essa quinta-feira. Aqui quando é que se apanham umas flores - e só os garotos só - é o dia 12 de Maio para fazermos uma procissão à Senhora de Fátima, que é o dia 13 de Maio. INQ1 Ah! INF Mas (...) não é de espiga nem nada. O padre é que diz: "Miúdas, ide buscar umas flores para botares à Senhora de Fátima quando sairmos em procissão com ela". Depois dá a volta pelas ruas da aldeia e, ao ela recolher, é que lhe deitam as flores.
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INF É o São João. Aqui não fazem fogueiras nenhumas. Nós vemos na televisão. É do dia 24 de São João, não é? Aqui não há quem faça essas fogueiras. INQ1 E o que é que se faz cá no São João? INF Nada. Nem dia santo é. Trancam-se os caminhos. Os rapazes novos andam de noite, se apanham um carro, trancam-no numas ruas. Apanham uns paus, trancam, e depois quem levante de manhã, que queira sair com o gado e com o carro para o monte, tem os caminhos todos trancados. É dia de São João e é dia de São Pedro, que é o dia 29. INQ2 Nesses dois dias estão?... INF É os dois dias que estão impedidos. Se calhar, a gente quer madrugar para ir para o monte, chega ali, pronto, já não pode passar! Tem o caminho trancado.
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INQ1 É uma festa grande? INF O dia 15 de Agosto aqui na nossa aldeia não é. É dia santo de guarda mas não é dia santo. Não é festa. INQ1 Não se faz nada esse dia? INF Nada. Aqui (...) na aldeia de Gralhas já se faz uma festa no dia 15 de Agosto. E em Vilar de Perdizes também. Aqui não. INQ1 E não faziam nada com o gado nesse dia, em Gralhas ou em?... INF Para andar de procissão de roda da igreja? Não é esse dia, é o dia da Senhora da Saúde. O dia da Senhora da Saúde é que ele vão com as vacas... INQ1 Quando é que é a Senhora da Saúde? INF É ali ao pé de Vilar; há aquela capelinha... INQ1 Quando? INF (...) Ele costuma sempre a ser por o dia 18 de Junho, ou dia 19. Conforme calhe o domingo: ou 18, ou 19, ou 20. Quando o domingo calhar é que fazem a festa. INQ1 E o que é que fazem com, com as vacas? INF Com as vacas. Andam em procissão com elas, de roda da igreja. Promessas que fazem. Muita gente quando tem um animal doente, faz uma promessa à Senhora da Saúde que se lhe curar aquele animal, que vai lá com ele e que anda com ele de roda. INQ2 Em princípio, portanto, é só aquelas de promessa, não é? INF Pois, só as de promessa. Mais nada.
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INQ1 Há um dia já, já no fim de Outubro, princípio de Novembro em que todas as pessoas vão ao cemitério... INF Dia de Todos os Santos e dia de Fiéis Defuntos. INQ1 E o que é que fazem nesses dois dias? INF Olhe, vão limpar as campas dos falecidos que lá há e enchem-nas de flores. Depois, o outro dia, vai o senhor padre com a gente lá toda rezando. INQ2 Pois. E, e em que dia é que é a festa aqui de?... INF De Fiéis Defuntos? INQ2 Não. De, daqui da aldeia. INF Não temos festa. INQ2 Não? INF Não há festa. Temos uma festinha fraca, que é o dia 3 de Fevereiro, que é dia de São Brás. É o advogado da garganta. Mas é (...) uma festa fraca. INQ2 Mas não costuma, não costuma sair da igreja com o santo pela rua? INF A procissão. É. INQ1 Olhe, então e o Santo André não tem nada? INF Nada. Esse aí, coitado, fica desprezado. Se calhar nem a missa lhe diz, o padre. INQ2 E o Santo André é que é o?... INF O padroeiro. INQ2 O padroeiro. INF É. Mas festejam mais o São Brás, que é advogado da garganta. Porque esse se nos tapa a garganta, lá vamos! E o Santo André é cá da terra, esse está cá sempre connosco. Mesmo o São Brás é que é mais maroto, que nos tapa a garganta.
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INF Começavam quando o rapaz gostava de ir para onde a rapariga, ia para donde a ela e depois ali principiavam o namoro deles. INQ1 Mas como é que ela reparava? Ele mandava alguém dizer ou?... INF Oh! E então ele não olhava para ela! Ele basta bem olhar! A gente a olhar já dá conta! INQ1 Mas depois como é que conseguiam falar? Era s-, nas, ali nos caminhos? INF Nas ruas. Em qualquer uma rua. Aqui (...) não há namoros particulares, é ao público. Em qualquer local que se encontre podia um estar com o outro. INQ1 Portanto, e na sua altura, portanto, mas como é que foi? Portanto, o, o senhor Gotardo olhou para si... INF E... INQ1 Depois namoraram assim um certo tempo... INF Pois, namorámos um certo tempo. INQ1 E depois? INF E depois? E depois, quer que lhe conte? INQ1 Sim. INF Depois arranjámos três meninos. Risos INQ1 Não. Antes de os arranjar, antes de os arranjar. Não, mas por exemplo, ele não... Como é... Ele não entrou por casa do seu pai dentro assim! INF Pois não. Não! INQ1 Então como é que era? INF Só namorávamos na rua. INQ1 Rhum-rhum. INF E depois de o namoro continuar é que arranjámos a rapariguita mais velha que está na França. Depois foram os três. Depois a mãe dele não queria que ele casasse comigo. Depois ele veio para esta casa, que ele vivia ali em baixo, e veio para esta casa. E daí depois eu tinha os três garotitos pequenitos - eu estava com o meu pai e com a minha mãe - e morreu-me um irmão na França. E depois veio para cá e eu disse-lhe: "Bem, ou vais dormir com os homens que trazem o meu irmão da França, ou à casa duma vizinha, ou guardas os três raparigos que temos". Depois ele diz: "Não, então eu guardo os três raparigos que temos, que ficam comigo na cama". E depois dormiram os três raparigos com ele. Depois ao outro dia diz: "Olha, vamos mas é tratar e vamos-nos casar". Pronto. Resolveu casar-se e vamos embora. Risos A mãe empurrou-o para aqui, botou-o fora de casa, e depois ele tinha que arranjar quem lhe cozesse as batatas. INQ1 Rhum-rhum. INQ2 A senhora era muito novinha, nessa altura? INF Era. Leva-me dezanove anos. Leva-me dezanove. INQ1 Pois.
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INQ1 Mas nos outros casos em que era assim normal, portanto, não havia um dia em que ele ia pedir?... INF (...) Quer dizer, eles namoravam... Seja lá quem for, namoram, e depois, ao tratarem o casamento vão pedir (...) a rapariga ao pai. O namoro vai a casa (...) dos pais da rapariga pedir a rapariga para casamento. INQ1 E é o próprio rapaz que vai ou pede a alguém? INF É o próprio e (...) quase sempre um colega, para não ter tanta vergonha. Senão, é envergonhado. INQ1 E costumam fazer alguma festa, ou lançar foguetes? INF Nada, nada, nada. Cá na nossa terra nada. INQ2 Mas e no dia do casamento? INF Quem quer bota, quem não quer... Ainda há oito dias foi uma aqui e houve foguetes. E eu fui à do meu sobrinho no mesmo dia, mas o que é que nós... Ele o meu sobrinho é daqui e ela era de Vilar, (...) casaram-se em Vilar e depois fomos almoçar a Paradela. INQ1 Rhum-rhum. INF E não houve foguetes nenhuns. INQ1 Pois. Portanto, mas a partir do dia em que ele a vai, em que o, vão pe-, ele vai pedir a rapariga, já pode ir a casa dela... INF Já. (...) A partir desde esse dia, pode continuar a ir todos os dias onde é ela, a casa dela . INQ1 E ela a casa também? INF Também. Também. Depois de ele ir lá procurá-la a casa, já quando tratam o casamento, já têm que ser unidos pelos pais dos dois. INQ1 Pois. E, e depois, portanto, eles combinam o, o casamento... INF O casamento, o dia que querem casar. Convidam os convidados... INQ1 Pois. E, e como é que se prepara o dia do casamento? Portanto, o que é que se faz? Se se faz assim, se se começa a cozinhar?... INF Muito trabalho! INQ1 Pois. INF Quem queira fazer o almoço cá em casa, tem que começar dois ou três dias antes do casamento, para ter qualquer coisa pronta o dia do casamento. INQ1 Rhum-rhum. INF Quem vá almoçar fora como nós fomos, não levamos trabalho nenhum. Foi ir, pagar e pronto. INQ1 Pois. Mas antes fazi-, o que é que se fazia para o casamento, portanto para o almoço? INF Uma vitela, uns cabritos, uns coelhos, uns frangos. É o comer da terra. INQ1 Mas, isso era para o almoço, não era? INF Pois. INQ1 Mas isso começava logo de manhã? INF Os bolos. Os bolozinhos que a gente tem que fazer, ou qualquer uns doces. INQ1 Mas os convidados iam a casa dum e doutro ou, ou juntavam-se todos no mesmo sítio? INF Juntava-se tudo no mesmo sítio. Faz-se o almoço numa casa - ou na casa do noivo ou da noiva - e os convidados é que vão lá almoçar e vão-lhe lá levar as prendas. INQ1 E, portanto, e isso continuava todo o dia? INF Todo o dia. INQ1 Ceava-se também, é? INF Ceava-se também. E, se calhar, ainda para o outro dia. Muita gente ainda para o outro dia torna... Noutros tempos era costume ser dois dias de boda. Agora, quase por o geral, é só um. Mas ainda há quem faça dois dias de boda. INQ1 E no segundo dia comia-se a mesma coisa que se comeu no primeiro? INF Igual. Igual. INQ1 Portanto, e nesse, nesse primeiro dia, eles já iam ficar a casa deles? INF Já. (...) Quem seja da aldeia, vai comer a casa deles e depois vai dormir (...) cada um de sua casa. Quem seja de longe já têm que ficar aqui instalados (...) para o outro dia estarem cá prontos. INQ1 Não, eu dizia os noivos. Portanto, os noivos já iam para a sua casa no, no primeiro dia? INF (...) O meu sobrinho, (...) ela estava a servir na Espanha e o patrão levou-a para a Espanha, foram passar a noite lá para a Espanha, para Ourense. (...) Mas estes passaram cá. Quem quer sair, sai; quem não quer, fica cá. INQ1 E não havia o... Os rapazes não iam... INF Espreitar? INQ1 Es-, fazer barulho, espreitar? INF Muitas vezes vão. Dizem que vão espreitar. INQ1 Mas quê? Batem panelas ou?... INF Não. Espreitam, escutam só. Não fazem barulho, à calada. Risos
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INQ1 Quem é que apagava a luz? INF Ai, isso agora aí não sei. Diz que o que apagar a luz diante que é o que morre diante. Agora eles é que se descartam. (...) Risos O que quiser morrer diante que a apague. Eu, se fosse eu, não queria. Havia de ficar a vela toda a noite acesa, ou a luz que ali estivesse toda a noite. Risos INQ2 Até apagar... INF Até (...) que dessem um choque na luz eléctrica lá fora e que apagassem lá . INQ2 Olhe, e, e, portanto, para, para a pessoa ter casa posta, os pais da noiva davam umas coisas e os pais dele... Davam coisas velhas? INF Dão. Ajudam, ajudam. INQ2 Mas qualquer um ajuda assim ou, por exemplo, a mãe, os pais da noiva tinham que dar a mobília do quarto... INF Não, não. INQ2 Não. INF Aqui não é esse uso. Cada um dá o que pode. O pai da noiva dá, a mãe da noiva dá. É os dois a ajudar. INQ1 Isso é combinado pelos pais antes? INF É combinado pelos pais. Pois eles, coitados, vão para uma casa que não tem nada, (...) têm que ser ajudados pelos pais, os dois. Um dá uma coisa, outro dá outra, outro dá... Pronto, aqui não há... Quase sempre é contrato de todos ajudarem dos dois lados. INQ2 Pois. E para a boda também é da mesma maneira? INF Também. Para a boda também. São capazes de fazer a despesa pelos dois, repartida ao pai dela e do pai dele. INQ2 Rhum-rhum.
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INQ Para saber quem é que quer uma coisa ou outra, quem é que faz o, os?... INF Ah, tem que se partir. Quer dizer, nós, o meu pai ainda nos partiu antes de morrer. INQ Pois. INF Partiu, e todos os filhos (...) fizemos as nossas partilhas, as nossas sortes. Botámos esta leira para aqui, esta para aqui é o Lameiro, para ali é Couve, para ali... (...) Ao fim vimos se realmente estava tudo bem. Depois tirámos os números, tirámos uma folhinhas: "É o número tantos"! "Esta é o número tantos"! Pronto, cada um ficou com o que lhe tocou. Mas tanto leva o mais velho como o mais novo! INQ Pois. INF Aqui não há diferença donde está . INQ Portanto, normalmente é o, o pai é que faz essa divisão primeiro, a partilha? INF Quando quer. Há quem faça assim porque muitos estão, se calhar, fora e deixam os trabalhos, os terrenos deles de poulo e quem está aqui a trabalhar, trabalha-os. E depois, se calhar, recebe os de poulo e fica com os trabalhados o outro. Isso é para não se revoltarem depois, para um não receber o bom e outro receber o ruim. Então parte-se e depois o que o quer trabalhar, trabalha; o que o não quer trabalhar, deixa. Mas muita gente só parte ao o pai morrer. INQ Ah! INF Depois de o pai morrer, partem: a metade é para a mãe e a metade é para os filhos. Depois, todos unidos, fazem as partilhas (...) e vão às sortes.
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INF Quer dizer, aqui na nossa terra não há uso de ficar nenhum com os pais. Agora a minha mãe está sozinha. Ela se quiser vir para donde a mim vem. Nós damos-lhe um tanto, a ela. (...) INQ Todos os filhos? INF Todos os filhos lhe dão. Tanto dou eu, como dá aquele, como dá aquele. Todos os filhos dão. Pronto, ela está sozinha na casa dela; se um dia lhe apetecer dizer: "Olha, vou para tua casa"!, pronto, vem para aqui. Os filhos dão-me o que 'há-dem' dar a ela; dão-me para aqui e ela fica aqui sustentada em nossa casa - ou na de outro! Ou na de outro, não é só aqui.
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INF Uma vez (...) eu estreei uma blusa. E depois a minha professora, foi logo dali que saí da escola, disse assim (...) ele para uma rapariga ali na rua: "Ó"... E ela diz-me assim: "Ai, que asseada andas"! E eu disse: "Estreei uma 'blúsia'". Uma 'blúsia', sabe? Vem ela por trás: "Anda cá. Então como é que te ensinei na escola? É 'blúsia'ou é blusa"? "Ai, é blusa". (...) "Que te fique em lembrança"! Disse-me ela: "Que te fique em lembrança"! INQ Mas a senhora diz 'blúsia'? INF Pois, eu dizia... Agora já ninguém diz 'blúsia'. Ele disse, aquele dia: "uma 'blúsia'". E ela disse: "Anda cá. Então como é que se diz: é 'blúsia' ou é blusa"? INQ Por falar em blusa, ainda bem que me fala nisso! INF Eu vou-lhe descobrindo tudo. INQ Como é que lavava a roupa antigamente? INF Água e sabão só. Agora já é o sabão em pó, já é mais bom de lavar. INQ Não fazia uma coisa que... INF Umas barrelas. Isso era as antigas que eu já não usei disso. Porque diz que os homens que usavam a camisa de linho, as calças de linho... Depois deitavam a água (...) num cesto, punham a roupa em camadinha num cesto de vergas, e deitavam-lhe cinza, deitavam-lhe sabão, e depois botavam aquela água a ferver em cima dela. Era a tal barrela. Mas eu já não fiz nunca. Mas ouvia-lhe falar à mãe do meu marido, que ela usava muito essa barrela. INQ E não punham nada para cheirar bem, no meio da cinza? INF Não. Só deitavam o sabão e a cinza, que era para clarear as roupas. Diziam que esta cinza de carvalho, da lenha de carvalho, que fazia clarear muito a roupa. E noutros tempos a roupa era toda branquinha, de sarja e de linho, e depois elas lavavam assim. Era como lavavam.
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INQ Com que é que varre a casa? INF Com uma vassoura de giesta (...) ou de cana. Nós é, quase por o geral, de giesta. Temos muitas por esses montes. Cada dia que vou para o monte trago sua. INQ E a roupa lavava-se no rio ou era dentro dumas coisas de madeira? INF Era no rio. Mas a barrela punha-se-lhe em casa primeiro. Depois é que ia para o rio. INQ E fazia-se a barrela lá dentro de quê? INF Do cesto. A barrela era deitar a água por cima (...) da roupa e ela escorria abaixo. INQ E não havia uma coisa que chamavam selhas, ou qualquer coisa assim? INF Não conheci já selhas.
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INQ E não há mais nenhum que queira aprender isso? INF1 Agora, eu tinha três filhos, nenhum quis aprender a arte. Risos INQ ... INF1 O que havia a aprender a arte foi para a polícia. Está melhor do que eu! Outro, queria que aprendesse, não quis aprender, foi para a América. Também está melhor do que eu! Agora tenho aqui um, andou connosco aí uma temporada, depois largou a arte. A arte não dá. Hoje não dá a arte de carpinteiro. Não dá. Não dá porque é por este motivo: porque hoje os ferreiros são os que fazem tudo. As portas é tudo em ferro. INQ Pois. INF1 As vidraças é tudo em ferro; os carros é tudo de ferro, como se ele vê. Em tempos faziam-se... Hoje o que é que se faz? Não se faz nada. (...) INQ Mas na sua, na sua arte, o que é que fazia? INF1 (...) Fazia de tudo, quer dizer, fazíamos portas, fazíamos carros, fazíamos arados, fazíamos de tudo o que aparecia, ora! O senhor não conhece o que é a arte de carpinteiro? INQ Mas são estas... INF1 Olhe, quantas vidraças aqui vê, olhe, quantas vidraças?! Fiz mais de um milhão delas. INF2 Em madeira. INF1 No tempo, fazia-se tudo. As obras faziam-se todas (...) a molhado, fazia-se tudo em madeira de castanho. Aqui é tudo castanho, aqui não se usa quase outra coisa senão castanho, ou não se usava. Agora só se usa aqui pinheiro. INQ Rhum-rhum. INF1 De resto, (...) aqui não há serradores, não há nada. INQ Pois. INF1 Sabe que (...) tem que cada um ir governando consoante pode. Vai tudo para a fábrica. As madeiras aqui, olhe, daqui sai toda em bruto, lá por aí abaixo. Não a viu por aí por esses montes, (...) pois, por aí abaixo (...) . Daqui para Lisboa é ela para onde vai. E deve ser toda para vender. Chega a Lisboa.
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INF Vai a crescer. A crescer, se era a terra seca, regava-se - depois de nascido, uma porção que seja como este dedo. INQ Rhum-rhum. INF E depois a gente, claro, se não chovia... Se chovia, chovia. Não chovendo, ia crescendo, crescendo, crescendo, às vezes botava assim de grande, outras vezes de mais pequeno. Era conforme era a fortaleza da terra. E depois amaduravam. Botava aquela cabeça, botavam a cabeça e é que então amadurava. Depois a gente é que maçava aquele linho, antes de ir para o rio, e aproveitava-se então a linhaça. E depois crivava-se, com um crivo daqueles, que era um nó ... INQ Rhum-rhum. INF Levantava-se ao ar e crivava-se (...) e levantava e ficava a linhaça pura. Que é o que fazem muitas vezes, (...) nas farmácias fazem remédios (...) de linhaça. INQ Rhum-rhum. INF Sabe?
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INQ Iam homens, iam mulheres, iam só mulheres? INF Pois, iam o (...) que calhava. Não interessava. (...) Não havia política. Até diziam que eram mais grosseiros do que agora, não é? Agora é mais fidalga. A gente ia, ia este senhor, ia a senhora, ia eu, começávamos por uma borda, a arrancar, a arrancar, sacudia, sacudia, punha-se numa gavela, punha-se ali, punha-se acolá, até ao fim. Ao fim levava-se uma palha molhada, faziam-se os vencelhos, e depois atava-se e trazia-se para casa. E depois então (...) punha-se a secar porque ele sempre vem um bocadinho mais averdengado, não é? Punha-se a secar, toca de maçar. Ele toca de pôr umas pedras lisas e toca a maçar. Chamava a gente aí três ou quatro mulheres e toca a maçar aquilo. Ao fim, maçava (...) e (.../VB) . Punha-se assim a (.../VB) . Fazia aqueles molho, faziam-se (...) assim umas torcidelas, assim do tamanho (...) daquela maça, ou assim. Mas depois então é que se trabalhava. E aquilo era assim. Depois de vir do rio e assim, compreendeu? INQ Pois, pois. INF Era assim.
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INF Eu estive no Hospital Militar. Fui para lá cumprir a vida de - sim - militar (...) . E depois lá fui primeiro-cabo e enfermeiro, ajudante de enfermeiro. Ora a gente entrou, fez a recruta e depois andámos (...) a praticar, com os médicos a ensinar-nos. É claro que a ler tudo aquilo que correspondia à medicina - não é? - e essa coisa do corpo humano, tudo. E depois andámos a praticar, donde depois fomos distribuídos para as enfermarias. E, é claro, cada um trabalhava dias do mês conforme cada enfermaria. Íamos aprendendo aqui nesta a fazer um trabalho, por exemplo, (...) com respeito a medicina. Era medicina por uma coisa, que (...) é mais simples do que é a cirurgia. E nós aprendíamos a medicina. Era dar umas injecções, uns comprimidos, no tempo antigo. É claro, já tenho cinquenta e seis anos e, no tempo antigo, a gente usavam-se mais aquelas cataplasmas de linhaça. E a gente fazia-as com as compressas de casa. Deitava a linhaça... Primeiro fervia a linhaça (...) com água junta numa cápsula qualquer (...) ; e depois a gente envolvia-a numa compressa de gaze (...) e deitava-a sobre o corpo do doente onde tinha a dor. Ora viu. Depois então já veio mais... Daí por mais uma temporada, já veio a penicilina, donde se davam aquelas injecções de penicilina aos doentes. Já não se aplicavam então as cataplasmas de linhaça. (...) E foi assim. E depois, é claro, eu acabei o tempo da tropa e vim para aqui, não é? Vim para aqui, é claro, (...) desde esse tempo, tenho estado sempre ao serviço do povo. Vai um, claro, que: "Dá-me uma injecção"; outro dá aí um golpe, vou-lhe curar o golpe; outro tem uma ferida, curo-lhe a ferida. É claro. (...) E como todos têm uma dor, a gente vai-lhe aplicando aquilo que sabe para aquela dor, não é? Uns comprimidos, uns supositórios, umas fricções, umas pomadas (...) e essa coisa assim toda. E é por isso que a gente lhe disse que eu que era aqui o médico da terra, não é? INQ1 Mas o senhor nunca foi daqui para fora? Portanto, nunca saiu... INF Não. Nunca saí daqui para fora. INQ2 Só na tropa. INF (...) INQ1 Pois, sim, sim, sim. INF Estive na tropa então lá em Coimbra. INQ1 Não, assim por exemplo, como emigrante ou isso, não, foi sempre... INF Não, como emigrante nunca saí. Estive na tropa e depois da tropa vim, regressei para aqui e não saí para mais parte nenhuma. INQ2 Mas é de cá mesmo? INF Sou daqui de Vilar de Perdizes. Sou sim. (...) E foi assim. É claro, foi a gente como ele aplicou aquela frase de eu ser aqui o curativo e o enfermeiro cá da terra. É assim. A gente tem feito muitas coisas, diversas coisas (...) . Houve médicos, como aqui estes senhores, vê aqui, que eles andam a praticar, andam a estagiar, não é? Eles andam a estagiar aqui. E eu fiz aí coisas que eles nem sabiam como eu tinha aprendido aquilo e como era feito aquilo. Que lhe disse-lhe que, é claro, que andara aí um homenzito, andei aí treze dias e treze noites a tirar-lhe (...) a urina pela barriga. Que ele não podia, tinha uma próstata (...) no canal da urina, e eu andei treze dias e treze noites a tirar-lhe a urina pela barriga. E eles diziam: "Eh pá, como"?! Que eles (...) desconheciam isso. Eu disse: "Eh pá, isso não é fácil mas é assim desta maneira. Faz-se isto. Segue-se disto e daquilo e daqueloutro, depois tem esterilização, tem isto e aquilo". E eu fui lá tirá-la da bexiga, tirei para fora, ao homenzito, treze dias e treze noites. E assim durou para aí cinco ou seis anos. Um homem que morreu com noventa e sete anos. INQ1 Pois. INF (...) E tem sido assim essa vida da medicina. Injecções àquele e àqueloutro (...) . INQ1 Pois. INF Isto, o senhor padre aplicou ... INQ1 Não, eu como dizia, eu julgava que, sei lá, que soubesse assim de plantas, que plantas é que eram boas... INF Ai, de plantas, olhe, nós, plantas, aqui, a gente as plantas aqui vai é sempre mais à base já do medicamento, não é? Sim, há pessoas mais antigas INQ1 Pois, que sabem. INF que essas vão mais à base (...) dum chá da cidreira, ou um chá (...) de hipericão (...) , um chá (...) , por exemplo, da flor do sabugueiro, (...) daquela flor do milho, e essa coisa assim, sabe? Há pessoas assim. Mas há aí um homenzito que esse homenzito é que conhece. Já deve ter os seus setenta e qualquer coisa de anos. Esse homenzito conhece essas ervas e essas plantas INQ1 Rhum-rhum. INF e, mais ou menos, para aquilo que são - embora vão fazer bem a uma coisa... Bem, como os medicamentos também, às vezes, uns vão fazer bem e outros vão fazer mal. INQ1 Claro. INQ2 Mas é cá em Vilar de Perdizes? INF Ele é um homenzito aqui de Vilar de Perdizes mesmo. INQ2 Como é que se chama? INF É Guiberto. É o senhor que vive ali naquela casa. INQ1 Rhum-rhum. INF Esse homem conhece muita, muita, muita planta. Porque dedicou-se (...) a essa vida. Mas que digamos esse homem tem lá curado coiso! Vai um indivíduo, diz-lhe: olhe, é isto, é aquilo, é aqueloutro. Vai-lhe indicando os remédios , o que são as plantas e para que servem e para que não servem. Sobre isso é isso. INQ2 Deve ter perto de oitenta anos, é? INF O homenzito deve ter setenta e cinco anos, setenta e seis anos, ou assim.