O CLUL informa com pesar que morreu a Doutora Elsa Gonçalves.
Foi marcante a sua docência na Faculdade de Letras, entre 1977 a 1989, depois de ter sido Professora de Liceu em Coimbra, Guarda, Luanda, Évora, Oeiras e Lisboa, bem como Leitora de Português em Roma. Foi em Roma que começou a investigar os cancioneiros trovadorescos, tendo dado atenção especial a um índice de autores galego-portugueses elaborado pelo humanista italiano Angelo Colocci. Deste trabalho resultou a revisão das relações estemáticas da tradição da lírica galego-portuguesa, o que firmou a sua autora como referência nos estudos medievais ibéricos.
Elsa Gonçalves sempre cultivou uma visão holística do estudo da Literatura, para a qual convocava contributos da Retórica, da Linguística, da Crítica Textual e da História. Para o desenvolvimento desta visão foi decisivo o período em que esteve associada ao Leitorado de Português da Universidade de Roma “La Sapienza”. Teve então a oportunidade de trabalhar com os Professores Giuseppe Tavani e Luciana Stegagno Picchio e de participar nas actividades do Instituto de Filologia Românica, dirigido pelo seu mestre, o Professor Aurelio Roncaglia.
Arredia de exposição pública, não gostava de dar aulas, embora leccionasse com solidez singular: ensinou Literatura Portuguesa Medieval em cursos de licenciatura e foi figura nuclear, de 1989 a 1991, no Mestrado em Literatura Portuguesa Medieval, um curso que proporcionou a quantos o frequentaram uma perspectiva integrada da literatura, graças à colaboração do Departamento de História (seminário de Paleografia), do Departamento de Linguística Geral e Românica (seminários de Linguística Histórica e de Francês Antigo) e do Departamento de Estudos Clássicos (seminários de Codicologia e de Filologia Latina Medieval). A publicação da antologia A Lírica galego-portuguesa, com a colaboração de Maria Ana Ramos na componente linguística, expandiu muito o número dos seus discípulos.
Foi investigadora integrada no Centro de Linguística (no grupo de Filologia, dirigido por Lindley Cintra e depois por Ivo Castro). Identificou cedo as comunidades académicas onde os padrões de qualidade se impunham como um referencial reconhecível, fez de raros colegas interlocutores privilegiados, era por todos vista como académica excepcional. Em 1997 recebeu o grau de “Doutor Honoris Causa” pela Universidade de Lisboa, tendo sido apadrinhada por Aires Nascimento.