O projeto LUDVIC explora as noções fundamentais de unidade e diversidade da linguagem através da descrição detalhada de fenómenos de variação em caboverdiano. Para além do contacto permanente com o português pela situação de diglossia que se vive em Cabo Verde, diferentes variedades são faladas nas diversas ilhas do arquipélago, numa situação de abundante diversidade linguística que se encontra ainda largamente por descrever. Estes dados de variação estão aqui em fase de recolha, tanto em sessões de juízos de gramaticalidade como em entrevistas semi-informais (dois métodos com vantagens complementares), realizadas sobretudo em Cabo Verde, mas também nos Estados Unidos (Massachusetts e Rhode Island), numa extensão recente que pretende abordar os efeitos linguísticos do contacto do caboverdiano com o inglês.
Esta comunicação tem assim duas vertentes complementares. Por um lado descrevemos o processo de construção do corpus oral do projeto LUDVIC, composto por entrevistas de falantes de variedades linguísticas do caboverdiano. Este processo envolve não só a adaptação aos nossos objetivos das normas TEI (Text Encoding Initiative) para XML para dados orais, como as decisões quanto à transcrição desses dados numa situação de ausência de norma escrita e de uma vasta variação fonológica (Gillier 2019; Gillier & Pratas em elaboração).
Além disso, vamos descrever o caso de variação linguística contemporânea, aqui ilustrado com dados deste novo corpus, quanto a dois marcadores temporais* nesta língua - ta (habitual) e sata / tita (progressivo) -, usando a análise proposta em Pratas (2018, 2019) de que esta variação resulta de um processo diacrónico atestado para outras línguas: o 'ciclo do progressivo' (Dahl 1985, Bybee & Dahl 1989, Bybee et al. 1994, Deo 2015, entre outros).
*temporais no sentido lato.