Formação de corpus e processamento dos blends em PE e PB, Rafael Dias Minussi
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Processos de formação de multi-palavras, em português, incluem root-compounding (e.g., toxicodependente, agridoce), word-compounding (e.g., barco-casa, guarda-roupa, cantora-atriz), e blending (e.g., cartomantetristemunhocantautor). Estruturas de compostos são amplamente descritas por diversos autores (e.g.,Villalva e Gonçalves, 2015), enquanto há algumas controvérsias sobre as propriedades dos blends, além de haver análises contraditórias: alguns autores afirmam que blends e compostos têm uma estrutura similar, enquanto outros consideram que eles têm estruturas completamente diferentes (e.g., Sandmann, 1989; Gonçalves, 2003a e Gonçalves 2003b).  

O objetivo preliminar de nossa pesquisa é entender a natureza dos blends e o processo de blending em português. O programa de investigação contempla os seguintes passos: (i) formação e anotação de um corpus de blends; (ii) aplicação de um teste offline que permita acessar o conhecimento dos blends por falantes do português europeu (PE) e português brasileiro (PB), (iii) aplicação de um teste de decisão lexical que forneça os tempos de reação, usados como tempo de base para (iv) avaliação dos resultados do teste de decisão lexical com priming, o qual nos permitirá comparar a relação de cada constituinte com todo o blend. 

Para esta apresentação, tomamos um corpus formado por 175 blends, que foi recolhido a partir da literatura especializada e da observação direta de fontes do PE e do PB. Trata-se de uma coleta em andamento, uma vez que novas palavras, advindas de contextos políticos, publicitários e literários, são continuamente adicionadas. O corpus foi anotado a fim de permitir um refinamento dos testes experimentais e dos resultados das análises. Desse modo, as anotações incluem: 

  1. a identificação dos constituintes do blend original. 
  2. A classe gramatical dos blends e seus constituintes; 
  3. O número de sílabas do blend e seus constituintes. 
  4. O status de cada constituinte do blend como, por exemplo clip (C), ou palavra (P), de modo a descrever três estruturas diferentes: CP (e.g., aminimigo ‘amigo + inimigo), PC (e.g., anãofabeto ‘anão + analfabeto’) e CC (e.g., franglês ‘francês + inglês’); 
  5. o papel gramatical de cada constituinte que produz a distinção entre núcleo inicial (e.g., cartomante), núcleo final (e.g., tristemunho) e sem núcleo (e.g., cantautor) nos blends. 

Com base em um subconjunto deste corpus, apresentaremos também um estudo prévio com falantes do PE e PB que está descrito em Minussi e Villalva, 2020.