Aquisição do Português Europeu: Recursos e Resultados Linguísticos

Concluído
Data
-
Instituição financiadora
FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia
IR do Projeto
Maria João Freitas

Objectivos

O projecto de investigação Aquisição do Português Europeu: Recursos e Resultados Linguísticos esteve sediado na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL), no seu Centro de Linguística (CLUL), tendo sido coordenado por Maria João Freitas, investigadora do CLUL e docente da FLUL. O projecto foi submetido à Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) e usufruiu de financiamento entre Janeiro de 2008 e Dezembro de 2010.

Os objectivos gerais do projecto foram os que a seguir se enunciam:

  1. contribuir para o enriquecimento e disponibilização de recursos relativos a dados de produção de fala por crianças portuguesas, alargando, assim, o património linguístico relativo à aquisição do Português Europeu (digitalização e transcrição de dados e sua inserção em bases de dados, para partilha nacional e internacional);

  2. promover a descrição linguística relativa à aquisição dos constituintes fonológicos, a partir dos dados referidos em (1), nomeadamente no que diz respeito aos aspectos segmento, sílaba e acento de palavra;

  3. contribuir para o desenvolvimento de trabalho de investigação sobre a interface fonologia/ morfossintaxe na aquisição do Português Europeu;

  4. contribuir para a discussão sobre a arquitectura do conhecimento fonológico e morfossintáctico no sistema linguístico da criança;
  5. produzir materiais para investigadores na área da aquisição da linguagem e para profissionais nas áreas do ensino do Português e da intervenção clínica.

Para a concretização dos objectivos expostos, foram definidas as tarefas que abaixo se enunciam:

Tarefa 1: alargamento e tratamento do banco de dados Aquisição do Português Europeu, sediado no CLUL (Laboratório de Psicolinguística (LP)) e coordenado por Maria João Freitas e Isabel Hub Faria.

Tarefa 2: investigação sobre a aquisição de aspectos segmentais do Português Europeu.

Tarefa 3: investigação sobre a aquisição do acento de palavra em Português Europeu.

Tarefa 4: investigação sobre a sílaba e sua relação com o nível segmental, nas perspectivas monolingue e bilingue.

Tarefa 5: investigação sobre a aquisição de aspectos morfossintácticos do Português Europeu, com especial atenção aos que envolvem a interface gramatical fonologia/morfossintaxe.

Tarefa 6: investigação sobre potenciais relações entre desenvolvimento linguístico e consciência linguística (fonológica e sintáctica).


Equipa

A tabela 1 inclui a referência à(s) tarefa(s) a que cada investigador esteve ligado, tanto através da produção de produtos de investigação como através da sua orientação (consultoria e supervisão de teses de Mestrado e de Doutoramento):

Tabela 1: equipa de investigação

Tabela1

Vários membros da equipa (cf. nomes assinalados com * na tabela acima), pelo facto de serem terapeutas da fala, formadores em cursos de terapia da fala, professores do Ensino Básico ou, ainda, membros de projectos educativos ligados ao Ministério de Educação (Plano Nacional do Ensino do Português, Plano Nacional de Leitura), estabeleceram naturalmente a ponte com as áreas da Linguística Educacional e da Linguística Clínica e permitiram a divulgação dos resultados de investigação disponibilizados no âmbito do projecto junto dos grupos profissionais de professores de 1º Ciclo do Ensino Básico e de terapeutas da fala.

A implementação do projecto contou, ainda, com a participação dos seguintes colaboradores:

Tabela 2: colaboradores

Tabela2

Recursos: Tarefa 1

No âmbito da tarefa 1 (alargamento e tratamento do banco de dados linguístico Aquisição do Português Europeu), procedeu-se à execução das seguintes actividades:

(1) recolha de dados de fala produzidos por crianças monolingues em Português Europeu (Teresa Costa e Susana Correia) e por crianças bilingues em Português/Francês (Letícia Almeida);

(2) digitalização de dados, quer dos recentemente recolhidos, quer de dados pertencentes à base de dados Aquisição do Português Europeu, depositados no CLUL/LP (M. João Freitas, Teresa Costa, Susana Correia e Letícia Almeida);

(3) inserção de ficheiros de som e respectivas transcrições no formato PHON (tarefas de transcrição, revisão, segmentação, verificação de alinhamento lexical, silábico e segmental - Teresa Costa, Susana Correia e Letícia Almeida).

Graças ao contributo do presente projecto, o banco de dados Aquisição do Português Europeu (CLUL-LP) alargou o número de crianças observadas longitudinalmente para 16 (12 monolingues e 4 bilingues), dispondo de bases de dados e de corpora disponíveis publicamente ou sujeitos a solicitação de consulta, como abaixo se relata.

Foram digitalizados os dados longitudinais transversais de 7 crianças, recolhidos nos anos 90 (92 sessões equivalentes a cerca de 70 horas de gravação – cf. tabela 3), que estão na base do corpus ChildPhon-Freitas (Freitas, 1997). Estes dados foram recolhidos no âmbito do projecto JNICT PCSH/LIN/524/93, então sediado no Laboratório de Psicolinguística da FLUL. A digitalização dos dados contou com o apoio técnico de Francisco Roxo, do departamento de Meios Audiovisuais (MAV) da FLUL:

Tabela 3: descrição sumária da base de dados usada em ChildPhon-Freitas (Freitas, 1997)
Tabela3

Paralelamente, a base de dados ChildPhon-Freitas (Freitas, 1997) foi transferida para o formato PHON, recebendo a designação European_Portuguese_Freitas, disponível em http://phonbank.talkbank.org/. O uso do formato PHON permite a partilha de dados nos domínios nacional e internacional, no âmbito do PhonBank Project, coordenado por Brian MacWhinney (Carnegie Mellon, EUA) e por Yvan Rose (Memorial University of Newfoundland, Canadá). O PhonBank Project tem como objectivo central fomentar a partilha internacional de dados produzidos por crianças de várias nacionalidades. Tem, para os investigadores na área da aquisição da fonologia, a vantagem de a transcrição fonética ser uma forma de representação gráfica funcional, para efeitos de anotação e prospecção de dados, o que não acontece na versão CHILDES usada por investigadores de outras áreas da aquisição da linguagem que não a fonologia. Como se pode ler em (https://childes.talkbank.org/):

PhonBank extends the CHILDES database project into the realm of child phonology and phonological disorders. This project is co-directed by B. MacWhinney (Carnegie Mellon University) and Y. Rose (Memorial University of Newfoundland), and supported by an international consortium of 57 researchers from 18 different countries

O financiamento FCT do projecto que aqui relatamos (PTDC/LIN/68024/2006) permitiu a participação activa da sub-equipa envolvida na tarefa 1 no PhonBank Project (Teresa Costa, Susana Correia, Letícia Almeida e M. João Freitas).

Ainda no âmbito da constituição inicial da base de dados Aquisição do Português Europeu, (JNICT - PCSH/LIN/524/93), foram gravadas longitudinalmente 2 crianças (Inês (0;11.24 - 4;2.18) e Joana (0;11.24 – 4;10.7)), cujos dados foram digitalizados e transcritos no quadro do corpus European_Portuguese_CorreiaCosta. A disponibilização de dados de produção longitudinais com este intervalo temporal (Inês=3 anos e 3 meses; Joana=3 anos e 9 meses) é pouco frequente no quadro da investigação internacional em aquisição da linguagem. A sua disponibilização através do presente projecto e do PhonBank Project constitui um contributo importante para o estudo do modo como o conhecimento linguístico se vai arquitectando no percurso temporal do desenvolvimento cognitivo infantil.

A execução de novas recolhas de dados (3 crianças), a transcrição de dados recolhidos e a constituição do novo corpus European_Portuguese_CorreiaCosta, também construído em formato PHON, no âmbito dos projectos que deram origem a Correia (2009) e a Costa (2010), contribuiu largamente para o enriquecimento da base de dados Aquisição do Português Europeu (CLUL – LP) (cf. tabela 4):

Tabela 4: descrição da base de dados subjacente ao corpus European_Portuguese_CorreiaCosta.

Tabela4
O corpus European_Portuguese_CorreiaCosta contém produções verbais orais espontâneas de 5 crianças, falantes do Português Europeu como língua materna, num total de 134 sessões de gravação. As gravações foram efectuadas de 15 em 15 dias (João e Luma); ou mensalmente (Inês, Clara e Joana). Os dados de 3 crianças (Clara, João e Luma) foram gravados com recurso a uma Canon MV210 digital em cassetes Hi8, no período compreendido entre 2004 e 2007.  Os dados da Inês e da Joana foram gravados com uma Sony Handycam Video 8, AF Hi‐Fi, entre 1993 e 2000. Neste caso, os dados foram importados para formato digital com recurso ao programa iMovie©, com compressão  para 320x240 (.mov). As sessões de gravação tiveram lugar na casa de cada criança, num ambiente familiar (com a presença de um dos pais ou familiar e o investigador) e espontâneo. Os dados foram inseridos manualmente no programa PHON pelas investigadoras Susana Correia e Teresa Costa, mediante a realização de transcrições fonéticas e ortográficas das produções verbais das crianças (formas-alvo e produções). Cada investigadora procedeu à transcrição de cerca de 50% dos dados e à revisão dos outros 50%. Os casos de dúvida foram submetidos à análise de uma terceira investigadora (Maria João Freitas). Todas as situações que continuaram a oferecer dúvida na transcrição foram marcadas como material ininteligível (*) na base de dados, sendo excluídas das análises. A base de dados inclui os seguintes componentes: (a) transcrição ortográfica e fonética das palavras/expressões alvo; (b) transcrição fonética das produções da criança para cada alvo. A partir destes dados, é possível extrair automaticamente os níveis de produção conforme o alvo em relação (i) ao acento de palavra; (ii) à estrutura silábica; (iii) ao conteúdo segmental. É ainda possível explorar o tipo de desvios encontrados (atribuição “incorrecta” do acento de palavra; simplificação de estruturas silábicas complexas; substituições e supressões segmentais, entre outros).

Os dados da Joana, referidos na tabela 4, estão a ser usados por Juliana Kickhöfel, no âmbito do seu projecto de doutoramento sobre Aquisição do sândi vocálico externo em Português Brasileiro e Europeu (Universidade Católica de Pelotas, Brasil, orientado por Carmen Matzenauer (UCPelotas) e co-orientado, em Portugal, por Fernando Martins (FLUL/CLUL)).

Refere-se, por fim, o corpus EuropeanPortuguese_French_Almeida, com produções espontâneas de uma criança bilingue Português-Francês em fase de aquisição da linguagem. Este corpus foi construído por Letícia Almeida, contém os ficheiros de gravação em formato vídeo e as produções da criança encontram-se transcritas ortográfica e foneticamente. Trata-se de uma recolha de carácter naturalista e as produções da criança nas 2 línguas foram registadas em sessões distintas. A base de dados, suporte empírico do projecto de doutoramento de Letícia Almeida, consta de 110 sessões (55 em cada língua) com uma duração de 30 mns cada e recolhidas entre as idades: 1;00 e 3;10.O referido corpus decorre da base de dados Almeida_Biling, recolhido por Letícia Almeida, que contém ficheiros em formato audiovisual de 4 crianças bilingues Português/Francês, gravadas no âmbito do presente projecto (cf. tabela no anexo 3).

Tabela 5: descrição sumária da base de dados  Almeida_Biling

Tabela5

Segue-se a informação detalhada sobre a base de dados Almeida_Biling:

Caracterização do património audiovisual em Almeida_Biling

tabela_grande


Resultados: Tarefas 2, 3, 4, 5 e 6

As tarefas 2, 3 e 4 remeteram para investigação no domínio da aquisição da fonologia do Português Europeu. Nelas estiveram envolvidos quatro investigadores da equipa do projecto de que aqui se dá conta. As bases de dados e corpora criados no âmbito do presente projecto constituíram a fonte empírica para os estudos efectuados sobre três aspectos fonológicos específicos:

(i) a aquisição do ponto e o modo de articulação das consoantes por monolingues e por bilingues (Teresa Costa, Letícia Almeida, Maria João Freitas);

(ii) a aquisição da estrutura silábica por monolingues e por bilingues (Letícia Almeida, Maria João Freitas);

(iii) a aquisição do acento de palavra por monolingues (Susana Correia).

No âmbito da implementação destas tarefas, três dos investigadores receberam formação avançada junto dos consultores do projecto, quer através de deslocações aos países dos consultores, quer através de deslocações destes a Portugal (Paula Fikkert, Radboud University, Holanda; Clara Levelt, Leiden University, Holanda; Yvan Rose, Memorial University of Newfoundland, Canadá).

Trabalhos em co-autoria e individuais, desenvolvidos no âmbito destas três tarefas, permitiram:

(1) descrever o comportamento de crianças monolingues e bilingues quanto ao seu desenvolvimento segmental (ponto e modo de articulação em raízes consonânticas; aquisição de processos fonológicos da gramática-alvo), observando-se tendências universais e contribuindo-se para a construção de uma escala de desenvolvimento segmental infantil. O trabalho foi desenvolvido numa perspectiva comparada, usando, para o efeito, resultados congéneres obtidos para o Português do Brasil, o Holandês, o Inglês, o Francês (Canadiano e Europeu), o Castelhano, o Catalão e o Alemão;

(2) descrever a aquisição do acento de palavra e discutir, a partir de evidência empírica dos dados das crianças, as análises (de base morfológica e de base rítmica) propostas para o Português. Uma vez mais, foi comparado o comportamento das crianças portuguesas com o de crianças de outras línguas estudadas nesta perspectiva (Português do Brasil, Holandês, Inglês, Francês Canadiano, Grego e Catalão);

(3) descrever aspectos do desenvolvimento silábico infantil, em contexto monolingue e em contexto bilingue (Português/Francês), não o dissociando do desenvolvimento segmental, dadas as interacções entre estes dois níveis do conhecimento fonológico, documentadas na literatura científica nacional e internacional. Foram fornecidos argumentos empíricos para a discussão sobre a organização da informação linguística (neste caso, fonológica) no cérebro bilingue. Uma vez mais, a perspectiva comparada foi assumida, confrontando-se os resultados obtidos com os relatados para a aquisição de línguas como o Português do Brasil, o Holandês, o Inglês, o Francês Canadiano, o Catalão e, em particular, o Espanhol e o Alemão, estudados também na perspectiva do bilinguismo.

A tarefa 5, dedicada ao trabalho na área da morfossintaxe, centrou-se:

(1) em trabalho de investigação sobre a interface fonologia-morfossintaxe, a partir dos dados trabalhados na tarefa 1: (i) relação entre aquisição de estruturas fonológicas e de classes de palavras no sistema linguístico da criança (Maria João Freitas, Anabela Gonçalves, Fernanda Gonçalves); (ii) relação entre aquisição tardia de plurais irregulares e aquisição precoce de estruturas fonológicas  - silábicas e segmentais - e morfológicas - marcação do plural no paradigma nominal (Ana Margarida Ramalho, Maria João Freitas, Fernanda Gonçalves);

(2) em trabalho de investigação  sobre aquisição de (i) concordância sujeito-verbo; (ii) imperativos e a sua relação com a fase dos infinitivos opcionais; (iii) tempo e aspecto a partir de narrativas escritas e dados espontâneos (Fernanda Gonçalves);

(3) na preparação de materiais para professores do 1º Ciclo do Ensino Básico, reunida em publicação de divulgação sobre aspectos do desenvolvimento morfossintáctico precoce e tardio (a publicação O Conhecimento da Língua: Percursos de Desenvolvimento, da autoria de Fernanda Gonçalves, Paula Guerreiro e Maria João Freitas, com supervisão de Anabela Gonçalves, encontra-se para impressão no Ministério da Educação/Direcção Geral para a Inovação e o Desenvolvimento Curricular; foi preparada e terminada no decorrer do projecto que aqui relatamos, tendo sido entregue para impressão no ano de 2009 e não se encontrando ainda disponível em 2010 por razões alheias à nossa vontade e decorrentes do funcionamento interno do Ministério da Educação, o que nos levou a integrá-la na listagem de produtos do projecto, embora não seja contabilizada nos Indicadores de produtividade);

(4) na construção e estandardização de um teste de avaliação do desenvolvimento sintáctico - Test for Sentence Development in EP (STSD-PT), de Sónia Vieira, adaptando-se, assim, ao Português Europeu, o teste de Schlichting et al. (1995), construído para o Holandês. O teste inclui 40 itens e tem como objectivo estabelecer valores normativos relativamente à produção sintáctica entre os 3 e os 6 anos com normal desenvolvimento da linguagem. Na fase de estandardização (executado com apoio financeiro do projecto que aqui relatamos), o teste foi aplicado a 852 crianças, dos 18 distritos de Portugal Continental. Destina-se a terapeutas da fala e a investigadores na área do desenvolvimento sintáctico, pelo que será disponibilizado após a conclusão da tese de Doutoramento da autora.

Na Tarefa 6, o trabalho desenvolvido enquadrou-se na perspectiva largamente divulgada e empiricamente motivada de que o trabalho sobre consciência linguística promove a aprendizagem da leitura e da escrita. No domínio desta tarefa de investigação, foram trabalhados os seguintes tópicos:

(i) consciência segmental e desenvolvimento de propriedades segmentais no Português Europeu (Dina Alves, com orientação de Maria João Freitas e de Isabel Faria);

(ii) consciência (intra) silábica e desenvolvimento do Ataque no Português Europeu (Catarina Afonso, com orientação de Maria João Freitas e Dina Alves) e no Português de Moçambique (Francisco Vicente, com orientação de Maria João Freitas e Dina Alves);

(iii) consciência (meta) fonológica na adolescência (Adelina Castelo, com orientação de Maria João Freitas e Inês Sim-Sim);

(iv) consciência sintáctica no Português Europeu (Rita Alexandre, Magda Costa, com orientação de Anabela Gonçalves).

No caso concreto do Português Europeu, vários instrumentos permitem a avaliação da consciência fonológica mas não a da consciência sintáctica, sendo discutível o controlo de variáveis linguísticas nestes instrumentos. O trabalho sobre consciência linguística (fonológica e sintáctica) desenvolvido no âmbito do projecto aqui relatado teve como preocupações centrais: (i) a identificação de variáveis linguísticas relevantes para a sua avaliação e estimulação; (ii) a identificação de possíveis relações entre desenvolvimento linguístico e consciência linguística, no processo de desenvolvimento cognitivo infantil. Assim, na construção de instrumentos para a avaliação da consciência linguística, foram trabalhadas:

  1. variáveis fonológicas como a estrutura dos constituintes silábicos, a natureza dos segmentos (ponto e modo de articulação), a relação entre os níveis silábico e segmental, a extensão de palavra, a posição na palavra, o padrão acentual e a presença de processos fonológicos;

  2. variáveis sintácticas relativas a constituintes e categorias sintácticas.

No que diz respeito à identificação de relações entre o processamento linguístico ao longo do desenvolvimento fonológico e em tarefas de consciência linguística, identificaram-se paralelismos no que diz respeito ao ponto de articulação e ao Ataque silábico, o mesmo não se verificando para o modo de articulação. Esta linha de investigação ocupará, nos próximos tempos, alguns membros da equipa do presente projecto. A aplicação dos resultados de investigação nas áreas da Linguística Educacional e da Linguística Clínica foram claros na execução desta tarefa: os vários trabalhos desenvolvidos contribuíram para o desenvolvimento de instrumentos de avaliação, indispensáveis para as práticas profissionais nas áreas da terapia da fala e do ensino de língua materna e não materna.

Eventos científicos

Os 3 consultores do projecto realizaram as deslocações a Portugal previstas na candidatura, para participação nos eventos científicos abaixo listados e para orientação das tarefas 1, 2, 3 e 4: Yvan Rose (University of Newfoundland, Canadá) interveio no desenvolvimento das tarefas 1 e 4, tendo-se deslocado a Portugal em Junho de 2008; Paula Fikkert (Radboud University, Holanda) participou na orientação da execução da tarefa 3, tendo feito a sua deslocação no início de Setembro de 2009; Clara Levelt (Leiden University, Holanda) participou na orientação da tarefa 2, tendo feito a sua deslocação a Portugal no final de Setembro de 2009. A vinda destes e de outros investigadores a Portugal permitiu-nos a organização dos seguintes workshops e conferências:

(i) Workshops

  • Organização do Workshop PHONLisboa. Junho de 2008, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa/CLUL (cf. programa no anexo 4, neste documento).
  • Organização do Workshop on Sound Structures and Lexical Representations, integrado no congresso GALA’ 2009 (Generative Approaches to Language Acquisition), Fundação Calouste Gulbenkian, Setembro de 2009 (cf. call for papers e programa no anexo 5, neste documento).

  •  
  • Organização do Workshop sobre Teoria Fonológica e Terapia da Linguagem, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa/CLUL, Dezembro de 2008 (cf, programa no anexo 6, neste documento).

(ii) Conferências

  • Yvan Rose (University of Newfoundland, Canadá), Prosodic domains in Adult and Child French: Empirical and Theoretical Considerations. Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa/CLUL, Junho de 2008.
  • Cristiane Lazzarotto-Volcão (Universidade Católica de Pelotas, Brasil), Contributos da Teoria Fonológica para o Tratamento das Alterações da Linguagem. Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa/CLUL, Janeiro de 2009.
  • Paula Fikkert, C. Bergmann & M. Paulus (Radboud University, Holanda), A Closer Look at Pronoun Comprehension. Conferência convidada, apresentada no GALA’2009, no âmbito do Workshop on Sound Structures and Lexical Representations, Fundação Calouste Gulbenkian, Setembro de 2009.

Transcrevemos, abaixo, os programas dos 3 workshops organizados no âmbito do presente projecto.

A. Workshop PHONLisboa

Program

June, 9th             
9h-18h                 
Phon Workshop
(with the presence of Yvan Rose and Gregory Hedlund,
Memorial University of Newfoundland, Canada)

June, 12th
9h-18h                 
Meetings between MUN and the Portuguese team
(Discussion of specific research needs for the Portuguese team)

June, 17th           
10h30-11h30      
Conference
Prosodic Domains in Adult and Child French: Empirical and Theoretical  Considerations
Doctor Yvan Rose, Memorial University of Newfoundland, Canada 

B. Workshop Sound Structures and Lexical Representations

(GALA’2009), supported by project research PTDC/LIN/68024/2006

Call for papers

GALA 2009

Workshop Sound structures and lexical representations

Organized by: Maria João Freitas.

One of the central research questions in acquisition studies concerns the way in which a child is building his/her lexicon in the course of language acquisition and how much linguistic detail is represented in the entries in this mental lexicon. In this workshop, our aim is to specifically focus on one aspect of lexical representations: their sound structure. Even though the nature of adult phonological representations in the lexicon has been a central issue since the beginning of generative phonology, research on the acquisition of phonology over the last three decades has not systematically addressed the topic. This is mainly due to the fact that most generative approaches of children's phonological development have assumed that children's input structures are adult-like and that the shape of children's outputs are the product of a phonological system under development. However, over the last years, based on evidence from both speech perception and speech production some researchers have argued that early lexical representations might not be adult-like and that the lack of phonological detail may be one of the factors constraining a child's linguistic behaviour. This raises the following questions: How do children acquire a system of phonological contrasts? What is the nature of phonological features that make up children's phonological representations: are they based on articulatory or acoustic features? How do children map auditory information onto their phonological representations? What is the role of adult phonological rules in the acquisition process, and how do children ultimately acquire those rules?

The workshop we are now organizing welcomes studies on both perception and production data, dealing with phonological units and phonological processes in the areas of phonetics, phonology and the interface phonology-morphology, thus contributing to the discussion on the nature of phonological representations in the child's lexicon. Our invited speaker, Paula Fikkert (Radboud University Nijmegen ) has investigated various aspects of phonology in both child language production and in child language perception. We have asked her to provide an overview of the nature of phonological representations in children's developing lexicons and address some of the questions raised above.

Program: Workshop Sound Structures and Lexical Representations (GALA’2009)

Fundação Calouste Gulbenkian, September, 9-11 - Aud. 3 Sala 1

9h25-9h35 - Workshop Introduction

Org: Maria João Freitas

9h35 – 10h
The development of Acoustic Cues to Coda Place 

Katherine Demuth, Jae Yung Song & Stefanie Shattuck-Hufnagel

10h – 10h25
Building phonological categories from changing acoustic vowel qualities in the input to developing children: Could phoneme representations be re-calibrated during development?

Krisztina Zajdo

10h25-10h55 Coffee break

10h55- 11h20
Acquisition of voice assimilation in Brazilian Portuguese

Raquel Santos & Cristiane Silva

11h20 – 11h45
Gender effect in the variability of phonemic substitutions in young children: Characteristics of phonological learning in girls vs. boys acquiring Hungarian

Éva S. Tar & Krisztina Zajdó 

C. Wokshop sobre Teoria Fonológica e Terapia da Linguagem

Carmen Matzenauer (Univerisdade Católica de Pelotas, Brasil)

11 e 12 de Dezembro de 2008

Faculdade de Letras, Universidade de Lisboa

Sala 5.2. (edifício central)

Horário das sessões

Quinta-feira, 11: 14.00 - 18.00

Sexta-feira, 12:  10.00 - 13.00

14.00 - 18.00

PROGRAMA 

1. Sobre a fonologia das línguas

    Aspectos gerais sobre o funcionamento das fonologias das línguas

    Fonologia do Português – consoantes e vogais

2. Teorias fonológicas

    Caracterização resumida de abordagem sobre

    - sílabas

    - segmentos

    - traços distintivos

3. Aquisição da linguagem normal e atípica

   Desvios fonológicos

    Caracterização

    Unidades fonológicas e desvios

4. Teorias fonológicas e desvios

Caracterização de modelos teóricos da fonologia utilizados na terapia da linguagem

Benefícios da utilização de modelos teóricos para o diagnóstico e tratamento dos desvios fonológicos

- Teoria da Fonologia Natural;

- Teoria da Fonologia Autossegmental – Geometria de Traços;

- Teoria de Marcação Fonológica – MICT

 Estudo de caso, exemplificando a abordagem de desvio com base em cada teoria.

5. Aspectos relevantes da terapia da linguagem com base em teorias fonológicas:

    - identificação da severidade do desvio; 

    - consciência fonológica;

    - escolha do “segmento-alvo” na terapia;

    - “generalização” no processo terapêutico.

   Estudo de caso, exemplificando diferentes efeitos da escolha de “segmento-alvo”.

   Estudo de caso, exemplificando a obtenção de “generalização” na terapia.

6. Proposta de terapia fonoaudiológica com base em teorias fonológicas:

   - Modelo Implicacional de Complexidade de Traços – MICT. 
 

Materiais

Listam-se, agora, os materiais criados no âmbito do projecto com aplicação nas áreas (i) da investigação, (ii) do ensino de língua no 1º Ciclo do Ensino Básico e (iii) da intervenção clínica:

(1) Instrumentos de avaliação do desenvolvimento linguístico e da consciência linguística

  • Test for Sentence Development in EP (STSD-PT): Sónia Vieira (teste disponível após entrega da dissertação de doutoramento)
  • Avaliação da consciência intrassilábica (Ataque silábico): Catarina Afonso e Francisco Vicente (prova disponível em Afonso (2008))
  • Avaliação da consciência segmental ou fonémica (consoantes): Dina Alves (prova disponível após entrega da dissertação de doutoramento)
  • Avaliação da consciência segmental ou fonémica (vogais e semivogais): Adelina Castelo (provas disponíveis após entrega da dissertação de doutoramento)
  • Avaliação da consciência sintáctica (categorias sintácticas): Rita Alexandre (prova disponível em Alexandre (2010))
  • Avaliação da consciência sintáctica (constituintes sintácticos): Magda Costa (prova disponível em Costa (2010))

(2) Publicações com exercícios a serem usados por educadores de infância, professores de 1º Ciclo e terapeutas da fala:

  • Freitas, M. J., D. Alves & T. Costa O Conhecimento da Língua: Desenvolver a Consciência Fonológica. Lisboa: Ministério da Educação/DGIDC (envolveu 3 membros da equipa de investigação do projecto).
  • Gonçalves, F., P. Guerreiro e M. J. Freitas (no prelo) O Conhecimento da Língua: Percursos de Desenvolvimento. Lisboa: Ministério da Educação-DGIDC, entregue para publicação no ME-DGIDC em 2009.

(3) Bases de dados (cf. 3. Recursos: Tarefa 1):

  • Aquisição do Português Europeu (dados de produção espontânea de 12 crianças monolingues)
  • Almeida_Biling (dados de produção espontânea de 4 crianças bilingues Português/Francês)
  • Vieira_STSD (dados de produção de 852 crianças monolingues, em contexto experimental)

(4) Corpora (cf. 3. Recursos: Tarefa 1):

  • European_Portuguese_Freitas
  • European_Portuguese_CorreiaCosta
  • Portuguese_French_Almeida